Expressões
de Angola.
DICIONÁRIO
Editado no Facebook por Alípio Mendes
Expressões e Palavras Utilizadas por
Nós
A B C D E F G I L M P Q R S T V W Z
A
ACA – Expressão que significa, de
acordo com a entoação ou situação, enfado, repugnância, surpresa; alegria,
alívio, espanto.
AJINDUNGADO – Temperado com gindungo,
picante.
ALAMBAMENTO – Dote do noivo à família
da noiva, regra geral em gado e outros animais domésticos, vestes, mantimentos
ou dinheiro. O alambamento, condição fundamental para tramitação do noivado, é
tratado entre as famílias dos nubentes, mesmo não se tratando do primeiro
matrimónio. As regras variam ligeiramente, de etnia para etnia mas, princípio
universal, a família da noiva obriga-se a devolvê-lo caso não se verifique a
consumação do casamento ou em caso de divórcio. Também pode ser entendido como
“tributo de honra prestado pelo noivo à família da noiva”.
AMIGO DA ONÇA – Fraco amigo, amigo de
“Peniche”.
ANGOLAR – Antiga moeda que circulou em
Angola entre 1928 e 1957 (a sua recolha terminou em 31 de Dezembro de 1959),
tendo sido substituída pelo escudo.
ANGOLENSE – Angolano; o natural, o
habitante ou o que pertence ou se refere a Angola.
ANHARA – Xana, planície arenosa,
correspondente africano da charneca, na região central de Angola, atravessada
por cursos de água, com vegetação rasteira formada principalmente por gramíneas
e arbustos de pequeno porte, podendo apresentar-se alagada. O ongote (planta
leguminosa arbustiva, com folhas compostas e flores minúsculas em pequenos
cachos, característica da anhara angolana)é a típica personalidade vegetativa
da anhara.
ARMADO EM CARAPAU DE CORRIDA – Armado
em esperto, armado aos cucos.
APAGAR O MAÇARICO – Morrer, lerpar,
bater a caçuleta, fazer uafa.
B
BAILUNDO – Reino do planalto central
de Angola, fundado cerca de 1700 por Katiavala. Município e cidade da província
do Huambo. Povo Vambalundu pertencente ao grupo etnolinguístico Ovimbundo . A
designação Bailundo estendeu-se a todo o grupo. O falante de Umbundo; aquele ou
o que pertence ou se refere a este grupo ou região; naturais do Huambo e Bié.
BALEIZÃO – Gelado, sorvete; “Resultou
do apelido de um fabricante desse gelado, o qual, em 1941, se havia
estabelecido na cidade de Luanda.”
BAMBI – (Cephalophus mergens) Pequeno
antílope, também conhecido por cabra-do-mato, de pelagem castanha, com uma
mancha mais escura ao longo da coluna dorsal; não ultrapassa 1m de comprimento,
55cm de altura ao garrote, 20cm de cauda e chifres direitos e delgados com 9cm de
comprimento. Vive em matas fechadas, onde existam cursos de água próximos.
BANGA – (Di-banga = envaidecer-se)
Ostentação, presunção, vaidade; distinção, elegância, garbo. Causar sensação.
BANZADO – Pensativo, admirado,
assombrado, espantado, maravilhado.
BATUCADA – Acto ou efeito de batucar;
percussão do batuque; dança ou festa com batuques; barulho de batuques.
BATUCAR – Fazer soar ou tocar o
batuque; dançar ao som do batuque. Dar pancadas ou bater com as mãos num
qualquer objecto a ritmo cadenciado. Bater aceleradamente (o coração).
BATUQUE – (Ba atuka = local onde se
salta e pula) Tuka saltar, pular. Instrumento de percussão; bombo, tambor.
Apresenta formas e designações variadas de acordo com a região, aspecto,
material utilizado na sua confecção e som produzido. O som produzido pela
percussão do instrumento. Dança, divertimento ou festa com acompanhamento de
batuques. Esta é a concepção mais moderna de batuque. Pode ter acompanhamento
de vocalizações harmónicas, cânticos de cariz social, ou refrães apenas
poéticos. Na verdade, o batuque é uma espontaneidade anímica dos povos
africanos. Começou por ser uma manifestação que acompanhava os ritos fúnebres,
tendente “à satisfação da alma a que se propicia semelhante folguedo, a fim de
lhe minorar a tristeza, pelos entes que deixou. Nesta conformidade, as danças
obituárias não constituem, como ordinariamente se julga, uma natural
manifestação de folia, antes uma forma de expressão religiosa… Os batuques
organizam-se de noite, geralmente começando à tardinha. Se respeitam a óbitos,
podem durar noites inteiras, mesmo um mês.”
BEBER ÁGUA DO CU LAVADO – Beber uma
pretensa água que deixava um homem caidinho de amores.
BICANJOS – subúrbios, aldeias.
BICHINHO DO MATO – Pessoa muito
acanhada.
BICUATAS – Tarecos.
BITACAIA – Espécie de pulga criada
(nos dedos dos pés).
BICO-DE-LACRE – ( Estrilda astrild
angolensis ) Ave passeriforme da família dos Estrildídeos, é um pequeno pássaro
com 11,5 cm de comprimento originário de Angola. Devido à sua grande capacidade
de sobrevivência em cativeiro emigrou para Portugal e Brasil, após a
descolonização, foi solto na natureza e adaptou-se perfeitamente, integrando
hoje a avifauna daqueles países. A plumagem é castanho-amarelada e tons de bege
no peito, dorso e asas, peito com listras onduladas de branco e preto, ventre
rosado, cauda vermelho-escura e bico cor de lacre. Apresenta uma banda ocular
vermelha, larga e escura no macho e desmaiada e mais estreita ou inexistente na
fêmea. Esta é mais pequena do que o macho e a plumagem é mais vistosa no macho
e desmaiada na fêmea. O bico das crias é negro à nascença, torna-se alaranjado
na primeira muda e só em adulto adquire o tom que dá o nome à espécie.
Desloca-se em bandos numerosos que chamam a atenção pelos gritos estridentes
incessantes. Vive em habitats abertos de silvados, savanas de gramíneas e
espaços urbanos ajardinados. Alimenta-se no solo, de grãos, sementes e de toda
a espécie de insectos, estes principalmente na altura de alimentação das crias.
O ninho é construído no solo no meio do capim alto ou sob arbustos. É redondo e
provido de um túnel de acesso, construído com raminhos, penas, palha e ervas. O
macho constrói o abrigo e a fêmea dá-lhe o acabamento final, transportando
penas e capim para o acolchoamento onde irá fazer a postura de 4-6 ovos que
serão chocados pelos dois membros do casal, alternadamente de 2 em 2 horas,
passando ambos a noite no ninho, durante cerca de 12 dias. Duas semanas depois
de nascer as crias estão aptas a voar, embora continuem a ser alimentadas, durante
algum tempo mais, pelos progenitores. Designa-se este por bico-de-lacre-comum
já que existe outro bico-de-lacre de Angola; é o Estrilda thomensis , o
bico-de-lacre-cinzento-de-angola, que tomou esta designação (thomensis) por se
julgar, erradamente, ser originário de São Tomé e Príncipe. Difere do
bico-de-lacre-comum essencialmente pelo colorido da plumagem, mais escura e sem
as listras onduladas.
BISSONDE – Formiga gigante que ferroa
nas pessoas desprevenidas.
BOMBÓ – Pedaços de mandioca descascada
e demolhada. Depois de fermentada ou seca é moída, ou pisada, dando a fuba de
bombó. Também se come assado, como acompanhamento para qualquer tipo de
alimento.
BOTECO – Botequim, bar de fracas
qualidades.
C
CABAÇA – Fruto da cabaceira,
semelhante à abóbora, em forma de pêra, apresentando na parte superior uma
espécie de gargalo pronunciado; pode ter a forma de um 8, em que o bojo
inferior é maior do que o superior, estando separados por um estrangulamento.
Em Angola tem uma grande importância ancestral pois sempre foi o recipiente por
excelência para armazenamento de líquidos, depois de seco e oco.
CABACEIRA – ( Lagenaria siceraria sin.
Cucurbita spp) Planta anual vigorosa, trepadeira ou prostrada, da família das
Curcubitáceas, que pode alongar-se por 5m de comprimento. Apresenta flores
tubulares com 5 pétalas, brancas ou amareladas, com 4,5cm. É originária de
África, embora hoje esteja também presente na Europa, Ásia e América. O fruto,
a cabaça, é muito utilizado como recipiente.
CABEÇA-DE-PEIXE – (ou CABEÇA DE PUNGO)
São epítetos por que são conhecidos os naturais ou habitantes do distrito de
Moçamedes / província do Namibe. O bairrismo das populações pretende as águas
separadas: os alexandrenses (naturais de Porto Alexandre) reivindicam a
designação cabeças-de-peixe e os moçamedenses cabeças-de-pungo. As designações
derivam do facto destas populações viverem essencialmente da pesca.
CABRA-DE-LEQUE – ( Antidorcas
marsupialis angolensis ) Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos, a
cabra-de-leque, é uma pequena gazela de 75 cm de altura, 1m de comprimento para
um peso de 40-50 kg. É uma das gazelas mais velozes, podendo a atingir os 90
km/h e pode, com facilidade, dar saltos de mais de 5 m. A pelagem é
castanha-avermelhada, com uma barra castanha-escura nas laterais junto à
delimitação do ventre, que é branco. A alvura do ventre prolonga-se pela parte
interna das patas. A garganta é branca bem como a face, que apresenta uma lista
escura que se prolonga dos olhos ao nariz. No final do dorso onde nasce a cauda,
branca, apresenta um triângulo de longos pêlos brancos que se abrem em leque
durante a corrida, empreendida sempre que pressente algum predador. O leque
destaca-se, brilhante, na poeira levantada pela manada. Esta acção, sempre
acompanhada de vistosas cabriolas que mais parecem elegantes passos de ballet,
servem para indicar a posição aos companheiros que seguem na retaguarda. O
leque abre-se também, dramaticamente, no momento da morte. Os chifres, em forma
de lira de pontas convergentes, são pequenos, não ultrapassam os 50 cm,
apresentam anéis bastantes vincados e são mais desenvolvidos no macho sendo que
na fêmea são mais finos e não apresentam convergência nas pontas. A fêmea
atinge a maturidade sexual entre os 7 e os 12 meses, ao passo que o macho a
alcança aos 2 anos de idade. O período de gestação é de 6 meses. Vive nas
savanas abertas e regiões semidesérticas. Alimenta-se da parte aérea das
plantas, de raízes e tubérculos. Se os vegetais de que se alimenta contiverem,
no mínimo, 10% de humidade, o animal não necessita de beber.
CACETE – Pau que serve para dar
cacetadas.
CACIMBA – Cova, lagoa ou poço que
recebe água das chuvas; buraco aberto para se procurar ou armazenar água.
Estação fria dos trópicos; chuva miudinha, orvalho, relento.
CACIMBADO – Quem ou o que recebeu
cacimbo; húmido, molhado; enevoado, nublado. Neurótico, perturbado, triste,
tristonho; aquele que sofre de perturbações psíquicas, mormente dos traumas
provocadas pela guerra.
CACIMBO – É poca das chuvas, Inverno.
Humidade própria dos climas tropicais e equatoriais; chuva miudinha, orvalho,
relento; época das chuvas.
CAÇULA – O filho mais novo.
CADA CARANGUEJO NO SEU LUGAR – Cada
macaco no seu galho.
CAFECO, UFEKO ou UFEKU – Mulher jovem,
púbere.
CAGAÇO – Medo, muito medo.
CALCINHA – Pessoa toda não-me-toques.
CALEMA – Fenómeno natural da costa
ocidental africana, caracterizado por grandes vagas de mar. A ondulação
forma-se no alto-mar e a ressaca origina correntes muito fortes que,
dirigindo-se para a costa, rebentam estrondosamente, provocando grandes
estragos.
CALHAU COM OLHOS – Pessoa com muito
poucas capacidades intelectuais, pouco inteligente.
CALONJANDA – Expressão que quer dizer
que alguém tem os pés tortos (virados para fora).
CALULU – R ama da batata-doce. Prato
típico de guisado à base de peixe ou carne, tendo como ingredientes (calulu de
galinha) cebola, tomate, pau-pimenta, louro, jindungo , couve, quiabo ,
beringelas, e óleo de palma, engrossando-se o molho com farinha de trigo.
Acompanha-se com arroz. Guisado de peixe, fresco e seco, tendo como
ingredientes quiabo, abóbora, tomate, cebola, rama de cará ou de mandioca ,
jimboa e óleo de palma. É acompanhado de pirão ou funje . “Esta designação,
usual entre as populações do Sul e Centro de Angola, corresponde, pela
identidade da iguaria, à de funje de azeite de palma.
CAMACOUVE – Comboio de mercadorias que
efectuava paragens em todas as estações e apeadeiros transportando correio e
materiais diversos.
CAMANGA – Diamantes.
CAMANGUISTA – Negociante de diamantes.
CAMAPUNHO – Pessoa desdentada dos
dentes da frente.
CAMBUTA – Pessoa de baixa estatura, um
quase anão.
CAMUECA – Mal-estar, doença.
CAMUNDONDO – Natural de Luanda. Rato.
COMBOIO MALA – Comboio do Caminho de
Ferro de Benguela que transportava os passageiros entre a cidade do Lobito e
Vila Teixeira de Sousa, mais tarde Dilolo.
CANDINGOLO – Bebida confeccionada
pelos nativos indígenas, sem qualquer qualidade mas com muito álcool, uma
espécie de cachaça muito mais forte.
CANDENGUE – Criança, miúdo, rapaz; o
irmão mais novo.
CANDINGOLO – Bebida licorosa preparada
a partir da hortelã-pimenta. “Em sua preparação, entram normalmente as
seguintes quantidades de ingredientes: 1 litro de álcool puro, 2 de água, 0,5
de açúcar branco e essência de hortelã-pimenta. Reduzido o açúcar a calda,
junta-se esta, depois de esfriada, ao álcool, ministrando-se por fim, a
essência.”
CANDONGA – Permuta, contrabando.
CANDONGUEIRO – Aquele que faz
candonga.
CANGALHO – Carro velho.
CANGONHA – Liamba ou Diamba .
CANGULO – Carrinho de mão.
CANHANGULO – Arma antiga de fabricação
caseira (regra geral), de carregar pela boca
CANIÇO – Cana delgada.
CAPANGA – Esbirro; guarda-costas,
indivíduo que faz a segurança pessoal de alguém.
CAPIM – Nome genérico por que são
conhecidas as plantas gramíneas e ciperáceas, geralmente forraginosas; chegam a
cobrir enormes extensões de terreno e atingem altura relativamente elevada após
as chuvas, formando grandes pastos naturais; erva; relva.
CAPINA – Capinação, Monda, Sacha. Acto
ou efeito de capinar; desbaste do capim.
CAPINAR – Mondar, Sachar. Cortar o
capim, limpar o terreno de capim, mondar.
CAPINZAL – Terreno coberto de capim.
CAPOTA – (Numida meleagris) A capota,
pintada, galinha-de-angola ou galinha-do-mato é uma ave Galiforme da família
Numididae, oriunda de África, que tem a particularidade de apresentar a cabeça
nua de penas, com uma crista ou capacete no topo e barbelas por baixo da base
do bico. Estes apêndices servem, muito provavelmente, para a ave regular a
temperatura do cérebro. A plumagem é cinzenta prateada com pintas brancas.
Prefere os habitats semiáridos e a savana, mas também pode ser vista na orla de
bosques ou florestas É uma ave monogâmica embora se junte em grandes bandos,
fora da época de reprodução. Alimenta-se no solo e abriga-se nas árvores,
sempre que isso é possível. O nome específico, bem como as pintas que lhe
cobrem as penas por todo o corpo, estão ligadas à mitologia grega: as
meleágridas, irmãs do herói Meleagro que morre após matar a própria mãe, ao
chorarem a sua morte cobrem-se de lágrimas e são transformadas em aves cuja
plumagem se cobre de pintas lacrimais. É uma ave de fácil domesticação.
CAPUTO – Português; a Língua
Portuguesa; aquele ou o que pertence ou se refere a Portugal.
CARA DE CU À PAISANA – Cara de
traseiras de tribunal, cara de poucos amigos.
CARCAMANO – Sul-africano.
CARDINA – Bebedeira, pifão, pifoa,
piruca, piela.
CARREIRO – Caminho estreito aberto no
mato.
CARIANGO – Biscato.
CARÁ – (pomoea batatas) Nome popular
porque é conhecida, nas regiões do Sul de Angola, a batata-doce. Utiliza-se na
alimentação de duas formas: assado ou cozido, acompanhando uma grande variedade
de pratos, ou isoladamente.
CASA DE PAU-A-PIQUE – Cubata feita com
paus e barro.
CASQUEIRO – Pão
CASSANJE – (também Ka + sanji =
galinha pequena) Vale na região de Malanje, a zona angolana mais produtora de
algodão. A “Baixa do Kassanje” é célebre pela cultura intensiva de algodão.
CATATUA – Arara.
CATUITUI – ( Uraeginthus angolensis)
Pequena ave Passeriforme com 11,5 cm.
CAVÚLA – Mulher tchingandji.
CAXIPEMBE – Bebida alcoólica
resultante da fermentação de batata-doce ou de cereais e posterior destilação.
CAZUMBI – Alma de um antepassado, alma
penada, espírito errante; feitiço.
CELHA – Pipo de vinho cortado ao meio,
e que servia para se tomar banho ou para lavar roupa.
CHAFARICA – Pequeno estabelecimento.
CHICORONHO – Natural de Sá da
Bandeira.
CHINGANJIS – (ou Tchinganjis) Homens
vestidos com fatos feitos de palha e outros materiais, com máscaras e que
diziam ser sobrenaturais.
CHINGUE – Cubata, palhota. Nalgumas
circunstâncias era uma aldeia de palhotas.
CHIPALA – Cara, face, rosto.
CHIPRULENTO – Pessoa ciumenta.
CHITACA – Fazenda, roça.
CHITAQUEIRO – Dono da chitaca.
CHORAR LÁGRIMAS DE CROCODILO – Chorar
falsas lágrimas.
CHURRASCO – Frango assado na brasa.
CIPAIO – Polícia africano, ordenança
adstrito às Administrações de Concelho e aos Postos Administrativos. Pertenceu
aos Serviços de Administração Civil e actuava junto da população autóctone. O
cargo era desempenhado por naturais.
CONDUTO – Berera, molho para
acompanhar o pirão
COTÓTÓ – Unha de fome, forreta.
CUANHAMA – Povo pertencente ao grupo
etnolinguístico Ambó, de língua Tchikwanyama uma das línguas étnicas de Angola;
o falante desta língua; aquele ou o que pertence ou se refere a este povo. Uma
antiga lenda pretende explicar a origem da designação Ova-kwa-nyama, “os da
carne”: “Uma pequena fracção da tribo donga deslocou-se para a floresta, à
procura de víveres. Encontrou tanta abundância de caça e de peixe que resolveu
fixar-se ali. Quando deram esta notícia ao soba, ele enviou emissários,
ordenando-lhes que regressassem à terra tribal. A aludida fracção da tribo não
quis, porém, obedecer à ordem emitida pelo soba. Este acabou por dizer:
“Deixai-os lá com a sua carne”.
CUANZA – (ou Kuanza) O grande rio de
Angola.
CUBATA – Casebre de barro seco,
coberto de capim seco, folhas de palma ou mateba. Pode, também, ser de tábuas
de madeira ou de aproveitamento de chapas metálicas. Também pode variar a
cobertura, principalmente nas zonas urbanas onde se utiliza muito a folha de
chapa zincada.
CUCA – Marca de cerveja.
CÚRIA – Comida, refeição.
D
DENDÉM – (ou Dendê ) Fruto (drupa) do
dendezeiro (palmeira), de cor laranja-avermelhado quando maduro, composto por
uma capa fibrosa (epicarpo), uma noz e uma amêndoa da qual se extrai o óleo ou
azeite de dendém, muito utilizado em culinária. Pode ser consumido como
petisco, cozido ou assado. Em doçaria prepara-se uma iguaria macerando o fruto
em açúcar e erva-doce. Azeite de dendém, óleo de dendém, azeite de palma ou
óleo de palma . O óleo ou azeite preparado a partir do dendém.
DENDEZEIRO – (Elaeis guineensis)
Variedade de palmeira originária da África tropical que atinge 20-25m de a. Do
seu fruto, o dendém, prepara-se o azeite ou óleo do mesmo nome. As folhas são
utilizadas na cobertura de habitações tradicionais e da sua seiva prepara-se o
malavo.
DIAMBA ou Liamba – (Cannabis sativa)
Planta herbácea da família das Canabináceas, variedade de cânhamo, cujas flores
e folhas, depois de secas, são utilizadas fumando-se como droga alucinogénia. A
droga fabricada a partir desta planta. O seu consumo provoca habituação.
DÁ-ME LICENÇA QUE O TOPE? – Expressão
usada no gozo, pondo os dedos indicador e médio em círculo, no olho
DOIS E QUINHENTOS – Vinte e cinco
tostões.
E
EMBALA – (banza, libata, quimbo ou
sanzala) Aldeia ou sanzala do soba; palácio real, morada do chefe supremo.
Genericamente na embala vivem o soba, as suas mulheres, filhos, noras e
respectiva descendência. As casas estão dispostas em rectângulo ou círculo
formando um terreiro interior onde existe, pelo menos, uma árvore, geralmente
uma mulemba, à sombra da qual o soba se reúne com o conselho de anciães para
resolução de conflitos e administração da justiça.
ERVA SANTA MARIA – Erva medicinal.
ESPIRRA CANIVETES – Pessoa muito
magra.
F
FAROFA – Farinha-de-pau preparada a
frio como salada: cebola picada, azeite, vinagre e água suficiente para
descompactar. Original e tradicionalmente o vinagre é substituído por óleo de
palma.
FAZER CAPIANGO – Fazer gamanço,
rapinar.
FEIJÃO KALONGUPA – Feijão encarnado.
FEIJÃO MACUNDE – Feijão-frade,
“ciclistas”.
FRUTA-PINHA – Variedade de anona ou
Sape-sape.
FUBA – Farinha moída em grão muito
fino, a partir de batata-doce, mandioca, massambala, massango ou milho. Farinha
de bombó, farinha de mandioca fermentada. Farinha de quindele, farinha de
milho.
FUBEIRO – Comerciante que vende fuba;
comerciante reles; pessoa reles.
FUNJE – Pasta de farinha de mandioca.
Prepara-se batendo ou amassando a farinha com o luico, em água a ferver, até
adquirir uma consistência pegajosa e sedosa. É acompanhado com caldo de peixe
fresco, peixe seco ou muamba de carne, legumes e um molho próprio (para a
confecção do funje ver FUNGERARD).
FUNJADA – Funje com um bom conduto.
G
GABIRU – Malandrão, sacripanta,
vígaro.,
GÂMBIAS – Pernas altas.
GANDULO – Malandrão.
GINGUBA – ( Macoca , Quifufutila ou
Quitaba) Amendoim, planta da família das Faseoláceas ou Leguminosas, também
conhecida por amendoim. As folhas apresentam quatro grandes folíolos ovados. As
flores são amarelas e reunidas em espiga nas axilas das folhas. Depois de
fecundada, a estrutura que envolve o ovário alonga-se e penetra no solo, onde
amadurecem os frutos, vagens oblongas com 1-4 sementes. As sementes são
comestíveis e delas se extrai um óleo alimentar. É utilizada na alimentação,
torrada ou cozida, em variados pratos e em doçaria.
GOMA – Instrumento musical de
percussão; batuque, bombo, tambor. Tradicionalmente é construído de um tronco
escavado de mafumeira, com as duas extremidades abertas. Uma delas é depois
coberta com pele de antílope ou veado, apertada sob tensão. O seu tamanho varia
de região para região, podendo atingir 1,5 m de comprimento, motivo pelo qual o
tocador monta ou se encavalita no instrumento. A afinação é feita por
aquecimento da pele. Apresenta formas e designações variadas de acordo com a
região, aspecto, material utilizado na sua confecção e som produzido.
GONGA – Gavião, ave de rapina.
GUELENGUE – Mamífero artiodáctilo da
família dos Bovídeos endémico que atinge 200 kg de peso, com a estatura de 1,20
m e 90 cm ao garrote. A pelagem é de tom castanho-acinzentado muito claro; o
ventre, branco, é separado dos flancos por uma barra preta; a face é branca com
riscas pretas na zona dos olhos e rodeando a parte alta do focinho; a cauda, de
crina longa, é preta bem como as patas, acima dos joelhos. Ambos os sexos
apresentam chifres, em forma de lança, anelados, longos e voltados para trás e
para o alto, sendo os da fêmea (1m) mais compridos e mais finos do que os do
macho (75cm). Habita territórios secos, em zonas semidesérticas de pequena
pastagem e savanas abertas fazendo, por vezes, incursões aos bosques abertos em
busca de pastagens. Alimenta-se de herbáceas, raízes, tubérculos e rizomas.
Passa vários dias sem beber e pode ser encontrado muito longe das fontes de
água.
GULUNGO – (Tragelaphus scriptus)
Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos. O gulungo é um antílope africano
de porte médio, com 1-1,5 m de comprimento e pesa de 25 a 80 kg. Distribui-se
pelo Leste de Angola. Tímido e desconfiado, emite balidos quando perseguido ou
perturbado. Vive, solitário ou aos pares, em bosques densos, pequenas montanhas
ou savanas arbustivas, sempre perto de cursos de água permanentes. Alimenta-se
de herbáceas, folhas, rebentos e frutos. As hastes do macho são curtas e espiraladas
com pontas afiadas. O costado, percorrido por uma crina branca, é arqueado, tem
orelhas grandes e cauda espessa. A pelagem é castanho-avermelhada com riscas
brancas verticais nas partes laterais do tronco e manchas também brancas nas
espáduas, quartos traseiros e face. A fêmea, que não possui armação, é mais
pequena do que o macho e a sua pelagem é menos vistosa. Atinge a maturidade
sexual dos 11 para os 12 meses, tem um período de gestação de 6 meses, com 1
cria por parto.
I
IMBAMBAS – Tarecos, as coisas de uma
casa.
IMBONDEIRO – (Adansonia digitata)
Árvore de porte gigante, da família das Bombacáceas. O tronco é grosso e
bojudo, podendo atingir 20 m de altura e 10 m de diâmetro, chegando a armazenar
100.000 litros de água. Há exemplares que atingiram a idade de 3.000 anos. O
seu fruto é a múcua. “… o imbondeiro é venerado no Leste de Angola e
encarregado pela tradição de albergar determinados espíritos…”
IMPALA – (Aepicerus melampus) Mamífero
artiodáctilo da família dos Bovídeos com 50-60 kg de peso, a impala apresenta
pelagem castanho-avermelhada, escurecendo no dorso e rosto, sendo que o ventre,
os queixais, a linha dos olhos e a cauda são brancos. Uma zona de pêlos mais
compridos do que o normal, de cor preta, cobre-lhe os calcanhares. Os chifres,
esbeltos e só existentes no macho, podem atingir 1 m de comprimento e
desenvolvem-se em forma de lira. A maturidade sexual é de 1 ano para os machos
e 20 meses para as fêmeas com um período de 195 a 200 dias de gestação. É um
antílope que vive na savana, em grandes manadas. Prefere zonas onde exista
capim de porte baixo ou médio, com uma fonte de água por perto, condição que
pode ser desprezada caso a erva seja abundante.
IPUTA – Pirão.
IR Á TUJE – Ir “a outra parte”.
IR AOS GAMBUZINOS – Partida feita a um
novo morador.
IR PASTAR CARACÓIS – Ir pentear
macacos, ir chatear outro.
ISTO NÃO É CONGO ! – Expressão usada
aquando das confusões naquele País.
ISTO NÃO É DA MÃE JOANA ! – Aqui não é
a casa da sogra!
J
JINDUNGO – ( ou Gindungo ) Espécie de
malagueta muito ardente e aromática, utilizada no tempero dos alimentos e
confecção de molhos. Fruto do jindungueiro.
JINDUNGUEIRO – Planta da família das
pimentas, Solanáceas, nativa dos trópicos, que atinge 60-80 cm de altura e cujo
fruto, o jindungo, é muito utilizado em culinária.
K
KUANZA , Cuanza, Kwanza ou Quanza – O
maior rio nascido em Angola, com uma extensão de 965 km e uma bacia
hidrográfica de cerca de 148.000 km2. Nasce junto a Mumbué, no distrito do Bié,
a uma altitude de 1.450 m e desagua no Atlântico, 40 km ao Sul de Luanda. É
navegável até ao Dondo, a 200 km da foz. São seus afluentes, entre outros, os
rios Kuiva, Luando e Lucala.
KUATA – Agarra, apanha, pega, segura.
Guerras de kuata! kuata! Guerras empreendidas, na época da escravatura, quer
pelo exército português, quer pelos reinos angolanos mais poderosos, com o
intuito de fazer escravos.
L
LARICA – Estar cheio de traça, ter
muita fome.
LAUREAR O QUEIJO – Passear.
LOMBI – ( LÔMBUAS ou SUANGA) Rama de
alguns arbustos para condutos.
LOSSAKAS E QUIABOS – Frutos verdes que
se usam nos condutos.
LUICO – Espécie de grande colher de
pau ou bastão comprido com que se amassa ou bate o funje.
M
MABOQUE – (Maboke ) Fruto do
maboqueiro, de aspecto semelhante ao da laranja mas de casca muito dura
(pericarpo ósseo) contendo inúmeras sementes envolvidas por uma abundante polpa
gelatinosa com sabor agridoce ou sub-ácido. É também conhecido por
laranja-do-natal e laranja-dos-macacos. Come-se ao natural ou temperado com
açúcar. Pode também ser constituinte de salada de frutos, dando-lhe um sabor
especial.
MABOQUEIRO – ( Strychnos spinosa )
Arbusto de porte arbóreo, da família Lagoniaceae, muito ramificado. As pernadas
e ramos são revestidos de uma grossa casca, com aspecto semelhante à cortiça.
Produz um fruto muito apreciado, o maboque.
MAFUMEIRA – ( Ceiba pentandra)
(Eriodendron anfractuosum) Árvore frondosa da família das Bombacáceas que pode
atingir 35 a 40 m de altura. O tronco é cilíndrico, sólido e grosso e atinge 3
m de diâmetro. A copa, arredondada ou plana, pode apresentar uma cobertura até
50 m. As folhas, caducas, são alternas e aglomeram-se nas extremidades dos
ramos. As flores, dispostas em fascículos nas axilas de folhas que tenham
caído, são grandes, com cinco pétalas brancas, rosadas ou douradas, muito
perfumadas. O fruto é uma cápsula cheia de uma espécie de lã vegetal, designada
capoca ou sumaúma, que envolve as sementes. A capoca é utilizada em colchoaria
e das sementes extrai-se o óleo de capoca, usado no fabrico de sabões. A
madeira é muito leve e suave e é, por isso, utilizada no fabrico de dongos isto
é canoas compridas e relativamente largas.
MACA – ( MAKA ) Conversa, dito, fala.
Na tradição oral angolana as maka são “histórias narrativas de acontecimentos
reais e verdadeiros ou tidos como tais… Evoca factos e acontecimentos do
passado, uns verdadeiros, outros de origem lendária e fruto da imaginação, mas
que se foram impondo como se de factos reais se tratasse.” Conversa decisória,
conversação, assembleia pública ou familiar. Altercação, confusão, discussão,
problema, sarilho.
MAQUEIRO – Pessoa zaragateira.
MALUVO – ( Marufo, Maruvo ) Bebida
resultante da seiva fermentada das palmeiras, principalmente de palmito, bordão
e matebeira. É uma bebida muito apreciada no Norte de Angola onde tem funções
sociais precisas, como seja a cerimónia do alambamento, o final de uma maca ou
o agradecimento ao voluntariado comunitário nas zonas rurais. Segundo uma
lenda, o primeiro homem a extrair o marufo e a preparar o azeite de dendém foi
Lenchá, escravo do Rei do Congo. A partir dessas descobertas nunca faltaram
estas delícias na mesa do rei. Mas Lenchá levou as suas experiências ao ponto
de deixar fermentar a seiva da palmeira, durante três dias. O rei achou o
néctar delicioso e bebeu em doses elevadas. Apanhou a primeira bebedeira da sua
vida . Com o rei viviam nove sobrinhos. Makongo, o mais velho, vendo o rei em
tal estado julgou-o às portas da morte. Fez crer às mulheres do rei que tal
situação resultava do veneno que lhe fora ministrado por Lenchá. Chamou os oito
irmãos, levaram o escravo para longe de Banza Congo e queimaram-no vivo. O rei,
ao acordar da bebedeira, estranhou a presença dos sobrinhos junto ao seu leito.
Perguntou por Lenchá, o seu escravo querido. Posto ao corrente da situação
proferiu sentença imediata contra a acção estúpida dos sobrinhos: seriam
queimados, como o haviam feito ao seu servo. Antes, porém, que a sentença fosse
executada, os nove sobrinhos fugiram da cidade e, atravessando o rio Zaire,
formaram os nove reinos que passariam a constituir Cabinda.
MANDA CHUVA – Patrão.
MANDIOCA – ( Manihot utilíssima)
Planta herbácea tuberosa, da família das Euforbiáceas, de grandes folhas
divididas, flores pouco vistosas dispostas em cacho, muito utilizada na
alimentação. É a base alimentar de muitos povos de Angola. Os tubérculos são
utilizados de formas variadas. Expostos ao calor e moídos produzem a farinha de
pau e a fuba de bombó com que se confecciona o funje. Também se consome em cru.
Com as folhas prepara-se a quizaca. Tiras de mandioca secas ao Sol, as macocas
MANDIOQUEIRA – Termo popular que
também designa a mandioca.
MANGA – Fruto da mangueira. É uma
drupa de forma ovóide oblonga com 15-25 cm de comprimento, de cor
verde-amarelada, amarela ou avermelhada quando madura. A polpa é amarela,
sumarenta e fibrosa.
MANGA DE CAPOTE – Macarrão.
MANGONHA – Farsa, mentira. Indolência,
moleza, preguiça.
MANGONHAR – Dar-se à mangonha,
mandriar, molengar, preguiçar.
MANGONHEIRO – Indolente, calaceiro,
mandrião, molengão, preguiçoso.
MANGUEIRA – ( Mangifera indica) Árvore
da família das Anacardiáceas de copa densa e arredondada, tronco grosso, que
chega a atingir 20 m de altura, com ramos numerosos que lhe dão um porte
majestoso. As folhas de cor verde-escuro são perenes, coriáceas, simples, de
forma lanceolada ou oblonga, com 15-30 cm de comprimento. As flores, que nascem
em panículas piramidais terminais, são pequenas e de cor verde-amarelada. O
fruto, a manga, é muito apreciado.
MANGUITO – Gesto obsceno.
MARIMBA – Instrumento musical do grupo
dos idiofones, semelhante ao xilofone e constituído por uma cadeia de cabaças,
servindo de caixa de ressonância, encimada por uma série de faixas de madeira
ou metal (teclas) que são percutidas com uma baqueta apropriada. Pode
apresentar corpo direito (recto) ou curvo, com quinze a dezanove teclas,
havendo notícia de marimbas com mais de vinte teclas. Em cerimónias religiosas
é comum uma marimba ter tamanho reduzido, apenas duas a quatro teclas.
MASSAROCAS – Espigas de milho.
MATA-BICHO – Pequeno-almoço (de faca e
garfo).
MATABICHAR – Tomar o pequeno-almoço.
MATACO – Bunda, nádegas, traseiro.
MATARRUANO – Patego.
MATETE – Papa de farinha de milho.
MATRINDINDE – Insecto ortóptero
saltador, semelhante ao gafanhoto, com 7-10 cm, de cor arroxeada que, com a
vibração das asas, produz um som semelhante ao da cigarra. O seu aparecimento
indicia o início da época do cacimbo. Chega, por vezes, a constituir uma praga.
MATUMBO – Estúpido, tacanho,
ignorante, inculto, provinciano.
MERENGUE – Ritmo de dança muito
animado.
MESSENE – Mestre, mestre de ofício,
professor.
MILONGO – Medicamento, remédio;
qualquer fármaco.
MISSANGA – Pequenas contas de vidro ou
outro material com que se confeccionam colares, pulseiras e outros adereços,
também utilizadas nas tranças dos penteados tradicionais. Há designações
variadas para as missangas usadas em cerimónias tradicionais. Variedades de missangas
adoptadas em colares ou relicários consagrados aos espíritos.
MOKOTÓ – Pé de boi preparado para
confeccionar comida.
MORINGA – Bilha de água de gargalo
estreito.
MORRO – Monte, outeiro.
MUAMBA ou Moamba – Líquido ou molho
oleoso obtido por cozedura de massa de dendém pisado. Prato típico de guisado
de galinha ou outras aves, carne de vaca ou peixe, com o referido molho, tendo
como temperos e ingredientes azeite, alho, cebola, quiabo e jindungo.
Dizendo-se simplesmente Muamba, está a referir-se a de galinha. Sendo de outra
carne ou de peixe é necessário especificar, Muamba de… Tradicionalmente é
acompanhado de funje ou pirão, mas também o pode ser com arroz. Também designa
contrabando, negócio ilegal.
MUCANDA – Carta, bilhete, papel;
qualquer escrito. Recado.
MÚCUA – Fruto do imbondeiro,
constituído por uma massa ácida comestível e um emaranhado de fibras que
envolvem as sementes.
MUCUBAL – Povo Ovakuvale do grupo
etnolinguístico Herero , que vive essencialmente da pastorícia.
MUKENKO – Murro.
MULEMBA – (Ficus thonningii sin. F.
welwitschii) Figueira africana. Árvore sarmentosa da família das Moráceas, de
seiva leitosa. Apresenta um porte elevado, chegando a 15-20m de altura, e a
copa é volumosa e muito ramificada, sendo muito apreciada pela sombra que produz.
Dá-se em terrenos secos e arenosos. Apresenta raízes aéreas, conhecidas
popularmente por barbas. Os frutos, figos, que nascem nas axilas das folhas,
com 8-12 mm de diâmetro, atraem uma grande variedade de pássaros. É a árvore
real angolana, já que à sua sombra se reuniam os chefes e reis. Mulemba-xietu a
mulemba da nossa terra.
MULEQUE – Rapaz, criado, moço de
recados. Malandro, preguiçoso, vadio.
MUSSEQUE – Começou por designar os
terrenos agrícolas pobres e arenosos, situados fora da orla marítima e em redor
das cidades. A designação tornou-se extensível ao bairro de lata, bairro pobre,
na cintura urbana das grandes cidades, principalmente em Luanda.
MUXIMA – Vila e município da província
do Bengo, na margem esquerda do rio Cuanza. É célebre a Igreja de Nossa Senhora
da Muxima, ou da Conceição, de culto à Virgem Maria.
MUXITO – Mata ou bosque denso.
MUZONGUÊ – Guisado com peixe seco e
fresco, com bastante gindungo e farinha de pau.
P
PEITO-CELESTE – Este nome advém do
colorido das penas do peito, azul celeste vivo no macho, sendo que as fêmeas
além de um colorido menos vivo apresentam o ventre bege. O canto do macho é
agradável e vigoroso. Vive em pequenos bandos, preferindo os terrenos
cultivados, o campo aberto e a savana, mas também frequenta os limites urbanos
desde que haja charcos de água por perto. Embora no campo seja mais fácil
ocupar os ninhos abandonados pelos tecelões e outros pássaros, também constrói
o seu próprio ninho com pedacinhos de mato seco e capim, chegando a fazê-lo na
cobertura de colmo das cubatas. A sua postura é de 3 a 4 ovos. Alimenta-se de
insectos, grãos, sementes e verdura fresca.
PENEIRENTA – Pessoa vaidosa.
PICADA – Estrada de terra batida de
3.a categoria.
PILDRA – Prisão, chossa, xilindró.
PILIM – Dinheiro, taco, carcanhol,
bago, kumbú.
PIPI – Pessoa vaidosa, calcinhas.
PIRÃO – Iguaria gastronómica. Coze-se,
conjuntamente, peixe fresco e seco com batata-doce ou mandioca. A água da
cozedura, ainda quente, é temperada com óleo de palma ou azeite de oliveira,
cebola e tomate, formando um caldo leve, o muzonguê. Acompanha-se com farinha
de mandioca embebida no caldo. Embora o termo se tenha generalizado para o
prato em si, é à farinha assim preparada que a designação é devida. Por
acomodamento, em Angola deve chamar-se funje a massa confeccionada com fuba de
mandioca e pirão a confeccionada com fuba de milho e similares. O pirão é
característico das regiões do centro e Sul de Angola.
PIRAR A ROSCA – Entrar em parafuso,
ficar meio choné.
PITANGA – Fruto comestível da
pitangueira, de forma globosa, polarmente achatado, sulcado longitudinalmente e
de aspecto brilhante. A polpa, alaranjada ou vermelha quando madura, tem um
sabor adocicado, levemente ácido ou agridoce.
PITANGUEIRA – Planta arbustiva da família
das Mirtáceas, originária da América do Sul, muito provavelmente do Brasil.
Pode atingir o porte de árvore, com 6 a 10 m de altura, com copa piramidal,
tronco de 30 a 50 cm de diâmetro e cujo fruto, a pitanga, é muito apreciado. As
folhas variam do vermelho ao verde-brilhante, da juventude à idade madura. As
flores, genericamente, são brancas e aromáticas com floração abundante.
PÓPILAS! – Chissa! Possa! Arre! Porra!
PUNGO – Peixe perciforme marinho.
Q
QUIABEIRO – (Hibiscus esculentus) Erva
anual da família das Malváceas, de porte erecto que atinge cerca de 1m de
altura, cultivada pelas folhas, frutos, sementes e fibras. O fruto, o quiabo, é
muito utilizado em culinária.
QUIABO – Fruto do quiabeiro , também
designado quingombo , em forma de cápsula cónica, de consistência viscosa
quando maduro, muito utilizado em culinária, nomeadamente na muamba.
QUIMBANDA – (Kimbanda, Kimbandeiro,
Quimbandeiro) Curandeiro; aquele que pratica a medicina tradicional. O
quimbanda na tradição cultural bantu, como supremo ocultista, tem uma amálgama
de poderes: é, simultaneamente, adivinho, curandeiro e feiticeiro.
QUIMBO – (Embala, Libata, Sanzala)
Aldeia rural tradicional, aldeia indígena, povoado, sanzala.
QUINDA – Cesto sem asas, que servia
para transportar cereais.
QUISSÂNGUA – Bebida fermentada feita
com milho ou com fuba.
QUISSANJE ou Quissange – Instrumento
musical do grupo dos lamelofones, constituído por uma tábua ou placa de
madeira, onde estão fixadas várias palhetas ou lâminas de bordão, bambu ou
metal, presas a um cavalete. Apresenta de sete a dezasseis palhetas, ou mesmo
vinte e duas (muito raro). Pode ser-lhe adaptada uma cabaça truncada que serve
de caixa de ressonância ou amplificador. O instrumento mantém-se preso entre as
duas mãos e os dedos polegares fazem vibrar as palhetas.
QUITANDA – Banca, tenda ou loja de
comércio; negócio, venda; tratava-se, originalmente, de produtos hortícolas
frescos, tendo-se esta acepção tornado extensível a qualquer tipo de comércio
praticado nas mesmas condições. Tabuleiro, maleta ou quinda onde o vendedor
ambulante transporta os produtos.
QUITANDEIRO – Aquele que faz negócio
em quitanda, dono de quitanda, pequeno comerciante, vendedor ambulante.
R
REBITA – ( Massemba ) Farra de
sanzala. Embora considerada tipicamente angolana, proveniente da área do
quimbundo, resultou da aculturação, provavelmente de grupos étnicos
portugueses. Posteriormente à sua formação, este bailado, em nova incorporação
lusitana, foi, por esses elementos, designada por rebita. E o termo, antes
restrito ao seu meio, generalizou-se à massa popular. Este género de diversão
foi muito usado pelas gentes de Benguela, Catumbela e Bié.
REVIENGA – Finta de corpo, movimento
rápido em zig-zag, volteio rápido.
S
SACANA – Malandro, sacariôto, sacripanta.
SANGA – Cântaro ou pote de barro para
transportar ou conservar água. Pote onde cai a água, filtrada por pedra porosa
própria para purificá-la, ou o próprio conjunto pedra/pote.
SANZALA ou SENZALA – Aldeia rural
tradicional.
SAPE-SAPE – ( Annona spp) Árvore da
família das Anonáceas, também conhecida por anoneira. A árvore pode atingir 15
m de altura. As folhas, alternas, são perenes e de cor verde-escura. O fruto,
cordiforme e coberto de saliências espinhosas, é segmentado, com um diâmetro de
10-12 cm, coloração exterior variando do amarelo-esverdeado ao vermelho quando
o fruto está amadurecido e polpa branca de sabor adocicado. As folhas são
utilizadas na medicina tradicional.
SECULO – Ancião, velho; conselheiro do
soba; homem respeitável. Corresponde a Cota, entre os quimbundos.
SEMBA ou REBITA – Dança tradicional
angolana caracterizada pelas umbigadas (sembas) dos dançarinos. Na sua forma
mais genuína a dança é acompanhada por coros de sátira social a acontecimentos
do quotidiano ou políticos.
SÉTIMO ANO DE PRAIA – 4.a classe.
SIPAIO – Polícia africano, geralmente
adstrito às Administrações de Concelho e aos Postos Administrativos. Pertenceu
aos Serviços de Administração Civil e actuava junto da população autóctone. O
cargo era desempenhado por naturais.
SIRIPIPI ou SERIPIPI – ( Colius
castanotus) Pássaro frugívero, da família dos Coliídeos, o
siripipi-de-benguela, também conhecido por rabo-de-junco-de-rabadilha-vermelha,
é uma ave com 35 cm de comprimento e 45-60 g de peso nativa de Angola,
característica por apresentar, em ambos os sexos, uma crista e cauda duas vezes
superior ao tamanho do corpo. A plumagem é cor-de-canela, a face é negra, o
peito e garganta cinzentos, o ventre alourado pálido e a rabadilha vermelha. O
ninho, em forma de taça, é construído pelo casal, oculto entre a vegetação e
por vezes junto ao solo, com materiais vegetais e penas. A fêmea põe 2-5 ovos
que são incubados por ambos, durante 2-3 semanas. A incubação começa no momento
da postura do primeiro ovo, o que provoca que o ninho tenha crias em vários
estádios de desenvolvimento. Os juvenis estão aptos a voar ao fim de 17 dias.
Vive em matas e na orla das florestas. Voa pausadamente, dado o comprimento da
cauda, em bandos de 5-8 indivíduos em fila indiana. Alimenta-se de rebentos,
folhas e frutos de vegetação variada.
SOBA – Autoridade tradicional, chefe
do quimbo ou sobado; chefe tribal, régulo. O soba, em certas regiões, é
escolhido pelo conselho de sobas; noutras a sucessão é matrilinear,
sucedendo-lhe um sobrinho, filho de uma irmã.
SOBADO – Território sob administração
de um Soba.
SUMAÚMA – Enchimento seco mas muito
fofo para almofadas e colchões.
SURRIADA GALINHA ASSADA – Expressão
acompanhada de gesto com os dedos, a fazer pouco de outra pessoa
T
TABAIBEIRA – (Opuntia ficus indica)
Figueira-da-índia; Piteira.
TABAIBO – Designação que se dá no Sul
de Angola, por influência madeirense, ao fruto da figueira-da-índia ou
tabaibeira. De forma ovóide, achatado nos pólos e recoberto de inúmeros
espinhos, tem uma polpa muito sumarenta e sabor agridoce.
TACANHO – Panhonha, patarôco.
TACULA – (Pterocarpus tinctorius)
Árvore de grande porte que chega a atingir 20 m de altura, endémica das matas
de Angola. A madeira, de grande dureza e resistência, branca ou vermelha com
veios vermelhos, é usada em mobiliário. É uma madeira de enorme beleza.
TAMARINDEIRO – (Tamarineiro,
Tamarinheiro, Tambarineiro) (Tamarindus indica) Árvore de tronco grosso, folhas
pinadas e flores amarelo-avermelhadas, que fornece boa madeira e frutos
comestíveis, o tamarindo.
TAMARINDO – Fruto do tamarindeiro,
comestível e também utilizado em farmacologia.
TCHINDELE – Homem branco
TEMPO DE CAPARANDANDA – Há muito
tempo, tempo antigo.
TIPOIA – Palanquim de tecido p/
transportar pessoas.
TORTULHOS – Cogumelos grandes.
TRINCA-ESPINHAS – Pessoa muito magra.
TUQUEIA – Peixe miúdo (seco) pescado
nas anharas de Camacupa e do Moxico.
U
UMBUNDO – Povo do grupo
etnolinguístico Ovimbundo e uma das línguas étnicas de Angola. O falante desta
língua; aquele ou o que pertence ou se refere a este grupo.
V
VENDER A BANHA DA COBRA – Vender com
muita lábia, vender bem aquilo que não presta.
VIMBAMBAS – Tarecos, as coisas de
casa.
VISSAPA ou Bissapa – Moita, sarça,
silvado.
W
WELWITSCHIA – ( Welwitschia mirabilis)
Planta descoberta pelo botânico austríaco Frederico Welwitsch no século XIX. “A
primeira informação que deste vegetal chegou à Europa transmitiu-a o seu
descobridor a Sir William Hooker, reputado homem de ciência, em carta, escrita
de Luanda, a 16 de Agosto de 1860… Tem a Welwitschia o tronco obcónico, de cor
acastanhado, que se eleva poucas polegadas acima do terreno e é na parte
superior achatado, bilobado e deprimido lateralmente, atingindo por vezes
catorze pés de circunferência no seu máximo desenvolvimento. Segue-se-lhe,
internando-se pelo solo, uma forte raiz, que só muito para a extremidade se
ramifica e se divide em radículas. Das origens dos dois lóbulos nascem duas
únicas folhas, largas, rijas e persistentes, que se estendem pela superfície da
terra, fendendo-se com a idade. E junto à inserção das folhas partem duas
hastes ou pedúnculos sustentando pinhas escarlates, em cujas escamas se abrigam
flores solitárias. A Welwitschia é curiosíssima, não apenas por invulgar, mas
ainda por se apresentar sempre repetida quase exclusivamente de numerosos
indivíduos da mesma espécie que dão ao terreno um aspecto especial deveras
interessante… A Welwitschia não existe, porém, somente no Distrito de
Moçâmedes.
X
XANA ou Chana – Planície, savana,
charneca africana.
XINDELE – Branco, indivíduo de raça
branca; Amo, senhor, patrão.
XINGAR – Injuriar, praguejar.
XITACA ou Chitaca – Pequena
propriedade agrícola de subsistência; terreno para plantação; lavra.
Z
Zamberenguenjê – estar com os azeites,
estar zangado.