Fortaleza S. Miguel
Fortaleza de São Miguel de Luanda
A Fortaleza de São Miguel de Luanda, com ordem militar, localiza-se no
antigo monte de São Paulo, actualmente denominado de Morro da Fortaleza,
nas proximidades da ponte da Ilha de Luanda, em Angola. Foi a primeira
fortificação a ser erguida em Luanda, no século XVI, durante o governo de Paulo
Dias de Novais, primeiramente construída em taipa e adobe, substituídos em 1638
por barro, taipa e adobes. Nessa época apresentava a forma de uma estrela com
quatro pontas, com o sistema abaluartado, segundo os métodos italianos mais
actualizados da época, sobretudo os do mestre Benedetto da Ravenna. Depois de
oito anos de ocupação holandesa, começou a ser construída em alvenaria em 1669,
fazendo parte das obras obrigatórias dos sucessivos governadores. Finalmente,
no governo de D. Francisco de Sousa Coutinho (1764-1772), as obras terminam,
com a construção de uma bateria do cavaleiro, armazéns à prova de bomba e uma
cisterna que ficou conhecida como Cova da Onça, seguindo o estilo barroco
militar, na base da ambiguidade, pluralidade e descentramento. Os muros
foram-se consolidando em pedra e cal em diferentes épocas, concluindo-se já no
século XX. Ficava assim engenharia militar de Angola. Do ponto de vista urbano,
a fortaleza foi sempre um marco ordenador do espaço da cidade. Nos primeiros
tempos, foi o limite do aglomerado que se desenvolvia para sudoeste, em
direcção à Praia do Bispo. Mais tarde, cerca de 1648, quando a Barra do Corimbo
ficou assoreada, a cidade passou a desenvolver-se para o lado norte, do outro
lado do morro, mantendo desta forma o seu papel ordenador. Actualmente, é Museu
das Forças Armadas. Erguida por determinação do primeiro Governador, Paulo
Dias de Novais, em 1575, é a primeira estrutura defensiva construída em Luanda
(e em Angola). No contexto da Dinastia Filipina, a cidade de São Paulo de
Luanda foi alçada à categoria de capital administrativa da região de Angola em
1627. Para a sua defesa, foi erguida uma nova fortificação, concluída em 1634.
O forte e a cidade caíram em mãos da Companhia Neerlandesa das Índias
Ocidentais no período de 24 de Agosto de 1641 a 15 de Agosto de 1648, quando
foram recuperadas para a Coroa Portuguesa por uma expedição armada na Capitania
do Rio de Janeiro, no Brasil, por Salvador Correia de Sá e Benevides. Durante o
período de ocupação Neerlandesa foi denominado como Fort Aardenburgh. Em 1650 o
governador Salvador Correia de Sá e Benevides apresentou ao Conselho
Ultramarino os novos planos de fortificação de Luanda, a cargo do engenheiro
francês Pedro Pelique, que trouxera do Rio de Janeiro. O forte, que até à
invasão holandesa se chamara de São Paulo, teve o seu nome trocado para São
Miguel, santo da particular devoção de Salvador Correia de Sá. Sob o
governo de, Francisco de Távora (1669-1676), o forte foi reconstruído, em
alvenaria, ficando concluídos um baluarte e duas cortinas. Sob o governo de
César Meneses (1697-1701) foi erguida, no interior da fortificação, a Casa da
Pólvora. A fortaleza de São Miguel tem uma forma muito irregular. O
polígono da fortificação de S. Miguel, pode considerar-se inscrito em uma curva
fechada oblonga, cujo diâmetro maior é de 340 pés e o menor de 47. O seu
perímetro está dividido em 17 frentes de desigual grandeza, formando ângulos
salientes e reentrantes, para que as partes mais expostas aos ataques sejam
defendidas por aquelas que o estão menos, e só uma abaluartada, segundo o
primeiro sistema de Vauban, ou quatro traçado francês, com revelim na frente,
cercada de estrada coberta e explanada. As mais frentes não têm fosso, para as
aproximar, quanto possível, a encosta do monte. As obras exteriores são o revelim
que cobre a porta principal e uma bataria (obra de fortificação com peças
assestadas, que podem atirar a barbete ou em canhoneiras. Fileira de peças de
artilharia) inferior do lado que olha o N.E.. Esta bataria, tendo servido de
fundição de artilharia (em tempo do Capitão General Sousa Coutinho, não está
hoje fortificada convenientemente pois que para se construírem os telheiros e
forno de reverbero, que ainda existe em bom estado, foi preciso tapar algumas
canhoneiras, e alterar as muralhas de revestimento do S.O. e N.O...)
A porta, que dá entrada á fortaleza, fica no meio da cortina, que prende, os
dois baluartes, e é aberta na massa do seu reparo, ao lado da qual está o corpo
da guarda, que serve de prisão aos galés. Não tem ponte, mas comunica com fosso,
por meio de uma rampa de alvenaria, que partindo do ressalto que impede, que a
porta seja imediatamente forçada pelo inimigo, e cuja altura é de 56 polegadas;
vai terminar um pouco além do meio do fosso. Esta rampa, podia ser substituída
por uma de madeira, descansada sobre cavaletes, pela vantagem de se poder
destruir, ou retirar, com facilidade.
A largura do fosso defronte das faces, é menor que o dobro da altura da
muralha, que reveste o recinto; "(...) Defronte dos salientes, a
largura do fosso é menor, a fim de diminuir a frente das contrabaterias do
sitiante (contra os flancos). A fortaleza, goza da vantagem de ter árvores
plantadas no terrapleno do reparo, e na explanada, sendo para admirar que não
as haja, no terrapleno da estrada coberta. As árvores plantadas em tais
lugares, consolidam melhor as terras, tornam difícil a construção de aproches,
fornecem durante o sítio, madeiras e ramagens para blindagens, revestimentos,
plataformas, e outras obras próprias á defensa".
"São Miguel, tem 82 canhoneiras, nas 16 frentes,
não abaluartadas. 3 em cada face da frente abaluartada, 2 em cada flanco, e 7
na cortina, ou 23 na totalidade da dita frente, 16 no cavalheiro, 4 no revelim
e 6 na bateria inferior, ou 131 por todas. Tem a fortaleza, casa para
residência do Governador, que tem patente de Capitão, uma capella de invocação
de São Miguel, diversos armazéns e o paiol construído na massa de reparo do
lado do N.O., ao qual se desce por uma escada de tijolo, toda arruinada, até ao
patamar em que está o guarda-fogo tem 18 pilares de alvenaria, fica ao abrigo
dos tiros inimigos. Distante do fogo, e preservado da humidade, porem parece
não ter servido, se não de deposito de lenha, principal causa da ruina da
escada, tem a fortaleza cozinha, e duas latrinas que estão muito arruinadas
(...)".
As principais partes ou designações Fortaleza de S. Miguel, conforma o
esquema, são as seguintes:
1. Saída da estrada coberta
2. Contra-escarpa do fosso do revelim
3. Revelim
4. Baluarte
(Obra de fortificação constituindo um saliente numa linha fortificada de
que faz parte: Compõe-se de duas faces a dois planos)
5. Cavaleiro
(Construção acasamatada em lugar eminente ou com comandamento)
6. Guarita ou vedeta
7. Estada de circunvalação
8. Porta falsa
9. Canhoneiras
(Abertura nas muralhas para assestar os canhões)
10. Guarita ou vedeta
11. Casa da Pólvora
12. Caminho de ronda
13. Casamata central
14. Cisterna
(Edifício abobadado à prova de bombas)
15. Túnel
16. Merlão
(Porção de espaldão compreendida entre canhoneira a canhoneira)
17. Bateria do cavalheiro
18. Bateria da cortina
Os defeitos que se notarão nas fortificações de São Miguel, não se podem
atribuir-se não ao terem sido feitos em diferentes épocas, e reparados e
aumentados depois, ao gosto, ou capricho dos Governadores, ou directores das
obras. Os baluartes, são pouco espaçosos, e as tropas não podem, neles,
manobrar com facilidade, ficando expostos aos projécteis, que o inimigo pode
lançar em seus terraplenos. As faces, pela sua posição mais avançada para
a campanha; acham-se muito expostos a serem batidas em brecha, pois que o
revelim cobre só o angulo de espalda. Os flancos, em virtude das dimensões
da frente, batem os fossos; faces, e defendem a cortina com fogos pouco
eficazes.
A casa do Governador, é construída entre a cortina, e o Cavaleiro; provê a
comunicação entre os dois baluartes, e a cortina; e para que desta se possa
tirar a força de resistência de que é susceptível, é necessário destruir a dita
casa, em ocasião de combate. Não supomos, que fosse abuso de autoridade a
construção desta casa em tal sítio; mas sim (que tenho sido o cavaleiro
construído posteriormente, não tratarão de lançar por terra este edifício, o
qual devia durar) até hoje em bom estado. O revelim, não tem reduto, e é
muito pequeno para poder encerrar uma guarnição, que vigie sobre a segurança da
porta, e para retardar com o seu fogo, a marcha do sitiante pelas direcções dos
capitéis prolongadas dos baluartes laterais: e fica muito pouco avançado, para
impedir - que se abra brecha em todo o comprimento da face, bate-la de revés, e
obrigar o inimigo a toma-lo, antes de dar o assalto. O revelim não pode ser
guarnecido com a artilheria de grosso calibre, por o não consentir a largura e
construção da sua escada; mas só se podem assestar alguns canhões de pequeno
calibre, para varrer e estrada coberta, e a explanada. O cavaleiro,
protege com os seus fogos (o revelim, estrada coberta, e domina toda a extensão
da Cidade, que lhe fica fronteira) sendo o único que tem as canhoneiras bem
construídas, em todas as mais frequentes, a intersecção da escarpa interior do
parapeito, com os dois planos verticais conduzidos pelas extremidades da aresta
interior da soleira, e que tem por objecto cobrir, quanto possível, os
artilheiros, bocas-de-fogo e seus reparos, não estão regulares, nem apresentam
a indispensável solidez. Os merlões, é, a parte do parapeito compreendida entre
as directrizes de duas canhoneiras contiguas, são muito pequenos, para o
serviço das bocas de fogo se faça comoda, e regularmente: pois que devendo
aquelle intervalo ser de 27 palmos, é apenas, de 19; roubando-se, deste modo,
em todas as frentes (o espaço útil de 128 pés ou 192 palmos).
- Provisão real galardoando quem construísse "hum castello"
- 12 de Abril de 1574
- Partida de Paulo Dias de Novais de Lisboa - 23 de Outubro de 1574
- Chegada de Paulo Dias de Novais à Ilha de Luanda - 11 de Fevereiro de
1575
- Passagem de Paulo Dias de Novais para Morro de S. Paulo - 30 de Junho de
1576(?)
- Morte de Paulo Dias de Novais - 09 de Maio de 1589(?), Outubro de 1588(?)
- Aparecimento na Costa de Angola de 4 corsários - 1599 a 1600
- Memorial afirmado que Luanda não tem fortaleza ou fortificação - 09 de
Julho de 1616
- Aparecimento de corsários holandeses, que foram batidos pelos navios
portugueses - 1623
- Entrada no porto de Luanda de corsários holandeses - Outubro de 1624
- Abandono da Ilha de Luanda pelos holandeses - 07 de Dezembro de 1624
- Nomeação real de uma comissão para estudo da fortificação de Luanda - 22
de Agosto de 1625
- Envio para Lisboa do Relatório sobre a fortificação de Luanda - 28 de
Dezembro de 1626
- Relatório do sindicante António Bezerra Fajardo solicitando para que no
morro de Sam-Paulo se faça um forte - 29 de Fevereiro de 1629
- Manuscrito de Fernão de Sousa (1624 a 1629) mencionando "fiz
outro bo Môrro de Sam-Paulo" - 1624 a 1629
- Início da construção da fortaleza no morro de S. Paulo - 1636(?) ou
1638(?)
- Envio de um técnico militar para estudar a fortificação de Luanda -
(1639)
- Aparecimento da esquadra holandesa, desembarque e ocupação de Luana -
Agosto de 1641
- Desembarque de Salvador Correia de Sá - 15 de Agosto de 1648
- Entrada das forças portuguesas no forte de São Paulo - 24(?) de Agosto de
1648
- Entrada triunfal da imagem de São Miguel no forte de São Paulo que desde
então se passou a designar por São Miguel - 24(?) de Agosto de 1648
- Início das construções de alvenaria na fortaleza de São Miguel - 1672(?)
- Conclusão, em alvenaria, de um baluarte e de duas cortinas - 1675(?)
- Conclusão de um segundo baluarte, em taipa e de outras obras - 1685(?)
- Construção da "Casa da Pólvora" - 1700
- Ofício para o Rei informando que a fortaleza estava arruinada a inútil -
10 de Janeiro de 1726
- Ofício para o Rei informando que as Fortalezas de Luanda já estavam
reparadas - 27 a de Fevereiro de 1728
- Construção, a cantaria de um segundo baluarte - 1737
- Construção de "hum lanço de cortina e das obras exteriores"
- 1738 a 1748
- Construção de "huma praça baixa" - 1753 a 1758
- Elaboração, pelo Sargento-mor Magalhães e Bragança de "um
códice" com a planta de todas as fortalezas de Luanda - 1755
- Construção da cisterna - 1766 a 1772
- Construção do "Cavaleiro" - 1768
- Adaptação da "bataria-baixa" a fundição de canhões -
1770 (?)
- Primeira fundição de canhões em Luanda - 1771
- Transferência dos armazéns da "Casa da Pólvora" e
adaptação do edifício a prisão - 1760 a 1770
- Envio ao Rei de uma planta da Fortaleza - 25 de Novembro de 1768
- Terraplanagem da esplanada - 1795(?)
- Envio para Lisboa de uma planta das Fortaleza - Dezembro de 1799
https://sites.google.com/site/azulejosdafortalezadeluanda/
A Fortaleza de São Miguel de Luanda é uma fortificação edificada no ano de 1634 com o objectivo de defesa da cidade. Com o decorrer dos tempos, os interesses, objectivos e fins da fortaleza alteraram-se e nos finais dos anos 30 do séc. XX foram realizados importantes obras para ser adaptada a museu - museu da história -. A parte das obras mais relevantes e que melhor acolhimento teve, pelo seu elevado valor artístico, foi o revestimento das paredes interiores da casamata com painéis de azulejos, do estilo da azulejaria portuguesa do séc. XVII, com a singular beleza dos azuis cobalto.
Restauros feitos pelo Atelier Escola Antiga de João Moreira, de Turquel - Portugal
Restauros dos Azulejos na Fortaleza de Luanda
Fortaleza S. Pedro da Barra
por Pedro
Cardoso:
http://www.redeangola.info/roteiros/forte-de-sao-pedro-da-barra/
Lá para as
bandas do Ngola Kiluanji, o Forte de São Pedro da Barra é
memória à espera. Um compasso mais de um lugar inicialmente escavado na
falésia, e de uma beleza única em Angola. E há tanta história ali encerrada,
que o esquecimento deste monumento doeria seguramente muito mais que qualquer
golpe de canhão dos antigos piratas.
Há lugares da
nossa Luanda que, ciclicamente, se arriscam a virar pó. Autênticas
enciclopédias da história de todos nós, foram abandonados durante longos
períodos à sua sorte e à salitre. Visitá-los pode bem ser o início da uma nova
vida. Este roteiro é, pois, ao seu jeito e dimensão, uma missão de resgate. Não
de pedras, que começaram já a ser alinhadas, mas de memória.
Salvemos então
o Forte da São Pedro da Barra. Esquecido por muitos até há pouco tempo, antes
de um projecto de revitalização o ter sacudido de alto a baixo, este lugar foi
um ponto estratégico da defesa dos mares de Luanda, em conjunto com a Fortaleza
de São Miguel, o desaparecido Forte de Nossa Senhora de Conceição e o Forte de
Nossa Senhora da Flor da Rosa – nome romântico para um romântico final. Esta
“fortificação floral” erguia-se na antiga ponta da ilha de Luanda, antes de
metade desta língua de areia desaparecer por força das calemas, arrastando
consigo, para o fundo do mar, o Forte de Nossa Senhora da Flor da Rosa. Hoje, esta
estrutura militar que cruzava fogo com o Forte de São Pedro da Barra jaz,
provavelmente feita pedaços, no fundo da baía de Luanda. Um tesouro intacto
para a arqueologia subaquática, tão na moda hoje em dia, em todo o mundo.
Mas o Forte de
São Pedro da Barra, dizíamos, é lugar importante da bateria de defesa de
Luanda. Começou a ser escavado na rocha do antigo morro de Kassandama por
prisioneiros da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, durante a ocupação
holandesa. Corriam os anos 40 do século XVII.
Ao recuperarem
o controlo do território, os portugueses abandonaram o lugar até que, em 1663,
foi de novo tido e achado pelas autoridades militares, que o restauraram.
Quarenta anos depois, em 1703, foi ampliado, e ganhou uma bateria superior e as
muralhas de pedra e cal que ainda hoje vão resistindo como podem.
A fortificação
estava, então, rodeada por duas colinas repletas de cajueiros e pastagens. Ao
lado, os jesuítas construíram um hospício para indigentes, criminosos,
degredados e “hereges” suspeitos de feitiçaria. Abriram também a chamada Fonte
de Kassandama, que aproveitava um manancial de águas termais óptimas para curar
doenças de todo o tipo e feitio. A meados do século XIX, depois de obras
importantes de canalização das águas sulfurosas para abastecer o complexo de
fortificações e o hospício, a fonte foi vendida por “100 mil reis” a um
comerciante de Luanda, conhecido por “Magalhães”.
Entre 1703 e
os primeiros anos do século XX, o Forte de São Pedro da Barra cravou na palma
da sua mão uma sina eterna – tipo feitiço – que ainda hoje persiste, e que
alterna ruína e renascimento. Cumprindo este destino, em 1920 a estrutura foi,
uma vez mais, restaurada. A 9 de Setembro de 1932, já sem piratas no horizonte,
foi elevada a Monumento Nacional.
Mas a história
estava muito longe de terminar. A repressão colonial pós-4 de Fevereiro enviou
directamente para as masmorras do Forte da Barra 112 revoltosos. O forte foi,
então, transformado em centro de prisão e tortura. História idêntica ocorreu
entre 1974 e 1975, quando São Pedro da Barra foi ocupado por forças ligadas à
FNLA.
O futuro deste
monumento nacional, na rota entre Luanda e Cacuaco, em pleno município de
Sambizanga, contempla a sua transformação num museu. Ajeitadas as pedras, o
velhinho edifício espera um novo apogeu prometido nos últimos anos pelas
autoridades que o regem. Entretanto, com a ilha de Luanda no horizonte, aponta
baterias para o mar e para terra, visão privilegiada deste país que ajudou a
forjar.
Fortaleza do Penedo
O
“Forte de São Francisco do
Penedo”, também referido como "Fortaleza do Penedo",
localiza-se na cidade e província de Luanda, em Angola.
No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), por determinação de Filipe IV de
Espanha (1621-1640) foi criada uma comissão para estudar a melhoria da defesa
da cidade de São Paulo de Assunção de
Luanda, de onde se exercia um activo tráfico de escravos em direcção ao
continente Americano. Uma das fortificações propostas foi o Forte de São Francisco do Penedo.
Desde a sua primitiva edificação, constituiu-se em uma das chaves da defesa do
porto de Luanda.
Embora se desconheça a sua data de edificação, em 1684 o então Governador e
Capitão-General, Luís Lobo da Silva (1684-1688), “mandou que fosse reedificada”, sendo então artilhada com seis
peças.
Sob a gestão do Governador e Capitão-General Francisco Inocêncio de Sousa
Coutinho (1764-1772) foi reparada e
ampliada entre 1765 e 1766,
tendo servido como depósito de escravos.
Ainda no mesmo século, o Governador e Capitão-General Manuel de Almeida de
Vasconcelos e Soveral, 1.º conde da Lapa (1790-1797) mandou ampliar a fortificação, dando-lhe a forma actual. Data deste
momento a construção do Portão de Armas em cantaria de pedra, encimado pelas
armas reais, tendo à direita as de Sousa Coutinho, e à esquerda as de
Vasconcelos e Soveral. Ao centro dos três brasões uma inscrição epigráfica reza
em Latim:
"Tempus
et tunda vorax, istam quam cernitis arcem jam prope colapsam sustinuere duo:
Sousa et Almeida primi debentur honores fulget nunc, hostis tempus e tunda
tremunt – 1793" (em versão livre, “O tempo, e a onda voraz, conservarão esta
fortaleza, que vedes já quase demolida; a Sousa e Almeida se devem as primeiras
honras; agora brilha, o tempo e a onda hostis tremem – 1793")
Em seu interior, diante da entrada do pórtico, na muralha da bateria superior,
encontra-se uma outra inscrição epigráfica, de 1795, onde lê-se em verso:
“Este
forte que vês foi levantado / Por Sousa ilustre, na memória eterno. / E pelo
grande Almeida, consumado / no quinto ano do seu feliz governo”.
Na sua enfermaria esteve internado José Álvares Maciel, um dos implicados na
Inconfidência Mineira no Brasil (1789), condenado à pena de desterro, ao chegar
a Luanda em 1792 com pneumonia e escorbuto, antes de ser encaminhado ao Forte
de Massangano, no interior.
Em 1820 passou a ter a incumbência de registo (contagem) dos navios que davam
entrada no porto.
Em meados do século foi inspeccionada pelo engenheiro militar, então major
(depois general) Francisco Xavier Lopes, que em seu relatório, em 1846, refere
que as suas muralhas "estavam
muito bem conservadas", contando com “47 peças de artilharia, das quais seis de
bronze, montadas em reparos de sítio e de praça, e de marinha, em mau estado".
Como guarnição, e devido ao mau estado das peças, apenas existia um cabo e três
soldados de artilharia; o destacamento de infantaria contava apenas um oficial,
um sargento, três cabos, um tambor e 32 soldados. O major recomendou ao então
Governador da Província de Angola, Pedro Alexandrino da Cunha (1845-1848), que
nela fossem instaladas 60 bocas-de-fogo e 3 morteiros, e que passasse a ser
guarnecida por 120 artilheiros e 250 infantes num efectivo total de 370 homens.
Ainda com relação à artilharia, recomendou a instalação de “canhões Paixhans de calibre 24 por quanto
atirando horizontalmente com projécteis ocos, ainda que o tiro seja menos
certo, basta que uma ou duas bombas acertem, para tirar a força moral à
guarnição do navio”. (Op. cit.)
Tendo recebido a chamada Casa de
Reclusão Militar, no século XX estas dependências foram utilizadas como
prisão política pelo Estado Novo Português (1933-1974). Esta prisão
constituiu-se em um dos alvos dos guerrilheiros que, em 4 de fevereiro de 1961, desencadearam a luta armada pela
libertação de Angola (os demais foram o barracão de zinco onde operava a
Emissora Oficial de Angola, ao lado dos Correios da Cuca, a cadeia de São Paulo
e o quartel da Polícia Móvel na Estrada de Catete). Desse modo, no contexto da
chamada Guerra do Ultramar (1961-1974), após 1961 passou a ser utilizada
exclusivamente como prisão militar.
Após a Revolução dos Cravos em Portugal (25
de Abril de 1974), as funções prisionais persistiram, aqui tendo estado detido,
por determinação do Movimento das Forças Armadas (MFA), por exemplo, João Fernandes, então director da
revista “Notícia”.
Após a independência do país (11 de Novembro de 1975) manteve essas funções,
aqui tendo estado detidos pelo regime de Portugal, António Agostinho Neto, o primeiro presidente de Angola em funções de 1975 a 1979.
Segundo relatos
verídicos, vários cidadãos angolanos e
também outras centenas de pessoas
sem culpa formada, foram ali torturados e posteriormente executados na intentona de 27 de Maio de
1977, pelo regime do partido único o "MPLA".
A "Fortaleza de São Francisco do Penedo, também conhecida como "Casa de
Reclusão Militar" encontra-se classificada como Património
Histórico-Cultural Nacional desde 1992, pela então Secretaria de Estado da
Cultura de Angola.
Nos termos do Despacho Presidencial n.º 130/17, de 12 de unho, a construtora Mota-Engil Angola executará as
obras de restauro e apetrechamento do monumento, num montante em kwanzas
equivalente a trinta e sete milhões, setecentos e oitenta e cinco mil dólares.
A Dar Angola Consultoria responderá
pela fiscalização da empreitada, no montante em kwanzas equivalente a um
milhão, oitocentos e oitenta e nove mil e duzentos e cinquenta dólares. ("Restauro da Fortaleza São Francisco de Penedo
'retira' mais de 37 milhões de dólares aos cofres do Estado".
Portal de Angola, disponível em:
http://www.portaldeangola.com/2017/06/restauro-da-fortaleza-sao-francisco-de-penedo-retira-dos-cofres-do-estado-mais-de-37-milhoes-de-dolares/
Consultado em 16 jun2017.)
Características
Exemplar de arquitectura militar, abaluartado, marítimo, de enquadramento
urbano, em cima de um rochedo, nas imediações da praia da Rotunda.
Apresenta planta na forma de um pentágono irregular, com duas baterias. Na
inferior abriam-se 37 canhoneiras, e na superior, designada por “barbete”, mais 23.
O Relatório do major Xavier Lopes, em 1846 dava conta de que "(...) toda a defesa desta fortaleza é para o
lado do mar, defendendo o ancoradouro e servindo de registo dos barcos que
entram no porto de Luanda. Para o lado de terra há quatro peças que batem a
ponte e quatro seteiras para fuzilar os que se dirigirem à porta, situada no
meio do lado, que deita para SSO que olha para a estrada”. (Op.
cit.)
As duas baterias eram acedidas por uma rampa com “seis pés e três polegadas de largura, 70 polegadas de comprimento”,
e uma escada ligava as duas baterias para facilitar as movimentações da
infantaria. O major prossegue, observando que a bateria superior da Fortaleza
de S. Francisco do Penedo “goza das
vantagens das baterias de costa”. As balas dos canhões eram
disparadas sob um ângulo de quatro a cinco graus e podiam atingir os navios
inimigos “a cem toesas de distância”.
(Op. cit.)
A bateria inferior tinha uma casamata à prova de bomba, e nesta zona erguiam-se
os paióis, armazéns, casa do comando, quarteis de tropa, calabouços, uma ermida
sob a invocação de São Francisco, e a cisterna, com capacidade para fornecer
água à guarnição durante um mês e meio
Ao lado da fortificação erguia-se um anexo fortificado sob a invocação de Nossa
Senhora das Necessidades, utilizado como armazém da pólvora. Xavier Lopes
regista no seu relatório que “(...)
toda a pólvora da colónia de Angola era aqui guardada”, não apenas
aquela destinada a fins militares, mas também a que os comerciantes importavam
para negociar, sobretudo no “paiz dos
Dembos” e no Congo.
Estes particulares pagavam uma quantia mensal ao governador, a saber, “cinco reis por cada arrátel de pólvora que sai
para o sertão o que monta mensalmente em 20 a 25 mil réis”. O major
dá conta ainda que também existia um grande armazém fora das muralhas onde era
guardado o “carvão
de pedra para os cruzadores ingleses”, obra do então Prefeito
Domingos de Saldanha Oliveira e Daun (1836), concluída na gestão do
Governador-Geral Manuel Bernardo Vidal (1837-1837). Em virtude das relações
entre Portugal e o Reino Unido serem tensas à época por causa do combate ao
tráfico negreiro no oceano Atlântico abaixo do Equador, e de reivindicações
territoriais na costa africana, faz um interessante comentário no seu
relatório: “(...) só
a política pode explicar o modo por que se consentiu um tal estabelecimento”.
Igreja da Nazaré
Igreja Nª. Srª da Nazaré, Luanda
Fonte:
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=24267
Cronologia
|
1664 - André Vidal de Negreiros,
governador de Angola *, manda construir a igreja como agradecimento a Deus
por ter sobrevivido a um naufrágio, numa viagem do Brasil para Angola,
possivelmente a mesma viagem que o leva para assumir as funções de governador
naquele território; séc. 17 -
A impressão do quase-naufrágio a caminho de Angola foi tal, que o novo
Governador quis agradecer de forma especial o que considerou um verdadeiro
milagre. A imagem escolhida para veneração com honras de Estado foi a Nossa
Senhora da Nazaré. A mesma que, mais de quinhentos anos antes, salvara outro
libertador do mesmo Atlântico em fúria.
A ordem foi imediata: construir uma igreja em honra da Virgem! Os
trabalhos terminaram em 1664, e constituíram uma verdadeira luta (mais uma!)
contra o mar que, na altura, era baía livre, sem marginais a barrar-lhe o
caminho. A Igreja era simples. Linhas rectas, geométricas. Uma torre sineira,
pequenina, e varandas e alpendres a dar-lhe mais graça. Dizem que este
templo, um dos mais queridos e antigos de Luanda, foi projectado para ser
algo maior, com duas torres laterais e tudo. Mas quem sabe porquê não
chegaram a ser construídas e a configuração da altura manteve-se assim,
austera e robusta, até aos dias de hoje.
criação da Irmandade de Nossa Senhora da Nazaré; segundo Cadornega, a
ermida fora construída no local onde se erguia a fortaleza de Santa Cruz,
destruída pelos holandeses e pelo tempo; o mesmo refere que logo
após o funeral solene do rei congolês morto em Ambuíla (29 Outubro 1665),
o governador manda pintar na capela-mor o milagroso sucesso da vitória
daquela batalha; séc. 18 - as pinturas são substituídas por dois painéis de
azulejos, azuis e brancos, colocados lateralmente na capela-mor;
A dois anos de deixar o Governo de Angola e de regressar ao Brasil, onde
acabaria por falecer em 1681, Vidal de Negreiros espoletou um dos episódios
mais sangrentos e célebres (pelas piores razões) da história colonial de
Angola – a Batalha de Ambuíla. A 29 de Outubro de 1665, tropas portuguesas e
os seus aliados chocaram com o exército do então rei do Congo, D. António I,
Nvita-a-Kanga. Foi a explosão brutal de uma relação conflituosa até às
entranhas.
A violência da batalha que, contam os registos, ocorreu no actual
município do Quitexe, província do Uíge, e que poderá ter envolvido mais de
30 mil soldados, foi descomunal. Portugal derrotou as tropas do Congo. O seu
rei, D. António I, acabou por morrer no campo de batalha. A cabeça do monarca
foi então levada para Luanda, como troféu, e enterrada (ou emparedada,
segundo algumas versões) na Igreja da Nossa Senhora da Nazaré. No interior do
templo, ainda hoje se podem apreciar azulejos alusivos à Batalha de Ambuíla
1836 - data até à qual se sepultam no cemitério contíguo à capela
os indígenas baptizados, quer sejam escravos, quer livres;
1869, 31 Julho -
01 Agosto - reposição da imagem da padroeira para as festas
realizadas nestes dias; 02 Agosto - entrega da ermida ao jovem
e activo missionário Pe. José Fulgêncio Lapeyre, congregacionista
do Espírito Santo, que ali se instala; Outubro - abertura da escola
e catequese;
1876, até - a ermida serve por alguns anos
de paroquial de Nossa Senhora do Cabo, enquanto se restaura da igreja na
ilha;
1877, Setembro - bispo D. Tomás
Gomes de Almeida (1871-1879) propõe ao Governo a criação de uma paróquia
independente com sede na capela da Nazaré, o que não tem seguimento;
1886, 24 Fevereiro - provisão
para nova erecção da Irmandade de Nossa Senhora da Nazaré, pelo
bispo D. António Tomás da Silveira Leitão e Casto (1884-1891), a pedido de
muitas pessoas da cidade "das mais respeitáveis, distintas e
piedosas"; Fevereiro - entra em funcionamento uma escola de
línguas africanas para aprendizagem dos missionários e formação de
catequistas auxiliares das missões, nos anexos da ermida; a iniciativa durará
pouco anos; finais - Governo manda proceder a algumas reparações urgentes na
ermida e prepará-la para as festas do ressurgimento da Irmandade;
1887, 21 Janeiro -
Governador-Geral Guilherme Augusto de Brito Capelo aprova os estatutos da
Irmandade; 01 e 02 Fevereiro - sob a presidência do prelado,
fazem-se festas solenes, celebrando a instalação da confraria e a data
nacional das armas portuguesas em Ambuíla; transferência da imagem do orago
da Igreja do Carmo para a ermida;
1909, marco - fortes chuvadas
provocam a queda do telhado, ficando danificadas algumas paredes, provocando
a queda do antigo tecto com forro de bordão de palmeira e deixando
inutilizada a residência atrás da igreja; transferência das imagens e alfaias
para a igreja do Carmo e suspensão do culto durante as obras; dada a falta de
recursos, recorre-se ao bispado e a Irmandade ao Governo pedindo ajuda para
as obras;
1910, Setembro - só nesta data se
iniciam as obras, sendo a igreja coberta por um telhado provisório de zinco,
a expensas das Obras Públicas, de modo a evitar a ruína completa;
1935 - só aquando do cruzeiro de férias de
membros do Governo português às Colónias é que se procede ao restauro da
igreja, com montagem de uma exposição histórica para os visitantes;
1937 - conclusão das obras de
restauro da igreja;
1938 - para a visita presidencial,
faz-se uma nova exposição;
1939,19 Março - reabertura solene da
ermida ao culto, presidida pelo bispo diocesano, que restabelece a capelania
que sempre tivera, com missa dominical; Agosto - segunda visita
presidencial à capela no regresso de Moçambique e África do Sul;
1942 - colocação de novo painel de
azulejos, executados pela Industria Nacional de Lisboa, com representação de
Nossa Senhora da Nazaré, colocado no local do retábulo-mor e para servir como
tal;
1957, 18 Janeiro - decreto arqui-episcopal eleva a
ermida a sede dum vicariato paroquial, desmembrado da paróquia do Carmo;
04 Junho - ao passar o 10º aniversário do seu falecimento, o Mons.
Manuel Alves da Cunha, que vivera 46 anos em Angola e fora o 1º arcebispo de
Luanda, é sepultado definitivamente no túmulo aberto na capela-mor da ermida,
diante do altar;
1965, 03 Agosto - elevação do vicariato
a paróquia e a ermida a igreja paroquial de Nossa Senhora da Nazaré.
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painel igreja de Nª Srª da Nazaré
fonte:
Património de influência
Portuguesa
Foi mandada construir em 1654 pelo
governador André Vidal de Negreiros em cumprimento de um voto à Virgem, feito,
possivelmente, durante um temporal ocorrido na sua viagem para Angola, mas foi
dedicada à vitória na Batalha do Ambuíla, como atestam os painéis de azulejos
do interior. De estilo barroco mas simultaneamente muito geometrizada, a igreja
apresenta uma composição austera e robusta, com predominância das linhas
horizontais. A fachada era possivelmente limitada por duas torres, que nunca
foram construídas mas constavam do projecto inicial; termina num frontão
triangular e óculo, sendo valorizada por varandas e alpendres laterais assentes
sobre arcadas, situação que lhe confere a indicação de igreja de peregrinação.
Conta apenas com uma pequena torre sineira, do lado da epístola, e está
limitada por pilastras rematadas por pináculos. Tem pequenas dimensões, uma só
nave, capela‐mor
e nichos colaterais decorados com colunas de tipo salomónico. Localiza‐se na Marginal, mantém os traços
originais da sua construção e foi classificada como Monumento Nacional através
da portaria 135, de 28.06.1932.
Igreja Nossa Senhora da Ilha do Cabo
Igreja da Nossa Senhora do Cabo, Ilha de Luanda
Na ilha do Cabo, à entrada da baía e
com acesso ao final da Marginal, está localizada a igreja mais antiga de
Angola, fundada em 1575 pelos quarenta portugueses que viviam na ilha antes da
mudança da cidade de Luanda para o continente, a igreja de Nossa Senhora do
Cabo.
É um dos maiores símbolos da cultura
do povo da Ilha, representa um grande património de interesse público.
A igreja de Nossa Senhora do Cabo ou
Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi edificada no mesmo
local onde houve uma igreja construída por comerciantes Portugueses que
chegaram à Ilha e ao Kuanza antes de Paulo Dias de Novais, portanto antes de
1575.
Em 1854 foi elevada a paroquial das
ilhas adjacentes. Não obstante ter, poucos anos volvidos encontrava-se em
completa ruína, tendo sido reconstruída em 1870.
Actualmente a igreja é rodeada pelo
musseque dos pescadores Muxiluanda e por eles quase exclusivamente frequentados.
É a igreja é uma das mais antiga de
Angola, mandada construir em 1575 pelos portugueses, aquando do desembarque
do Capitão-mor Paulo Dias de Novais na ilha, com homens de armas,
padres, mercadores e servidores, ali se fixaram e consagrados a Nossa Senhora,
deram ao templo a designação de igreja de Nossa Senhora do Cabo.
O Papa João Paulo II, numa sua visita
a Angola entrou e rezou neste templo.
A diáspora dos filhos de Mondim de
Basto fez história desde há muito tempo.
Por volta de 1648, um filho de Mondim,
"Frei Belchior da Conceição" depois de ter estudado teologia em
Lamego e Coimbra, embarcou com destino a Angola, para combater ao lado das
tropas de Salvador Correia de Sá e Benevides.
Muito jovem, este sacerdote participou
na reconquista do território angolano aos Holandeses, sendo depois o principal
obreiro da reconstrução da Igreja Nossa Senhora do Cabo, cujo nome foi depois
mudado para " Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição".
Este nosso conterrâneo nasceu na casa
dos Azevedos, da rua Velha, junto ao antigo edifício dos Bombeiros Voluntários.
Morreu em Angola em 1660, é tudo
quanto se sabe; está sepultado junto ao altar-mor da igreja que ajudou a
reconstruir.
Teixeira da Silva
Igreja Sagrada Família, do Carmo
Igreja da Sagrada Família
Por: Pedro Cardoso
O projecto da igreja naugurada bem 1964, e pintada originalmente de branco, foi também assinado pelo arquitecto Sabino Correia
A arquitectura moderna de Luanda da
segunda metade do século XX é um património de valor incalculável. Num catálogo
que inclui o conjunto do largo do Kinaxixi e edifícios como o do Ministério da
Construção, sobressai, em jeito de oração, a Igreja da Sagrada Família.
Num
dos corações palpitantes da capital, ponto de convergência de artérias
importantes, a Igreja da Sagrada Família impõe-se em reflexão e desafio. Paz,
silêncio, tranquilidade, em contraste com o caos que muitas vezes se instala lá
fora. Quando passar pelo templo, na rotina apressada de Luanda, aproveite as
longas pausas do tráfico para vê-la com olhos diferentes. Contemple-a.
A
história da igreja é recente. A Sagrada Família soprou as cinquenta velas em 12
de Abril do ano passado. Com uma torre sineira emblemática, foi construída em
homenagem aos cinquenta anos da ordenação do primeiro arcebispo de Luanda, Dom
Moisés Alves de Pinho. Num artigo do Novo Jornal, um dos seus arquitectos,
António de Sousa Mendes, relembra que o arcebispo foi também “decisivo na
escolha da sua personalidade arquitectónica”. “Lembro-me de receber reacções
muito positivas sobre a obra, e até de algumas críticas, também favoráveis,
publicadas em jornais”, recorda.
O
projecto da igreja inaugurada em 1964, e pintada originalmente de branco, foi
também assinado pelo arquitecto Sabino Correia. Representa uma geometria única.
O interior é amplo e luminoso. Duas aberturas laterais ajudam à circulação das
correntes de ar nos dias quentes, uma das características da chamada Arquitectura
Tropical, que teve em Luanda um dos seus laboratórios preferenciais.
(Abrimos
parênteses)
Esta
corrente teve como impulsionadores jovens arquitectos portugueses que
experimentaram em Angola e Moçambique, sobretudo, uma nova forma de idealizar
edifícios e a urbe. Cidades como Luanda, Beira ou Maputo, começaram a ser
traçadas com base em espaços amplos, funcionais, abertos à tecnologia. Esta
“revolução”, como lhe chamam especialistas na matéria, apoiava-se no passo
humano como medida, em jogos de volumes, formas geométricas, azulejos, murais. juntamente com espaços privados e comuns e adaptava-se ao clima dos trópicos,
protegendo os habitantes das cidades do sol e das chuvas repentinas.
Os
exemplos de Arquitectura Tropical em Luanda são muitos, e a igreja da Sagrada
Família é referência permanente em estudos e artigos nacionais e internacionais
sobre a matéria. O edifício é, inclusivamente, de estudo obrigatório nos
cursos de arquitectura dos estudantes luandenses.
Apesar
do seu valor arquitectónico não há que perder o norte: este é um lugar de fé e
devoção. E também neste aspecto a Sagrada Família é um local muito especial.
“Esta foi a primeira igreja onde o Papa João Paulo II entrou quando visitou
Angola, em 1992. Foi o ponto mais alto [da história do templo], não por ser
Papa, mas por ser um Papa que agora é santo. Então, podemos dizer que um santo
passou por aqui”, recorda o padre Joaquim Eugénio Lumingu, responsável pela
igreja, numa reportagem publicada em África revela que também as
comunidades imigrantes, cada vez mais volumosas por estas bandas, fizeram da
Sagrada Família o seu templo de eleição. Portugueses, brasileiros, franceses,
acorrem a esta igreja, em oração comum. A um tal ponto que o padre Lumingu já
pensa em rezar a missa em outras línguas.
Este
carácter internacional vive em cada poro da igreja, que já foi administrada por
três padres portugueses, dois brasileiros e dois angolanos. A arquitectura e o
significado religioso da Sagrada Família faz deste ponto frenético e tão
emblemático de Luanda um lugar de todo o mundo.
Como
ir:
A
Igreja da Sagrada Esperança fica no Maculusso, Luanda, perto do Hospital
Militar. É um dos pontos nevrálgicos da capital angolana.
Muxima
Na Província de Bengo, a Igreja de Nossa Senhora da Muxima – construída entre 1641-1648, é monumento nacional desde 1924 e situa-se em Muxima, a 130 km de Luanda. Alberga o Santuário da Nossa Senhora de Muxima e recebe milhares de peregrinos, sobretudo em Setembro, na Festa da Nª Sra. de Muxima.
A peregrinação anual à Mamã de todos
nós está a ponto de começar.
Por Pedro Cardoso.
Rezas, murmúrios, velas e fé começam a
agitar, tipo brisa leve, as águas do Kwanza. Lá naquela margem, onde se ergue –
branca, simples, forte – a capela de Nossa Senhora da Muxima, a emoção ganha
forma. A peregrinação anual à Mamã de todos nós, no próximo fim-de-semana.
“Mamã Muxima” rogai por nós! Mãe de
todos nós, rogai por nós!”
Fé não se discute. Mas há um lugar em
Angola que mexe com todos nós, crentes ou não. No coração do município da
Kissama, o Santuário de Nossa Senhora da Muxima reúne muito do que é o
sentimento de pertencer a este país. Muxima protege-nos; Muxima é nossa mãe;
como todos nós, Muxima refresca a cara com água do grande rio. Não há quem não
se emocione ao entoar a canção-hino que a celebra e que nos faz arrepiar a
pele.
Neste lugar aparentemente simples –
uma capela e uma pequena fortaleza branca em cima de um morro -, o Kwanza faz
uma curva pronunciada, arrastando diferentes forças. Em casamento sincrético,
naquela paisagem verde- exuberante se celebram a fé católica e rituais de
tempos antigos. Uma mistura não declarada de Avé Marias e de murmúrios do rio, de histórias de
jacarés e do doce cheiro da terra ancestral, de mistérios de noite e da luz do
dia.
A própria criação do santuário pisa
esta fronteira ténue entre mito e realidade. Sem muitas certezas, os
historiadores estimam que a capela foi fundada em 1599. Em cochicho de lendas
de madrugadas, há quem diga que a capela nasceu do dia para a noite. Os
portugueses dedicaram-na a Nossa Senhora da Conceição. O nome Muxima
(“coração”, em kimbundu), surgiria depois, com a devoção das gentes da terra.
Em 1647, a pequena vila que ali
cresceu foi incendiada e tomada pelos holandeses, que se apoderaram da imagem
de Nossa Senhora. Um ano depois, com a tomada de Luanda por Salvador Correia, a
Virgem voltou à Muxima, onde permanece até hoje, velando por todos nós. A
peregrinação, que atrai gente de todo o país e do estrangeiro, remonta a 1833.
Foi ganhando importância em tamanho e significado ao longo dos séculos
seguintes. Hoje, é um dos eventos massivos mais impressionantes de Angola. As
autoridades eclesiásticas estimam que no próximo fim-de-semana possam chegar ao
santuário mais de um milhão de peregrinos.
Com o coração em uníssono, os fiéis
criam um ambiente fervoroso nesta peregrinação que não dorme. 24 horas por dia,
a vibração é intensa. No mesmo espaço, juntam-se muitas crenças, muitas dores a
ser curadas e inúmeros milagres pessoais a ser celebrados. Há risos e prantos;
há braços levantados e corpos prostrados, joelhos no chão. Amálgama de gente,
corpos, suor, lágrimas. Muxima é uma esponja emocional. O cheiro a velas
queimadas e a flores, as cores dos panos que vestem as Mamãs e a humidade que
emana do rio em transição de cacimbo reúnem-se numa sinestesia intensa. É
difícil não sentir algo especial neste lugar.
Durante a peregrinação, o espaço
exíguo entre o morro e o rio enche-se de vida. Vêem-se centenas de tendas de
campismo e inúmeras barraquinhas de comida de todo o tipo. Mas é à noite que o
espaço se enche de uma magia especial. A procissão de velas é impressionante.
Lentamente, milhares de peregrinos seguem o passo sincopado do andor que leva a
Mamã Muxima pelas ruas da pequena vila. É a fé na sua expressão máxima.
Descrever esse momento, é profaná-lo.
Este ano, a peregrinação terá como
lema “Enraizados em Cristo, Caminhemos com Maria”. Presidirá às cerimónias o
Bispo da diocese de Viana, Dom Joaquim Ferreira Lopes. Estão mobilizados cerca
de 1700 voluntários, entre coristas, cozinheiros e protocolo.
Tudo está a postos para esta
celebração de misticismo e fervor. Vá em paz, e que a Mamã Muxima o acompanhe.
Como ir
A forma mais fácil de chegar à Muxima
a partir de Luanda é ir em direcção a Cabo Ledo, e seguir a indicação para a
sede do município da Kissama, no corte à esquerda. Este ano, a organização oferece
várias opções aos peregrinos que não têm viatura própria:
Autocarros a partir de vários pontos
de Luanda e a partir de Cabo Ledo, com direcção à Muxima, ao preço de 400
kwanzas;
Viagens especiais de comboio do Bungo
a Catete. Em Catete, haverá ligação de autocarro até ao santuário, também por
Kz 400.
Onde comer
Durante a peregrinação são muitas as
opções nas muitas barraquinhas que se montam no recinto do santuário. No
entanto, se quiser algo mais “formal”, tem a opção do Complexo Muxima.
Na Província de Bengo, a Igreja de Nossa Senhora da Muxima – construída entre 1641-1648, é monumento nacional desde 1924 e situa-se em Muxima, a 130 km de Luanda. Alberga o Santuário da Nossa Senhora de Muxima e recebe milhares de peregrinos, sobretudo em Setembro, na Festa da Nª Sra. de Muxima.
"Mamã
Muxima" regressa ao seu santuário
20 Outubro 2014
A imagem da "Mamã Muxima" foi
recolocada no santuário católico com o mesmo nome, a 130 quilómetros de Luanda,
um ano depois de ter sido vandalizada por elementos de uma seita.
A informação foi confirmada por fonte
eclesiástica, dando conta que o acto assinalando o regresso da imagem "foi
simples" no dias dedicados à Nossa
Senhora da Muxima, como padroeira de
Angola.
A vandalização daquela imagem, em
madeira, aconteceu a 27 de Outubro de 2013, perpetrada por elementos
pertencentes a uma seita e que foram detidos de imediato por populares e
polícia.
O ataque, provocou danos na imagem, que esteve em
restauro.
O regresso da imagem ao templo de
Muxima - considerado o maior centro mariano da África subsaariana - coincidirá
com a segunda reunião plenária de 2014 dos bispos da Conferência Episcopal de
Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), a realizar em Luanda até 27 de Outubro.
Localizada na província do Bengo, a
vila de Muxima - que na língua nacional quimbundo significa "coração"
- foi edificada pelos portugueses em 1589 que, dez anos depois, ali construíram
uma fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como
"Mamã Muxima".
O santuário, segundo a Igreja Católica
angolana, tornou-se local de "devoção espiritual que tem passado de
geração em geração", sendo o "maior espaço de devoção popular em
Angola e em toda a África Cristã", com os peregrinos a chegarem por via
terrestre e fluvial.
Segundo reza a história, Nossa Senhora
apareceu por duas vezes naquele local.
A última peregrinação anual a Muxima
realizou-se entre 06 e 07 de Setembro último, sem a presença da imagem.
Apesar de a "Mamã Muxima" ser considerada pelo povo como padroeira de Angola,
a CEAST ainda não declarou em decreto esta aclamação.
Em kimbundo, “Muxima” significa
coração.
Na Internet alguma informação
mais detalhada sobre este local aqui se reproduz alguns
textos:
“Nossa Senhora da Conceição da Muxima,
também conhecida como Nossa Senhora da Muxima ou Mamã Muxima é uma devoção
mariana de Angola.
Suas origens remontam a construção da
Igreja de Nossa Senhora da Conceição na localidade conhecida como Muxima, na actual
província de Bengo, em 1599.
O santuário logo se converteu num
importante centro de cristianização, sendo o lugar onde se baptizavam os
africanos antes de embarcá-los como escravos para diversas localidades, mas em
especial para as Américas.”
“Tornou-se, igualmente, um importante
espaço vocacional para as populações cristãs autóctones, que logo atribuíram à
Senhora da Muxima a realização de diversos milagres.
Os rumores de realização de prodígios
logo se espalharam pelas regiões circunvizinhas, levando à organização de actos
de piedade popular, quer baseados na tradição portuguesa, quer totalmente
inovadoras ou reminiscentes de antigas religiões africanas.
A mais importante dessas tradições, a
Romaria de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, remonta ao ano de 1833,
atraindo milhares de peregrinos todos os anos, em fins de Agosto e início de Setembro.
A devoção inspirou vários escritores
angolanos, como Pepetela, que discorre sobre as tradições associadas à Mamã
Muxima na obra “ A Sul O Sombreiro.”
Subi à fortaleza para melhor poder
apreciar a igreja e o adro e a vista é magnífica
Sobre à fortaleza e sobre a sua
história encontra-se este relato:
“A ocupação do local por forças
portuguesas remonta ao estabelecimento, em 1581, de um pequeno posto militar à
margem esquerda do rio Kwanza, pelo então governador de Angola, Paulo Dias de
Novais.
Mais tarde, este posto veio a
tornar-se num presídio (estabelecimento de colonização militar), com a função
de defesa diante dos povos de Quiçama.
Em 1599, para defesa do presídio, o
governador João Furtado de Mendonça determina a construção de uma nova
fortificação.
Nesta época, o presídio oferecia
suporte às relações comerciais na região, servindo como activo entreposto de
mercadorias e de escravos aguardando transporte para o continente Americano. As
obras só foram iniciadas, entretanto, no início do século seguinte.
No contexto da invasão holandesa de
Angola, em 1641 os presídios no rio Kwanza constituíram-se em uma linha de
resistência dos colonos portugueses ao invasor.
Desse modo, em 1646 Muxima foi atacada
por forças holandesas, tendo a população se refugiado na fortaleza.
Foi reedificada em 1655, conforme
inscrito na pedra de armas, sendo capitão Francisco de Novais.
Até meados do século XIX o presídio e
a sua guarnição foram governados por um Capitão-mor.
Vizinha à Igreja de Nossa Senhora da
Muxima, encontrava-se em ruínas em precário estado de conservação, tendo sido
recuperada por volta de 2008.”
Do alto da fortaleza a vista sobre o
Kwanza é esta:
Descendo e indo até à margem do
Kwanza, o cenário é inesquecível.
“O “Forte de Nossa Senhora da Vitória
de Massangano”, popularmente referido como “Forte de Massangano” ou “Fortaleza
de Massangano”, localiza-se na confluência do rio Lucala com o rio Kwanza, na
povoação de Massangano, no município de Cambambe, na província de Kwanza-Norte,
em Angola.
O rio Kwanza foi a principal via de
penetração portuguesa para o interior do território.
Nas suas margens foram construídos os
grandes presídios angolanos, tendo sido neles que de afirmou o domínio
Português quando os Holandeses dominaram o litoral no século XVII. Dotados de
guarnições militares, constituíam as circunscrições administrativas
fundamentais do território, sendo chefiados por capitães-mores nomeados pela Coroa
ou por regentes, designados pelo Governador-geral.
A partir deles desenvolveu-se a
penetração comercial, religiosa e política no território, deles partiam as
expedições militares e neles buscavam refúgio os colonos em caso de maior
perigo.
Neste local travou-se, em 1580, a
Batalha de Massangano, na qual as forças portuguesas derrotaram as do rei
Kiluange de Ngola.
Posteriormente, em 1582, as forças
portuguesas, sob o comando do governador e capitão-mor de Angola, Paulo Dias de
Novais (1575-1589), foram repelidos pelos Ngola, quando tentavam penetrar na
região, em busca das lendárias minas de prata de Cambambe.
Esta fortificação foi erguida pelo
próprio Novais (ou por Manuel Cerveira Pereira, segundo outros autores), às
margens do rio Kwanza, em 1583, com a função de defesa do presídio
(estabelecimento de colonização militar) que assegurava a ocupação portuguesa
na região, alargando-a.
Além de marcar a presença militar
portuguesa, esse estabelecimento garantia a integridade das redes comerciais,
incluindo a de tráfico de escravos para o continente americano.
Data deste mesmo período a construção
da Igreja de Nossa Senhora da Vitória.
No contexto da Dinastia Filipina
(1580-1640), ao final do século XVI era o único forte em Angola em mãos luso-espanholas,
conforme o relatório do pernambucano Domingos de Abreu e Brito ao soberano.
Posteriormente, em 1640, as forças da
rainha Nzinga atacaram o Forte de Massangano, ocasião em que as suas duas
irmãs, Cambu e Fungi, foram aprisionadas, sendo esta última executada.
Diante da ocupação de Luanda pelas
forças da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, em agosto de 1641, foi a
Massangano que as forças portuguesas sob o comando do então Governador Pedro
César de Meneses se recolheram, e onde resistiram até à reconquista, por
Salvador Correia de Sá e Benevides, em agosto de 1648.
Até meados do século XIX o presídio e
a sua guarnição foram governados por um capitão-mor.
Mas a estrutura melhor preservada
continua a ser a pequena Igreja de Nossa Senhora da Victória de Massangano,
lugar de peregrinação a cada segundo domingo de Agosto.
Num pequeno largo com frondosas
acácias, o templo foi mandado erigir no século XVI por Paulo Dias de Novais,
fundador de Luanda, e que morreu em Massangano, em Maio de 1589.
O túmulo onde foi sepultado, em frente
à igreja, ainda hoje pode ser visitado, embora os seus restos mortais tenham
sido transladados posteriormente para a capital angolana.“
Comparando uma imagem antiga com a
realidade actual, pode ver-se que a igreja está restaurada e mostra todo o seu
esplendor.
O "Forte
de Nossa Senhora da Vitória de Massangano", popularmente referido como
"Forte de Massangano" ou "Fortaleza de Massangano",
localiza-se na confluência do rio Lucala com o rio Cuanza, na povoação de
Massangano, no município de Cambambe, na província de Cuanza-Norte, em Angola.
O rio Cuanza
foi a principal via de penetração portuguesa para o interior do território. Às
suas margens, Ambaca, Cambambe, Massangano, Muxima e Pungo Andongo foram os
grandes presídios angolanos: foi neles que de afirmou o domínio Português
quando os Neerlandeses dominaram o litoral no século XVII. Dotados de
guarnições militares, constituíam as circunscrições administrativas
fundamentais do território, sendo chefiados por capitães-mores nomeados pela
Coroa ou por regentes, designados pelo Governador-geral. A partir deles
desenvolveu-se a penetração comercial, religiosa e política no território;
deles partiam as expedições militares e neles buscavam refúgio os colonos em
caso de maior perigo. ("Presídios de Angola", in SERRÃO, Joel (dir.).
"Dicionário de História de
Portugal (4 vols.)". Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1971. Vol.
III, p. 474-475.)
Características
O forte apresenta planta quadrada, sem baluartes nos vértices. Em seus muros
rasgam-se dez canhoneiras. É acedido por um túnel abobadado a partir do portão
de armas, pelo lado voltado para terra. Em seu terra-plano erguem-se as
edificações de serviço: Casa do Comando e Quartel de Tropa.
Fortaleza de Cambambe
A
Fortaleza de Cambambe
A primeira fortaleza construída em
Cambambe foi mandada edificar pelo governador Manuel Pereira Cerveira em 1604, na margem direita do rio Cuanza, após uma batalha travada com o soba Cambambe. O governador apercebeu-se que as
serras de Cambambe eram, por natureza, um local estratégico para a construção
de um forte, dado a sua proximidade com o rio Cuanza, o que permitia o seu
abastecimento, e a vista de que se dispunha do alto da serra . A fortificação “estava
construída sobre uma ponta em ângulo, com extraordinárias condições defensivas,
pois era rodeada de água por dois lados e só o terceiro lado tinha uma estreita
passagem para terra. O local tinha óptimas condições estratégicas e para o
tornar inexpugnável bastaria somente construir uma muralha no lado oposto ao
vértice”.
O governador ter-se há aproveitado da configuração
do terreno para erguer uma “fortaleza em triângulo, ampla e desafogada, dentro
da qual se elevou uma pequena povoação. A fortaleza seria uma construção
simples de taipa, e teria no bastião uma igreja que se tinha erguido sob a
invocação de Nossa Senhora do Rosário. A muralha da fortaleza teria à frente um fosso e,
afastados de alguns metros, existiriam baluartes salientes materializados por
montes de terra em talude. “Na distância de 600 pés (da segunda fortaleza) aproximadamente,
olhando para sul, ainda se avistam os restos das primeiras fortificações –
fosso e outras obras de defesa – feitas pelos nossos maiores quando foram a
descobrir e civilizar aqueles povos […]. Os ditos restos assentam sobre uma
grande ponta, que entra pelo rio, formando com a saliência da margem oposta uma comporta que
tem a denominação de Portas do Cuanza. É deste lugar que o rio só pode ser
navegável até à sua foz.
Esta segunda fortaleza referida foi
mandada construir em 1646 pelos administradores coloniais António Teixeira de
Mendonça, João Zuzarte de Andrade e Bartolomeu Vasconcelos da Cunha, alegando a
fragilidade da primeira construção. A nova fortaleza seria em “taipa de pilão
com baluartes, trincheiras e fosso”. No seu interior teria sido construída a
casa do Corpo da Guarda, um armazém para munições, uma casa para o capitão,
quarteis para os soldados e casas para os moradores do presídio. Nos baluartes
existiriam peças de artilharia de pequeno calibre, em bronze, e “falcões e
esmerilhões” (termos militares antigos para canhões e peças de artilharia). D.
João de Lencastre, capitão-geral de Angola, mandou construir uma nova fortaleza
em 1691, sendo esta já a terceira fortaleza existente em Cambambe, depois da
primeira construída em 1604 e a segunda em 1646. São as ruínas desta edificação
que, embora massacradas pelas intempéries, persistem até aos nossos dias.
Ilustração das margens do
Rio Cuanza no início do séc. XIX. .
É possível observar ao fundo do lado direito a
fortaleza de Cambambe no alto da colina. O forte formava um quadrilátero com
baluartes nos quatro vértices. Era uma construção bastante espaçosa e delineada
conforme os modelos da arte militar da sua época. A porta de armas desta nova
fortaleza, de contorno barroco, estava coroada pelo Escudo da Restauração da Independência,
e por uma lápide que continha a seguinte inscrição: “Este forte mandou fazer o
Sr. D.João de Alencastre governador e capitão general destes reinos – anno de
1691”. Note-se que esta construção apresenta já uma arquitetura totalmente
diferente da arquitetura das fortalezas de Muxima e Massangano, compreendida
pela data da sua construção (mais de um século após as duas primeiras).
Ruínas da fortaleza de Cambambe
(provavelmente na segunda metade do
séc. XX), de planta quadrangular com baluartes nos vértices .
Os muros da fortaleza de Cambambe, de planta
quadrangular com baluartes nos vértices..
Arco da porta de armas da fortaleza (1965 à
esquerda e 2008 à direita), coroado com o Escudo da Restauração, e por uma
lápide com a seguinte inscrição: “Este forte mandou fazer o Sr. D João de
Alencastre governador e capitão general destes reinos – anno de 1691.
Esta fortaleza voltou a ser restaurada
em 1730 ou 1731. No seu interior foi erguida novamente uma igreja sob a protecção
de Nossa Senhora do Rosário. Desta feita, o templo era uma construção de alvenaria
de pedra e barro com “argamassa elementar de cal e arenito sob forma xistosa”.
Era uma igreja típica do séc. XVII, de arquitectura muito sóbria e robusta, o
que é de compreender uma vez que o templo existe no interior de uma fortaleza,
um local onde os acabamentos decorativos da época, já por si tão simples, não
tinham grande cabimento, ainda mais dado o difícil acesso ao local. Na
capela-mor o estilo arquitectónico predominante era o barroco, com ornamentação
em relevo e pintada. No interior da capela existia um arco de volta perfeita em
tijoleira ao centro e dois laterais. No local do altar, onde se celebrava o
culto, existiam colunas salomónicas e um arco de pedra já emoldurado e
enriquecido com fecho, pilastra de capitel ornado, molduras superiores rematadas
em aletas e nichos com mísulas. Este conjunto arquitectónico parece
enquadrar-se temporalmente no final do séc. XVII ou até no início do séc. XVIII
Ruínas do interior da Igreja de Nossa Senhora
do Rosário (2008).
Ruínas do altar da Igreja de Nossa Senhora do
Rosário (2014).
A fortaleza de Cambambe e em
particular a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foram deixadas ao abandono a
partir de meados do séc. XIX . Desde então, estas construções deixaram de
receber qualquer tipo de intervenções de manutenção pelo que o seu estado actual
se classifica como ruína.
Ruínas do interior da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário (2008). Fotografia de A. Dimas Neto.
Ruínas do exterior da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário (1965). Perdido o interesse na exploração mineira em
Cambambe, passou esta localização a ser um centro de contacto civilizacional e
a ter útil actividade por servir de convergência entre rotas de transportação de
produtos do interior para o litoral, e vice-versa, devido à maravilhosa via de
comunicação natural que era o rio Cuanza. Cambambe foi perdendo importância
política, administrativa e estratégica devido à criação de outros meios de
transporte (essencialmente estradas e caminhos de ferro) que arrastaram consigo
a prática das actividades comerciais. A Fortaleza de Cambambe terá sido
habitada e preservada até meados do século XIX, data a partir da qual se terá
sujeitado ao abandono no qual se encontra até ao início do século XXI (2016).
Desde 1925 que a fortaleza de Cambambe é classificada como património
histórico-cultural e Monumento Nacional em Angola.
Forte
do Ambriz
Arquitectura Militar
Ambriz, Angola
Arquitectura militar
Destacam‐se a Fortaleza
do Loge, construída em 1790‐1791,
parcialmente demolida em 1792 sob pressão dos ingleses
e restaurada em 1869; classificada como monumento em 8 de Julho de 1922, o
Forte do Ambriz, erguido em 1855 no extremo da vila, com grossas paredes em
adobe, no interior do qual estava instalado o paiol.
Município do Ambriz
Fortaleza do Ambriz, século XVIII,
assegurou durante muito tempo o negócio clandestino de escravos. Classificados
por despacho n.º 42/92, de 8 de Julho.
Casa dos Escravos, século XVII e XVIII,
o edifício serviu de paiol e no século XVIII reconstruído servindo de casa de
trânsito dos escravos. Classificada por despacho n.º 46/93, de 10 de Novembro .
Antiga Câmara Municipal, séculos XIX e
XX, classificada por despacho n.º 26/95, de 18 de Abril
Igreja de São Jorge, construída em
1858 e classificada por despacho n.º 14/97, de 18 de Abril.
Zona Histórica do Ambriz, é o núcleo
urbano da antiga Vila do Ambriz. Classificada por despacho n.º 14/97, de 18 de
Abril.
Igreja de Lândana - Cabinda
Igreja Nª Srª do Monte Caála, Angola
Esta capela foi construída em 1924, no alto
dum monte (Benguela), na Caála ( ex Robert Williams).
No seu perímetro tem uma via sacra , em
painéis de azulejo.
Foi destruída durante a guerra civil, depois
foi restaurada e reinaugurada em finais de 2008.
O bispado do Huambo pretende transformá-la
esta igreja em Santuário Nacional, dedicado ao Imaculado Coração de Maria.
Forte de Quibala - Cuanza Sul - Angola.
A colonização do território que hoje é
a república de Angola foi feita muito lentamente, levou quatro séculos: desde o
início do séc. XVI até ao início do séc. XX. As primeiras construções militares
foram feitas junto à costa, mas no final do séc. XVI avançou-se para o
interior, através do rio Cuanza, em cujas margens se ergueram os fortes de
Muxima (1581/1599) de Massangano (1583) e de Kambambe (1604).
Em 1682 foi também construído o forte
de Caconda na Huíla, já no interior.
Após a perda do Brasil em 1822, a
partir de meados do séc. XIX começou a ocupação do interior de Angola,
originando a construção de diversos fortes, entre eles o da Quibala, no Cuanza
Norte.
Foi construído no final desse século,
sobre um afloramento granítico e serviu de aquartelamento militar até final da
"guerra do ultramar", em 1974.
Em 2007, o forte estava abandonado e a
saque, mas em 2012 já tinha um vigilantee algum capim tinha sido cortado.
As
autoridades já perceberam que estas construções fazem parte da história do
país, é seu património, por isso é de seu interesse, e de todos, que sejam
preservadas.
Salvador Correia de Sá e Benevides
Nasceu no Rio
de Janeiro em 1594 e era filho de Martim de Sá, descendente de gloriosa família
de Mem de Sá e de Estácio de Sá, fundadoras da Cidade do Rio de Janeiro. Em
1612 entrou para o serviço militar distinguindo-se nas guerras contra os
índios. Depois de importantes serviços como oficial das naus portuguesas, foi
em 1634 nomeado Almirante dos Mares do Sul, lugar que desempenhou com a maior
bravura e saber.
D. João IV escolheu-o para libertar Angola do jugo holandês,
missão que desempenhou sem ajuda directa do Reino para não comprometer as pazes existentes com a Holanda.
Armou no Brasil 15 navios, quatro
dos quais à sua própria custa e depois de vários êxitos, obteve a rendição dos
holandeses que se haviam refugiado na fortaleza de S. Miguel e no forte de Nª Senhora da Guia.
Assinada em 19 de Agosto de 1648 a capitulação dos holandeses
em Luanda, outras guarnições espalhadas por Angola e S. Tomé seguiram o exemplo
abandonando as posições.
Correia de Sá, faleceu em Lisboa a 1 de Janeiro de
1688.
O
Forte de Quicombo
O Forte de Quicombo situa-se na baía do mesmo nome, no município de Sumbe ( ex
Novo Redondo), na província de Kwansa Sul. Foi erguido em 1645, por Francisco
de Souto-Maior, no período da reconquista de Angola aos Flamengos. Foi
restaurado por Salvador Correia de Sá e Benevides, em 1648, que daqui partiu
para a tomada de Luanda. O forte está ligado ao trafico de escravos e á luta
contra a ocupação Portuguesa. Hoje só resta um baluarte , em condições
relativamente boas.
. A colonização do território que hoje
é a república de Angola foi feita muito lentamente, levou quatro séculos: desde
o início do séc. XVI até ao início do séc. XX. As primeiras construções
militares foram feitas junto à costa, mas no final do séc. XVI avançou-se para
o interior, através do rio Cuanza, em cujas margens se ergueram os fortes de
Muxima (1581/1599) de Massangano (1583) e de Kambambe (1604).
Em 1682 foi também construído o forte
de Caconda na Huíla, já no interior.
Após a perda do Brasil em 1822, a
partir de meados do séc. XIX começou a ocupação do interior de Angola,
originando a construção de diversos fortes, entre eles o da Quibala, no Cuanza
Norte.
Foi construído no final desse século,
sobre um afloramento granítico e serviu de aquartelamento militar até final da
"guerra do ultramar", em 1974.
Em 2007, o forte estava abandonado e a
saque, mas em 2012 já tinha um vigilantee algum capim tinha sido cortado.
As autoridades já perceberam que estas
construções fazem parte da história do país, é seu património, por isso é de
seu interesse, e de todos, que sejam preservadas.