segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"Angola como surgiu o nome e grupos étnicos"...

Por: Helder Fernando de Pinto Correia Ponte
Os N’Golas
O nome “Angola” tem raiz no termo “Ngola” que era título de um dos potentados Ambundos que existia no antigo reino do Ndongo, entre o Anzele, Ambaca e Pungo Andongo, (nas actuais províncias do Bengo, Kwanza Norte, Kwanza Sul e Malange) no tempo do início da expansão da influência dos portugueses sobre o Antigo Reino de Ndongo na segunda metade do século XVI.
Ngola A Kiluanje (1515-56) foi o líder do potentado mais destacado do Antigo Reino do Ndongo, sendo conhecido por Ngola A Kiluanje Inene (o Grande Ngola).
Ngola A Kiluanje Inene fundou uma dinastia do que mais tarde se havia de vir a conhecer como o Reino de Angola, que então compreendia entre outros, os distritos da Ilamba, do Lumbo, do Hari, da Quissama, do Haku e do Musseke.
Inicialmente o Ndongo era um chefado vassalo do Antigo Reino do Congo até Ngola A Kiluanje Inene se declarar independente.
Outros reis do Antigo Reino do Ndongo independente foram o Rei Ndambi A Ngola(1556-c1562), o Rei Ngola Kiluanje Kia Ndambi (c.1562-c.1575), o Rei Njinga Ngola Kilombo Kia Kasenda (c. 1575-1592), o Rei Mbandi Ngola Kiluanje (1592-1617), o Rei Ngola Nzinga Mbandi (1617-1624), e a Rainha Nzinga Mbande (Ana de Sousa) que reinou de 1624 a 1626.
Em 1626 os portugueses conquistaram o Reino de Angola, passando este a ser vassalo de Portugal. Durante este período foram reis do Ndongo. Dom Harin A Kiluanje que governou em 1626, e o rei Ngola Hari, que governou de 1627 a 1657.
O termo “Ngola” tem por sua vez raiz no termo “Ngolo”, o que em quimbundo (língua do povo Ambundo) significa “força”, de acordo com o “Ensaio de Diccionário Kimbundu-Portuguez”, preparado por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, impresso na Typografia e Stereotypia Moderna da Casa Editota António Maria Pereira, e publicado em Lisboa no ano de 1893.
O mesmo termo em quicongo (língua do povo Bakongo) significa “rigor, força, fortaleza ou robustez”. Os portugueses depreenderam assim que o Ngola era aquele que tinha força, aquele que era poderoso.
Apesar de inicialmente o nome e título de Ngola se aplicar somente aos potentados e regiões ao longo do curso superior dos rios Lucala e Cuanza, o uso do termo passou a aplicar-se a outras regiões e chefes vizinhos que viriam formar eventualmente o núcleo do domínio português na região. Aos chefes Ngola os portugueses chamavam-nos “Ngola” e à região chamavam as “Terras do Ngola”.
quedas Duque de Bragança, Calandula, rio Lucapa, afluente do rio Quanza

Desde então, as terras vizinhas ao longo dos rios Lucala e Cuanza, sob a tutela dos Ngolas e mais tarde conquistada pelos portugueses, passaram a ser chamadas e reconhecidas nos mapas e documentos oficiais da época como “Terras do Ngola”, depois como “Terras d’Angola”., e desde então a colónia portuguesa passou a chamar-se simplesmente “Angola”. 
quedas Duque de Bragança, Kalandula, rio Lucapa, afluente do rio Quanza

 Da mesma forma, e conforme Ferreira Diniz (populações Indígenas de Angola, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1918), o nome Ngola acabou por aplicar-se também a alguns grupos do povo Ambundo que ocupavam o mesmo território, incluindo os Ambaquistas, Golungos, Cabires e Dondos, que habitavam a região entre os rios Cuanza, Lifune e Zenza, e que se estendia até aos rios Cuiji (afluente do Cuango) e Gola  Luige (afluente do Lucala).

Paulo Dias de Novais e o Reyno de Angola
25 de Janeiro de 1576. Paulo Dias de Novais, neto paterno de Bartolomeu Dias, funda a cidade de S. Paulo da Assunção de Loanda, dando assim início á penetração Portuguesa na África Meridional. Foto: baía de Luanda no séc. XVII.
Paulo Dias de Novais passou cinco anos de cativeiro na corte do legendário Rei de Ndongo Ngola A Kiluanji Inene, entre 1560 e 1565, após os quais foi libertado com o auxílio "de uma princesa filha daquele rei" sob a promessa de ir a Portugal arranjar socorro militar contra a campanha iniciada por Kiloango-Kiacongo, um poderoso rival de Ngola A Kiluanji Inene
Paulo Dias de Novais saiu de Lisboa em 23 de Outubro de 1574 e chegou à Ilha das Cabras (Ilha de Luanda) a 20 de Fevereiro de 1575, onde existiam cerca de sete povoados e onde encontrou sete barcos e cerca de 40 portugueses ricos do negócio negreiro, que se haviam refugiado dos Jagas e se encontravam lá vivendo; Os Portugueses já deviam de habitar na Ilha das Cabras já há alguns anos, pois nesta também encontrou uma igreja e um cura.
Era nas areias das praias da Ilha das Cabras, berço do povo Muxiluanda, que os oficiais do Manicongo (o Rei do Congo) recolhiam os Zimbos (nzimbos - conchas de búzios pequenos), que serviam de moeda corrente para transacções comerciais nas feiras muito activas nas feiras no interior das províncias do Antigo Reino do Congo.
fortaleza Massangano, confluência rio Lucala/ rio Quanza
Em breve Paulo Dias de Novais rumou com destino às terras do Ndongo, em procura das legendárias minas de prata de Cambambe, ao longo do vale do rio Quanza até à confluência do rio Lucala, no lugar da Vila de Nossa Senhora da Vitória de Massangano, que viria a fundar em 1583..
A Povoação de S. Paulo de Loanda
O Termo "Loanda"
De acordo com Carlos Alberto Lopes Cardoso na sua obra "Os Axiluanda", publicado em Luanda pela Editorial Culturang, sem data certa (1971 ou 1972), "Os Luanda (tributários), como parece terem sido conhecidos os primitivos naturais da Ilha de Luanda, além da recolha do njimbu praticavam a pesca com redes rudimentares e daí lhes provém o nome Axiluanda (lançadores de rede), senão vejamos: «com o decorrer dos tempos, e pela lei de analogia, que a filosofia admite no estudo de qualquer língua, o nome Luanda estendeu-se às redes de pesca, e depois a toda a espécie de redes, tal como aconteceu com o termo mundele que, significando primitivamente homem branco, passou mais tarde a designar também, sobretudo fora de Luanda, todo e qualquer indivíduo, sem distinção de cor ou raça, que pelos seus usos e costumes se assemelha aos europeus» (Lourenço Marques da Conceição - "Porque se escreve Luanda com "U", Tipografia da Missão Católica de Luanda, Luanda, 1943, página 45."
Katari - Onde actualmente é o Largo do Pelourinho. Katari em quimbundo quer dizer lugar de suplício

O Reyno do Congo e a Ligação Terrestre para o Preste João
Ainda em 1591, Duarte Lopez, através da pena de Filippo Pigafetta, dizia na sua "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" quando descrevia o Reino dos Anzicos: "O dito lado, portanto, fecha, [apartando-o] para a banda do Ponente, mais para o Oriente 150 milhas, corre o Nilo, encerrando uma região que abunda das cousas sobreditas, possuídas de vários Senhores, uns obedientes ao Preste João, [nosso sublinhado] e outros ao mui grande Rei Moenhemuge; em que afirmava não haver outra cousa mais que notar senão: do Nilo para Ocidente os povos comerciarem no Reino do Congo e nas ribeiras do seu mar; e os da banda de além, no Oriente, irem pelos reinos de Moenhumuge até ao pélago de Mombaça e de Moçambique.", em confirmação da tese do possível acesso directo às terras do Preste João a partir da foz do Zaire. (*Ver nota no fim deste post)
 
O objectivo principal da criação da nova colónia era a procura e eventual exploração das minas de cobre do Sumbe Ambela, a norte da foz do Rio Cuvo (ou Queve), e a Sul de Benguela-Velha, a primeira povoação portuguesa na região, mais tarde extinta, perto da actual cidade de Porto Amboím.
1578 a 1582 mapa de Fillippo Pigafetta
Manuel Cerveira Pereira deixou Luanda a 11 de Abril de 1617 à frente de uma expedição de 130 homens e rumou Sul sempre ao longo da costa até que chegou à Baía das Vacas a 17 de Maio. Aí Manuel Cerveira Pereira fundou a povoação de S. Filipe de Benguela, que havia de ser a capital do novo domínio português a Sul de Angola. 
No entanto, deste nome famoso não se sabe muito quanto ao esquema histórico. Sabe-se muito pouco quanto às suas origens que, com certeza, transbordam para além dos limites do território português.
Deste aspecto estamos certos, porque nós próprios pesquisámos e percorremos longos trechos dum caminho designado de Ngola, neste caso Ngola Tchiloanje tcha Samba, que penetrava na Província pela fronteira do Cassai. Por essa via marchou, com aguerrido bando, em épocas que parecem situar-se no Século XVI, aquele famoso chefe gentílico, saído da região de Samba, na Catanga Ocidental, com rumo à região e Malange. Até ao Cuango, pesquisámos-lhe o rasto, e um regime de tradição bastante coerente. Do Cuango para lá, para Oeste, não conseguimos nem obtivemos informes suficientemente explícitos, tudo se limitando à versão de que este chefe migrante se fixara a Sul do actual Duque de Bragança (Calandula), numa área chamada Quinzama.
A Câmara Municipal de Luanda, nos seus programas de obras de arte, bem podia incluir, para momento oportuno, a estátua do afamado rei dos Ngolas."
Paulo Dias de Novais manteve-se na Ilha de Luanda, onde recebeu uma embaixada do Rei Ngola Kiluanji Kiassamba a 29 de Junho de 1576, quando recebeu permissão deste para se mudar para terra firme, mais exactamente para o morro que chamou de São Paulo, onde fundou a povoação de São Paulo de Loanda, como porto negreiro e baluarte militar português próximo da foz do Rio Cuanza.
Durante séculos, Luanda foi o porto negreiro mais importante da costa atlântica de África. Os escravos eram guardados em áreas cercadas (currais) situadas na área actual das Ingombotas, durante a espera de embarque para o Novo Mundo.
O primeiro cemitério para os escravos foi situado na área imediatamente a montante (acima) das Ingombotas, onde as campas rasas eram assinaladas com cruzes. 
Os corpos dos escravos que morriam nos currais durante esta espera de embarque para a Passagem do Meio, que podia demorar muitos meses, eram levados para a área do Maculusso (área das cruzes - de "cruces"/ ""klusses"), imediatamente a montante das Ingombotas, onde eram sepultados ou, em muitos casos, simplesmente deixados como alimento às hienas, leões e outros animais selvagens que por aí rondavam em procura de alimento.
No seu regresso às terras de Ngola A Kiluanji Inene, Paulo Dias de Novais vinha munido de uma Carta de Donataria conferida em 1571 por El-Rei D. Sebastião de Portugal, em que era reconhecido como "Governador e Capitão-Mor, conquistador e povoador do Reyno de Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior.", sendo até essa data a região conhecida como "Terras do Sebaste", em honra de El-Rei D. Sebastião.
A carta de doação era baseada no modelo das cartas de doação das capitanias brasileiras, que tinham sido usadas sem grande sucesso na colonização do Brasil, algumas décadas antes. A carta de donataria requeria a expansão do território para norte até às margens do Rio Dande (Bengo) e para sul e para o interior ao longo do curso do Rio Cuanza. 
Este foi o primeiro documento oficial em que os Portugueses fazem referência e designam a região por Reyno de Angola, quando de facto tal termo se referisse mais a um conjunto de potentados locais e regionais e não a um só potentado em particular, relativamente independentes uns dos outros, mas todos sujeitos a certa forma de vassalagem para com os Portugueses. Só mais tarde é que Paulo Dias de Novais é oficialmente reconhecido pela primeira vez como Capitão-General e Governador do Reyno de Angola.
Paulo Dias de Novais faleceu a 9 de Maio de 1589 em Massangano, depois de ter vivido os últimos 14 anos da sua vida nas insalubres terras de Angola, e foi sepultado em frente à Igreja de Nossa Senhora da Vitóriaem Massangano, em túmulo de pedra, e as suas cinzas foram mais tarde transladadas para a Igreja dos Jesuítas em Luanda, pelo Governador Bento Banha Cardoso em 1609.
A escolha do local para a povoação de S. Paulo foi influenciada sobremaneira pela existência de um porto natural magnífico situado dentro de uma baía protegida por uma ilha, ideal para a navegação, de uma fonte de água potável (as águas do Poço da Maianga na (então) Lagoa dos Elefantes), e do morro de São Paulo (o morro onde mais tarde se passou a designar como Morro de S. Miguel, onde se construiu a Fortaleza de S. Miguel) com meios excelentes de defesa militar, junto ao mar e ligado ao plateau que se expandia para o interior. Foi no morro de São Paulo onde a primeira sede do governo e instalações militares portuguesas foram construídas, já que o morro oferecia meios de defesa superiores aos do local da foz do Cuanza, situado a cerca de dez léguas mais a Sul.
A povoação de São Paulo de Loanda expandiu-se depois para a "Cidade Alta", onde se construíram as instalações para a administração civil e religiosa, como a câmara municipal, a junta de fazenda, o tribunal, várias igrejas e conventos, e o Colégio dos Jesuítas. Os soldados e mercadores de escravos viviam na "Cidade Baixa", na área actual dos Coqueiros. O foral de cidade foi concedido em 1605, quando se constituiu a primeira vereação municipal.
 

O nome da povoação original era de Vila de S. Paulo, fundada por Paulo Dias de Novais em 1576. O nome de S. Paulo deriva do nome do seu fundador, o Governador e Capitão General Paulo Dias de Novais, e também do nome do soba Paulo Manicabunga, nesse tempo "a quem de direito pertencia todas estas terras que confinam com Angola". Contrariamente à tese de alguns estudiosos, o nome de S. Paulo não está relacionado com o dia de S. Paulo, que é 19 de Janeiro, já que nenhum acontecimento especial teve lugar nesse dia durante os primórdios da vida da Vila de S. Paulo.
Luanda - Angola - 1665.
Planta de Loanda, de Johannes Vingboones, flamengo. 
Cedo o nome Loanda foi adicionado à vila, passando então a conhecer-se por S. Paulo de Loanda. Duarte Lopez, que esteve em Luanda entre 1578 e 1579, e relatado na sua obra por Fillipo Pigafetta "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" (página 33) é quem primeiro nos revela o significado do termo "Loanda", em relação à Ilha de Luanda, cordão sedimentar de cerca de léguas, a norte da foz do Rio Cuanza, e formada por este, inicialmente conhecida como Ilha das Cabras, que "quer dizer naquela língua, terra baixa, sem montes e baixa, que ela pouco se levanta sobre o Oceano e é feita de areia e vaza do mar e do Rio Cuanza".
Porém, o termo "Loanda" serve também para designar tributo, o que levou o Dr. José Pereira do Nascimento nos princípios do Século XX a afirmar que "o nome Loanda (cidade) significa tributo que os antigos moradores pagavam ao Rei do Congo com búzio, zimbo apanhado na ilha do mesmo nome."
Com a reconquista de de Angola e a expulsão dos Holandeses de Angola em 1648 pela esquadra luso-brasileira sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, o nome da cidade foi mudado para "S. Paulo da Assumpção de Loanda", porque o antigo nome de Loanda tinha muita parecença com "Holanda", e em memória de Nossa Senhora da Assunção, em cujo dia (15 de Agosto de 1648) se restaurou o domínio Português sobre a colónia de Angola, e hoje feriado municipal.
Ainda de acordo com Carlos Alberto Lopes Cardoso, só em Abril de 1927 é que "Loanda" passou a "Luanda", e graças ao esforço do Padre Ruela Pombo, grande estudioso da História de Angola, quando o Governo Geral assim o determinou como uso oficial e obrigatório, o que vinha sendo advogado pela elite intelectual angolense desde os princípios do Século.
 
Loanda Escrita com "O"
Pelo seu interesse, passo a transcrever aqui as notas de Manuel da Costa Lobo, na sua obra "Subsídios para a História de Luanda", edição do autor, Lisboa, 1967, páginas 207 e 208:
"Durante centenas de anos Luanda, limitada, por assim dizer, a meia dúzia de ruas, não tinha, por isso, necessidade de lhes dar designação oficial, sendo os seus vários pontos mais conhecidos pelos nomes dos bairros em que se situavam.
Assim, pelas relações antigas que se referem ao assunto, verifica-se que de Norte para Sul a esses bairros eram dadas as seguintes designações:
Quipacas - Onde está situada a estação da cidade baixa
Nazaré - Onde está a Igreja de Nª. Sª. da Nazaré
Bungo - Desde a Nazaré até à Caponta
Katomba - Onde foi o Largo António de Oliveira Cadornea
Mutamba - Actual Largo do Almirante Baptista de Andrade
Mazuika - Ficava nas traseiras da Igreja do Carmo
Kafaco - Onde hoje, a meio da Rua Luis de Camões, vem desembocar a rua que passava em frente ao Colégio das Irmãs de S. José de Cluny.
Maculusso - Situado no bairro deste nome. Maculusso é um termo do quimbundo que significa cruzes. Era o lugar onde noutros tempos se enterravam os indígenas e se punham as cruzes sepulcrais.
Ingombotas - Localizado no bairro deste nome.
Sangandombe - Onde hoje é o bairro "Ferreiras", por detrás do edifício das Obras Públicas e onde, antigamente, viviam os indígenas oleiros que fabricavam bilhas debarro preto.
Quibando - Local onde estão edificadas as instalações do Nacional Cine Teatro.
Remédios - Nas imediações da actual Sé Episcopal
Quitanda - Lugar em que se situava a «Quitanda-Grande» defronte do actual Largo Luís Lopes de Sequeira.
Coqueiros - Localizado no bairro deste nome.
Terreiro - Onde fica hoje o Largo Infante D. Henrique.
S. Miguel - Nas proximidades da Fortaleza de S. Miguel.
Misericórdia - Nas imediações da actual Igreja de Nª. Sª. da Conceição.
Maianga - Localizado no bairro deste nome, atrás do Hospital."
É importante notar aqui que desde a sua chegada ao Congo em 1483 até à criação da colónia de Angola em 1575, os Portugueses estavam de facto mais preocupados em encontrar uma ligação directa e rápida entre a costa atlântica e as terras do Reino do Preste João (rei Cristão da Etiópia), de forma a encurtar a viagem de navegação à volta de África, que tanto risco e perda de vida causava aos Portugueses no seu comércio com a Índia. Assim, a incursão de Diogo Cão através do Rio Poderoso (Zaire) até às Quedas do Yellala, perto de Matádi, obedecia de facto a instruções secretas de procurar uma ligação pelo interior de África (através do Rio Zaire) até às famosas terras do Preste João. De facto, a toda esta região de África, os Portugueses chamaram inicialmente "Etiópia Inferior".
 
Manuel Cerveira Pereira e o Reyno de Benguella
A região de Benguela, antes da chegada dos Portugueses, era habitada por povos bantos criadores de gado, que tudo indica serem de ascendência Herero, vindos do Sul. De facto, a baía de Benguela foi durante muito tempo conhecida como Baía das Vacas, por lá os Portugueses terem avistado (e roubado) muito gado aos povos da região. A região era ainda habitada por grupos nómadas de Khoisan, que há muito se tinham adaptado à secura da região.
O primeiro contacto dos Portugueses com a baía de Benguela teve lugar na primeira viagem da guarnição deo navegador Diogo Cão, em 1483, que aí ancorou a 15 de Agosto e à qual deu o nome de angra de Santa Maria. Ao rio Catumbela, deu o nome de rio do Paúl.
De acordo com Gastão Sousa Dias na sua obra "Os Portugueses em Angola", edição da Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1959, p.p. 99 e 100, lembra-nos que em 1615 o Rei Filipe II de Portugal (e III de Espanha) separou o Reino de Benguela do governo de Angola "De meu poder real e absoluto, me praz e hei por bem, por esta presente provisão, a capitania, conquista e governo das províncias do dito Reino de Benguela [...] e por ela as erijo e ao dito reino em novo governo, para que de hoje em diante tenham separada a jurisdição e governador", nomeando como Governador, Conquistador e Povoador de Benguela ao mesmo tempo governador de Angola Manuel Cerveira Pereira.
Adopção da Nomenclatura Dinástica e Nobiliárquica Portuguesa
Desde cedo os Portugueses chamaram "reis" aos chefes africanos, e desde cedo as nomenclaturas dinástica e nobiliárquica portuguesas foram adoptadas pelos potentados africanos, tornando-se comum o título de rei e de certos títulos nobiliárquicos como duque, marquês, conde e barão. A exemplo de Portugal, em que o Rei D. Manuel era "Rei de Portugal e dos Algarves, Senhor d'Aquém e d'Além Mar em África, etc. ...", o Rei D. Afonso I do Antigo Reino do Congo, intitulava-se "Por graça de Deus, Rey do Congo, e Ibundo, Cacongo e Ngoio, daquém e de além Zaire, Senhor dos Ambundos e de Angola, d'Aquissama e Musuaru, de Matamba e de Muílo, do Mussuco e dos Anzicos, da conquista de Pango Alumbo, etc..."
Extracto do Artigo "N'Gola" da Autoria do Dr. José Redinha
Numa tentativa de encontrar a raiz e o percurso histórico do termo "Ngola", o Dr. José Redinha investigou a origem do termo e concluiu que o termo teria origem além Cuango. Pelo seu interesse, a seguir transcrevo vários trechos do seu artigo "Ngola", inserido no Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, Nº 23, Abril - Junho, 1969, páginas 25-31:
"Ngola é um nome, foi um título, e alastrou à designação de uma etnia: os Ngolas ou Angolas. Mais ainda, este nome expandiu às dimensões da Província, pois o seu nome Angola dele deriva.
Temos assim algumas razões averiguadas em abono da afirmativa de que os Ngolas procedem de além fronteiras. É particularmente na região que decorre entre Pungo-Andongo e o Duque, que o complexo histórico dos Ngolas toma proporção, quer pelas suas relações com os sobas do Cuanza, quer pelas alianças com a Jinga.
Certo é que, Ngolas aureloados de prestígio e reputação guerreira desceram para o litoral, particularmente para o Cuanza, facto que levou os cronistas à repetida expressão de que «o Cuanza é o rio dos Muene Ngolas».
A guerra, a técnica e a política social seriam os grandes predicados destes Ngolas, entre os quais, pelo menos um deles terá atingido a posição de herói civilizador, em especial pelo seu conhecimento e divulgação das artes siderúrgicas, na zona litoral.
O nome Ngola encontra-se confusamente envolvido com o dos Jagas, chefes guerreiros, que assolaram Angola com temíveis hostes, a partir do Século XVI, apavorando com as suas correrias grande parte das populações da Província. Certo é que alguns antigos Ngolas usaram o título de Jaga, embora não esteja esclarecido em que medida o título correspondia a alguma entidade étnica ou grupal, ou constituía designação honorífica, e algumas vezes com solenidade, como aconteceu com Tchinguri em 1606 ou 1609, no Palácio dos Governadores, em Luanda.
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Entre os Africanos, o nome de Ngola assumiu uma popularidade lendária e folclórica verdadeiramente notável. Desde dos arredores de Luanda a Matamba (Duque de Bragança) a terra está assinalada por contos, anedotas, peripécias e aventuras relativas ao Ngola, e em Pungo-Andongo, o nome de alguns grandes monólitos evocam o remoto chefe gentílico, como por exemplo «Ngola Nganzo», que nos traduziram por «espelho do Ngola».
Este renome de Ngola, tanto se encontra na tradição oral, como nas páginas históricas: ao Ngola Inene, reinante em 1557, apontou Felner (**) como «o mais importante Soba dos Ambundos», acrescentando que a sorte o favoreceu tornando-o dia-a-dia mais poderoso.
Nas muitas lendas que envolvem o nome de Ngola, uma delas refere-se a uma espécie de caixa forte ou reduto, excepcionalmente resistente, e de tal sorte, que nunca ninguém o conseguiu demolir. 
 
Conta-se também a lenda que o facto do mar ser salgado é a consequência de uma vingança do Ngola, pois, tendo sido preso pelos Portugueses em Pungo-Andongo, para os acompanhar a Luanda, amarrou na ponta de um manto um punhado de sal gema das minas do Cuango, lançando-o à água logo que se aproximou da beira-mar.
Conforme ficou dito anteriormente, o nome de Ngola difunde-se aos povos que constituíram os mais lídimos grupos da sua jurisdição. Seriam grupos de povos litorânios e do próximo interior, entre eles, e talvez os mais numerosos, os Ambundos, que se alistaram no grupo de Ngola e se submeteram ao seu poder, passando a usar a designação de Ngolas, significado gente do Ngola. Trata-se de certo modo de uma designação aristocrática, distinguindo-se por ela dos restantes grupos avulsos de chefia fraca ou mesmo difusa.
Por outro lado, é de admitir que ao Ngola muito conviesse esta reorganização dos Ambundos em sua volta, e para engrossamento das suas hostes, contra os reis Congueses, com os quais se havia de bater fortemente na linha do Dande em 1556. Neles encontraria também bons aliados, ressentidos da sua expulsão do Congo, onde seriam ainda numerosos nos finais do Século XV.
A história de Ngola, nome de homem e título de chefe que usamos em síntese dos diversos Ngolas, é uma história cheia de interesse. É de crer que na figura de Ngola Inene, que em 1557 enviara embaixadores a D. João III de Portugal, se possa resumir o clã dos Ngolas.
Neste ou em outro a averiguar, deveríamos sintetizar o soberano do velho reino de Angola, e perpetuá-lo num monumento, talvez a par com Novais, recordando os seus encontros, a sua amizade, as suas alianças, até os seus desentendimentos. Além de tudo, e acima das circunstâncias variadas que caracterizaram as suas relações, são duas figuras interessantes de fundadores, na base da História de Angola.
Notas Importantes
(*) A tese da ligação por rio e terra entre o Congo e as Terras do Preste João através do Zaire pelo interior de África como um dos objectivos da estratégia da expansão Portuguesa na Bacia do Congo aqui desenvolvida, foi baseada em parte num manuscrito não publicado de António Caldeira Lobato Torres, gentilmente cedido recentemente por sua filha Celeste Torres (a Letinha, da nossa Sanzal Angola).
(**) ANGOLA - Apontamentos Sobre a Ocupação e Início dos Estabelecimento dos Portugueses no Congo, Angola e Benguela (História Colonial dos Portugueses) extraídos de documentos históricos, coligidos por Alfredo de Albuquerque Felner, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933.

A fundação da cidade de Luanda
Fonte:
A cidade de Luanda foi fundada por Paulo Dias de Novais, na sequência da chegada à região de uma armada de Lisboa, que transportava várias centenas de homens, entre soldados, mercadores e missionários.
Paulo Dias de Novais era um fidalgo da Casa Real, neto de Bartolomeu Dias, que tinha anteriormente sido incumbido de liderar uma embaixada ao reino de Angola. Conhecia, portanto, o terreno e os cenários político e social da região.
A armada chegou à ilha de Luanda em Fevereiro de 1575 e Paulo Dias de Novais, após reconhecimento do terreno, decidiu criar um núcleo permanente, a que deu o nome de S. Paulo de Luanda, não na ilha mas em terra firme devido às boas condições de defesa e, sobretudo, do porto abrigado.
Quais eram os objectivos da expedição?
Os portugueses tinham chegado àquela região há praticamente um século, mas durante muito tempo a presença portuguesa tinha-se concentrado no reino do Congo, mais a norte.
A certa altura, os portugueses estabeleceram contactos com um pequeno reino, vassalo do Congo, que se mostrava receptivo ao comércio português e ao trabalho missionário.
Tratava-se do reino do Ndongo, um pouco a sul, cujo rei tinha o título de “Ngola”, e foi este o nome que os portugueses adoptaram para a região e que veio mais tarde a designar o enorme território da colónia portuguesa e o actual país.
Paulo Dias de Novais recebeu uma doação régia para criar uma base permanente, promover o povoamento, o comércio e a descoberta de metais preciosos, à semelhança do que tinha ocorrido com as donatárias no Brasil.
A sua missão era, portanto, simultaneamente oficial e privada, uma vez que recebia o título e o poder de governador e capitão-geral, mas os custos da preparação e financiamento do empreendimento eram da sua responsabilidade.
Teve sucesso?
A expedição foi bem-sucedida, porque teve um bom acolhimento por parte do Ngola, que autorizou a fundação de Luanda. A ilha tinha um grande interesse na economia local, porque produzia uma espécie de búzio que era usado como moeda em toda a região.
Luanda tornou-se, portanto, o centro da presença portuguesa, quer do comércio e da actividade das ordens missionárias, mas também das expedições militares para o interior, ou seja, da “conquista”.
Foi nesta vertente que surgiram de imediato grandes dificuldades e tensões, porque os portugueses envolveram-se nos conflitos das potências da região, ou seja, o Ndongo, o Congo e outros reinos, e também porque as tentativas de penetração no interior em busca de minas de prata depararam com enorme resistência.
Paulo Dias de Novais morreu em 1589, no decorrer de uma dessas expedições. Seja como for, Luanda passou a ser o centro da presença e da influência portuguesa em toda região durante os séculos seguintes, exceptuando um breve período, entre 1641 e 1648, durante o qual a cidade esteve sob o poder dos holandeses.

Grupos Étnicos 

Em Angola coexistem três grandes grupos etnolinguísticos, os Mucancalas, os Bantos e os Lusos.
Os Mucancalas, os mais antigos ocupantes humanos vivos do actual território de Angola, têm a pele de diversos tons de bege, o cabelo preto e aos montinhos encaracolados, os olhos negros e muito frequentemente apresentam esteatopigia. São caçadores-recolectores paleolíticos e falam uma língua da família de línguas khoisan (que se caracteriza pelo uso de cliques como fonemas).

Os Mucancalas (o Paleolítico terá terminado na África Tropical há cerca de 5 mil anos, por volta de 3000 aC).
Os Khoe-San são descendentes do mais antigo evento de diversificação da história humana, que teria acontecido há 100.000 anos, e conservam até hoje essas diferenças ancestrais em seu DNA. O estudo foi publicado  na revista Science.»
«O carácter único dos Khoe-San,  teriam-se separado do resto da humanidade há 100.000 anos e seguido seu desenvolvimento de forma quase independente. A segunda divergência a ser registada pelos pesquisadores só aconteceu bem depois, há 45.000 anos, quando os povos do centro da África se separaram dos povos ao leste. “A maior divergência entre os humanos modernos aconteceu há 100.000 anos, bem antes da migração da África, e duas vezes antes das divergências entre os pigmeus e os caçadores-colectores do leste da África do resto dos grupos africanos”, disse Carina Schlebusch, pesquisadora da Universidade Uppsala, na Suécia.»
Os Khoe-San, ou Khoisan, que vivem em Angola são  conhecidos por Mucancalas.
Os Bantos (a Idade do Ferro ter-se-á iniciado na África Tropical há cerca de 3 mil anos, por volta de 1000 aC).
Os Bantos, que começaram a entrar no actual território de Angola por volta de 1300 dC, têm a pele de diversos tons de castanho, o cabelo preto e encarapinhado, os olhos negros. São agricultores, ou pastores, ou agricultores e pastores, bem como caçadores e guerreiros. A sua cultura de base é característica do início da idade do ferro e falam línguas banto (que se caracterizam pelo uso extensivo de prefixos).

Os Bantos chegaram por terra às regiões que hoje são Angola … e desceram os rios em direcção ao mar.

Os Lusos, que começaram a entrar no actual território de Angola por volta de 1500 dC, têm a pele, o cabelo, os olhos, de variadas cores (o grupo inclui indivíduos de diversas ascendências). São agricultores e criadores de gado, comerciantes, industriais, dedicando-se às mais variadas actividades económicas dos sectores primário, secundário, terciário e, bem assim, à administração, à cultura e à guerra. A sua cultura de base é a moderna cultura científico-tecnológica e falam português.
Os Lusos (a Idade Científico-Tecnológica teve início há cerca 500 anos, por volta de 1500 dC, como o «... a experiência he madre das cousas, por ela soubemos radicalmente a verdade...» do Esmeraldo de Situ Orbis, p. 196).
Os Lusos chegaram por mar às regiões que hoje são Angola … e subiram os rios em direcção ao interior.
Os rios descidos, ou subidos que mais importância tiveram foram os Congo-Zaire, Dande, o Quanza e o seu afluente Lucala, o Longa, o Cuvo-Queve, o Catumbela, o Coporolo e o Curoca. O rio Cunene não foi usado porque, ao que parece, nos séculos XVI e XVII a água corria por baixo das dunas que lhe ocultavam completamente a foz.
Existem ainda grupos  intermédios,  têm um pé num grupo, um pé noutro grupo.


A população de Angola, a sua distribuição geográfica e a taxa de variação anual não são conhecidas com precisão, devido à não realização de recenseamentos desde 1970.


O mapa supra, que usa a ortografia anglo-saxónica embora se baseie em estudos etnográficos portugueses realizados antes de 1975, data da independência de Angola, identifica os diversos grupos Banto, chama aos Mucancalas Khoisan e não refere os Lusos.
Na época os Lusos (que eram e são o grupo dominante, toda a gente em Angola falava e fala o português) encontravam-se dispersos por todo o território e tinham concentrações importantes nas cidades de Luanda, Nova Lisboa (Huambo), Lobito, Benguela, Sá da Bandeira (Lubango), Moçâmedes (Namibe), Malange, Carmona (Uíge), Silva Porto (Cuíto), Luso (Luena), Serpa Pinto (Menongue), seus arredores e corredores ferroviários e rodoviários que as interligavam.
O português falado por um número crescente de angolanos é a língua oficial do país, sendo já entendido por consideráveis faixas urbanas da população, localizadas sobretudo ao longo do litoral, com menos de 40 anos, como a sua língua materna.
Do ponto de vista da sua composição etno-linguística, o povo angolano é integrado maioritariamente pelos seguintes grupos:
Ovimbundu (língua Umbundu);
Ambundu ou Akwambundu (língua Kimbundu);
Bakongo (língua Kikongo);
Lunda-Cokwe (língua Cokwe);
Nganguela (designação genérica de povos no quadrante Sudeste, sendo mais útil identificar os vários subgrupos);
Nyaneka-Humbe (ou Nkhumbi), na realidade dois povos diferentes (línguas Lunyaneka e Lukhumbi);
Ovambo (a língua principal em Angola é a dos Kwanyama, um subgrupo);
Helelo ou Herero (língua Tjihelelo).
Todos estes são grupos Bantu.
Os Ambundu, Ovimbundu e Bakongo juntos representam (usando os dados dos Censos de 1960 e 1970 como referência) cerca de 75% da população.
Há uma pequena minoria de povos autóctones da região, não Bantu, com destaque para os Kung ("Bosquímanos"), ou Mucancalas Khoisan caçadores colectores descendentes dos mais antigos habitantes desta região austral.
Em consequência da colonização, existe também um pequeno número de angolanos de origem europeia.

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