quarta-feira, 27 de abril de 2011

" inscrições pedras Yellala, rio Zaire"


trecho da foz rio Zaire a Matádi, RDCongo, distância de 170 Km,90 milhas náuticas

Na 2ª viagem de exploração da costa ocidental africana a Sul do Equador, a frota de Diogo Cam, levava a bordo das caravelas, 2 (dois) padrões de pedra calcária modificados , diferentes dos da 1ª viagem de exploração marítima.
Escudetes virados para baixo, supressão da flor-de-lis, inscrições em português arcaico e latim respectivamente, de acordo com a reforma operada à Bandeira pelo monarca português em Março de 1485.
“Embora esteja perdido o livro da Chancelaria relativo ao ano de 1485, existem elementos de arquivo (Câmara Municipal do Porto, Vereações vol. 5º págs. 83-84) que permitem asseverar que o rei D. João II não estava em Beja antes de Março de 1485, data em que decretou a modificação do Escudo”.
foz e estuário  rio Zaire. 1º plano a Ponta do Padrão
“Com efeito, os cronistas Garcia de Resende (Crónica de D. João II, Cap. 55 e 56 e João de Barros (Crónica de D. João II, Cap. 18 e 19) afirmam ter sido em Beja, em 1485, que o monarca decretou as modificações do escudo nacional”.
A guarnição  dirigiu-se para S. Jorge da Mina, actual Gana, entreposto comercial.
Aparelhada em S. Jorge da Mina, tomou o rumo do estuário do rio Poderoso, rio Zaire.
A frota foi ter ao [ Golfo del Judeo ] Golfo do Judeu, (baía de Lekonde) 4º 10’ Sul. [ elementos do comandante Fontoura da Costa], e [mapa - mundi de Henricus Martelus Germani de 1489].
Seguido a derrota do Sul com terra à vista, entrou no Golfo das Almadias, baía de Cabinda, 5º 33’ Sul. Os habitantes locais pescavam em canoas.
O Cabo onde se encontra o actual farol costeiro da cidade de Cabinda foi baptizado de cabo de S. Martinho, era o dia 11 de Novembro de 1485.
Cabo do Farol de Cabinda
Navegando para Sul a meados de Novembro de 1485, entrou no estuário do rio Poderoso onde aportou  a M’Pinda, residência do Manisoyo, 10 km da ponta do Padrão,.
Como os emissários enviados ao rei do Congo dois anos antes, Maio de 1483, não se encontravam em M’Pinda, o navegador decidiu zarpar rio acima até às imediações de Nóqui. A mando da autoridade local, o Manisoyo, alguns guias acompanharam a guarnição, aproximando-se o mais possível da residência do rei.
Chegados a Nóqui, o navegador enviou ao potentado de M’ Banza Congo, 2 dos 4 homens agora vindos de Portugal, bem vestidos e com ofertas, a falar a língua portuguesa, a comunicar à corte e ao rei  Nzinga à Kuvu [Cuum], que se encontravam naquele lugar, juntamente com os seus vassalos, pedindo a libertação dos portugueses, a troco da restituição dos restantes instalados a bordo
rio Zaire a jusante e Montante de Nóqui
Enquanto esperavam notícias, a frota seguiu adiante passando por Matádi, decorria os últimos dias do mês de Novembro de 1485.
rio Zaire em Matádi
A guarnição navegou junto à margem esquerda, evitando desse modo as cachoeiras e corrente vertiginosa junto à margem direita. Inesperadamente a seguir à confluência da foz do rio M’Pozo, amainou o andamento! Adiante uma enorme garganta em forma de catarata  fazendo saltar a água em velocidade, não permitiu a frota avançar!
município de Nóqui, Angola. rio Zaire visto a montante
Navegar pelo rio a partir dali, é praticamente impossível. Seguir até Quiloa no oceano Índico, conforme o canal do mapa de Fra Mauro, estava fora de questão.

vista rio Zaire e a foz do rio M'Pozo, montante de Matádi
inscrições pedras de Yellala, na embocadura do rio M'Pozo em Matádi 
A frota estava a 3 Km, do centro nevrálgico das cataratas de Yellala, e da foz do rio Zaire a 145 km, 78 milhas náuticas .
rio Zaire, na confluência do rio M'Pozo em Matádi

A montante de "Vivi", a frota foi ter a uns recifes, num sítio chamado “Nsadi Qumbidinga”, rio de peixe, na margem esquerda, na confluência da foz do rio M' Pozo num rochedo  a cerca de 2 Km a Nordeste do centro de Matádi na RDCongo na margem esquerda sentido da Jusante (ou seja em direcção ao Atlântico onde desagua) o rio Zaire ou (e do lado direito na direcção Matádi- Kinshasa), para montante, chegaram a uma ponta  a duzentos metros de "Vivi" onde encontraram uns rochedos e acostaram!
confluência, foz do rio M'Pozo, margem esquerda rio Zaire, em Matádi
No livro belga-Etuies Bakongo- do rev.do padre Van Wing, S. J . , missionário de Kisantu, edição de Bruxelas, 1921, à página 35; está a seguinte nota :
-C' est à ce second voyage de Diego Cão que se rapporte l'inscription, trouvée par Domenjos sur un rocher à l'embouchure de la Mpozo:
É nesta segunda viagem do Diego Cam que se relaciona a inscrição encontrada por Domenjos numa rocha na foz do rio Mpozo:
cataratas no rio Zaire  a montante das inscrições de  Yellala
Descalços desembarcaram, por ser completamente impossível seguir calçados por pedras escorregadias, de onde caindo, inevitavelmente iriam ao rio, porque a morte seria certa.
inscrições portuguesas nas pedras de Yellala, rio Zaire, efectuadas em Novembro de 1485
Em dificuldades conseguiram andar alguns metros, chegando a um ponto onde a todos começou a faltar o ânimo para continuar. Na sua frente, por único caminho, um despenhadeiro de alguns metros de altura, cortado a pique sobre o rio, sem outra coisa a que se segurassem, a não ser alguns fios de erva, capim, e as raízes de uma árvore, lianas!
rio Zaire e foz do rio M'Pozo em Matádi

Houve alguém que se arrojou a transpor aquele precipício e os que seguiam foram atrás. Ao fim de algum tempo encontravam-se nos rochedos onde iam ficar as inscrições. Ali, em frente de tamanho espectáculo, vendo o rio em baixo soltando rugidos de leão, avaliaram a intrepidez de tamanha façanha que acabavam de efectuar.
De seguida gravaram as armas de Portugal.
inscrições portuguesas nas Pedras de Yellala, rio Zaire, efectuadas em finais Novembro de 1485, no decorrer na 2ª viagem de exploração marítima iniciada a Setembro de 1485
O escudo usado naquela época, a cruz de Cristo e nomes de vários nautas deixando para a posteridade a permanência dos portugueses naquele lugar.
O escudo, os castelos, as quinas gravadas revelam que são posteriores à reforma decretada por D. João II, em Março de 1485
Bandeira Portuguesa em vigor a partir de Março de 1485
-D. João II retira das armas reais os remates flores-de-lis (pontas da cruz verde florestada da Ordem de Avis). -Fundo branco.
-Cinco quinas azuis dispostas em cruz (as laterais apontam para baixo, como as do centro).
-As quinas possuem cinco besantes brancos (dois pontos – um ponto – dois pontos)
-Bordadura vermelha.
-Sete castelos dourados na bordadura (por vezes oito castelos).
As gravações dos rochedos de Yellala, na margem esquerda do rio Zaire na embocadura da foz do rio M’Pozo, no sentido da jusante contêm:
-O Escudo português, constituído por cinco quinas todas viradas para baixo.
-Uma cruz da ordem de Cristo.
-Inscrições de estilo gótico.
Aqy chegaram os na
vios do esclaricydo
Rey dom Joan ho se
gº de Portugall: Dº Caão
Pº Ãns Pº da Costa
"Aqui chegaram os navios do esclarecido rei D. João II de Portugal Dº Caão, Pº Anes, Pº da Costa"
Noutro rochedo dois nomes em estilo gótico:
Álvaro Pires , Pº Escolar e uma sigla A, por baixo de Álvaro Pires
Noutro rochedo os nomes em estilo gótico:
Jº de Santiago, Dº Pinheiro (por cima do D, o sinal de uma cruz reduzida), Gº Álvares e Antão. -
Neste rochedo as palavras em estilo uncial:“ da doença”, precedidas de uma cruz , seguida do nome Gº Álvares!, o que quer dizer que o nauta morrera por doença.
O estudo epigráfico desta inscrição revela ser posterior às outras inscrições depois da morte do nauta em 1524. A grafia utilizada é diferente. 
O sinal de uma cruz reduzida por cima do D de Dº Pinheiro quer dizer que o nauta se encontrava afectado pela doença!
cachoeiras em Matádi, Yellala, RDCongo
A guarnição explorou o rio Poderoso, Zaire ou Congo, até às cataratas de Yellala, não foi mais adiante pelo facto das notícias desoladoras do rio ser intransponível, das muitas cachoeiras, rápidos, do percurso superior.
vista da cidade de Matádi, RDCongo, foto extraída da margem direita

ilhota na confluência rio M'Pozo  com o rio Zaire, Matádi, RDCongo
Devemos notar que durante a época dos descobrimentos houve 3 períodos de marcação das terras descobertas a favor de Portugal:
-No Primeiro Período usou-se a Cruz de Madeira Alta para os descobrimentos do Porto Santo, Madeira, Cabo Verde e Açores. Com o tempo estas cruzes apodrecem.
-No Segundo Período faz-se gravações em pedras ou rochas à beira dos rios ou nas praias - Pedras de Yelalla no rio Zaire em Novembro de 1485 em África, a Pedra de Dighton na América do Norte em 1511, Pedras de S. Lourenço em Sri Lanka, Ceilão, em 1501.
-No Terceiro Período compreendeu a colocação de Padrões.
O Diogo Cão executou o Segundo e Terceiro Períodos.
redemoinhos e cachoeiras no rio Zaire, em  Matádi, RDCongo

É importante realçar desde a chegada ao rio Zaire em 1483 da guarnição do navegador Diogo Cam, até à criação da colónia de Angola em 1575, os portugueses estavam de facto muito preocupados em encontrar uma ligação directa e rápida entre a costa Atlântica e as terras do reino do Preste João – rei cristão da Etiópia -, de forma a encurtar a viagem de navegação à volta de África, que tanto risco e perda de vidas causava no seu comércio com a Índia.
Assim, a incursão da guarnição do navegador através do rio Poderoso, rio Zaire ou Congo até às quedas ou cataratas de Yellala, a montante de Matádi, logo a seguir à confluência com o rio M’Pozo, obedecia de facto às instruções secretas de procurar uma ligação pelo interior de África, através do rio Zaire até às famosas terras do Preste João.
A toda esta região de África, os portugueses chamaram inicialmente de “Etiópia inferior”.
Em 1521, o rei D. Manuel I de Portugal conferiu ao explorador Gregório de Quadra o comando duma expedição que tinha por objectivo a travessia para a outra costa, através do rio Zaire até ao Grande Lago Central de África, de onde era fácil atingir as Terras do Preste João.
Contudo, por razões de vária ordem, tal expedição nunca deixou o rio Zaire.
Em 1575, quase oitenta anos depois, o objectivo de ligar o Congo à Etiópia, ainda se manifestava oficialmente através do título oficial dado a Paulo Dias de Novais, como governador e capitão-mor, “conquistador e povoador do Reyno de Sebaste, na conquista da Etiópia ou Guiné inferior”.
Ainda em 1591, Duarte Lopez, através da pena de Filippo Pigafetta, dizia na sua “Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas” quando descrevia o Reino dos Anzicos:
“O dito lado, portanto, fecha, [apartando-o] para a banda do Ponente, mais para o Oriente 150 milhas, corre o Nilo, encerrando uma região que abunda das cousas sobreditas, possuídas de vários Senhores, uns obedientes ao Preste João, e outros ao mui grande Rei Moenhemuge; em que afirmava não haver outra cousa mais que notar senão:
Do Nilo para Ocidente os povos comerciarem no Reino do Congo e nas ribeiras do seu mar;
E da banda doe além, no Oriente, irem pelos reinos de Moenhumuge até ao pélago de Mombaça e de Moçambique”, em confirmação da tese do possível acesso directo às Terras do Preste João a partir da foz do rio Zaire. 

Biografia dos nautas nas inscrições das pedras de Yellala:

Pero Escolar ( ou Escobar ou Escovar )
Num dos dias do mês de Janeiro do ano de 1471, chegou a Samá, local onde mais tarde se edificou a feitoria de S. Jorge da Mina, Gana.
Atribui-se-lhe a descoberta da ilha de São Tomé, 21 de Dezembro de 1471 e 17 de Janeiro de 1472 para a Ilha do Príncipe, juntamente com João de Santarém.
Pilotou a caravela capitania de Diogo Cam da 2ª viagem de 1485/86.
O 1º piloto europeu a navegar por águas fluviais de fortes correntes. Percorreu 92 milhas náuticas da foz do rio Zaire até chegar a Nóqui e depois a montante de Matádi.
Nas rochas de Yellala, o seu nome encontra-se gravado em quinto lugar.
Assistiu à implantação dos Padrões do Cabo Negro e do Cabo do Padrão da Serra em Cape Cross, Namíbia , e depois de várias vicissitudes regressou ao reino de Portugal.
Foi um piloto muito experiente.
A 19 de Dezembro de 1490, partiu do Tejo em direcção ao Congo, sendo o capitão Gonçalo de Sousa e embaixador de el-rei D. João II.
Foi piloto da caravela "Bérrio" em que o capitão se chamava Nicolau Coelho, da armada sob o comando de Vasco Da Gama (1497) na descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Chegou a Portugal em finais de Agosto de 1499.
A 18.02.1500, foi – lhe concedida uma tença anual de 4000 reais, enquanto for mercê D’el-rei, em recompensa dos serviços prestados na Guiné e no descobrimento da Índia (carta de mercê de) (Chanc.De D. Manuel, 1º - 13 flXVº e 4º Dip.).
Embarcou na armada de Pedro Álvares Cabral a 9 de Março de 1500. Participou na descoberta oficial do Brasil, sendo piloto da nau de Sancho de Tovar, imediato da frota.
O Oriente entusiasmou-o de tal forma que em 1517 se encontrava segundo F. Vasconcelos, na Índia onde talvez tenha falecido.

João de Santiago
Fez parte da armada de Diogo Cam na 2ª viagem de 1485/86/87. Seu nome está gravado nas pedras de Yellala. Foi o piloto de uma das caravelas.
Foi também piloto da naveta de Bartolomeu Dias que levava os mantimentos, da qual foi mestre João Álvares
Dias transferiu os mantimentos para as caravelas e seguiu para o Sul, deixando 9 homens na naveta na baía "Angra das Aldeias". No regresso da descoberta do Cabo da Boa Esperança escalou a Baía onde deixara a naveta havia 9 meses. Dos nove homens que deixou na naveta, só três ainda estão vivos e um deles morreu logo a seguir ao ver os seus companheiros de novo.

João Álvares
Há um enigma por decifrar?!
Este nauta, viajou com Diogo Cam, na 2ª viagem de exploração a Sul do Equador?!
Nos rochedos de Yellala encontra-se o nome do nauta que parece ser João (ou Gonçalo) Álvares, eis a dúvida, precedido do sinal de uma cruz, seguido “ da doença “, o que quer dizer, que o nauta morreu de doença.
( da doença), seguido da letra J ou G Álvares são caracteres (letras) diferentes de todas as outras, isto é, o estilo de letra (epigrafia) é diferente, estilo Uncial
Na verdade aquele registo foi gravado posteriormente (anos mais tarde, depois do Ano de 1524, data da morte de Gonçalo Álvares chegada da Índia - Gonçalo Álvares foi mestre de um dos navios de Vasco da Gama), julga-se que, “morto da doença”, seguida de “J ou G Álvares”, se refere a Gonçalo Álvares.
A inscrição “ morto da doença”, de estilo uncial seguida do nome do nauta, refere-se a Gonçalo Álvares. A inscrição foi efectuada a partir do ano de 1524, numa outra visita dos marinheiros às pedras de Yellala.
Assim sendo, João Álvares, não fez parte da frota de Diogo Cam.
Foi mestre da naveta de mantimentos da frota de Bartolomeu Dias (1487-1488), sendo piloto João de Santiago, que ao chegar ao reino após a descoberta do Cabo da Boa Esperança foi nomeado em 12.12.1488 almoxarife do armazém dos tratos e casa da Guiné, com os mantimentos anuais de 10000 reais. Escudeiro D’el – Rei (carta de mercê) (Chanc. De D. João II, 1º 14, fl 88 – 2 dipl.

Gonçalo Álvares 
O nome consta nos rochedos de Yellala (Out. /Nov. 1485). Fez parte da 2ª expedição de Diogo Cam.
Foi mestre de marinhagem, comandou os marinheiros profissionais, repartidos em quatro grupos, cada um dos quais responsável por um quarto do navio, o bombeamento e outras tarefas.
Esteve na Índia com Vasco da Gama e regressou em Agosto de 1499 ao Reino.
A inscrição nos rochedos de Yellala na margem esquerda do rio Zaire, a montante de Matádi, “morto da doença “, refere-se a Gonçalo Álvares. Esta inscrição foi efectuada depois de Agosto de 1499, numa visita efectuada pelos portugueses àquelas paragens depois de 1524. Nesse tempo as relações com o reino do Congo eram cada vez mais amistosas.

Pêro Anes
O seu nome está gravado, nos rochedos de Yellala.
Viajou com Diogo Cam na 2ª viagem.
É o Guanchinho, piloto muito antigo, quando em 1505 chega à Índia. Nomeado por D. Manuel “ patrão da navegação da Índia e mar oceano”, em atenção aos seus largos serviços. Veio a morrer como piloto-mor da armada de D. Lourenço de Almeida em Chaúl, em Janeiro de 1508 – A marinharia dos descobrimentos, Fontoura da Costa, pág. 118.
Em 1507 com João de Lisboa irá dentro em pouco elaborar o “ Regimento do Cruzeiro do Sul”.

Martim Afonso e Fernão Martins

Intérpretes, talvez mouros convertidos que falavam correctamente o árabe, ou portugueses que o tinham aprendido por terem sido escravos em Marrocos.
São enviados em Maio de 1483, por Diogo Cam, como emissários, a sondar o interior onde se encontrava o rei do Congo à sua residência (M’ Banza Congo) missão muito arriscada,  a troco de pagamento pelo serviço prestado.
Foram recuperados em Novembro de 1485, nas imediações de Nóqui, regressaram às caravelas, depois de 18 meses em terras congolesas.  
Em Portugal a 10.12.1493, Martim Afonso, ensinava a ler e escrever a 6 negros e 3 mestiços que  receberam vestuários, roupas e calçado vindos do reino do Congo.
Conhecedores da língua do Congo, na angra de S. Brás, a 25 de Novembro de 1497, é enviado a terra por Vasco da Gama a negociar a troca de um boi por pulseiras. Estava na presença da língua hotentote. Estes pegaram-lhe na mão de Martim Afonso levam-no à aguada, onde lhe indicaram que a água não podia ser levada.
A 10 de Janeiro de 1498, foi enviado por Vasco da Gama a terra num bote acompanhado por outro, num sítio chamado do país de Boa Gente, junto a um rio chamado de rio do Cobre, hoje Inharrime (Moçambique). Para surpresa do intérprete, um dos idiomas que aprendera no Congo era ali compreendido. Os interlocutores eram  bantos, cujas línguas são faladas na maior parte da África Austral, do Zaire ao Zimbábué. Martim Afonso não conhecia a geografia do interior do continente negro mas maravilhou-se por encontrar ali os mesmos homens que encontrara num local que lhe parecia situar-se no outro extremo da terra.
Apresentados ao chefe local, oferecem uma pulseira, um casacão de marinheiro e meias e barrete vermelhos, com que ele se enfarpelava, após o que acompanhou os visitantes à aldeia. No caminho, pára por diversas vezes para se pavonear com os seus novos tesouros, exclamando “ vejam o que eles me deram!”. Na aldeia, vai de cabana em cabana com o mesmo discurso. Os portugueses são instalados num recinto, onde lhes ofereceram uma galinha e uma marmita de milho-miúdo. A multidão, desejosa de os ver. Desfila toda a noite. No dia seguinte, o chefe acompanha-os aos navios com um carregamento de galinhas para o capitão -mor.

Caçuta
Veio com Diogo Cam para Portugal em Abril de 1484, com mais 3 africanos aprisionados e embarcados em M´Pinda, para salvaguarda dos emissários enviados à M' Banza Real. 
Regressou ao reino do Congo em Novembro de 1485. Serviu de intérprete nas relações com o Manycongo, rei do Congo, Nzinga-a-kuvu, seu soberano.
Volta a Portugal em Dezembro de 1488 com Bartolomeu Dias. É baptizado com o nome João de Silva. De regresso ao Zaire a 19 de Dezembro de 1490, morreu nas ilhas de Cabo Verde de doença, como aconteceu a Gonçalo de Sousa, comandante-chefe da expedição por contágios verificados na tripulação, tudo devido à peste  que lavrava em Lisboa à sua saída.

Jorge do Rosário
Frade dominicano embarcado na expedição de Diogo Cam de 1485/1486/1487.
Atacado de doença morreu a bordo de uma das caravelas, quando a expedição regressava ao reino.
    “......A narração "portuguesa" da história tem a forma de um diário de bordo de Jorge do Rosário, frade dominicano embarcado na expedição de Diogo Cam de 1485/1486. O próprio frade narrador é mestiço, filho de negra forra de Lisboa, e nele coincidem duas memórias e duas histórias: a da mãe, da família Nsanda, e a dos frades portugueses que o educaram e cuja religião adoptou. As cantigas e as histórias que lhe contava a mãe, e que constituem a sua herança negra, criam nele o desejo de regressar às raízes, de conhecer esse outro povo que também é o seu. A bordo, Jorge do Rosário tem um lugar ambíguo – como é comum nas personagens mestiças –, gozando da autoridade do seu papel de religioso, mas sendo, por outro lado, olhado com desconfiança e desfavor pelos outros frades. As treze entradas do diário estão datadas entre 29 de Outubro e 17 de Novembro de 1486, durante a viagem de regresso a Lisboa, depois da tentativa falhada para dobrar o Cabo das Tormentas. No entanto a narração do frade – que está com febre, na qual o leitor adivinha a morte próxima – é, na verdade, feita essencialmente da memória da viagem para Sul, quando as paragens ao longo da costa para aguadas haviam possibilitado o encontro de Jorge com o "seu" povo. E é este encontro que é o centro da história: da história pessoal de Jorge, que nos jovens Nsanda Kabasa e Nsanda Kakulo, descobre dois sobrinhos e a família Nsanda; e da história do Império, fundado na crioulização....”.
Terá Diogo Cam passado pela Mazanga (ilha de Luanda e Mussulo)? E pela barra do Kwanza, cujas correntes estão na origem da formação daquela língua de terra? Um dominicano mestiço proveniente da Confraria do Rosário, em Lisboa, acompanha o navegador na sua segunda viagem em 1485, e acredita ir ao encontro da família remota perdida no Kongo. Mas o acaso leva-o mais para sul, ao reino do Ngola Kiluanji Kya Samba, que se prepara para recuperar o domínio das ilhas ocidentais porMazanga onde, na exploração do zimbo (conchas) rivalizam três grupos migratórios vindos do Kongo: o do Mwani Korimba, da linhagem Nlaza, o do Kanzi a Pakala, do Soyo, cujo chefe é o Mwani Mussulo, e finalmente aquele cujo percurso se revela o mais dramático de todos, o dos Nsanda.