Diogo Dias ou Pero Dias !
Há um homem que está semi- esquecido no pó da história e na memória dos tempos Diogo Dias ou Pero Dias !
Há um homem que está semi- esquecido no pó da história e na memória dos tempos Diogo Dias ou Pero Dias !
Navegou no Golfo da Guiné e nas Costas da Mina;
Acompanhou o irmão Bartolomeu Dias, na derrota do Cabo da Boa Esperança;
Foi o escrivão da Nau S. Gabriel, (a nau de Vasco da Gama) na descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, tendo sido preso em Calicute , salvando a vida a custo;
Acompanhou o irmão Bartolomeu Dias, na derrota do Cabo da Boa Esperança;
Foi o escrivão da Nau S. Gabriel, (a nau de Vasco da Gama) na descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, tendo sido preso em Calicute , salvando a vida a custo;
Foi um dos primeiros portugueses a pisar a terra no chão do Brasil, na foz
do rio Mutári, baía Cabrália, na armada
de Cabral (Pero Vaz de Caminha , na sua carta diz " era homem gracioso e
alegre, saltou em terra e dançou com os índios ao jeito deles, ao som duma
gaita" ).
Quando a armada de Cabral seguiu para a India, ele que era
comandante de uma nau, na zona do Cabo afastou-se dos outros navios e foi
ter a uma grande ilha a que deu o nome de S. Lourenço e que hoje é Madagáscar.
Tendo seguido a rota da India, na zona do Cabo Guardafui (Djibuti),virou á
esquerda e entrou pelo Mar Vermelho (sendo por isso o primeiro comandante português
a navegar nesse Mar). Perdeu-se? Um mareante com a sua experiência e
conhecimentos náuticos e tendo já ido à Índia, perdia-se? Missão secreta?
Quando chegou a Lisboa, a sua nau só o trazia a ele e a mais sete
companheiros.
Certo é que em 1503 os portugueses construíram a fortaleza de Socotorá,
fechando assim a entrada - e saída - do Mar Vermelho.
Infelizmente nem uma rua, uma praça ou uma estátua existe em seu nome-
Para honrar estes homens temos o Brasil fiel depositário dos valores
portugueses..
Depois de uma vida fantástica e generosa , merecia outro reconhecimento em
Portugal.
João Afonso de Aveiro
A frota partiu do reino em 11 de Dezembro de 1481, e alcançou a Mina, em 19 de Janeiro de 1482 (Rui de Pina, Chronica d'EI Rei D. João II, cap. II; Garcia de Resende, Chronica dos Valerosos, e Insignes Feitos DeI Rey Dom Ioam II, cap. XXV; João de Barros, Ásia, década I, liv. III; Doutor Damião Peres, História dos Descobrimentos Portugueses, pág. 189, nota 2, e A Exploração do Golfo da Guiné, na História de Portugal, ed. de Barcelos, vol. lII, pág. 549).
O cosmógrafo e roteirista Duarte Pacheco Pereira diz que a armada se compunha de nove caravelas e duas urcas (Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis; cf. Padre António Brásio, Monumenta Missionaria Africana (África Ocidental), vol. I, págs. 3 e segs.). Rui de Pina e Garcia de Resende não referem o número de navios; mas João de Barros indica dez caravelas e duas urcas e esclarece o seguinte:
«Assentado que se fizesse esta fortaleza [de S. Jorge da Mina] mandou El Rei aperceber huma armada de dez caravelas e duas urcas em que fosse pedra lavrada, telha, madeira, e assi todalas outras munições, e mantimentos pera seiscentos homens, de que os cento eram officiaes pera esta obra, e os quinhentos de peleja; dos quaes navios era Capitão mór Diogo d’Azambuja pessoa mui experimentada nas causas da guerra; e os outros Capitães eram Gonçalo da Fonseca, Ruy de Oliveira, João Rodrigues Gante, João Afonso, que depois matáram em Arguim, sendo capitão daquella fortaleza João de Mourca, Diogo Rodrigues lnglez, Bartholomeu Dias, Pero d’Evora e Gomes Aires escudeiro delRey D. Pedro d’Aragão, o qual entrou em lugar de Pero d’Azambuja, irmão delle Diogo d’Azambuja, por morrer de peste primeiro que partissem de Lisboa, que a este tempo andava nella, todos homens nobres, e criados delRey. E os Capitães das urcas eram Pero de Cintra e Fernão d’Afonso», etc. (João de Barros, lbidem, década I, liv. III; cf. Padre António Brásio, lbidem, vol. I, pág. 19).
A transcrição é feita da edição de Lisboa, de 1778 – e por ela haveria de concluir-se que João de Barros errou, por inadvertência, a contagem: excluído João de Moura, ali indicado como capitão de Arguim, os capitães das caravelas seriam nove, o que estaria de acordo com o relato de Duarte Pacheco Pereira.
Mas a edição de Coimbra de 1932, conforme a princeps, revista e prefaciada pelo Dr. António Baião, reza de outra maneira:
«...dos quáes nauios éra capitã mór Diógo Dazãbuja pesóa muy experimêtada nas cousas da guerra; e os outros capitães eram Gonçálo Dafonseca, Ruy Doliueira, Joã Royz Gante, João Afonso, que depois matáram em Arguim sendo capitam daquella fortaleza, João de Moura Diógo Royz jngres, Bartholameu Diaz, Pero Déuora, e Gómez Aires escudeiro deI rey dom Pedro Daragam», etc.
O capitão da fortaleza de Arguim passa a ser João Afonso.
É de notar que também aqui se verifica o caos da pontuação, pois se suprime uma vírgula entre «Joam de Moura» e «Diógo Royz jngres»...
A edição do ilustre Prof. Doutor Hernâni Cidade, além das que traz a princeps, põe uma vírgula depois de Arguim – o que, todavia, não lhe altera o sentido.
Sendo diversas as fontes e desencontradas as edições do cronista, surgem, muito naturalmente, os desacordos entre os que as utilizam: o eminente historiador dos descobrimentos Prof. Doutor Damião Peres, fundando-se em João de Barros, diz que a frota era constituída por dez caravelas e duas urcas (Prof. Doutor Damião Peres, locs. cits.); os ilustrados historiógrafos Luciano Cordeiro e Marques Gomes, em conformidade com a informação de Duarte Pacheco Pereira, afirmam que era composta de nove caravelas e duas urcas (Luciano Cordeiro, Diogo /página 7/ d’Azambuja, pág. 28; Marques Gomes, Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo da Índia, pág. 2).
O que se tem como certo é que João Afonso capitaneava uma das caravelas.
Seria este João Afonso o navegador João Afonso de Aveiro?
Luciano Cordeiro presume que sim. No seu estudo sobre Diogo d’Azambuja lê-se o seguinte:
«No commando dos navios figuram nomes dos mais prestigiosos na descoberta e aventura marítima do tempo. Eram os capitães das caravelas, Gonçalo da Fonseca, Ruy de Oliveira, João Rodrigues Gante, João Afonso, certamente o de Aveiro, João de Moura, Diogo Rodrigues, Bartholomeu Dias, o que seis annos depois havia de dobrar o Cabo da Boa Esperança, Pedro d’Évora e Gomes Ayres. Dirigiam as urcas Pedro de Cintra e Fernão Affonso» (Luciano Cordeiro. Ibidem, pág. 28).
Albano da Silveira, investigador e historiador de grandes méritos, parece não ter sobre isso quaisquer dúvidas, pois se exprime deste modo:
«...n’este anno de 1486 João Affonso d’Aveiro, que fôra um dos capitães da armada de Diogo de Azambuja, descobria terras e assentava pazes no reino de Benim, situado além da Mina, cujo serviço elle mesmo viera relatar, trazendo como segura prova um Embaixador d’aquelle Rei» (Albano da Silveira, Memória chronológica acerca do descobrimento das terras do Preste João das Índias, cit. por Marques Gomes, lbidem, pág, 4).
Não sei se fundamentando-se apenas em João de Barros, Luciano Cordeiro e Albano da Silveira, que transcreve, se em quaisquer outras fontes, Marques Gomes afirma também, em tom de segurança:
«João Affonso antes das suas emprezas em Benim, de que resultou D. João II redobrar de esforços para encontrar o caminho marítimo da Índia, tomara parte na expedição de Diogo de Azambuja à costa da Mina em 1481 e bem assim na segunda (sic) de Diogo Cão às costas africanas em 1484» (Marques Gomes, lbidem, pág. 2).
Foi, ao que parece, reproduzindo Marques Gomes que o escritor aveirense Rangel de Quadros asseverou ter sido João Afonso de Aveiro um dos capitães da frota de Diogo de Azambuja (Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, fI. 102).
Mais recentemente, o erudito Prof. Edgar Prestage, cuja autoridade desnecessário se torna encarecer, escreveu, sem quaisquer hesitações:
«Em cumprimento da sua missão, Diogo de Azambuja largou de Lisboa a 12 de Dezembro de 1481, acompanhado por alguns dos mais notáveis marinheiros e descobridores daquele tempo, entre os quais Bartolomeu Dias e João Afonso de Aveiro» (Edgar Prestage, Descobridores Portugueses, 2.ª ed., pág. 238).
Fiado nestas notícias, julguei poder afirmar-se – e disse-o algures – que João Afonso de Aveiro havia tomado parte, como capitão de uma das caravelas, na expedição de Diogo de Azambuja à Costa da Mina (Cf. João Afonso de Aveiro - Introdução a um estudo sobre o famoso navegador aveirense, pág. 16, nota 2). Revendo agora o problema, continuo nesse convencimento, mas não devo ocultar que podem opor-se-lhe algumas objecções. João de Barros informa que os capitães das caravelas eram «todos homens nobres, e criados delRey». Isto não significa que fossem «filhos de algo» ou que eles próprios houvessem conquistado – mesmo a seguir ao feito e, portanto, à data em que João de Barros escreveu – quaisquer títulos nobiliárquicos. A expressão tem o alcance da empregada, exactamente em relação aos capitães da frota, pelo cronista Rui de Pina: «homens muy honrados, e criados del Rey», semelhante à usada por Duarte Pacheco Pereira «homeës muy honrrados e».
Aqueles «homens muy honrados» eram, quase todos, simples marinheiros, a um tempo modestos e valorosos: chamava-se-lhes assim por serem homens de coragem e persistência, argutos e sabedores, extraordinariamente aprumados e verdadeiramente peritos na sua arte.
Nisto consistia a sua nobreza – e assim se compreende que o João Afonso que capitaneava uma das caravelas fosse o humilde e afamado piloto João Afonso de Aveiro.
Há um facto sumamente importante que – a confirmar-se a identidade das pessoas – parece corroborá-lo.
Em 25 de Fevereiro de 1497, um João de Aveiro, querendo obter o mestrado de determinada caravela, apresentou-se nos casos do «almazem» da Guiné e aí requereu essa mercê, na presença dos célebres escudeiros e navegadores João de Lisboa e Bartolomeu Dias, cujos testemunhos, e especialmente o deste último, invocava para prova da sua competência. Este João de Aveiro era, segundo a douta opinião do Padre António Brásio, o celebrado navegador João Afonso de Aveiro (Cf. Litoral, ano V, n.º 253, de 29-VllI-1959).
Não causa a mínima estranheza que tivesse de oferecer a prova de que era «bom piloto e bom marinheiro», pois que tal seria formalidade /página 8/ necessária ao deferimento da pretensão.
O Bartolomeu Dias indicado como garante das aptidões de João de Aveiro foi, não qualquer outro dos que então usaram esse nome, mas um dos capitães da armada de Diogo de Azambuja – e exercia, ao tempo, o cargo de «recebedor do almazem da Guiné» (Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel, liv. 6, fol. 11, cit. pelo Prof. Doutor Damião Peres, lbidem, pág. 216). Muito logicamente se concluirá que podia certificar as altas qualidades de João de Aveiro pelo que dele conhecia da expedição à costa da Mina, em que ambos tomaram parte – e daí que o João Afonso referido pelo cronista seria o João Afonso de Aveiro (ou João de Aveiro) que mais tarde descobriu o reino e terras de Benim. Conclusão tanto mais aceitável quanto é certo que este não fez parte da frota de Bartolomeu Dias que dobrou o Cabo da Boa Esperança; os capitães das caravelas eram então, além daquele, João Infante e Diogo Dias ou Pero Dias; e os pilotos chamavam-se Pero de Alenquer e João de Santiago (Prof. Doutor Damião Peres, lbidem, págs. 213 e segs.).
Convém prevenir desde já que, ao contrário do que se afirma num trabalho recente (Dr. Francisco Ferreira Neves, Naturalidade e família de João Afonso de Aveiro, navegador e poeta do século XV, págs. 10 e 20), não se encontra de modo algum averiguada a época do falecimento de João Afonso de Aveiro – problema melindroso que, em lugar mais ajustado deste estudo, tentarei, na medida das minhas possibilidades, esclarecer.
Acontece, porém, que João de Barros acrescenta ao nome de João Afonso, que capitaneava um dos navios da armada de Diogo de Azambuja, esta indicação: «que depois mataram em Arguim». Ora tanto Rui de Pina como Garcia de Resende afirmam que João Afonso de Aveiro faleceu em Benim – e Elaine Sanceau, certamente porque os cronistas registaram que a terra era «de muito perygo, de doenças» ou «muyto doentia» afoita-se a precisar que ali «morreu de febres» (Elaine Sanceau, D. João lI, pág. 261).
João de Barros não o ignorava, pois repete que João Afonso de Aveiro faleceu na feitoria de Benim: «... e entre as pessoas de nome, que nella faleceram, foi o mesmo João Afonso d’Aveiro que a primeiro assentou» (João de Barros, lbidem; cf. Padre António Brásio, lbidem, vol. I, pág. 54).
Não pode, razoavelmente, confundir-se Arguim com Benim, aliás povoações bastante afastadas, nem uma morte violenta com uma morte natural – pelo que haveria de concluir-se que o João Afonso que tomou parte na armada de Diogo de Azambuja e mataram em Arguim era pessoa diversa do João Afonso de Aveiro que faleceu em Benim.
Atrevo-me, porém, a supor aqui uma das frequentes confusões de João de Barros.
O cronista indica como capitão de uma das caravelas um (João Afonso, que depois mataram em Arguim sendo capitam daquella fortaleza». Seria, portanto, posteriormente à expedição de Diogo de Azambuja que um João Afonso, capitão da fortaleza de Arguim, ali foi morto. Esta distância no tempo permite admitir um equívoco derivado da identidade dos nomes.
A hipótese ganha em consistência quando se considere que o João Afonso que capitaneava uma das caravelas era, necessariamente, um marinheiro, ao passo que o João Afonso capitão da fortaleza de Arguim seria, muito naturalmente, um chefe militar. Por via de regra, os navegadores iam a descobrir e os capitães militares a assegurar as descobertas, consolidando direitos de soberania e fixando bases de comércio (Cf. Luciano Cordeiro, lbidem, pág. 29).
Gil
Eanes
foi um navegador português, escudeiro do Infante D. Henrique, e cuja biografia
permanece ainda pouco conhecida e muito discutida. Foi o primeiro a navegar
para além do Cabo Bojador, em 1434, dissipando o terror
supersticioso que este promontório inspirava e iniciando assim a época dos
“grandes descobrimentos”.
O Infante D. Henrique conseguiu
incentivar Gil Eanes a tentar a
proeza da passagem.
Ao dobrar o cabo, reforçou o papel de
Portugal como nação marítima.
De acordo com Gomes Eanes de Zurara, o Infante o armou cavaleiro e arranjou-lhe
um rico casamento.
Sabe-se que em 1446 partiu para a
exploração da costa da actual Mauritânia
e combate aos Muçulmanos que tentavam impedir os progressos da navegação
portuguesa através da pirataria, de onde trouxeram o maior número de escravos
de sempre.
Regressou a meio da viagem devido ao
mau tempo, não havendo mais dados biográficos concretos a partir dessa data,
embora alguns historiadores afirmem que continuou a sua vida em Lagos.
Este navegador permitiu um grande
avanço na época dos descobrimentos.
Entre 1424 e 1433, D Henrique enviou
15 expedições com a pesada missão de sobrepujar o cabo maldito.
O Cabo
Bojador era conhecido como cabo do
medo.
A 5 quilómetros da costa do cabo, em
alto mar a profundidade é de apenas 2 metros, provavelmente devido ao
assoreamento provocado por milhares de anos de tempestades de areia sopradas
pelo deserto do Saara.
Ondas altíssimas e recifes de arestas
pontiagudas fervilham àquela região tornando a navegação muito arriscada.
Em Maio de 1434, Gil Eanes aparelhou uma barca de 30 toneladas, com um só mastro,
e uma única vela redonda e também movida a remos e parcialmente coberta.
Com ela ao chegar nas proximidades do
cabo do medo, decidiu manobrar para Oeste afastando-se da costa africana.
Após um dia inteiro de navegação longe
da costa, deparou com uma baía plácida de ventos amenos, e então dobrou para Sudeste e logo percebeu que havia
deixado o Cabo Bojador para trás.
Nuno Tristão foi um navegador
português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental
africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da
actual Guiné-Bissau, iniciando entre
os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial
que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão
Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar
a costa ocidental da África a Sul do Cabo
Branco.
Integrando um mouro que actuava como
intérprete, a expedição liderada por Nuno
Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido
pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do
Noroeste africano, avançando até ao Golfo
de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra,
que, em contraste com as regiões desérticas a Norte, existiam muitas palmeiras
e outras árvores e os campos pareciam férteis.
Em
1446 Nuno Tristão
desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se
prolongaria por quase 500 anos.
Nuno
Tristão
foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um
assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de
320 km a Sul do Cabo Verde.
Chegada
à China Jorge Álvares
Foi um explorador português, o
primeiro europeu a aportar directamente à China e a visitar o território que
actualmente é Hong Kong em 1513.
Foi um dos portugueses que, de Malaca,
se dirigiram à China, sendo o primeiro a chegar ao Sul da China, em 1513.
A esta visita seguiu-se o
estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se viria a
estabelecer o entreposto de Macau.
Possuía um Junco com o qual se dedicava ao comércio entre Malaca e Cantão, juntamente com Fernão Pires de Andrade e Rafael Perestrello, pioneiros desse
comércio, considerado ilegal pelos Chineses.
Participou numa guerra contra o sultão de Bintão, capitaneando uma galé
na Armada Portuguesa.
Com a abordagem de Tamang (Cantão),
apesar da oposição do "Itau" (mandarim local), conseguiu
estabelecer-se numa praia na ilha de Sanchoão, onde ergueu uma cabana que
servia de refúgio aos comerciantes clandestinos e onde, para se achar como em
terra portuguesa, fizera assentar um padrão.
Passou assim a ser considerado como
feitor português de Tamang, continuando, no seu Junco, a navegar pelas Molucas.
Nestas águas veio a ser atacado pelos
indígenas de Ternate, vindo a ser gravemente ferido. Veio a falecer na sua cabana,
pedindo que fosse enterrado junto ao padrão que fizera erigir.
Macau
Macau é desde 20 de Dezembro de 1999
uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Antes desta
data, foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é
considerada o primeiro entreposto, bem como a última colónia europeia na China.
Esta administração teve começo em meados do século XVI.
Nesta altura os portugueses trouxeram
prosperidade a este pequeno pedaço de terra, tornando-a numa grande cidade e
importante intermediário no comércio entre a China, a Europa e o Japão, fazendo
com que atingisse o seu auge nos finais
do século XVI e nos inícios do século XVII.
Só em 1887 é que a China reconheceu
oficialmente a soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau, através
do "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português".
Em 1967, como consequência do Motim
levantado pelos residentes chineses pró-comunistas de Macau no dia 3 de
Dezembro de 1966, Portugal renunciou a sua ocupação perpétua sobre Macau.
Em 1987, após intensas negociações
entre Portugal e a República Popular da China, os dois países concordaram que
Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de Dezembro de 1999.
Actualmente, Macau está a experimentar
um grande e acelerado crescimento económico, baseado no acentuado
desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, as duas actividades económicas
vitais desta região administrativa especial chinesa.
É constituída pela Península de Macau e por duas ilhas (Taipa
e Coloane, entretanto com a ligação feita por terra seca por meio de um
aterro, o istmo de Cotai), numa superfície total de 28,6 km². Macau situa-se na
costa meridional da República Popular da China, a Oeste da foz do Rio das Pérolas e a 60 km de Hong Kong, que se encontra
aproximadamente a Este de Macau. Faz fronteira a Norte e a Oeste com a Zona
Económica Especial de Zhuhai, logo é adjacente à província de Guangdong.
Macau efectua muitos aterros para
reclamar/obter mais espaços de construção à foz do Rio das Pérolas.
Tem cerca de 538 mil habitantes, sendo
a esmagadora maioria de etnia chinesa.
Após o estabelecimento da RAEM, Macau
actua sob os princípios do Governo Popular Central Chinês da RPC de “um país,
dois sistemas”, de “Administração de Macau pela Gente de Macau” e de “Alto Grau
de Autonomia”, gozando por isso de um estatuto especial, semelhante ao de
Hong-Kong, e possuindo consequentemente um elevado grau de autonomia,
limitando-se apenas no que se refere às suas relações exteriores e à defesa.
Foi também garantido pela RPC a preservação do
seu sistema económico-financeiro e das suas especificidades durante pelo menos
50 anos, isto é, pelo menos até 2049.
Os portugueses estabeleceram-se ilegal
e provisoriamente em Macau entre 1553 e 1554, sob o pretexto de secar a sua
carga.
Em 1557, as autoridades chinesas deram
finalmente autorização para os portugueses se estabelecerem permanentemente em
Macau, concedendo-lhes um considerável grau de autonomia.
Em troca, os portugueses foram
obrigados a pagar aluguer anual (cerca de 500 taéis de prata) e certos impostos
a estas autoridades, que defendiam que Macau continuava a ser parte integrante
do Império Chinês.
As autoridades chinesas, desde sempre
portadoras de algum medo e desprezo pelos estrangeiros, passaram a
supervisionar atentamente os portugueses de Macau e a exercer, até meados do
século XIX, uma grande influência na administração deste estabelecimento comercial.
Desde então, Macau desenvolveu-se como
um entreposto e intermediário para o comércio triangular entre a China, o Japão
e a Europa, numa época em que as autoridades da China proibiram o comércio
directo com o Japão por mais de cem anos.
Para além de ser um entreposto
comercial, Macau desempenhou também um papel activo e fulcral na disseminação
do Catolicismo, ao tornar-se num importante ponto de formação e de partida de
missionários católicos para os diferentes países do Extremo Oriente, principalmente
para a China.
Por este motivo, o Papa Gregório XIII
criou, em 1576, a Diocese de Macau. Estes missionários desempenharam também um
papel importante no intercâmbio cultural, científico e artístico entre a China
e o Ocidente, e no desenvolvimento da cultura e da educação de Macau.
Em 1583, foi criada o Leal Senado, a
sede e o símbolo do poder e do governo local, pelos moradores portugueses, mais
precisamente pelos comerciantes, de Macau.
Este organismo político, considerado
como a primeira câmara municipal de Macau, foi fundada com o objectivo de
proteger o comércio controlado por Macau, de estabelecer ordem e segurança para
esta cidade e de resolver os e problemas quotidianos.
Apesar de a partir de 1623 Macau
passar a ter um Governador português, o Leal Senado, até à primeira metade do
século XIX, continuou a manter uma grande autonomia e a exercer um papel
fundamental na administração da cidade.
Devido à sua prosperidade, Macau foi
várias vezes atacada pelos holandeses ao longo da primeira metade do século
XVII.
O ataque mais importante teve início
em 22 de Junho de 1622, quando cerca de 800 soldados holandeses desembarcaram,
numa tentativa de conquistar a cidade.
Após dois dias de combate, em 24 de
Junho, os invasores foram derrotados, sofrendo elevadas baixas (cerca de 350
mortes) e conseguindo abater apenas algumas dezenas de portugueses. Para Macau,
desprevenida, esta vitória foi considerada um milagre.
Em 1638-1639, o comércio português com
o Japão foi interrompido, devido às políticas de isolamento levados a cabo pelo
então Xogum japonês, Tokugawa Iemitsu.
Este acontecimento afectou seriamente
a economia de Macau, que rapidamente entrou em declínio.
Descoberta
de Taiwan
O conhecimento da existência da ilha Formosa (actual Taiwan) pelos
ocidentais ocorreu por volta de 1544
quando navegadores portugueses passaram ao largo da ilha e a registaram como ilha Formosa.
Apenas em 1582 aportaram e por
acidente.
Um navio capitaneado por André Feio naufragou devido a um banco
de areia na costa setentrional da ilha e permaneceu nesta durante cerca de 10
semanas.
Os efeitos da malária e os constantes
ataques por parte dos aborígenes conduziram à fuga dos sobreviventes para Macau
dentro de uma balsa.
Em 1600 foi estabelecido um entreposto
comercial português que foi de pouca dura.
A ocupação espanhola de Portugal
conduziu posteriormente ao abandono deste entreposto, ficando os holandeses por intermédio da
Companhia Holandesa das Índias Orientais a controlar o comércio para ocidente a
partir da ilha Formosa (1624).
João
de Barros
nasceu segundo uns historiadores em Viseu, outros inclinam-se para Braga ou
para Vila Real, e ainda outros para a Ribeira de Alitém (Pombal) no ano de
1496, sendo um dos mais insignes escritores e historiadores portugueses da sua
época. Oriundo de famílias nobres foi educado na corte de D. Manuel I no apogeu
dos descobrimentos portugueses. Na sua juventude já demonstrava um carácter de
índole literária, iniciando a escrita com um romance de cavalaria “A Crónica do
Imperador Clarimundo, donde os Reis de Portugal descendem”, dedicando-o ao
príncipe D. João, com pouco mais de vinte anos de idade.
No ano de 1521 quando D. João III
subiu ao trono, este concedeu a João de Barros o cargo de capitão da fortaleza
de São Jorge da Mina.
Em 1525 foi nomeado tesoureiro da Casa
da Índia, missão que ocupou até ao ano de 1528.
A peste negra que atingira quase toda
a Europa também se fez sentir em Portugal e no ano de 1530, João de Barros
refugiou-se na sua Quinta de Alitém, onde concluiu o seu diálogo moral
“Rhopicapneuma”, alegoria que recebeu os maiores elogios de Jusan Luis Vives,
de origem catalã.
Após dois anos regressou a Lisboa no
ano de 1532 onde D. João III o designou como feitor da Casa da Índia e da Mina,
cargos que desempenhou com grande destaque e responsabilidade, numa Lisboa que
era naquele tempo um empório a nível europeu, para todo o comércio originário
do oriente.
Desempenhou uma administração exemplar
ao contrário dos seus antecessores que acumularam enormes fortunas com os
cargos então exercidos.
No ano de 1535 e após D. João III, ter
procedido a reformas acentuadas na colónia do Brasil, com o fim de atrair
colonos e evitar as tentativas da penetração francesa, dividiu a colónia em
capitanias hereditárias, seguindo um sistema já aplicado nas ilhas atlânticas;
agraciou João de Barros com a posse de duas capitanias em parceria com Aires da
Cunha, o “Ceará” e o “Pará”; partiram no ano de 1539 com uma armada composta
por dez embarcações e novecentos homens.
A expedição não foi feliz, devido aos
erros cometidos pelos seus pilotos, indo aportar às Caraíbas espanholas, o que
lhe provocou enormes prejuízos, levando em atenção o seu grande humanismo.
Pagou as dívidas aos familiares dos
que haviam falecido na expedição.
Os anos em que permaneceu no Brasil,
dedicou-os aos estudos durante as horas vagas; logo após a desastrosa expedição
ao Brasil, publicou a “Gramática da Língua Portuguesa”, e uma “Cartilha para
Aprender a Ler” com o fim de auxiliar o ensino da língua materna.
Após este trabalho, reassumiu um
compromisso que lhe havia sido endereçado por D. Manuel I: a escrita de uma
história que narrasse os feitos dos portugueses na Índia.
Mas a obra marcante de João de Barros,
foi sem dúvida alguma as “Décadas da
Ásia” (Ásia de João de Barros, dos feitos que os Portugueses fizeram na
conquista e descobrimento dos mares e terras do Oriente).
O nome “Décadas” agrupa os
acontecimentos por livro em períodos de dez anos.
A primeira década foi publicada em
1522, a segunda em 1553, a terceira em 1563 e a quarta, inacabada foi mais
tarde completada por João Baptista
Lavanha e publicada após a sua morte no ano de 1615 em Madrid.
A escrita de João de Barros é
admirável de pureza, vigor e propriedade valendo-lhe o cognome de “Tito Lívio
Português”.
O estilo de prosa fluente e rico pouco
interesse despertou em vida, sendo somente conhecida uma tradução italiana em
Veneza, em 1563.
D. João III, entusiasmado com a obra
ora apresentada solicitou a João de Barros que redigisse uma crónica relativa a
D. Manuel I, o que João de Barros declinou evocando os muitos afazeres na Casa
da Índia, sendo este trabalho redigido por outro grande humanista português Damião de Góis.
No ano de 1568 sofreu um acidente
vascular, sendo exonerado das suas funções recebendo um título de fidalguia e
uma tença régia do rei D. Sebastião.
Veio a falecer na sua Quinta de
Alitém, no ano de 1570, na maior das misérias, sendo tantas as dívidas que os
filhos renunciaram ao seu testamento.
As
ilhas Canárias
são conhecidas desde a Antiguidade: existem relatos fidedignos e vestígios
arqueológicos da presença cartaginesa na ilha. Foram descritas no período
greco-romano a partir da obra de Juba II, rei da Numídia, que as mandou
reconhecer e que, afirma-se, por nelas ter encontrado grande números de cães,
deu-lhes o nome de "Canárias" ("ilhas dos cães"). São
referidas por autores posteriores como "Ilhas Afortunadas". Depois de
um período de isolamento, resultado da crise e queda do Império Romano do
Ocidente, e das invasões dos povos bárbaros, as ilhas foram redescobertas e
novamente visitadas com regularidade por embarcações europeias a partir de meados
do século XIII. A sua redescoberta é reivindicada por Portugal em período
anterior a Agosto de 1336. A sua posse, entretanto, foi atribuída ao reino de
Castela pelo Papa Clemente VI, o que suscitou um protesto diplomático de D.
Afonso IV de Portugal, por carta de 12 de Fevereiro de 1345: “Ao Santíssimo
Padre e Senhor Clemente pela Divina Providência Sumo Pontífice da Sacrossanta e
Universal Igreja, Afonso rei de Portugal e do Algarve, humilde e devoto filho
Vosso, com a devida reverência e devotamento beijo os beatos pés.
(…)Respondendo pois à dita carta o que nos ocorreu, diremos reverentemente, por
sua ordem, que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas
Ilhas [Afortunadas]. E nós, atendendo a que as referidas ilhas estavam mais
perto de nós do que qualquer outro Príncipe e a que por nós Apontamentos:
Escudo 26 podiam mais comodamente subjugar-se, dirigimos para ali os olhos do
nosso entendimento, e desejando pôr em execução o nosso intento mandámos lá as
nossas gentes e algumas naus para explorar a qualidade daquela terra. Abordando
às ditas Ilhas se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e
as trouxeram com muito prazer aos nossos reinos. Porém, quando cuidávamos em
mandar uma armada para conquistar as referidas Ilhas, com grande número de
cavaleiros e peões, impediu o nosso propósito a guerra que se ateou primeiro
entre nós e El-rei de Castela e depois entre nós e os reis Sarracenos. (…)” Nos
séculos seguintes, com o consentimento papal e o apoio da Coroa castelhana, organizaram-se
várias expedições comerciais em busca de escravos, peles e tinta. Em 1402
iniciou-se a conquista destas ilhas com a expedição a Lanzarote dos Normandos
Jean de Bethencourt e Gadifer de la Salle, sob vassalagem dos reis de Castela e
com o apoio da Santa Sé. Devido à localização geográfica, à falta de interesse
comercial e à resistência dos Guanches ao invasor, a conquista só foi concluída
em 1496 quando os últimos Guanches em Tenerife se renderam. A conquista das
Canárias foi a antecedente da conquista do Novo Mundo, baseada na destruição
quase completa da cultura indígena, rápida assimilação do cristianismo,
miscigenação genética dos nativos e dos colonizadores. Uma vez concluída a
conquista das ilhas, passa a depender do reino de Castela, impõe-se um novo
modelo económico baseado na monocultura (primeiro a cana-de-açúcar e
posteriormente o vinho, tendo grande importância o comércio com Inglaterra). É
nesta época que se constituíram as primeiras instituições e órgãos de governo
(Cabildos e Concelhos). As Canárias converteram-se em ponto de escala nas rotas
comerciais com a América e África (o porto de Santa Cruz de La Palma chega a
ser um dos pontos mais importantes do Império Espanhol), o que traz grande
prosperidade a determinados sectores da sociedade, mas as crises da monocultura
no século XVIII e a independência das colónias americanas no século XIX,
provocaram graves recessões. No século XIX e na primeira metade do século XX, a
razão das crises económicas é a Imigração cujo destino principal é o continente
americano. No início do século XX é introduzido nas ilhas Canárias pelos
ingleses uma nova monocultura: a banana. A rivalidade entre as elites das
cidades de Santa Cruz e Las Palmas pela capital das ilhas levará que em 1927 se
tome a decisão da divisão do arquipélago em províncias. Actualmente a capital
esta dividida nas duas cidades. Navegação Astronómica Navegação astronómica é
parte de um ramo das ciências astronómicas usada para fins de orientação e cuja
missão é fazendo uso de tábuas Apontamentos: Escudo 27 logarítmicas, anular os
movimentos de translação e rotação do planeta Terra a fim de congelar os
aparentes, relativos ao Sol, à Lua e às estrelas durante os 365 dias do ano. O
sistema oferece ao navegador para cada momento da observação a posição exacta
das estrelas como se estivessem sempre fixas no céu. Esse conhecimento, feito
com a comprovação da altura das estrelas em relação ao horizonte, permite ao
navegador corrigir a sua posição estimada. No século XV os navegadores
portugueses possuíam conhecimentos cosmográficos que permitiam a navegação
através do cálculo da latitude e da longitude. Contudo, com as navegações de
descoberta depararam-se com novas realidades que tiveram de estudar e às quais
tiveram de se adaptar. Contam-se entre estas inovações a descoberta da galáxia
de Magalhães e a publicação em 1496 do Almanach Perpetuum Celestium Motum, obra
constante de tabelas de declinações do astrónomo real Abraão Zacuto, que se
tornou essencial, a par da de Pedro Nunes (matemático ao serviço do rei D.
Manuel I), para a navegação. Pedro Nunes desempenhou um papel fundamental, uma
vez que concebeu instrumentos diversos através da aplicação da geometria e da
matemática para a navegação através da medição da altura do Sol, como um que se
parecia a um relógio de Sol e que foi utilizado por D. João de Castro, o
"Instrumento das Sombras", o "Anel Náutico" e o
"Nónio".
As Canárias são um arquipélago situado a cerca de 100 km
do litoral de Marrocos, na África. Compreende as ilhas de Tenerife, Grand
Canária, La Palma, La Gomera, El Hierro, Lanzarote, Fuerteventura e pequenas
ilhas desabitadas. Formam uma comunidade autónoma da Espanha. A capital é
compartilhada entre as cidades de Santa Cruz de Tenerife e Las Palmas, na Grand
Canária.
O ponto mais alto (de toda a Espanha) é o
Pico de Teide, de origem vulcânica, com 3.718 m, em Tenerife.
As Canárias são conhecidas desde a
antiguidade. Em 1402, foram ocupadas pelos espanhóis. Em 1479, as Canárias
foram a referência da primeira divisão das terras do além-mar, entre Portugal e
Espanha, pelo Tratado de Alcáçovas, revisto em 1494, em Tordesilhas.
Tanegashima é uma ilha do Sul do Japão, situada no arquipélago Ōsumi, ao Sul de Kyushu. Faz parte da província de Kagoshima e é a segunda maior do arquipélago. A ilha de Tanegashima é uma longa e estreita faixa de terra cuidadosamente cultivada, medindo 57,5 quilómetros norte-sul, e 5-12 km de leste-oeste. Na ilha há uma cidade, Nishinoomote, e duas vilas, Nakatane e Minamitane, pertencentes ao distrito de Kumage. O novo aeroporto de Tanegashima serve a ilha, oferecendo voos diários para Kagoshima e Osaka. Esta ilha de Tanegashima é celebrada como o local do primeiro contacto conhecido entre Europeus e Japoneses, em 1543. Um entreposto comercial Ryukyuan fora aí estabelecido há várias décadas, e todo o tráfego de Ryukyus para Kagoshima em Kyushu, no sul do Japão, era obrigado a passar por esta estação. Foi assim que um navio Português, desviando-se da rota da China para Okinawa, aportou em Tanegashima, e não directamente no Japão. Introdução da Espingarda no Japão Até aos tempos modernos, as armas de fogo eram coloquialmente conhecidas no Japão como "Tanegashima", devido a terem sido introduzidas aí pelos primeiros portugueses desse navio. Nas suas memórias publicadas em 1614, o aventureiro e autor Fernão Mendes Pinto colocou-se nesse primeiro desembarque, embora esta afirmação tenha sido desacreditada e, contradizendo com as suas pretensões de estar simultaneamente em Mianmar no momento. No entanto, parece ter visitado Tanegashima pouco depois. Os europeus chegaram para comerciar, não só armas, mas também sabão, tabaco e outros produtos desconhecidos no Japão medieval, por produtos japoneses. Apontamentos: Escudo 56 Desde que em 1543 as armas de fogo foram introduzidas, os famosos artesãos metalúrgicos de Tanegashima expandiram suas técnicas originais para incluir a criação de armas de fogo de alta qualidade em grande escala. Tanegashima era e mantém-se conhecida pelo fabrico tradicional de ferramentas de ferro, especialmente facas e tesouras. Os artesãos em Tanegashima têm mantido vivas as técnicas tradicionais para produzir e afiar ferramentas. Tanegashima é também conhecida como o centro de produção de ferro desde cerca de 1185, quando o clã Taira vindo de Quioto foi aí exilado por Minamoto no Yoritomo, trazendo consigo artesãos e cozinheiros. O povo fala com um sotaque de Quioto, mesmo hoje. A técnica dos artesãos de Tanegashima é única no mundo, e produz instrumentos usado por muitos chefs em Kyoto e Kansai, e tesouras "Tane-Basami" tesoura, preferida por muitos para a arte do Bonsai. Arte Namban A arte Namban desenvolveu-se no Japão entre 1500-1600, durante o chamado Período de comércio Namban influenciado pelos primeiros contactos com europeus, iniciados com a chegada dos portugueses em 1543. A origem do nome "Namban" vem de "Naban-jin", ou "bárbaros do sul", termo com que os japoneses apelidaram os europeus. Reflecte os contactos comerciais com europeus, no que é um dos primeiros exemplos conhecidos de ocidentalização na Ásia. Uma das maiores colecções de arte Namban está preservada no Museu da Cidade de Kobe, no Japão. Também em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga, pode-se ver uma importante colecção de biombos Namban mostrando os portugueses a negociar no Japão. Enviados Daimius de Kiushu Em 1582 foi enviada uma embaixada constituída por quatro adolescentes cristãos japoneses que viajaram até à Europa no navio português que fazia anualmente esta carreira. Os seus nomes eram Mancio Ito (representante do daimiu de Bungo), Michael Chijiwa (representante do daimiu de Omura e Arima) e os seus acompanhantes Marin Hara e Julian Nakaura. A acompanhar a embaixada foi o seu professor português, o jesuíta português Frei Diogo Mesquita. Apontamentos: Escudo 57 A Viagem tinha como objectivos proporcionar um contacto dos Europeus com a cultura japonesa por intermédio destes jovens, chamando a atenção para a importância da missão no Japão e impressionar os adolescentes japoneses com a cultura europeia para estes ajudarem a europeizar o Japão. A viagem decorreu por várias etapas: Japão, Macau, Malaca, Índia, Moçambique. Terminou após dois anos e meio em Lisboa em 1534. Em Portugal foram apresentados a várias autoridades, entre as quais o Arcebispo de Lisboa e a Frei Luís de Granada. Tiveram ainda oportunidade de visitar os monumentos mais impressionantes da cidade entre os quais, o Mosteiro dos Jerónimos. Posteriormente seguiram para a Espanha onde foram recebidos pelo rei Filipe II (I de Portugal) em Madrid. Daí seguiram para Roma onde foram recebidos pelo Papa Gregório e permaneceram na cidade até à coroação do novo Papa (Sisto V). Regressaram posteriormente passando por Veneza, Mmilão, Saragoça, Madrid, Évora e Coimbra antes de embarcarem para o regresso em Lisboa de onde saíram em 8 de Abril de 1586. Chegaram a Nagasaki em 1590 (dezoito anos depois da sua partida). Nesta altura a governação no Japão tinha sido mudada e os cristãos expulsos.
Malaca
Malaca (em malaio, Melaka) é o
terceiro menor estado da Malásia, após Perlis e Penang. Encontra-se na porção
meridional da Península Malaia, à beira do estreito de Malaca. Limita com
Negeri Sembilan ao norte e com Johor a leste. Sua capital é a cidade de Malaca.
Embora Malaca já tenha sido um dos mais antigos sultanatos malaios, o estado
actualmente não é governado por um sultão e sim por um governador. Em 2008 foi
declarada Património Mundial pela UNESCO. Da presença portuguesa na cidade
sobrevivem a Igreja de São Paulo e a Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca,
conhecida como "A Famosa". Apontamentos: Escudo 79 Em Abril de 1511,
Afonso de Albuquerque zarpou de Goa para Malaca com uma força de cerca de 1 200
homens em 17 ou 18 navios. Malaca tornou-se uma base estratégica para a
expansão portuguesa nas Índias Orientais, subordinada ao Estado Português da
Índia. Mahmud Xá, último sultão de Malaca, refugiou-se no interior, de onde
empreendia ataques intermitentes por terra e mar. Para defender a cidade, os
portugueses ergueram um forte. Em 1521 o Capitão Duarte Coelho Pereira
construiu a igreja de Nossa Senhora do Monte. Em 1526, uma grande força de
navios portugueses comandada por Pedro Mascarenhas foi enviada para destruir
Bintan, onde estava Mahmud. O sultão fugiu com sua família para Sumatra, do
outro lado do estreito, onde veio a falecer dois anos depois. Logo ficou claro
que o controlo português de Malaca não significava o controlo do comércio
asiático que por ali passava. Seu domínio sobre o local sofria com dificuldades
administrativas e económicas. Em vez de concretizar sua ambição de controlar o
comércio asiático, o que os portugueses haviam logrado fora desorganizar a rede
mercantil da região. Desaparecera o porto centralizador do comércio e, com ele,
o Estado que policiava o estreito de Malaca. O comércio espalhou-se por
diversos portos. O missionário jesuíta Francisco Xavier passou vários meses em
Malaca em 1545, 1546 e 1549. Em 1641, forças da Companhia Holandesa das Índias
Orientais bateram os portugueses e capturaram Malaca com o apoio do sultão de
Johore. Os holandeses governaram Malaca de 1641 a 1795, mas não se interessaram
em desenvolvê-la como centro comercial, preferindo enfatizar o papel de Batávia
(actual Jacarta). Malaca foi cedida aos britânicos pelo tratado Anglo-holandês
de 1824, em troca de Bencoolen, em Sumatra. Entre 1826 e 1946, Malaca foi
governada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e, em seguida, como uma
colónia da Coroa. Integrava os chamados Straits Settlements, juntamente com
Singapura e Penang. Com a dissolução desta colónia, Malaca e Penang tornaram-se
parte da União Malaia (actual Malásia). Molucas As Ilhas Molucas (ou Malucas)
são um arquipélago da Insulíndia que faz parte da Indonésia, localizado entre
Celebes (Sulawesi) e a Nova Guiné. É limitado a sul pelo Mar de Arafura, a oeste
pelos mares de Banda e das Molucas e a norte pelo Mar das Filipinas e a
noroeste pelo Mar de Celebes. Nos séculos XVI e XVII, as ilhas correspondentes
à actual província das Molucas do Norte eram chamadas "Ilhas das
Especiarias". Àquela época, a região era a única fornecedora mundial de
noz-moscada e Cravo-da-índia, especiarias extremamente valorizadas nos mercados
europeus, vendidas Apontamentos: Escudo 80 por mercadores árabes à República de
Veneza a preços exorbitantes, com os negociantes a nunca divulgarem a
localização exacta da origem, pelo que nenhum europeu conseguia deduzir a sua
origem. Em 1511-12, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar às
Molucas, em procura das afamadas especiarias. Os Holandeses, os espanhóis e
reinos locais, como Ternate e Tidore, disputaram o controlo do lucrativo
comércio de especiarias. As árvores de noz-moscada e cravo-da-Índia foram
posteriormente transplantadas para o mundo inteiro, o que reduziu a importância
internacional da região. Em Novembro desse ano, ficando a saber a localização
das "ilhas das especiarias", enviou uma expedição de três navios
comandados pelo seu amigo de confiança António de Abreu para as encontrar.
Pilotos malaios foram recrutados e obrigados, guiando-os via Java, as Pequenas
Ilhas de Sunda e da ilha de Ambão até às Ilhas Banda, onde chegaram no início
de 1512. Aí permaneceram, como primeiros europeus a chegar às ilhas, durante
cerca de um mês, comprando e enchendo os seus navios com noz-moscada e
cravinho. Abreu partiu então velejando por Ambão enquanto o seu vice-com
andante Francisco Serrão se adiantou para as ilhas Molucas mas naufragou
terminando em Ternate. Ocupados com hostilidades noutros pontos do arquipélago,
como Ambão e Ternate, só regressariam em 1529. A princípio, estas várias ilhas
eram habitadas por australasianos. Com a navegação e o comércio malaio na
região, surgiu uma colonização malaia. No século X chegaram os mercadores
árabes, que atravessavam o Oceano Índico em busca de especiarias. Com eles foi
a religião islâmica, que acabou tornando-se a principal na região. Chamavam as
ilhas do extremo oriente de Al Maluk. Pela extrema dificuldade em se atravessar
metade da Terra, saindo de Mascate ou de Áden, os comerciantes que faziam tais
viagens eram apelidados de "malucos", que acabou como sinónimo de
"louco". Mais tarde, quando os Otomanos passaram a representar o
Califado e as nações islâmicas, os mercadores árabes aumentaram muito seu
mercado na região, a ponto dos otomanos estabelecerem guarnições nas ilhas
(embora, nominalmente, nunca tenham pertencido de fato ao Império Otomano).
Para os europeus que acabavam de se lançar ao mar, a produção de especiarias
das distantes ilhas era uma mina de ouro. Os primeiros relatos europeus
escritos sobre a região são da Suma Oriental, um livro escrito pelo boticário
(farmacêutico) português Tomé Pires estabelecido em Malaca entre 1512-15 mas
que visitou Banda várias vezes. Na primeira visita contactou os portugueses e
principalmente os marinheiros malaios em Malaca, calculando então a população
entre 2500- 3000. Reportou os bandaneses como parte de uma rede de comércio
abrangendo toda a Apontamentos: Escudo 81 Indonésia e os únicos comerciantes de
longo curso nativos das Molucas a transportar produtos para Malaca, embora
alguns carregamentos de Banda também fossem feitos por mercadores javaneses.
Além da noz-moscada e macis, Banda mantinha também um significativo entreposto
de comércio. Entre os produtos que passavam por Banda estavam o cravinho de
Ternate e Tidore, a norte, penas de aves do paraíso das ilhas Aru e da Nova
Guiné, entre outros. Logo após a viagem de circum-navegação executada por
Fernão de Magalhães, em 1519, comprovando a esfericidade da Terra, tornou-se
necessário a revisão dos tratados de demarcação que dividiram as terras
descobertas, no período das Grandes Navegações, entre Portugal e Espanha.
Inicialmente, admitia-se como ponto de referência as ilhas de Cabo Verde, a
noroeste do continente africano. Pela Bula Intercoetera, todas as terras a 100
léguas oeste dessas ilhas, seriam de controlo espanhol, enquanto o lado leste
caberia a Portugal. Logo após, o acordo foi reformulado através do Tratado de
Tordesilhas, que avançava a linha para 370 léguas oeste. Porém, com a
circum-navegação, tornava-se necessário a demarcação do limite no outro extremo
do globo. Esse limite foi imposto sobre as ilhas Molucas, usadas como
referência. As terras que estivessem a Leste pertenceriam a Espanha; as que
estivessem a Oeste, a Portugal, até ao mencionado no tratado. Porém, até ao início
do século XVII, este tratado não obteve o mínimo efeito na região, uma vez que
esta ficava muito distante de Lisboa e suas colónias, mas viável para os árabes
e otomanos, que mantiveram o controlo económico, cultural e político sobre as
ilhas até a consolidação da colonização holandesa em toda a Indonésia. Durante
a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano em sua aliança com o Império
Alemão tentou retomar as ilhas. Solor e Timor Solor é uma ilha vulcânica das
Pequenas Ilhas de Sunda, na Indonésia. Dá nome a um arquipélago, situado a
leste da ilha das Flores, constituído igualmente pelas ilhas de Adonara e
Lomblen (ou Lembata). Com cerca de 40 km de comprimento por 6 km de largura,
tem cinco vulcões. Forças portuguesas estabeleceram-se na ilha em 1520,
erguendo uma fortificação na aldeia costeira de Lamakera, no extremo leste da
ilha, para apoio à navegação entre as Molucas e Malaca. A fortificação foi
abandonada em meados do século XVII. Timor é uma ilha da Insulíndia,
politicamente repartida em duas metades: o Timor Oeste (ou Nusa Tenggara
Timur), que constitui uma província da Indonésia, e Timor-Leste, outrora uma
colónia portuguesa, mais tarde ocupada e anexada pela Indonésia em Novembro de
1975, e que se tornou independente em 2002. Em Timor-Leste a língua portuguesa
é falada por cerca de 5% da população. A língua tétum predomina e é língua
co-oficial, junto com o português. De acordo com fontes antropológicas, a ilha
já se encontrava habitada por um pequeno grupo de caçadores e agricultores por Apontamentos:
Escudo 82 volta de 12 000 a.C.. A abundância de madeira de sândalo, mel e cera
de abelhas na ilha, atraiu a atenção de comerciantes da China esporadicamente a
partir do século VII. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam
tributo ao reino de Java. O nome Timor provém do nome dado pelos Malaios à Ilha
onde está situado o país, Timur, que significa Leste. A formação do comércio
local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo
para a diversidade étnico-cultural. O primeiro documento europeu conhecido que
fala da ilha é uma carta de Rui Brito Patalin a D. Manuel I, datada de 6 de
Janeiro de 1514, na qual são referidos navios que tinham partido para Timor.
Atraídos inicialmente pelos recursos naturais, os portugueses trouxeram consigo
missionários e a religião católica. Com a chegada do primeiro governador, vindo
de Portugal em 1702, deu-se início à organização colonial do território,
criando-se o Timor Português. Lenda da Criação de Timor Em tempos idos, lá para
terras de Macaçar, um desolado crocodilo saiu do seu coito, com a mira de se
alimentar. Era Verão, pelo que os campos feneciam de aridez. Perto dum coilão,
onde o crocodilo vivia alapardado, ficava uma pequena e humilde povoação. Para
ali se dirigiu, indo colocar-se à sombra duma grande e velha árvore, à coca dum
rafeiro vadio, dum porco, ou de qualquer cabrito descuidado. Mas, por mais que
se tivesse aproximado daquela desolada povoação, nada conseguiu lograr.
Regressou, pois, amargurado e faminto. O Sol, que a sombra da velha árvore
encobria, mitigando-lhe o ardor, ia já alto. Quando, merencório, abandonou a
frescura daquele sítio, era já meio-dia; fora, a terra escaldava; para chegar à
foz da ribeira, ainda tinha muito que rastejar, e as margens eram só areia
escaldante. Então, tentou mover-se apressadamente; mas, a meio caminho, não
podia sofrer mais, porque a areia queimava como fogo. Arrastava-se penosamente,
atormentado pela fome e por um calor infernal, sem que o refrigério duma nuvem
passageira viesse reconfortá-lo. O infeliz crocodilo gemia e contorciase,
sentindo que a morte se aproximava. A sua angústia era imensa! Um rapazito, que
por acaso passava perto, a tomar o seu banho, ouviu aqueles gemidos
lancinantes. Aproximou-se, solícito, para saber donde proviriam aqueles gritos.
Ao ver o pobre animal prestes a morrer, disse para consigo: “Coitado deste
netinho crocodilo, uns minutos mais e morrerias!”. Tentou levantá-lo e, vendo
que não pesava muito, transportou-o para a água. O crocodilo, ao sentir-se de
novo dentro de água, recobrou ânimo, exultando de satisfação, sem saber como
agradecer ao seu salvador. Mas, passados os primeiros momentos, disse, movido
de gratidão: “De hoje em diante seremos grandes amigos. Aí do crocodilo que
ousar molestar-te!… Desejando passear pelas ribeiras ou pelos mares, basta que
me chames e digas: amigo, lembra-te do bem que te fiz; e eu virei logo
oferecer-te o meu dorso para viajares por onde te aprouver. Se for do teu
agrado, partiremos agora mesmo.” E, confiante, lá andou o rapazito a vogar, às
costas do crocodilo, sendo já tarde quando voltou a casa. Dali em diante,
sempre que desejasse fazer-se ao mar, bastava-lhe Apontamentos: Escudo 83
chamar pelo amigo crocodilo, para que este aparecesse como por encanto. Foi assim
durante muito tempo. Mas um dia o crocodilo deslizou com o amigo para o alto
mar, e aí o seu instinto sentiu grande tentação. Teve ganas de tragar o seu
amigo. Mas resistiu a tão feia tentação. Resolveu aconselhar-se francamente com
os peixes do mar e, por fim, também com um cachalote: “A uma pessoa que nos
valeu, devemos fazer bem ou mal?”. Todos responderam que devemos fazer bem. Mas
esta resposta não lhe satisfez os instintos, e a saliva começava a crescer-lhe
na boca, embora no fundo do seu íntimo ele se esforçasse por resistir.
Consulta, então, todos os animais da terra, e todos respondem como os peixes.
Finalmente deseja saber a opinião do macaco. Este, pulando dum lugar para outro
e arregalando muito os olhos, indaga estupefacto: “Que dizes tu?”. E o
crocodilo repete o que dissera já aos outros animais. Aqui o macaco pára,
sentado num ramo, ao lado do crocodilo, e prega-lhe esta reprimenda mestra: “Tu
não tens vergonha?! Tu, a quem, um dia, estando prestes a morrer, à torreira do
sol, este jovem desconhecido ergueu e transportou para o mar; tu queres agora,
em paga, devorá-lo?!” E, vituperando-o ainda mais por tão feio pensamento,
aviltou-o quanto pôde e afastou-se para o cume da árvore. O crocodilo, confuso
e transido de vergonha, não pensou mais em devorar o seu grande amigo. Mas,
levando-o, um dia, em direcção ao oriente, e entrando no mar de Timor,
disse-lhe reconhecido: “Meu bom amigo, o favor que me fizeste jamais o poderei
pagar. Dentro em breve eu devo morrer; deves voltar para terra, tu, os teus
filhos, todos os teus descendentes, e comer a minha carne em paga do bem que me
fizeste.” Baseados nesta lenda, os velhos afirmam que a ilha de Timor,
principiando em Lautém e acabando em Cupão, é esguia como o corpo dum
crocodilo, e a parte central assemelha-se-lhe à barriga. Timor quer dizer
Oriente; muitos timorenses chamam ao crocodilo antepassado ou avô. Se qualquer
crocodilo devora alguém, é porque, dizem, este lhe fez ou disse algo de mal. Ou
quando uma pessoa é apanhada por aquele, costuma gritar: Antepassado ou avô!
Maldição! Maldição! Quando entram ou passam numa ribeira onde haja crocodilos,
costumam atar uma fita verde de folha de palmeira na cabeça, numa perna e,
algumas vezes, também na mão e chamam para junto de si o cão. Assim, o crocodilo
sabe, e não os morde. Austrália e os Portugueses O primeiro contacto europeu
com o continente do Sul terá sido efectuado por navegadores portugueses. A
principal evidência para estas visitas não declaradas foi a descoberta de dois
canhões portugueses afundados ao largo da baía de Broome na costa noroeste da
Austrália. A tipologia dessas peças de artilharia indica serem de fabrico
portuguesa, podendo ser datadas de entre os anos de 1475 e 1525. Tem sido
também sugerido que duas expedições portuguesas realizadas nos mares da
Indonésia no primeiro quartel do século XVI teriam atingido o território
australiano: a expedição de Cristóvão de Mendonça a partir de Malaca para o sul
em busca das "ilhas de ouro" (1522), mas sobretudo a de Gomes de
Sequeira (1525) que supostamente teria atingido a Península de York. Para
reforçar esta tese evoca-se o estabelecimento pelos portugueses em 1516 de um
entreposto comercial em Timor, que fica a cerca de 500 quilómetros da
Austrália. Segundo o historiador e filólogo Carl von Brandenstein, os
portugueses teriam naufragado no noroeste da Austrália Ocidental, perto da ilha
de Depuch, entre 1511 e 1520, tendo sido os primeiros europeus a tocar a
Austrália, de onde não puderam sair. Estes portugueses acabariam por se
integrar com a população local, deixando marcas culturais assimiladas pelos
aborígenes. A fundamentação das suas teorias encontra-se na análise das línguas
das etnias Ngarluma e Karriera (tribos da Austrália Ocidental), que apresentam
particularidades que não se detectam Apontamentos: Escudo 84 nas outras línguas
aborígenes, como o uso da voz passiva. von Brandenstein apresenta também uma
lista de palavras destas línguas que alega terem uma origem portuguesa
(exemplos: thartaruga de tartaruga, monta/manta de monte, thatta de tecto). Uma
série de mapas conhecidos como Mapas de Dieppe, produzidos por uma escola de
cartografia na cidade francesa de mesmo nome entre 1536 e 1566, e que revelam
uma influência portuguesa, retratam uma terra chamada Jave La Grande que
apresenta uma configuração de costa que lembra a costa ocidental australiana,
em alguns casos representando formas vegetais e etnográficas. Alguns académicos
rejeitam uma ligação dos mapas com representações da Austrália, argumentando
que as formas vegetais e humanas são típicas das ilhas da Indonésia ou que
seriam meras representações lendárias. Pode ainda ser salientado um mapa
holandês do século XVII que representa uma barreira de coral com o nome de
Abreolhos. Esta palavra é uma derivação da expressão de língua portuguesa “abre
os olhos”, que era usada com frequência para assinalar zonas de perigo em
cartas marítimas lusitanas (expressão ainda hoje utilizada popularmente para
designar qualquer acidente doloroso, que serve para ensinar a ter cuidado).
Para os partidários da tese da prioridade portuguesa, os navegadores lusitanos
não reclamaram o continente para a coroa de Portugal e mantiveram a descoberta
aparentemente em silêncio. Os motivos do secretismo desta eventual iniciativa
estariam relacionados com o Tratado de Tordesilhas, que determinava que a zona
da Austrália seria, quando descoberta, propriedade da coroa espanhola. Para
adensar o mistério, os eventuais registos e notas de bordo destas expedições
devem ter desaparecido na destruição do Terramoto de Lisboa de 1755. Com a
morte do Cardeal-Rei D. Henrique em 1580, e com a formação da união pessoal
entre as coroas portuguesa e espanhola, Portugal nunca mais retomou as
iniciativas de exploração nesta parte do mundo. A falta de documentos escritos
sobre estas expedições faz com que a presença portuguesa na costa australiana
seja posta em causa por muitos historiadores.
Reino
de Sião
Reino do Sião ou Reino Ayutthaya foi um reino
siamês fundado em 1351 que perdurou até à invasão birmanesa em 1767. Fundado pelo
povo Tai, que expulso do sudoeste da China se instalou na região próxima e
adoptou o budismo como religião. Ayutthaya estabeleceu relações amigáveis com
negociantes estrangeiros, incluindo os chineses Han, vietnamitas Annam,
indianos, japoneses e persas e, mais tarde com os portugueses, espanhóis,
holandeses e franceses, permitindo-lhes construir povoações no exterior dos
muros da cidade. No século XVI Ayutthaya era descrita por mercadores
estrangeiros como uma das maiores e mais ricas cidades do Oriente. A corte do
rei Narai (1656-1688) teve uma forte ligação com a corte do rei Luís XIV de
França, cujos embaixadores a comparavam a Paris pela dimensão e opulência.
Antes do domínio birmanês em 1767, os estados tributários do Reino do Sião
incluíam os estados Shan do norte do actual Myanmar, Chiang Mai, Yunnan e Shan
Sri na China), Lan Xang no Laos, o reino Champa, e algumas cidades-estado da
península da Malásia. Em 1939 trocou de nome e passou a chamar-se Tailândia
(ex-Sião). O estado siamês baseado na cidade de Ayutthaya no vale do rio
Chaophraya cresceu a partir do reino inicial de Lavo, que viria a absorver,
continuando a tendência de expansão para sul dos povos siameses (Tai). Em 1351
para fugir de uma epidemia, o rei Ramathibodi I mudou a corte para sul, na
bacia do rio Chaophraya. Numa ilha do rio fundou uma nova capital, a cidade
Ayutthaya, significando "cidade de reis". Em poucos decénios, o reino
de Ayutthaya expandiu-se consideravelmente à custa do decadente império Khmer
do Camboja e do reino de Sukhotai, que foram absorvidos. O império de Ayutthaya
empregou novas técnicas de centralização do poder e herdou do Estado Khmer a
visão do governante como um rei divinizado. O reino desenvolveu um extenso
aparato burocrático, e a sociedade hierarquizou-se rigidamente. As guerras
foram frequentes e o território dominado a partir de Ayutthaya alcançou limites
próximos ao da actual Tailândia. No entanto, as fronteiras com os Estados
vizinhos, devido às contínuas guerras e aos planos separatistas das províncias
distantes, Apontamentos: Escudo 96 modificaram-se constantemente. Em 1569, os
birmaneses transformaram Ayutthaya num Estado dependente. Quinze anos mais
tarde, a independência do Sião foi restabelecida pelo príncipe Naresuan,
considerado desde então um herói nacional na Tailândia. Em 1511 Ayutthaya
recebeu uma missão diplomática portuguesa, enviada por Afonso de Albuquerque na
sequência da conquista portuguesa de Malaca no início do ano, dado a influência
que era então atribuída ao Reino do Sião sobre a península de Malaca. Duarte
Fernandes foi o primeiro enviado à corte de Ramathibodi II, regressando com um
enviado siamês e ofertas para o Rei de Portugal, seguindo-se-lhe António de
Miranda de Azevedo, Duarte Coelho e Manuel Fragoso, que aí permaneceu dois anos
preparando um documento sobre o reino do Sião, que enviou directamente para
Portugal. Estes terão sido os primeiros europeus a visitar o reino. Cinco anos
após os contactos iniciais, Ayutthaya e Portugal estabeleceram um tratado que
garantia aos portugueses a permissão para comerciar no reino do Sião. As
relações entre os dois reinos permaneceram informais até que em 1518 D. Manuel
I enviou uma embaixada com ofertas e a proposta de formalização de um tratado
de aliança comercial, política e militar, que incluía a possibilidade dos
siameses comerciarem em Malaca. Os comerciantes e missionários portugueses não
exerceram, no entanto, grande influência sobre o país, situado fora das
principais rotas portuguesas do Índico. A maioria de portugueses na Tailândia
eram aventureiros que serviram nos exércitos reais como mercenários e que foram
responsáveis pela adopção de algumas técnicas militares ocidentais nas
operações tailandesas. Mais tarde, em 1592, seria estabelecido um tratado
semelhante dando aos holandeses uma posição privilegiada no comércio de arroz.
Os estrangeiros eram cordialmente recebidos na corte de Narai (1657-1688), um
governante com uma visão cosmopolita, embora reticente à influência externa.
Foram estabelecidas importantes relações comerciais com os japoneses. No século
XVII, comerciantes holandeses e britânicos começaram a fundar centros
comerciais junto à capital e na península de Malaca. Mais tarde, chegaram os
franceses, que se impuseram aos outros europeus e foram enviadas missões diplomáticas
siamesas a Paris e a Haia. Ao manter todos estes laços a corte do Sião jogou
habilmente com as rivalidades entre holandeses e ingleses e franceses,
impedindo a influência excessiva de um único poder. Contudo em 1664 os
holandeses forçaram um tratado garantindo direitos territoriais e acesso
comercial livre. Exortado pelo ministro externo Constantine Phaulkon, um
aventureiro grego, Narai volta-se para a França em busca de auxílio.
Engenheiros franceses construíram fortificações e um novo palácio em Lopburi,
além disso missionários franceses dedicaram-se à educação e medicina, trazendo
para o reino a primeira impressora. O próprio Luís XVI entusiasmou-se com a
possibilidade de Narai se poder converter ao cristianismo. A forte influência
francesa despertou desconfianças e a chegada de uma expedição francesa composta
de 600 homens armados, em 1687, despertou receios. No ano seguinte, um golpe
dado por líderes Tais antiocidentais levou à expulsão de todos os franceses.
Teve então início, Apontamentos: Escudo 97 uma etapa de relativo isolamento do
Sião com relação ao Ocidente, uma política que durou 150 anos. Chegada à China
Jorge Álvares foi um explorador português, o primeiro europeu a aportar
directamente na China e a visitar o território que actualmente é Hong Kong em
1513. Foi um dos portugueses que, de Malaca, se dirigiram à China, sendo o
primeiro a chegar ao Sul da China, em 1513. A esta visita seguiu-se o
estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde
mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de Macau. Possuía um Junco com o
qual se dedicava ao comércio entre Malaca e Cantão, juntamente com Fernão Pires
de Andrade e Rafael Perestrello, pioneiros desse comércio, considerado ilegal
pelos Chineses. Participou numa guerra contra o sultão de Bintão, capitaneando
uma galé na Armada Portuguesa. Com a abordagem de Tamang (Cantão), apesar da
oposição do "Itau" (mandarim local), conseguiu estabelecer-se numa
praia na ilha de Sanchoão, onde ergueu uma cabana que servia de refúgio aos
comerciantes clandestinos e onde, para se achar como em terra portuguesa,
fizera assentar um padrão. Passou assim a ser considerado como feitor português
de Tamang, continuando, no seu Junco, a navegar pelas Molucas. Nestas águas
veio a ser atacado pelos indígenas de Ternate, vindo a ser gravemente ferido.
Veio a falecer na sua cabana, pedindo que fosse enterrado junto ao padrão que
fizera erigir. Macau Macau é desde 20 de Dezembro de 1999 uma Região
Administrativa Especial da República Popular da China. Antes desta data, foi
colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada
o primeiro entreposto, bem como a última colónia europeia na China. Esta
administração teve começo em meados do século XVI. Nesta altura os portugueses
trouxeram prosperidade a este pequeno pedaço de terra, tornando-a numa grande
cidade e importante intermediário no comércio entre a China, a Europa e o
Japão, fazendo com que ela atingisse o seu auge nos finais do século XVI e nos
inícios do século XVII. Só em 1887 é que a China reconheceu oficialmente a
soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau, através do
"Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português". Em 1967, como
consequência do Motim 1-2-3 levantado pelos residentes chineses pró-comunistas
de Macau no dia 3 de Dezembro de 1966, Portugal renunciou a sua ocupação
perpétua sobre Apontamentos: Escudo 98 Macau. Em 1987, após intensas
negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países
concordaram que Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de
Dezembro de 1999. Actualmente, Macau está a experimentar um grande e acelerado
crescimento económico, baseado no acentuado desenvolvimento do sector do jogo e
do turismo, as duas actividades económicas vitais desta região administrativa
especial chinesa. É constituída pela Península de Macau e por duas ilhas (Taipa
e Coloane, entretanto com a ligação feita por terra seca por meio de um aterro,
o istmo de Cotai), numa superfície total de 28,6 km². Macau situa-se na costa
meridional da República Popular da China, a oeste da foz do Rio das Pérolas e a
60 km de Hong Kong, que se encontra aproximadamente a este de Macau. Faz
fronteira a norte e a oeste com a Zona Económica Especial de Zhuhai, logo é
adjacente à província de Guangdong. Macau efectua muitos aterros para
reclamar/obter mais espaços de construção à foz do Rio das Pérolas. Tem cerca
de 538 mil habitante s, sendo a esmagadora maioria de etnia chinesa. Após o
estabelecimento da RAEM, Macau actua sob os princípios do Governo Popular
Central Chinês da RPC de “um país, dois sistemas”, de “Administração de Macau
pela Gente de Macau” e de “Alto Grau de Autonomia”, gozando por isso de um
estatuto especial, semelhante ao de Hong-Kong, e possuindo consequentemente um
elevado grau de autonomia, limitando-se apenas no que se refere às suas
relações exteriores e à defesa. Foi também garantido pela RPC a preservação do
seu sistema económico-financeiro e das suas especificidades durante pelo menos
50 anos, isto é, pelo menos até 2049. Os portugueses estabeleceram-se ilegal e
provisoriamente em Macau entre 1553 e 1554, sob o pretexto de secar a sua
carga. Em 1557, as autoridades chinesas deram finalmente autorização para os
portugueses se estabelecerem permanentemente em Macau, concedendo-lhes um
considerável grau de autonomia. Em troca, os portugueses foram obrigados a
pagar aluguer anual (cerca de 500 taéis de prata) e certos impostos a estas
autoridades, que defendiam que Macau continuava a ser parte integrante do
Império Chinês. As autoridades chinesas, desde sempre portadoras de algum medo
e desprezo pelos estrangeiros, passaram a supervisionar atentamente os
portugueses de Macau e a exercer, até meados do século XIX, uma grande
influência na administração deste estabelecimento comercial. Desde então, Macau
desenvolveu-se como um entreposto e intermediário para o comércio triangular
entre a China, o Japão e a Europa, numa época em que as autoridades da China
proibiram o comércio directo com o Japão por mais de cem anos. Para além de ser
um entreposto comercial, Macau desempenhou também um papel activo e fulcral na
disseminação do Catolicismo, ao tornar-se num importante ponto de formação e de
partida de missionários católicos para os diferentes países do Extremo Oriente,
principalmente para a China. Apontamentos: Escudo 99 Por este motivo, o Papa
Gregório XIII criou, em 1576, a Diocese de Macau. Estes missionários
desempenharam também um papel importante no intercâmbio cultural, científico e
artístico entre a China e o Ocidente, e no desenvolvimento da cultura e da
educação de Macau. Em 1583, foi criada o Leal Senado, a sede e o símbolo do
poder e do governo local, pelos moradores portugueses, mais precisamente pelos
comerciantes, de Macau. Este organismo político, considerado como a primeira
câmara municipal de Macau, foi fundada com o objectivo de proteger o comércio
controlado por Macau, de estabelecer ordem e segurança para esta cidade e de
resolver os e problemas quotidianos. Apesar de a partir de 1623 Macau passar a
ter um Governador português, o Leal Senado, até à primeira metade do século
XIX, continuou a manter uma grande autonomia e a exercer um papel fundamental
na administração da cidade. Devido à sua prosperidade, Macau foi várias vezes
atacada pelos holandeses ao longo da primeira metade do século XVII. O ataque
mais importante teve início em 22 de Junho de 1622, quando cerca de 800
soldados holandeses desembarcaram, numa tentativa de conquistar a cidade. Após
dois dias de combate, em 24 de Junho, os invasores foram derrotados, sofrendo
elevadas baixas (cerca de 350 mortes) e conseguindo abater apenas algumas
dezenas de portugueses. Para Macau, desprevenida, esta vitória foi considerada
um milagre. Em 1638-1639, o comércio português com o Japão foi interrompido,
devido às políticas de isolamento levados a cabo pelo então Xogum japonês,
Tokugawa Iemitsu. Este acontecimento afectou seriamente a economia de Macau,
que rapidamente entrou em declínio. Descoberta de Taiwan O conhecimento da
existência da ilha Formosa (actual Taiwan) pelos ocidentais ocorreu por volta
de 1544 quando navegadores portugueses passaram ao largo da ilha e a registaram
como ilha Formosa. Apenas em 1582 aportaram e por acidente. Um navio
capitaneado por André Feio naufragou devido a um banco de areia na costa
setentrional da ilha e permaneceu nesta durante cerca de 10 semanas. Os efeitos
da malária e os constantes ataques por parte dos aborígenes conduziram à fuga
dos sobreviventes para Macau dentro de uma balsa. Em 1600 foi estabelecido um
entreposto comercial português que foi de pouca dura. A ocupação espanhola de
Portugal conduziu posteriormente ao abandono deste entreposto, ficando os
holandeses por intermédio da Apontamentos: Escudo 100 Companhia Holandesa das
Índias Orientais a controlar o comércio para ocidente a partir da ilha Formosa
(1624).
Padre
António Vieira
António Vieira (Lisboa, 6 de Fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697)
foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos
mais influentes personagens do século XVII em termos de política destacou-se
como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu
infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua
exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande
Padre/Pai, em tupi). Defendeu também os judeus, a abolição
da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos e a abolição da
escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria
Inquisição. Nascido em lar humilde, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogénito
de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era
filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta. Cristóvão
serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição.
Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na
Bahia, mandando vir a família em 1618. António Vieira chegou à Bahia com seis
anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas em Salvador,
onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se brilhante aluno.
Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em Maio de 1623. Em 1624, quando na
invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se
iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade,
pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em
Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o
mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote
em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama
de notável pregador. Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil
(1630-54), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois
gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em
contrapartida, além do facto de que os Países Baixos eram um inimigo
militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre
Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor
dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à
questão da Região Nordeste do Brasil. Após a Restauração da Independência
(1640), regressou a Lisboa (1641) iniciando uma carreira diplomática, pois
integrava a missão que ia ao Reino prestar obediência ao novo monarca.
Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e
a confiança de D. João IV de Portugal, sendo por ele nomeado pregador régio.
Ainda como diplomata, foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a
devolução do Nordeste do Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto
de obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos novos, entrou em conflito
com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652-61, missionário no
Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios. Diz o Padre
Serafim Leite em "Novas Cartas Jesuíticas", Companhia Editora
Nacional, São Paulo, 1940, pág. 12, que Vieira tem "para o norte do
Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros
jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos Índios e crítica de
costumes". "Manoel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os
mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e
clamavam!".
Em 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís do Maranhão, parte para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Após ficar à deriva por terem os mastros do navio quebrados foram abordados por um navio corsário holandês que recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar-lhes roupas, calçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio. O grupo passou em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa. Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele permaneceu mais algum tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha, destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada anualmente a 7 de Outubro, com aquele templo repleto. Uma semana mais tarde, passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo de um navio inglês, a 24 de Outubro. Após atravessar nova tempestade, o religioso chegou finalmente ao destino, em Novembro de 1654. Voltou para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão. Com a morte de D. Afonso VI, Vieira não encontrou apoio. Abraçou a profecia sebastiana e por isso entrou de novo em conflito com a Inquisição que o acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e depois encarcerado em Coimbra, enquanto os jesuítas perdiam seus privilégios. Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a pena foi anulada. Com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal, recuperou o valimento. Seguiu para Roma, de 1669-75. Encontrou o Papa às portas da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira o governo-geral do Brasil, primeiro, e depois, a corte de D. João IV, iria convencer o Papa e garantir assim a anulação das suas penas e condenações. Mas Vieira conseguiria ainda mais. Entre 1675-81, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos relatórios sobre os múltiplos abusos de poder que o jesuíta deixou em Roma, nas mãos do Sumo Pontífice. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos, por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Oficio em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa malha que inquisidores derramavam sobre si. Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos. Decidiu voltar outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir seus escritos, visando à edição completa em 16 volumes dos seus Sermões, iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum.
Possuía cerca de 500 Cartas que foram publicadas em 3 volumes. Suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição. Já velho e doente teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever de próprio punho. Em 10 de Junho começou a agonia. Morreu a 18 de Julho de 1697, com 89 anos.
Em 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís do Maranhão, parte para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Após ficar à deriva por terem os mastros do navio quebrados foram abordados por um navio corsário holandês que recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar-lhes roupas, calçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio. O grupo passou em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa. Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele permaneceu mais algum tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha, destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada anualmente a 7 de Outubro, com aquele templo repleto. Uma semana mais tarde, passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo de um navio inglês, a 24 de Outubro. Após atravessar nova tempestade, o religioso chegou finalmente ao destino, em Novembro de 1654. Voltou para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão. Com a morte de D. Afonso VI, Vieira não encontrou apoio. Abraçou a profecia sebastiana e por isso entrou de novo em conflito com a Inquisição que o acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e depois encarcerado em Coimbra, enquanto os jesuítas perdiam seus privilégios. Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a pena foi anulada. Com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal, recuperou o valimento. Seguiu para Roma, de 1669-75. Encontrou o Papa às portas da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira o governo-geral do Brasil, primeiro, e depois, a corte de D. João IV, iria convencer o Papa e garantir assim a anulação das suas penas e condenações. Mas Vieira conseguiria ainda mais. Entre 1675-81, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos relatórios sobre os múltiplos abusos de poder que o jesuíta deixou em Roma, nas mãos do Sumo Pontífice. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos, por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Oficio em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa malha que inquisidores derramavam sobre si. Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos. Decidiu voltar outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir seus escritos, visando à edição completa em 16 volumes dos seus Sermões, iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum.
Possuía cerca de 500 Cartas que foram publicadas em 3 volumes. Suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição. Já velho e doente teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever de próprio punho. Em 10 de Junho começou a agonia. Morreu a 18 de Julho de 1697, com 89 anos.
Vasco da Gama foi o primeiro europeu a avistar a costa oriental de África no dia de Natal de 1497 e, por isso, esta região passou a ser conhecida pelos europeus por este nome. Nos princípios do século XIX, a região era habitada principalmente pelos Zulu e os britânicos adquiriram muito daquelas terras dos chefes Shaka e Dingane. Os agricultores africânderes chegaram à região em 1837 e, depois de várias batalhas com os Zulu, a mais notável sendo a de Blood River em 1838 em que derrotaram Dingane, fundaram ali uma “república”. Em 1843, a coroa britânica anexou o Natal à Colónia do Cabo, o que levou ao êxodo dos bôeres. Em 1856, o Natal tornou-se uma colónia separada e, em 1860 começou a plantação de cana-de-açúcar e foram contratados da Índia muitos trabalhadores para esta indústria. Estes permaneceram no Natal no fim dos seus contratos e, em 1900, eram mais numerosos que os brancos. Em 1893, a colónia passou a ter um governo autónomo e, em 1910, tornou-se uma das províncias fundadoras da União Sul-Africana. Quando o bantustão do KwaZulu, que significa "Terra dos Zulus", foi re-incorporado à província do Natal, com a nova constituição de 1993, a província passou a ter o nome de KwaZulu-Natal e é a única do país que inclui no seu nome o grupo étnico dominante. De facto, a maioria da população desta província é Zulu. Apontamentos: Escudo 147 Moçambique Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975. A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi descreveu uma importante actividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do actual Moçambique. No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos Bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV. A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial. Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975. Quando Vasco da Gama chegou pela primeira vez a Moçambique, em 1497, já existiam entrepostos comerciais árabes e uma grande parte da população tinha aderido ao Islão. Os mercadores portugueses, apoiados por exércitos privados, foram-se infiltrando no império dos Mwenemutapas, umas vezes firmando acordos, noutras forçando-os. Em 1530 foi fundada a povoação portuguesa de Sena, em 1537, de Tete, no rio Zambeze, e em 1544 de Quelimane, na costa do Oceano Índico, assenhorando-se da rota entre as minas e o oceano. Em 1607 obtiveram do rei a concessão de todas as minas de ouro do seu território. Em 1627, o Mwenemutapa Capranzina, hostil aos portugueses, foi deposto e substituído pelo seu tio Mavura; os portugueses baptizaram-no e este declarou-se vassalo de Portugal. Os Mwenemutapas reinaram até finais do século XVII, altura em que foram substituídos pela dinastia dos Changamiras, outro grupo Shona que dominava o reino Butua, contribuindo assim para a extensão territorial do império. As relações dos Changamiras com os portugueses tiveram altos e baixos mas, em 1693, houve um levantamento armado em que os soldados portugueses que Apontamentos: Escudo 148 residiam na capital foram escorraçados, várias igrejas destruídas e os portugueses impedidos, durante algum tempo, de ter acesso ao ouro e ao comércio com os reinos indígenas. Por essa altura, no entanto, os portugueses controlavam o vale do Zambeze e começaram a interessar-se mais pelo marfim, empreendimento que levavam a cabo por acordo com os estados Marave. O império dos Mwenemutapa, embora com menos poder económico, manteve-se até meados do século XIX, altura em que foi desmembrado pelos Estados Militares que se formaram como resistência dos prazeiros à administração portuguesa. Finalmente, a administração colonial portuguesa e britânica em África terminou com o poder político dos chefes então existentes. Chegada à Índia A expedição iniciou-se a 8 de Julho de 1497. A linha de navegação de Lisboa a Cabo da Boa Espernça foi a habitual e no Oceano Índico é descrita por Álvaro Velho: “rota costeira até Melinde e travessia directa deste porto até Calecute”. Durante esta expedição foram determinadas latitudes através da observação solar, como refere João de Barros. Relatam os Diários de Bordo das naus muitas experiências inéditas. Encontrou esta ansiosa tripulação rica fauna e flora. Fizeram contacto perto da baía de Santa Helena com tribos que comiam lobos-marinhos, baleias, carne de gazelas e raízes de ervas; andavam cobertos com peles e as suas armas eram simples lanças de madeira de zambujo e cornos de animais; viram tribos que tocavam flautas rústicas de forma coordenada, o que era surpreendente perante a visão dos negros pelos europeus. Ao mesmo tempo que o escorbuto se instalava na tripulação, cruzavam-se em Moçambique com palmeiras que davam cocos. Apesar das adversidades de uma viagem desta escala, a tripulação mantinha a curiosidade e o ânimo em conseguir a proeza e conviver com os povos. Para isso reuniam forças até para assaltar navios em busca de pilotos. Com os prisioneiros, podia o capitão-mor fazer trocas, ou colocá- los a trabalhar na faina; ao rei de Mombaça pediu pilotos cristãos que ele tinha detido e assim trocou prisioneiros. Seria com a ajuda destes pilotos que chegariam a Calecute, terra tão desejada, onde o fascínio se perdia agora pela moda, costumes e riqueza dos nativos. Sabe-se, por Damião de Góis, que durante a viagem foram colocados cinco padrões: São Rafael, no rio dos Bons Sinais; São Jorge, em Moçambique, Santo Espírito, em Melinde; Santa Maria, nos Ilhéus, e São Gabriel, em Calecute. Estes monumentos destinavam-se a afirmar a soberania portuguesa nos locais para que outros exploradores não tomassem as terras como por si descobertas. Apontamentos: Escudo 149 Em 20 de Maio de 1498, a frota alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, no actual estado indiano de Kerala, ficando estabelecida a rota no Oceano Índico e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia. As negociações com o governador local, Samutiri Manavikraman Rajá, Samorim de Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter condições comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de culturas e pelo baixo valor das suas ofertas (no ocidente era hábito os reis presentearem os enviados estrangeiros, no oriente esperavam ser impressionados com ricas ofertas). As mercadorias apresentadas pelos portugueses mostraram-se insuficientes para impressionar o samorim e os representantes do samorim escarneceram das suas ofertas, simultaneamente os mercadores árabes aí estabelecidos resistiam à possibilidade de concorrência indesejada. A perseverança de Vasco da Gama fez com que se iniciassem, mesmo assim, as negociações entre ele e o samorim, que se mostrou agradado com as cartas de D. Manuel I. Por fim, Vasco da Gama conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar, comprovatória do encontro que dizia: «Vasco da Gama, fidalgo da vossa casa, veio à minha terra, com o que eu folguei. Em minha terra, há muita canela, e muito cravo e gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que quero da tua é ouro e prata e coral e escarlata». Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias por baixo preço para poderem adquirir pequenas quantidades de especiarias e jóias para levar para o reino. Contudo a frota acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu chefe da Marinha Kunjali Marakkar insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco da Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens para iniciar uma feitoria.
D.
Manuel I,
O Venturoso D. Manuel I, 14.º rei de Portugal (Alcochete, 1469 — Lisboa, 1521),
cognominado de “O Venturoso”, “O Bem-Aventurado” ou “O Afortunado” tanto pelos
eventos felizes que o levaram ao trono, como pelos que ocorreram no seu
reinado. D. Manuel I ascendeu inesperadamente ao trono em 1495, em
circunstâncias excepcionais, sucedendo ao seu primo direito D. João II, de quem
se tornara protegido. Prosseguiu as explorações portuguesas iniciadas pelos
seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia,
do Brasil e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Molucas. Foi
o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da
Navegação da Arábia, Pérsia e Índia. Em 1521 promulgou uma revisão da
legislação conhecida como Ordenações Manuelinas, que divulgou com ajuda da
recente imprensa. No seu reinado, apesar da sua resistência inicial, cumprindo
as cláusulas do seu casamento com Maria de Aragão viria a autorizar a
instalação da inquisição em Portugal. Com a prosperidade resultante do
comércio, em particular o de especiarias, realizou numerosas obras cujo estilo
arquitectónico ficou conhecido como manuelino. Durante seu reinado, Vasco da
Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia (1498), Pedro Álvares Cabral
descobriu o Brasil (1500), D. Francisco de Almeida tornou-se no primeiro
vice-rei da Índia (1505) e o almirante D. Afonso de Albuquerque assegurou o
controlo das rotas comerciais do Oceano Índico e Golfo Pérsico e conquistou
para Portugal lugares importantes como Malaca, Goa e Ormuz. Também no seu
reinado organizam-se viagens para ocidente, tendo-se chegado à Gronelândia e à
Terra Nova. O seu reinado decorreu num “contexto expansionista, já preparado
por seu antecessor e marcado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia
em 1498 e pelas consequências políticas e económicas que advieram deste facto”.
A extensão de seu reinado “permite surpreender nele uma personagem determinada,
teimosa, voluntariosa, autocrática, detentora de um programa político de
potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática
até ao seu mais ínfimo detalhe.” D. Manuel I optou por uma política de expansão
indiana e pôs em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a
realização da viagem de Vasco da Gama em 1497, contra, ao que parece, a
oposição de parte do seu Conselho. Escolheu, ainda, a via da inversão pró-
aristocrática, ou seja, de restauração de privilégios e direitos antes postos
em causa e isto certamente por opção política de Estado. O rei edificou,
igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o absolutismo régio e o governo
iluminado, por contraponto, aliás, ao problemático e agitado centralismo do seu
antecessor D. João II. Tudo isto contribuiu para a constituição do Império
Português, fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa.
D. Manuel I utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios
reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino, dos que são
exemplo o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Atraiu cientistas para a
corte de Apontamentos: Escudo 158 Lisboa e estabeleceram-se tratados comerciais
e relações diplomáticas com a China e a Pérsia, além de que, em Marrocos,
realizaram-se conquistas como Safim, Azamor e Agadir. A sua completa
consagração europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por Tristão
da Cunha, enviando ao Papa Leão X presentes magníficos como pedrarias, tecidos
e jóias. Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um elefante,
chamado Hanno, doravante mascote do papa, que executava várias habilidades. Mas
uma das inúmeras novidades que encantaram os espíritos curiosos das cortes
europeias da época terá sido sem dúvida o rinoceronte trazido das Índias, que
assumiu, então, um papel preponderante na arte italiana. Na vida política
interna, D. Manuel I seguiu as pisadas de D. João II e tornou-se quase num rei
absoluto. As cortes foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de
mais de vinte e cinco anos, e sempre no paço de Lisboa. D. Manuel I dedicou-se
à reforma dos tribunais e do sistema tributário, adaptando-o ao progresso
económico que Portugal então vivia. D. Manuel I era um homem bastante religioso
que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e
mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colónias através
dos missionários católicos. O seu reinado ficará também lembrado pela
perseguição feita a judeus e muçulmanos em Portugal, particularmente nos anos
de 1496-98. Esta política foi tomada por forma a agradar aos reis católicos,
cumprindo uma das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de
Espanha, Isabel de Aragão. O Massacre de Lisboa de 1506 foi talvez uma das
consequências da política de D. Manuel I. Seguiram-se as conversões forçadas
dos judeus e, depois, confiou ao seu embaixador em Roma a missão secreta de pedir
ao papa, em 1515, a permissão de estabelecer a Inquisição em Portugal. Na
cultura, D. Manuel I procedeu à reforma dos Estudos Gerais, criando novos
planos educativos e bolsas de estudo. Na sua corte surge também Gil Vicente, o
pai do teatro português, e Duarte Pacheco Pereira, o geógrafo, autor do
Esmeraldo de Situ Orbis. Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a
tentativa de reforma do reino, “através da criação de instrumentos unificadores
de carácter estatal, como sejam a publicação dos Forais Novos, reformando os
antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilação e revisão da legislação,
consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a reorganização da Fazenda Pública e a
estruturação administrativa daí decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno”.
D. Manuel I morreu em 1521 e encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.
Joaquim Correia Escultor natural da Marinha Grande (1920). Com o curso
complementar de escultura iniciado na ESBAP e terminado na ESBAL, onde foi
discípulo de José Simões de Almeida (sobrinho). É sócio efectivo da Sociedade
Nacional de Belas Artes, da Associação dos Arqueólogos Portugueses e da
Sociedade de Geografia de Lisboa. Preside à comissão instaladora do Museu
Nacional do Vidro. Comendador da Ordem Militar de Sant'iago de espada e
"Des Arts et Lettres" de França. É autor de numerosas estátuas,
baixos-relevos e medalhas que figuram em lugares públicos e privados em
Portugal e no estrangeiro. Está representado nos Museus Nacionais de Arte
Contemporânea de Lisboa, de Soares dos Reis no Porto, no centro de arte moderna
da fundação Calouste Gulbenkian, e em várias colecções nacionais e estrangeiras
Adamastor
Adamastor é um mítico gigante baseado
na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões n'Os Lusíadas.
Representa as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma
tempestade, ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa
Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os alegados domínios de Adamastor. É o
nome atribuído a um dos gigantes, filhos de Terra, que se rebelaram contra
Zeus. Fulminados por este, ficaram dispersos e reduzidos a promontórios, ilhas
e fraguedos. O seu nome surge, certamente, pela primeira vez com Sidónio
Apolinário. O gigante foi listado por Rabelais, em Gargantua e Pantagruel. Foi
popularizado ao ser usado com verdadeira mestria pelo poeta português Luís de
Camões, no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo
das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que
eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e
Índico. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e
comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da
história trágico-marítima que se lhe seguiria. O Adamastor tem não só o papel
de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do Restelo. Também dá
ênfase ao “mais que humano feito” referido na proposição. Realçando a coragem
do Herói, individual ou colectivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios
superiores do poder do Homem, porque renega a sua emoção seguindo a ordem de
el-rei. Na continuação do episódio, o narrador mostra-nos como este gigante tem
uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece
dessa doença benigna que é o amor. A sul do Cabo Bojador erguia-se um conjunto
de lendas e superstições que a imaginação mitogénica criara a partir do mundo
desconhecido. Os marinheiros quatrocentistas não podiam deixar de sentir o
mistério que envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas
representavam o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele. À custa
de uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar
esses mitos e chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido
pela impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa
Esperança, lhes abria as portas da Índia. Os mares desse cabo serviram muitas
vezes de sepultura a naus e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões,
como que comprovando as profecias do Adamastor.
As 7 tribos
descendentes dos portugueses
Estão espalhados um pouco por todo o mundo e são a
maior prova do legado dos Descobrimentos, quando os portugueses partiram para
terras distantes em busca de glória e riqueza.
A grande maioria deles ainda fala crioulo de origem
portuguesa e ainda mantém vivas algumas tradições dos seus antepassados. É
comum, em muitos locais, ainda cantarem em português e a religião católica é
outro factor que os une.
Existem muitas tribos e povos que descendem dos
portugueses, desde a América até à Ásia. Alguns estão a desaparecer, outros
ainda conseguem manter viva a chama dos seus ancestrais e o amor por Portugal.
Descubra 7 tribos descendentes dos portugueses.
Lamno (Indonésia)
Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à
Indonésia, no início do século XVI e, apesar de terem-se estabelecido sobretudo
na região oriental do país, alimentaram o sonho de controlar o comércio da
pimenta desde a zona estratégica do Norte da Samatra até ao mercado chinês.
Os portugueses da província indonésia de Aceh,
conhecidos localmente como “olhos azuis”, estão em risco de se extinguirem
desde que o tsunami de 2004 reduziu a comunidade de centenas de pessoas a menos
de uma dezena.
Antes do tsunami, a comunidade teria talvez cerca de
500 pessoas, enquanto que agora é difícil apontar um número, porque a região
conta com descendentes de outros europeus e árabes.
Bayingyis (Birmânia)
A hegemonia portuguesa no Índico e no Pacífico durou
perto de um século e seria profundamente abalada com a chegada dos holandeses
àqueles mares.
Com a substituição da dominação portuguesa pela
holandesa – permanecendo nas terras que as viram nascer; deportados para outras
paragens; ou forçados à emigração – as cristandades mestiças euro-asiáticas do
Oriente talharam a identidade colectiva de cada uma que perdurou até aos nossos
dias e que assenta em dois pilares principais: a religião católica e a língua
crioula.
Ziguinchor (Senegal)
da
actual Ziguinchor remonta uma
feitoria fundada pelos portugueses em 1645, na margem sul do rio Casamansa.
Segundo a tradição, o seu nome deriva da expressão em língua portuguesa
“cheguei e choram”, uma vez que os nativos pensavam que os europeus os vinham
escravizar.
Subordinada
à capitania de Cacheu, o seu objectivo era o comércio com o reino de Casamansa, um fiel aliado.
Nos censos de 1963, dos 42.000 habitantes de
Ziguinchor, 35.000, falavam o crioulo (83%), e 30.000 tenham o crioulo como
língua materna (71,4%).
O crioulo
de Casamansa é uma língua crioula baseada no português que é
considerado um dialecto do crioulo da Guiné-Bissau falado principalmente na
região de Casamansa no Senegal e também na Gâmbia.
Kristang (Malásia)
Os portugueses chegaram há quinhentos anos a Malaca. A
diáspora lusitana subsiste, com inusitado fulgor e entusiasmo, num pequeno
bairro piscatório malaio, onde se luta pela manutenção da cultura portuguesa.
Hoje e sempre.
Em Malaca (Melaka, i.e., “O Estado Histórico”),
o terceiro mais pequeno Estado da Malásia, existe um povo conhecido por Kristang (“cristão”), que descende dos portugueses e que
sobrevive desde o século XVI como uma pequena comunidade de cerca de 5000
pessoas.
A numerosa colónia luso-descendente não abdicou da
identidade cultural. Meio milénio após a chegada lusa e 370 anos após a sua
partida, todos continuam a afirmar-se, orgulhosamente, portugueses, sem nunca
terem pisado solo nacional. A cultura popular portuguesa transmite-se de pais
para filhos, por via oral.
Contam-se histórias, ensinam-se costumes e tradições,
transmite-se «o portugis antigo», que falavam os primeiros colonos, corrompido
por séculos de transmissão oral sem um único registo escrito ou resquício de
ensino oficial.
Burghers (Sri Lanka)
Burgher é o nome pelo qual são conhecidos
os descendentes de portugueses e holandeses no Sri Lanka. Os Burghers Portugueses são
um grupo étnico do Sri Lanka descendentes de cingaleses e portugueses,
católicos e falantes do indo-português do Ceilão, uma linguagem crioula de
origem portuguesa.
Os Burghers portugueses são maioritariamente
descendentes de mestiços de origem portuguesa e cingalesa, geralmente pai
português e mãe cingalesa ou mãe descendente de portugueses com pai cingalês. A
sua origem remonta à chegada dos portugueses, após a descoberta do caminho
marítimo para a Índia, em 1505.
Quando os holandeses tomaram as costas do Sri Lanka em
1656, antigo Ceilão Português, os descendentes dos portugueses refugiaram-se
nas montanhas centrais do reino Kandyan, sob domínio cingalês.
Com o tempo descendentes de portugueses e holandeses
casaram entre si. Embora a língua portuguesa tivesse sido banida sob o domínio
holandês, estava tão difundida como língua franca do Índico que até os
holandeses a falavam. No Censo de 1981 os Burghers (holandeses e portugueses)
contavam cerca de 40.000 (0,3% da população total do Sri lanka).
Numerosos apelidos de origem portuguesa permanecem até
hoje, como Perera, Pereira, Abreu, Salgado, Fonseca, Fernando, Rodrigo e Silva
que se tornaram parte da cultura do Sri Lanka.
Korlai (India)
Korlai é uma aldeia que
fica perto das ruínas da antiga cidade fortaleza de Chaul construída pelos
portugueses no séc. XVI, em 1534. Chaul foi uma das cidades mais importantes e
estratégias do Império Português do Oriente, de tal forma que era uma cidade
bem apetecida para os adversários dos portugueses.
Os portugueses começaram a frequentar
aquelas águas a partir de 1501, com o apoio do potentado local que se fizera
vassalo do rei de Portugal para se livrar da influência do Samorim de Calecut.
A povoação conta com cerca de 900 falantes, no entanto
encontra-se ainda por estudar, pois ainda não há nenhum estudo sobre a língua
ou sobre os costumes deste povo.
A descendência de Korlai resulta da presença de
soldados Portugueses que se casaram com as nativas, bem como um pequeno grupo
de mulheres de Goa que se casaram com portugueses. Os seus costumes e tradições
indicam essa origem e incluem a religião cristã, a celebração de diversas festividades
e até músicas populares.
Tugu (indonésia)
Não é fácil chegar a Tugu,
a nordeste de Jacarta, capital da Indonésia. Mesmo ao fim-de-semana, o trânsito
que liga à aldeia é caótico, devido à proximidade do porto de Tanjung Priok, o
principal do país, com cerca de 430 hectares. Apesar dos inúmeros camiões que
entopem a estrada principal, sente-se uma tranquilidade ao chegar a Tugu, um
ex-líbris de Portugal. Junto ao cemitério e à igreja branca datada do século
XVII, há um espaço aberto e arvoredo que lembra o centro de algumas aldeias
portuguesas, até pelos idosos que por ali vão deixando cair o tempo.
Os ancestrais dos tugu estão ligados aos escravos dos
portugueses na Índia que foram levados para a Batávia, antiga Jacarta, por holandeses.
Ainda no século XVII, após o fim do império colonial
português no Sudeste Asiático, chegaram àquela zona comerciantes, artesãos e
aventureiros oriundos de Malaca, Ceilão, Cochim e Calecute. O cruzamento entre
os dois grupos fez nascer os chamados “Portugueses Negros”, que tinham em comum
a língua portuguesa e a religião cristã.
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