O Prof. Eric Exelson
O Prof. Eric Exelson, catedrático
jubilado da Universidade de Cape Town, África do Sul, começou as suas pesquisas
na história da presença portuguesa no sudeste africano em 1936, tendo desde
então permanecido por vários anos na Europa investigando os mais importantes
arquivos documentais e bibliotecas em Portugal, Grã-Bretanha, França e no
Vaticano.
Em 1938 dirigiu as escavações que
permitiram a descoberta, recuperação e reconstrução do padrão de S. Gregório,
erigido por Bartolomeu Dias em 1488, no Ilhéu da Fonte (hoje Kwaaihock – África
do Sul)
A seguir se transcreve o texto da sua
autoria.
Pormenor do padrão S. Gregório de
Bartolomeu Dias, recuperado por Eric Axelson em 1938 e reconstruído com base nos
mais de cinco mil fragmentos encontrados no local. (Original na Universidade de
Witwatersrand).Existe uma réplica na Sociedade Geografia de Lisboa.
A descoberta do Padrão de São
Gregório, de Bartolomeu Dias, em 1938
“ Foi Diogo Cão quem iniciou a prática
de erguer padrões, cortados em pedra calcária portuguesa e gravados em Lisboa,
com inscrições que proclamavam, com orgulho, que os Portugueses eram os
primeiros a terem chegado aos novos mares.
Havia relatos contraditórios sobre o
sítio onde o sucessor de Diogo Cão, Bartolomeu Dias, tinha erguido o seu padrão
mais distante. A maioria estava de acordo que tinha sido numa ilha, e que uma
ilha na Baía de Algoa tinha recebido o nome de Santa Cruz.
Mas uma descrição muito pormenorizada
da costa, escrita pelo piloto português João de Lisboa em 1514, esclareceu que
o padrão estava numa ilha que só parecia uma ilha quando vista dum barco no
mar, porque de facto estava ligada à terra por dunas de areia muito baixas.
Esta ilha falsa ficava a cinco léguas
para além da Baía de Algoa.
Kwaaihoek, [falsa ilha], -foto
de Chantelle de Clercq, do Google Earth
Medidas numa carta moderna, cinco
léguas calhavam mesmo num promontório chamado False Island, ou Kwaaihoek, como
é conhecido hoje.
A descrição deste promontório na
moderna AFRICA PILOT é quase idêntica, palavra por palavra, àquela de 1514.
Parecia assim que para se encontrar o
padrão bastaria ir até lá.
Em 1938, pouco antes da segunda
guerra, fui até Kwaaihoek. A colina com cerca de 30 metros de altura era o
sítio certo, mas do padrão não havia sinal.
A superfície de Kwaaihoek era de areia
com arbustos baixos. Perfurámos a areia com uma vara de aço, que num sítio
bateu em qualquer objecto soterrado na areia.
Começamos a cavar e desenterrámos
vários pedregulhos que, conforme o tamanho, podiam ter servido como suporte
para um padrão. Depois descobrimos um bloco de pedra que era totalmente
diferente da rocha local: era dura e cristalina, como mármore, e tinha duas
faces tão suaves e paralelas que parecia que tinham sido cortadas
artificialmente.
Uma das pedras, colocada à beira da
escavação, rolou encosta abaixo para o mar, atraindo assim a nossa atenção para
a base do penedo.
Kwaaihoek, [falsa ilha], -fotografia
de Chantelle de Clercq, do Google Earth
Felizmente era uma lua cheia e as
marés estavam muito baixas. Num poço, com 60 cm de água, havia um bloco de
qualquer coisa coberto de ostras e mexilhões.
Tirámos os mariscos e partimos um
pedaço dum canto: era da mesma qualidade da pedra que tínhamos encontrado no
cimo da colina e com a mesma largura.
Desenterrámo-la o mais rapidamente
possível e transportámo-la para um lugar fora do alcance do mar.
No dia seguinte, um fazendeiro de cor
transportou-a através das dunas, num trenó puxado por um burro.
Tínhamos a certeza que estes
fragmentos eram do padrão, mas não tínhamos provas.
O professor Leo Fouché, que em 1936
sugerira que eu estudasse a história de Portugal e procurasse, também, o
padrão, convenceu a Universidade de Witwatersrand a financiar uma pesquisa
científica.
Passei cinco semanas em Kwaaihoek, com
uma equipa de trabalhadores.
réplica do padrão dedicado a São Gregório em
Kwaaihoek [ falsa ilha] – África do Sul [12 de Março de 1488]
foto de Flintstone do Google
Earth [ lat.33°43' 06.7"Sul e log. 26°37'26.5"Este ]
Encontramos um grande número de lascas
e pedaços de pedra calcária, num total de cinco mil.
Alguns ostentavam sinais de inscrições
em letras daquele tempo e os geólogos confirmaram que os fósseis encontrados
eram iguais aos encontrados na pedra calcária portuguesa.
O professor Riet Lowe e o Professor
Fouché reconstruíram o padrão com os fragmentos encontrados e a Comissão dos
Monumentos Históricos entregou-o à Universidade de Witwatersrand, onde ainda
hoje (1988) se encontra.
O PADRÃO DE LUDERITZ BAY, dedicado a
S. Tiago Zebedeu
Por: Eric Exelson
Do padrão que Bartolomeu Dias ergueu
no Cabo de Boa Esperança, no dia 06 de Junho de 1488 dedicado a S. Filipe, não
há quaisquer vestígios. O Padrão de Luderitz ainda estava de pé no fim do
século 18, mas caiu pouco depois.
Há cem anos, alguns apanhadores de
guano levaram quatro fragmentos para a cidade do Cabo. Dois deles foram
oferecidos a Portugal e Sir George Grey o então governador Inglês, levou um
para a Nova Zelândia, onde desapareceu. O quarto encontra-se no Museu da
Cultura da África do Sul, no Cabo.
Havendo dúvidas sobre o sítio certo onde
tinham sido encontrados os fragmentos, a Comissão dos Monumentos Históricos de
Sudoeste da África, por iniciativa do presidente, Dr. Lemmer, convidou-me a ir
a Luderitz.
O Dr. Lemmer levou-nos a Dias Point um
outeiro baixo de rocha preta que se projectava no mar e que podia claramente
ser um sítio ideal para um padrão.
No topo do outeiro encontrava-se um
edifício ameado, construído por um alemão sentimental.
Descendo até às rochas em baixo,
apanhei um pedaço da já nossa conhecida pedra calcária, semelhante à de
Kwaaihoek com a mesma largura.
No dia seguinte, encontramos um bloco
grande ostentando sinais de inscrição.
A minha mulher encontrou mais
fragmentos.
Andamos dentro da água, cortámos algas
e fizemos buscas nos poços.
Peneirámos areia no topo do outeiro e
em baixo, ao pé do mar.
Encontrámos uns 50 quilos de pedra
calcária e umas duzentas lascas.
Em 1987 o Museu Estatal de Windhoek
(Namíbia) iniciou a reconstrução deste padrão.
Os restos destes padrões de Diogo Cão
e de Bartolomeu Dias são os mais antigos monumentos históricos sul africanos e
lembram a grandeza daqueles navegadores portugueses e a dívida que temos para
com eles, por terem descoberto a África do Sul, além do facto de que foram os
Portugueses que trouxeram a civilização, a cristandade e a cultura europeia à
África austral.
réplica do padrão dedicado a S. Tiago de
Zebedeu [25 de Julho de 1488] lat. 26°38'07.2"Sul e long. 15°05'17.7"Este em Dias Point, Luderitz , Namíbia
-foto de S. Vaz do Google Earth
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