Consultar.
https://afmata-tropicalia.blogspot.com/2010/01/blog-post_5817.html
Os factos:
O cronista “João de Barros” em “décadas da Ásia” refere:
“….o navegador Diogo Cão, no retorno da segunda viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental africana, subiu o rio Zaire, foi visitar o rei do Congo à sua residência e regressou ao reino…”
À luz dos factos conhecidos estas afirmações não correspondem à verdade:
1º João de Barros nasceu em 1496. As fontes históricas referentes às viagens de exploração marítima, ao longo da costa ocidental africana das guarnições do navegador, relatadas em “décadas da Ásia”, estão destorcidas. O cronista iniciou a descrição dos acontecimentos trinta anos depois!
2º Iniciada a 2ª viagem de exploração marítima em Setembro de
1485, a guarnição levava a bordo os quatro africanos que prometera devolver no
prazo de 15 luas ou 15 meses à autoridade do Manisoyo da
região do baixo Soyo residente na praça de M’Pinda,
junto à foz do rio Zaire, local onde os reteve e trouxe
para Portugal no regresso da 1ª viagem.
A atitude foi para salvaguardar os emissários enviados ao potentado do rei do Congo, para que não sofressem quaisquer espécie de injúrias, embora a sua ausência e demora durasse mais tempo do que o previsto.
3º Chegada à foz do estuário do rio Zaire em Novembro de 1485, nesta 2ª viagem de exploração marítima, verificou em M’Pinda, que os emissários Martim Afonso e Fernão Martins, ainda não tinham voltado da residência do rei do Congo, que ficava para interior das terras, a 23 dias de caminho terrestre, distância até 40 léguas, 200 Km da foz do rio Zaire. Foi-lhes dito por notícias incertas que ainda se encontravam em M'Banza Congo, residência do rei do Congo. Deste modo, não sabia se estariam vivos, cativos ou mortos.
Fez-se à vela rio acima até chegar ao actual município de Nóqui, Angola, 160 Km da foz, local que já conhecia da 1ª viagem de exploração, e mais próxima da residência do rei do Congo, M'Banza Congo, quando os desembarcou ao encontro do rei dois anos antes, Maio de 1483.
4º Em Nóqui, enviou 2 dos 4 africanos bem vestidos e com ofertas ao potentado da residência, a comunicar à corte e ao rei; Nzinga à Kuvu [Cuum], que os portugueses se encontravam naquele local, juntamente com os seus vassalos, pedindo a libertação dos emissários a troco e restituição dos outros 2 instalados a bordo.
5º Um canal de ligação do Oceano Atlântico ao Oceano Índico,
em Zanzibar, Quilóa, está representado no mapa
veneziano elaborado pelo frade "Fra Mauro". Seria possível
navegar pelo rio Zaire até Quilóa, que
fica do outro lado na costa Oriental africana, de forma a encurtar a viagem de
navegação ao longo da costa ocidental africana!?
Se assim fosse, a guarnição estaria a alguns dias de viagem de atingir o oceano Índico, distância mais curta do que dar a volta para Sul da foz do rio Zaire, onde anteriormente tinha chegado à actual Ponta Redonda do Farol do Giraúl, baía de Moçâmedes, latitude 15º 7' Sul aquando da 1ª viagem de exploração marítima que suspeitou ser o extremo Sul do continente africano em Setembro de 1483!
Enquanto esperava notícias dos enviados à corte do rei
do Congo, o navegador decidiu zarpar a montante, passando por Matádi
até à foz do rio M'Pozo.
Inesperadamente a forte corrente fluvial amainou o
andamento das caravelas.
Enormes cachoeiras salpicando a água em forma de
catarata alertou a guarnição.
Deu a volta, atracando na margem esquerda junto à
embocadura da foz do rio M'Pozo.
A travessia do canal estava assim definitivamente
comprometida!
Subiram a uns rochedos e gravaram as armas de Portugal, o escudo usado naquela época, a cruz de Cristo e nomes de vários homens, deixando para a posteridade a permanência dos portugueses naquele lugar.
6º D. João II deu
ordens bem definidas ao navegador para se encontrar com o imperador
daquelas terras, a fim de se tornar um forte aliado de Portugal.
Após a recepção dos seus dois vassalos na sua M' Banza " residência", situada numa região remota a Sudoeste, 20 léguas, 100 Km, o rei do Congo, decidiu encontrar-se com a guarnição do navegador.
itinerário navegável
percurso superior, da foz do rio Zaire até Matádi, localidade da
residência do rei do Congo, M´Banza Congo
O cronista "Garcia de
Resende", na crónica de D.João II e Miscelânea, Lisboa, 1991, pág.221,
contemporâneo do navegador refere:
" O rei do Congo e a sua corte, o qual hindo polla dita
cofta com affas perigo, e trabalho, foy ter com a dita armada ao rio de
Mainicongo(...)
Festivamente, Nzinga à Kuvu, rei
do Congo e a sua corte, acompanhados de grande multidão, nu
da cinta para cima, com uma carapuça de pano de palma lavrada e muito alta,
posta na cabeça, ao ombro um rabo-de-cavalo guarnecido de prata, foram ao
encontro da guarnição à localidade Nóqui, recebendo-os amistosamente com
grandes estrondos.
Seguiu-se a animação ao som de trombetas,
tímbales, trombas e outros instrumentos que usavam.
Feitos os cumprimentos da praxe, o
navegador ofertou ao rei do Congo um rico tecido de damasco e muitos outros
objectos, a mando de D. João II.
Serviram de intérpretes os vassalos
agora chegados, a guarnição não se "entendia com a língua da gente da terra".
O rei do Congo, ofereceu
peças de marfim, objectos de arte, peles de animais, como sinal de uma futura
amizade a encetar com o rei de Portugal.
Iniciou-se assim, uma duradoura
aliança entre os dois povos, os reis do Congo e de
Portugal.
Os dois emissários que não viam os seus
compatriotas à mais de dois anos regressaram às caravelas, houve contentamento
de todos. Conhecedores da língua, trouxeram os conhecimentos culturais
necessários das gentes e das terras da região.
Efectuados os festejos, o navegador
prometeu numa próxima visita a encetar brevemente, levar para Portugal uma
embaixada do rei do Congo, após o regresso desta viagem.
Havia suspeitas e indícios aquando
da 1ª viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental
africana , a guarnição ter alcançado o cabo mais meridional da costa
ocidental africana, o Promontorium Prassum! Era preciso dar continuidade à exploração marítima,
pondo à vista a tão desejada passagem para Oriente, na qual os dois
Oceanos Atlântico e Índico se misturam, a fim
de prosseguir à descoberta do caminho marítimo para a
Índia das especiarias!
Pelo exposto, as afirmações do cronista
"João de Barros", não correspondem à realidade.
Não foi no retorno da 2ª viagem de
exploração marítima que o navegador visitou o rei do Congo.
O navegador não regressou
dessa fatídica viagem, depois de ter atingido o actual "Cape
Cross", cabo da Cruz/Serra, na Namíbia, latitude 22º 10' Sul.
A guarnição esperou pelo rei e a sua corte,
ali em Nóqui, hoje município de Angola, na margem esquerda do rio
Zaire, fronteira com a república democrática do Congo, paredes meias com a
cidade de Matádi.
O navegador não foi ao encontro do rei à
sua residência. A distância que os separava era longínqua e não sabia de
notícias dos mensageiros, enviados ao potentado africano dois anos antes,
poria em risco toda a missão planeada.
Não foi por acaso que o navegador, utilizou duma artimanha. Enviou ao rei do Congo, 2 dos 4 vassalos trazidos a bordo e repatriados, salvaguardando deste modo a sua apurada prudência de reaver os seus homens.
2ª Viagem de exploração marítima ao
longo da costa ocidental africana
A guarnição voltou a partir do rio Tejo, em
Setembro de 1485. Era o tempo de cumprir as promessas aos africanos de os levar
de volta à sua terra.
Saindo de Portugal, seguiu o rumo
traçado até às ilhas de Cabo Verde e de seguida
para S. Jorge da Mina, no Gana.
Depois de S. Jorge da Mina,
atravessou a vasta curva do Golfo da Guiné, passando pelas ilhas
de S. Tomé e Príncipe abordando a costa marítima ocidental
africana pelas alturas da angra
do Judeu - baía
do Lekonde, latitude 4º Sul.
Com terra à vista navegou até à angra das Almadias, baía
de Cabinda.
Bordejando a costa para Sul, dobrou o cabo S. Martinho, ponta do farol de Cabinda, era o dia 11 de Novembro de 1485.
pôr do sol, tendo como cenário a densa e
inóspita floresta equatorial africana do rio Zaire, também conhecido por rio
Poderoso e do rio do Padrão, por ter sido chantado pela guarnição de Diogo Cão,
Abril de 1483, um padrão dos descobrimentos portugueses.
Avançou sempre contra a corrente cada
vez mais rápida, passando pela Quissama, Pedra do Feitiço, Boma e Nóqui,
160 Km da foz do rio Zaire.
Enquanto das margens árvores frondosas
juntam os seus ramos, apertando cada vez mais a claridade, a guarnição realizou
algumas aspirações que os detinha:
- reaver os emissários enviados dois
anos antes.
- estabelecer amizade com o rei do
Congo.
- explorar o rio além de Nóqui,
já que na 1ª viagem de exploração, Maio de 1483, não foi possível
chegar à vista das cataratas de Yellala, o rio na altura corria
vertiginoso.
- estava de facto preocupada
em encontrar uma ligação directa e rápida entre a costa Atlântica e a costa do
Índico, de forma a encurtar a viagem de navegação ao longo da costa
ocidental africana que tanto risco e perda de vidas causara, o que também
obedecia às instruções secretas de encontrar uma ligação pelo
interior de África, através do rio Zaire até às famosas terras do Preste João -
rei cristão da Etiópia.
- o canal de ligação do Oceano
Atlântico ao Oceano Índico, em Zanzibar, Quíloa,
está representado no mapa veneziano elaborado pelo frade "Fra Mauro".
Seria possível navegar pelo rio Zaire até Quíloa?
A primeira parte do programa seria mais
fácil!
Os africanos, com as suas roupas
magníficas, carregados de presentes, voltaram à sua terra cheios de histórias
admiráveis para contar.
O encontro dos dois protagonistas, rei
do Congo e Diogo Cão, foi encetado.
Antes disso, o navegador utilizou duma artimanha.
vista aérea do local das inscrições de
Yellala
As caravelas deram a volta e
atracaram na margem esquerda, num sítio chamado "rio de peixe",
da confluência do rio M'Pozo, com o rio Zaire da actual cidade de Matádi.
No livro belga-Etuies Bakongo- do rev.do
padre Van Wing, S. J . , missionário de Kisantu, edição de Bruxelas, 1921, à
página 35; está a seguinte nota :
"C' est à ce second voyage de Diego
Cão que se rapporte l'inscription, trouvée par Domenjos sur un rocher à
l'embouchure de la Mpozo".
"É nesta segunda viagem do
Diego Cam que se relaciona a inscrição encontrada
por Domenjos numa rocha na foz do rio Mpozo"
rio Zaire em Nóqui, Angola, vista para
jusante
Ao mesmo tempo os 2 vassalos africanos
enviados ao rei do Congo, não se cansavam de exaltar as maravilhas
do reino dos brancos.
Os seus amigos que os choravam
julgando-os mortas para sempre, ficaram cheios de alegria e espantados por
vê-los de regresso com saúde e maravilhosamente vestidos.
O rei do Congo não se
cansou de ouvi-los e admirar os presentes que traziam.
A sua alegria ficou completa quando foi
ao encontro da guarnição que o esperava ansiosamente junto ao rio.
O navegador ofereceu um rico presente a
Sua Majestade, deixando recados de D. João II.
Consistia em " cousas boas, e finas, e de muita valia", num franco oferecimento de amizade e aliança,
ao mesmo tempo um delicado convite para o rei do Congo, " abandonar a
idolatria e salvar a alma".
Abrandado pelo presente principesco, o
coração do monarca africano abriu-se imediatamente à graça divina. Daí a pouco
estava "sospirando por sua salvação", declarando sentir-se, realmente, satisfeito em
seguir a fé dum rei como o de Portugal, tão sabedor como feliz e as suas
convicções serem verdadeiras. Deus não o fez uma criatura assim perfeita para
depois o privar do conhecimento da verdade.
O rei do Congo ficou de tal modo
impressionado pelo navegador, que muitas perguntas lhe teria feito, ficando
renitente em deixá-lo ir embora.
Disse, que iria mandar a Portugal um
embaixador - Caçuta - se chamava o homem. Era um dos 4 que
estava ali com eles, a falar bem a língua portuguesa. Esperava que D. João II
mandasse baptizar Caçuta, que lhe enviasse alguns padres e frades para
celebrarem os ofícios divinos. Também carpinteiros, pedreiros, lavradores,
padeiras, artífices especializados ensinando as maneiras de viver dos
portugueses.
Edificar-se-iam belas igrejas como as
que Caçuta descrevera; as mulheres de África fabricariam o pão
como as de Portugal; os bois africanos adestrar-se-iam à lavoura; mandar-se-iam
a Portugal rapazes a baptizar, aprender a ler, a escrever, a fim de ensinar os
seus patrícios quando voltassem à terra.
De futuro o Congo seria como Portugal em
África, declarou o rei. Ele próprio estava resolvido a fazer-se cristão.
Grandes notícias aquelas. Caçuta foi
enviado como o primeiro embaixador do reino do Congo, trazido na frota de
Bartolomeu Dias, aquando do regresso deste navegador após a descoberta do
extremo cabo meridional, " Cabo da Boa Esperança" .
As perigosas cachoeiras perto das
cataratas de Yellala, puseram de parte as aspirações da guarnição. A rota por
via fluvial até Quíloa no oceano Índico estava fora de questão! O canal
desenhado no mapa de Fra Mauro corresponderia à realidade?!
Desceu o rio até foz.
Rumou para Sul até atingir o Promontorium Prassum do golfo arábico do mapa de Fra Mauro, onde, durante a 1ª expedição de exploração marítima, em Setembro de 1483, o supunha ter alcançado!
Padrão do Cabo Negro
O padrão do Cabo Negro foi erigido a 16 de Janeiro de 1486, no Cabo Negro, a norte da cidade de Tombua ex – Porto Alexandre – Angola, latitude 15º 40’ Sul” e longitude 11º 55' Este
Padrão do Cabo da Serra ou Cruz
O Padrão do Cabo da Cruz (Serra), foi erigido em Março de 1486, actual Cape Cross no Sudoeste Africano – Namíbia, à latitude 21º 47’ Sul e longitude 13º 57' Este
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