Terminada a segunda expedição marítima
da guarnição de Diogo Cão, o nome do navegador desaparece da cena dos
descobrimentos. A inexistência de referências oficiais, induziu os
historiadores modernos a procurar uma explicação para este facto tão misterioso e enigmático.
A “Oratio de Obedientia”, pronunciada
por Vasco Fernandes de Lucena, em 11 de Dezembro de 1485, durante a coroação do
papa Inocêncio VIII, criou a ideia de que a guarnição alcançara o “ Promontorium
Prassum”, onde começa o golfo arábico, do Mapa de Fra Mauro, na 1ª viagem de
exploração marítima ao longo da costa ocidental africana.
Na segunda viagem de exploração
marítima, a guarnição ao atingir a actual baía de Moçâmedes, Janeiro de
1486,verificou o equívoco, o engano.
Entrou numa larga baía a perder-se de
vista.
A orla marítima a partir da Ponta
Redonda do Farol do Giraúl, segue para Leste e Nordeste numa extensão aproximada de 4
Km!
No actual porto mineiro do saco Giraúl faz uma abrupta inflexão!
No actual porto mineiro do saco Giraúl faz uma abrupta inflexão!
Em vez de seguir indefinidamente na direcção do
Nordeste como seria
suposto pelo desenho do mapa de Soligo, a costa marítima no porto mineiro do saco Giraúl inflecte
repentinamente na direcção do Sudeste,
Sul, Oeste e Noroeste, até à Ponta Grossa, Pau ou Noronha, numa extensão
aproximada de 15 Km, formando uma enorme baía, a baía de Moçâmedes.
farol na Ponta
Redonda do Giraul baía de Moçâmedes, vista do Barambol, à latitude 15º 8' Sul
Chegados a Portugal, os sobreviventes
da expedição, na presença de D. João II, e
cosmógrafos do rei disseram:
“…a seguir ao cabo Zorto [falso cabo], "ver mapa mundi Henricus Martelus de 1489"uma enorme angra [baía]”.
“ A partir daí, [ baía de Moçâmedes],
latitude 15º 8' Sul, reconhecemos a costa para além dessa angra, mil milhas
para Sul, não verificamos qualquer sinal da navegação para Oriente ou Norte”,
faz supor caso exista tal passagem, existir muito mais a Sul ao ponto onde
chegamos, Ponta dos Farilhões, Namíbia lat. 22º 26’ Sul “.
Haveria ou não um cabo meridional como
limite extremo do continente africano, onde os oceanos Atlântico e Índico se
ligam, dando a possibilidade de navegar para Oriente e alcançar a tão desejada
rota marítima da Índia das especiarias e estabelecer contactos com o reino
cristão do Preste João situado na Etiópia?!
Atingindo, nesta 2ª expedição, o ponto
antes reconhecido o- falso Promontorium Prassum – actual Ponta Redonda do Farol do Giraúl , baía de
Moçâmedes, a guarnição supôs achar-se ante um mar aberto, portanto no fim de
África (cf. Fontoura da Costa – às portas da Índia em 1483, págs., 41-50),
verificou a perder-se de vista, uma larga baía, cujo alargamento da orla
marítima se dirige para Sul.
É impossível imaginar a surpresa e
desilusão da guarnição!
Ultrapassará esse ponto e empurrará
para além do paralelo 22 um reconhecimento desesperado!
baía de Moçâmedes, Namibe
A costa africana a partir daí,
apresenta para o visitante, apenas perfis áridos e estende-se para Sul sem
parar.
A ilusão de alcançar o Promontorium
Prassum, dois anos antes, Setembro 1483, deveu-se a dois factores:
- O ponto de convergência dos dois
oceanos, Atlântico e Índico, é bem visível, no mapa-múndi executado em 1459
pelo monge veneziano Fra Mauro, a pedido de D. Afonso V, situa-se a 15º
latitude Sul, muito mais a Norte do que na realidade.
- A guarnição não obteve a necessária visão factual da larga baía de Moçâmedes,
Namibe na 1ª viagem de exploração marítima, Setembro de 1483 !
Na altura, o espectro visual da baía apresentava um manto de nevoeiro cerrado.
Observou apenas a variação da posição da Ponta Redonda do Farol do Giraúl, da baía de Moçâmedes, Angola - a orla marítima segue para Leste 1 Km , e para Nordeste num limite indefinido e desaparece.
Ver mapa de Cristóforo Soligo.
Na altura, o espectro visual da baía apresentava um manto de nevoeiro cerrado.
Observou apenas a variação da posição da Ponta Redonda do Farol do Giraúl, da baía de Moçâmedes, Angola - a orla marítima segue para Leste 1 Km , e para Nordeste num limite indefinido e desaparece.
Ver mapa de Cristóforo Soligo.
baía Moçâmedes, Namibe, Angola, a Norte
da baía a Ponta Redonda do Farol do Giraul, a Sul a Ponta Grossa ou Noronha ou Pau
Razões ponderosas às dificuldades
adversas à navegação, fizeram retroceder as duas caravelas.
As fortes correntes vindas do Sul, exerceram influência contra os rochedos pontiagudos da Ponta Redonda do Farol do Giraúl.
As fortes correntes vindas do Sul, exerceram influência contra os rochedos pontiagudos da Ponta Redonda do Farol do Giraúl.
Mapa de Fra Mauro
Seta a tracejado o grande canal (rio
Zaire) ligação oceano Atlântico ao oceano Índico (Quiloa)
Seta a cheio o Promontorium Prassum
A orla marítima no actual porto
mineiro do Saco do Giraúl, faz uma inflexão repentina para Sul, se estende ao
longo dum arco de 15 Km, formando uma enorme baía.
Actualmente, barcos de grande calado
navegam pela baía de Moçâmedes fazendo-se ao porto mar.
Na outra extremidade a Sul da baía fica o porto mar.
No limite fronteiro Sul jaz outro cabo, o cabo da Ponta Grossa ou Noronha, virado para o mar oceano a indicar o ponto cardeal do Noroeste e dá acesso à praia de nome D. Amélia.
No limite fronteiro Sul jaz outro cabo, o cabo da Ponta Grossa ou Noronha, virado para o mar oceano a indicar o ponto cardeal do Noroeste e dá acesso à praia de nome D. Amélia.
A notícia, divulgada por Vasco
Fernandes de Lucena, junto à Stª Sé revelou-se errada, após a 2ª expedição!
O desaparecimento do navegador da cena
dos descobrimentos, deveu-se exclusivamente àquela errada notícia, e consequente ostracização do monarca da cena
dos descobrimentos?!
O desaparecimento do navegador deveu-se ao facto de não ter
regressado da 2ª expedição marítima!
É imperioso ter em conta a legenda do
"Insulário", de Henricus Martellus,
também uma afirmação contida nos pareceres da Junta de Badajoz, em que
menciona o falecimento de Diogo Cão na região da Serra Parda, Namíbia, Sudoeste
Africano, quando atingida a latitude 22º Sul.
Assim, é mais plausível
considerar o desaparecimento do navegador da cena dos descobrimentos, como
devida à sua morte por terras africanas,
do que como consequência de uma hipotética errada informação dada na 1ª expedição marítima, ficando apenas pela actual baía de Moçâmedes por não ter alcançado o extremo Sul de África!
A votação ao ostracismo pelo rei como preferem alguns autores, carece de razões e fundamentos não tem qualquer consistência,.
A votação ao ostracismo pelo rei como preferem alguns autores, carece de razões e fundamentos não tem qualquer consistência,.
O desaparecimento de cena do navegador é sustentado pela política de
Segredo de Estado – a confidencialidade, que as descobertas marítimas tiveram no reinado de D. João II. Procurava-se o caminho marítimo para a Índia das especiarias, cujo monopólio pertencia aos ducados e reinos de Itália
Desaparecimento dos roteiros de bordo
O rei não fizera o recebimento nos Paços de Alcáçova, em Lisboa, dos sobreviventes agora chegados, como desejava, a peste ainda matava na capital, não podia correr riscos .
Ali no Alentejo, embora as casas fossem menos imponentes, o ar era mais saudável.
Recebeu no Paço real o capitão
substituto de Diogo Cão, Pêro Anes, relatando pormenorizadamente todos os
detalhes da expedição.
Embora consternado, não demonstrou
qualquer atitude de desagrado.
Ouviu-o atentamente.
Logo o seu pensamento se virou para
Bartolomeu Dias de Novais, peça fundamental duma próxima e breve exploração.
Uma vez que, os objectivos ainda não
tinham sido cumpridos, a tão desejada ligação dos dois oceanos (Atlântico e
Índico), contornando a África pelo extremo Sul, o contacto com o reino cristão
do Preste João situado na Etiópia, para uma futura base de apoio na luta contra
os inimigos da Fé Cristã, daria continuidade à exploração da costa marítima
ocidental africana para além de Cabo da Cruz, “Cape Cross”, até que o mesmo
fosse definitivamente alcançado.
Apesar das vicissitudes, a “Oração de
obediência ao Papa Alexandre VII”, proferida por Vasco Fernandes de Lucena (11
de Dezembro de 1485), em Roma, manter-se-ia . A frase mestra e quase sempre utilizada
por D. João II, era “....mais vale torcer do que quebrar....”
Os serviços de espionagem dos reinos
da Europa gozavam de toda a espécie de autonomia em Portugal.
Espalhados por terras lusas,
procuravam a todo o transe informações precisas das descobertas pioneiras dos
portugueses.
João II, conhecedor desta saga de
espiões, não se deixava atormentar.
Rui Pina, apresenta-nos o Rei como um
homem capaz de realizar grandes e novos feitos: enquanto o corpo habitava o
Reino para bem o governar, o espírito andava sempre por fora com vontade de o
aumentar.
Foi também um investigador muito
solícito dos segredos do mundo. Muito versado em assuntos de cosmografia,
aplicava-se a vencer as dificuldades experimentais desde que os portugueses se
aproximaram do Equador, ficando assim impossibilitados de ver a Estrela Polar e
por ela determinar a latitude.
Seguindo o exemplo de D. Henrique, o
navegador, que chamara Jacome de Maiorca para o auxiliar, nomeou uma junta de
peritos, faziam parte os judeus José Vizinho e Abraão Zacuto, junta que sugeria
o método da calcular a altura do sol ao meio dia. Preparou tábuas de declinação
para facilitar o trabalho dos navegadores.
Estas tábuas estavam incompletas
quando o Rei expediu a guarnição de Diogo Cão, em 1482, para continuar as
explorações marítimas ou longo da costa ocidental africana.
Rui de Pina refere:
«...Foi príncipe mui justo e mui amigo
de justiça e nas execuções dela mais rigoroso e severo que piedoso, porque, sem
alguma excepção de pessoas de baixa e alta condições, foi dela mui inteiro
executor, cuja vara e leis nunca tirou de sua própria seda, para assentar nela
sua vontade nem apetites, porque as leis que a seus vassalos condenavam nunca
quis que a si mesmo absolvessem.»
Dizia o Rei D. João II:“...
lembrai-vos do que o nosso embaixador Vasco Fernandes de Lucena afirmou em
público, no ano passado, em Roma, diante do Papa Inocêncio VIII. Se Diogo Cão
errou e não encontrou a passagem, vamos ser motivo de troça e zombaria para toda a
Europa...”.
“ E saía, de rompante, deixando os
astrónomos consternados, a olhar com reprovação para Mestre Vizinho que teria
feito melhor em guardar para si as suas suspeitas e maus agoiros, em vez de os
partilhar com Sua Alteza”.
“ D. João II, a sós na sua câmara,
passeava de um lado para o outro, para dominar os impulsos, temendo o malogro e
o desfrute, sabia que não podia apresentar pontos fracos na sua governação! O
seu poder aumentara, com ele cresciam igualmente os inimigos e os descontentes,
sobretudo entre os poderosos do Reino e os mais próximos da família”.
“Não hesitara em cortar o mal pela
raiz. Mandara prender por traição e condenar à morte no cepo, o primo D.
Fernando, 3º duque de Bragança, confiscando-lhe os bens imensos em favor da
Coroa”.
“Justiça que manda fazer el-rei nosso
Senhor – fora o pregão do rei de armas e dos seus dois pregoeiros: - manda
degolar D. Fernando, 3º duque que foi de Bragança por cometer e tratar traição
e perdição de seus Reinos de sua pessoa Real”.
“A morte do duque revoltara os nobres
e pouco tempo depois descobrira nova conspiração, dessa vez para o
assassinarem, mas ele adiantara-se de novo, apunhalando com a sua própria mão o
cunhado D. Diogo, duque de Viseu (a Rainha D. Leonor ainda lhe não perdoara a
morte do irmão!)”.
“Um a um caçara os restantes
conspiradores e a todos mandara degolar em público, com pregão de seu crime,
excepto ao Bispo de Évora, o mais odioso dos seus inimigos, a quem fez encerrar
numa cisterna sem água, onde depressa morreu... envenenado. Os que lograram
fugir e esconder-se em Castela, foram descobertos e apanhados por Pêro da
Covilhã, o seu espião mais eficaz”.
“Assim, os seus aterrorizados
opositores (se é que ainda restavam alguns depois da limpeza que fizera),
perderam o ânimo e converteram-se em vassalos submissos”.
“O Reino e a Coroa ganharam finalmente
a força e o poder que seu pai, o sonhador e generoso D. Afonso V, conhecido por
“O Africano”, havia deixado fugir para as mãos gananciosas dos nobres, em
mercês e privilégios”.
“Há tempos de coruja e tempos de
falcão” costumava dizer e durante muito tempo fora a coruja nocturna,
dissimulada, observando e atacando em segredo, até se sentir seguro no seu
trono. Agora era tempo para os voos do falcão, cada vez mais velozes e amplos,
à conquista de céus longínquos e de outros terrenos de caça. No entanto, para
guardar esse poder, não podia cometer erros”. [Diana Barroquenho – cometa ]
Uma nova expedição de exploração da
costa marítima será enviada.
Para além de novos recrutas, faziam
parte desta armada a guarnição dos
melhores das expedições de Diogo Cão, tais como João de Santiago piloto da
naveta de mantimentos e muitos outros.
A “oração de obediência” proferida
pelo embaixador Vasco de Lucena, junto da Stª Sé, manter-se-ia, deste modo o
alarme dum pressuposto sucesso já anunciado e não alcançado, seria altamente
prejudicial à política seguida por D. João II
Esta viagem marítima de exploração
foi classificada pelo rei de muito
secreta, aliás como acontecera como muitas anteriores e também em futuras
expedições.
Toda a documentação: mapas, roteiros,
registos, foram sigilosamente guardados ou desencaminhados, (não existem
documentos, quer na Torre de Tombo, quer em qualquer outra parte), para não
comprometer o bom-nome e a glória dos portugueses.
A frota de Bartolomeu Dias largou do
Tejo, Porto de Povos, a 5 de Agosto de 1487 fazendo-se ao mar oceano.
Cinco meses depois, a guarnição
avista a Serra dos Reis, baptizada no dia 6 de Janeiro de 1488, que provavelmente é a montanha de Matsikama, na África do Sul.
Dias, afastou-se da costa depois de
passar a “Serra dos Reis”.
Segundo Barros, os barcos navegaram
durante treze dias, com ventos em popa e com apenas metade das velas içadas,
através de mares frios e tempestuosos.
Mas, em pleno Verão, uma nortada deste
tipo é impossível naqueles mares.
Parece claro que Dias, cansado de
bolinar em face dos ventos do Sul, afastou-se deliberadamente da costa e,
chegando aos “ roaring forties” (ventos rugidores, na latitude 40º S), apanhou
uma tempestade de Oeste.
Os pilotos navegaram então para Leste
e não encontraram terra.
Sem saber, tinham dobrado a África.
Mudaram a trajectória para Norte e
deram com terra na foz dum rio, em cujas margens se encontravam manadas de gado
guardadas por “Vaqueiros”.
Não encontrando sítio para
desembarcar, os navegadores continuaram para Nordeste e, depois de passar uma
escarpa, entraram numa baía que, sendo 3 de Fevereiro de 1488, Dias baptizou
São Brás.
Mais tarde os Holandeses deram-lhe o
nome de Mossel Bay (Baía dos Mexilhões).
A guarnição encontrava-se em pleno
Oceano Índico.
A realização da maior proeza naval
desse tempo, 2 caravelas, com homens no limite das suas forças enfrentaram o
mar tenebroso, descortinando o mistério do gigante Adamastor.
Cabo de Boa Esperança, África do Sul
No regresso, a guarnição encontrou o tão desejado cabo, o “ Cabo da
Boa Esperança”, era o dia 05 de Junho de 1488, onde ter+a sido implantado um padrão dedicado a S. Filipe, mas o dia deste santo comemora-se no dia 03 Maio!
A 16 de Dezembro de 1488, arribou a
Portugal.
D. João II prudente e satisfeito com a
notícia, concordou com o nome dado ao Cabo tormentoso, “Cabo de Boa Esperança”,
por Bartolomeu Dias.
Os portugueses tinham contornado o
extremo Sul de África ligando os dois oceanos, Atlântico versus Índico, abrindo
definitivamente as portas do caminho marítimo para a Índia das especiarias.
O Mapa de Fra Mauro, passou a designar
o esboço do continente africano perdido na imensidão do imaginário, contribuiu
para o encontro de culturas diferentes, acabando por cair no esquecimento!
A morte de D. João II
Fonte:
De
príncipe perfeito a precursor do absolutismo. A maior parte dos historiadores concorda
que foi o grande responsável pela planificação e organização do processo que
levaria os portugueses ao Índico.
No
final da tarde de 25 de Outubro de 1495, um domingo, faleceu na vila do Alvor o
rei D. João II e as causas da sua morte são, desde há muito, motivo de
especulação entre os historiadores e os seus biógrafos.
A
hipótese mais provável aponta uma doença renal crónica, mas há quem
defenda possibilidade de envenenamento, talvez por arsénico, levado a
cabo pelos seus inimigos ou, quem sabe, pela própria rainha D. Leonor.
De
facto, D. João II morreu quase só, apenas acompanhado por um punhado de homens
do seu conselho. Nem a rainha, o filho D. Jorge ou o seu primo e sucessor, o
duque de Beja e futuro D. Manuel I, estavam presentes. A última fase da sua
vida foi marcada, para além do agravamento do estado de saúde que o conduziu às
caldas de Monchique, por uma crescente tensão que envolvia a sucessão ao trono.
Durante algum tempo esteve, de facto, pendente sobre o reino o espectro de uma
crise dinástica e de uma guerra civil.
Quais eram as causas dessa crise?
Em
1491, um acidente infeliz vitimou o príncipe D. Afonso. A morte do infante,
então com 16 anos, foi um acontecimento inesperado que abalou profundamente o
rei. Por um lado, deitava por terra o seu sonho político: D. Afonso era casado
com Isabel, filha dos Reis Católicos, e todos esperavam que daqui viesse a
resultar um herdeiro que unisse os três reinos peninsulares.
Em
segundo lugar, colocava o problema da sucessão da coroa. D. Afonso era o único
filho legítimo de D. João II e a sua morte colocava na linha de sucessão o
duque de Beja, irmão da rainha, que contava naturalmente com o apoio desta e da
grande nobreza do reino. O monarca tinha outro filho, ilegítimo, D. Jorge, que
tentou por todos os meios legitimar e apresentar como sucessor.
O
choque entre os dois partidos fazia, portanto, emergir o perigo de uma guerra
civil após a morte de D. João II. Este, finalmente, desistiu das suas
pretensões e, poucas semanas antes de falecer, redigiu o seu testamento onde
reconheceu o Duque de Beja, D. Manuel, como o legítimo sucessor e futuro rei
Que balanço se pode fazer do seu reinado?
Os
historiadores avaliaram o reinado de D. João II de modos diferentes, ao longo
dos tempos. Nos séculos seguintes foi chamado de “Príncipe Perfeito”, por lhe
reconhecerem as qualidades necessárias de um rei-modelo.
No
século XIX, D. João II passou a ser olhado com desconfiança, porque as suas
medidas de centralização do poder e de repressão da nobreza foram vistas como o
prenúncio do absolutismo que veio a desenvolver-se mais tarde. Hoje, D. João II
é sobretudo encarado como o rei inteligente, hábil e perspicaz que vislumbrou,
delineou e preparou um projecto de expansão ultramarina que haveria de levar os
portugueses à Índia, já depois da sua morte.
As
suas capacidades diplomáticas e a forma como conseguiu resolver as crises e os
conflitos com os poderosos vizinhos de Castela e Aragão demonstram que se
tratou de um personagem excepcional, que deixou uma marca indelével na História
de Portugal e cujas acções tiveram repercussão à escala europeia e, a longo
prazo, mundial.
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