terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Diogo Dias e João Afonso de Aveiro, navegantes do séc. XV" , as 7 tribos descendentes dos portugueses

 Diogo Dias ou Pero Dias !
Há um homem que está semi- esquecido no pó da história e na memória dos tempos  Diogo Dias ou Pero Dias !
Navegou no Golfo da Guiné e nas Costas da Mina
Acompanhou o irmão Bartolomeu Dias, na derrota do Cabo da Boa Esperança; 
Foi o escrivão da Nau S. Gabriel, (a nau de Vasco da Gama) na descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, tendo sido preso em Calicute , salvando a vida a custo;
Foi um dos primeiros portugueses a pisar a terra no chão do Brasil, na foz do rio Mutári,  baía Cabrália, na armada de Cabral (Pero Vaz de Caminha , na sua carta diz " era homem gracioso e alegre, saltou em terra e dançou com os índios ao jeito deles, ao som duma gaita" ). 
Quando a  armada de Cabral seguiu para a India, ele que era comandante de uma nau, na zona do Cabo afastou-se dos outros navios e foi  ter a uma grande ilha a que deu o nome de S. Lourenço e que hoje é Madagáscar
Tendo seguido a rota da India, na zona do Cabo Guardafui (Djibuti),virou á esquerda e entrou pelo Mar Vermelho (sendo por isso o primeiro comandante português a navegar nesse Mar). Perdeu-se? Um mareante com a sua experiência e conhecimentos náuticos e tendo já ido à Índia, perdia-se? Missão secreta?
Quando chegou a Lisboa, a sua nau só o trazia a ele e a mais sete companheiros.
Certo é que em 1503 os portugueses construíram a fortaleza de Socotorá, fechando assim a entrada - e saída - do Mar Vermelho.
Infelizmente nem uma rua, uma praça ou uma estátua existe em seu nome-
Para honrar estes homens temos o Brasil fiel depositário dos valores portugueses..
Depois de uma vida fantástica e generosa , merecia outro reconhecimento em Portugal.
 João Afonso de Aveiro

Há quem pretenda que João Afonso de Aveiro tomou parte na expedição de Diogo de Azambuja à costa de Mina.

A frota partiu do reino em 11 de Dezembro de 1481, e alcançou a Mina,  em 19 de Janeiro de 1482 (Rui de Pina, Chronica d'EI Rei D. João II, cap. II; Garcia de Resende, Chronica dos Valerosos, e Insignes Feitos DeI Rey Dom Ioam II, cap. XXV; João de Barros, Ásia, década I, liv. III; Doutor Damião Peres, História dos Descobrimentos Portugueses, pág. 189, nota 2, e A Exploração do Golfo da Guiné, na História de Portugal, ed. de Barcelos, vol. lII, pág. 549).
O cosmógrafo e roteirista Duarte Pacheco Pereira diz que a armada se compunha de nove caravelas e duas urcas (Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis; cf. Padre António Brásio, Monumenta Missionaria Africana (África Ocidental), vol. I, págs. 3 e segs.). Rui de Pina e Garcia de Resende não referem o número de navios; mas João de Barros indica dez caravelas e duas urcas e esclarece o seguinte:
«Assentado que se fizesse esta fortaleza [de S. Jorge da Mina] mandou El Rei aperceber huma armada de dez caravelas e duas urcas em que fosse pedra lavrada, telha, madeira, e assi todalas outras munições, e mantimentos pera seiscentos homens, de que os cento eram officiaes pera esta obra, e os quinhentos de peleja; dos quaes navios era Capitão mór Diogo d’Azambuja pessoa mui experimentada nas causas da guerra; e os outros Capitães eram Gonçalo da Fonseca, Ruy de Oliveira, João Rodrigues Gante, João Afonso, que depois matáram em Arguim, sendo capitão daquella fortaleza João de Mourca, Diogo Rodrigues lnglez, Bartholomeu Dias, Pero d’Evora e Gomes Aires escudeiro delRey D. Pedro d’Aragão, o qual entrou em lugar de Pero d’Azambuja, irmão delle Diogo d’Azambuja, por morrer de peste primeiro que partissem de Lisboa, que a este tempo andava nella, todos homens nobres, e criados delRey. E os Capitães das urcas eram Pero de Cintra e Fernão d’Afonso», etc. (João de Barros, lbidem, década I, liv. III; cf. Padre António Brásio, lbidem, vol. I, pág. 19).
A transcrição é feita da edição de Lisboa, de 1778 – e por ela haveria de concluir-se que João de Barros errou, por inadvertência, a contagem: excluído João de Moura, ali indicado como capitão de Arguim, os capitães das caravelas seriam nove, o que estaria de acordo com o relato de Duarte Pacheco Pereira.
Mas a edição de Coimbra de 1932, conforme a princeps, revista e prefaciada pelo Dr. António Baião, reza de outra maneira:
«...dos quáes nauios éra capitã mór Diógo Dazãbuja pesóa muy experimêtada nas cousas da guerra; e os outros capitães eram Gonçálo Dafonseca, Ruy Doliueira, Joã Royz Gante, João Afonso, que depois matáram em Arguim sendo capitam daquella fortaleza, João de Moura Diógo Royz jngres, Bartholameu Diaz, Pero Déuora, e Gómez Aires escudeiro deI rey dom Pedro Daragam», etc.
O capitão da fortaleza de Arguim passa a ser João Afonso.
É de notar que também aqui se verifica o caos da pontuação, pois se suprime uma vírgula entre «Joam de Moura» e «Diógo Royz jngres»...
A edição do ilustre Prof. Doutor Hernâni Cidade, além das que traz a princeps, põe uma vírgula depois de Arguim – o que, todavia, não lhe altera o sentido.
Sendo diversas as fontes e desencontradas as edições do cronista, surgem, muito naturalmente, os desacordos entre os que as utilizam: o eminente historiador dos descobrimentos Prof. Doutor Damião Peres, fundando-se em João de Barros, diz que a frota era constituída por dez caravelas e duas urcas (Prof. Doutor Damião Peres, locs. cits.); os ilustrados historiógrafos Luciano Cordeiro e Marques Gomes, em conformidade com a informação de Duarte Pacheco Pereira, afirmam que era composta de nove caravelas e duas urcas (Luciano Cordeiro, Diogo /página 7/ d’Azambuja, pág. 28; Marques Gomes, Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo da Índia, pág. 2).
O que se tem como certo é que João Afonso capitaneava uma das caravelas.
Seria este João Afonso o navegador João Afonso de Aveiro?
Luciano Cordeiro presume que sim. No seu estudo sobre Diogo d’Azambuja lê-se o seguinte:
«No commando dos navios figuram nomes dos mais prestigiosos na descoberta e aventura marítima do tempo. Eram os capitães das caravelas, Gonçalo da Fonseca, Ruy de Oliveira, João Rodrigues Gante, João Afonso, certamente o de Aveiro, João de Moura, Diogo Rodrigues, Bartholomeu Dias, o que seis annos depois havia de dobrar o Cabo da Boa Esperança, Pedro d’Évora e Gomes Ayres. Dirigiam as urcas Pedro de Cintra e Fernão Affonso» (Luciano Cordeiro. Ibidem, pág. 28).
Albano da Silveira, investigador e historiador de grandes méritos, parece não ter sobre isso quaisquer dúvidas, pois se exprime deste modo:
«...n’este anno de 1486 João Affonso d’Aveiro, que fôra um dos capitães da armada de Diogo de Azambuja, descobria terras e assentava pazes no reino de Benim, situado além da Mina, cujo serviço elle mesmo viera relatar, trazendo como segura prova um Embaixador d’aquelle Rei» (Albano da Silveira, Memória chronológica acerca do descobrimento das terras do Preste João das Índias, cit. por Marques Gomes, lbidem, pág, 4).
Não sei se fundamentando-se apenas em João de Barros, Luciano Cordeiro e Albano da Silveira, que transcreve, se em quaisquer outras fontes, Marques Gomes afirma também, em tom de segurança:
«João Affonso antes das suas emprezas em Benim, de que resultou D. João II redobrar de esforços para encontrar o caminho marítimo da Índia, tomara parte na expedição de Diogo de Azambuja à costa da Mina em 1481 e bem assim na segunda (sic) de Diogo Cão às costas africanas em 1484» (Marques Gomes, lbidem, pág. 2).
Foi, ao que parece, reproduzindo Marques Gomes que o escritor aveirense Rangel de Quadros asseverou ter sido João Afonso de Aveiro um dos capitães da frota de Diogo de Azambuja (Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, fI. 102).
Mais recentemente, o erudito Prof. Edgar Prestage, cuja autoridade desnecessário se torna encarecer, escreveu, sem quaisquer hesitações:
«Em cumprimento da sua missão, Diogo de Azambuja largou de Lisboa a 12 de Dezembro de 1481, acompanhado por alguns dos mais notáveis marinheiros e descobridores daquele tempo, entre os quais Bartolomeu Dias e João Afonso de Aveiro» (Edgar Prestage, Descobridores Portugueses, 2.ª ed., pág. 238).
Fiado nestas notícias, julguei poder afirmar-se – e disse-o algures – que João Afonso de Aveiro havia tomado parte, como capitão de uma das caravelas, na expedição de Diogo de Azambuja à Costa da Mina (Cf. João Afonso de Aveiro - Introdução a um estudo sobre o famoso navegador aveirense, pág. 16, nota 2). Revendo agora o problema, continuo nesse convencimento, mas não devo ocultar que podem opor-se-lhe algumas objecções. João de Barros informa que os capitães das caravelas eram «todos homens nobres, e criados delRey». Isto não significa que fossem «filhos de algo» ou que eles próprios houvessem conquistado – mesmo a seguir ao feito e, portanto, à data em que João de Barros escreveu – quaisquer títulos nobiliárquicos. A expressão tem o alcance da empregada, exactamente em relação aos capitães da frota, pelo cronista Rui de Pina: «homens muy honrados, e criados del Rey», semelhante à usada por Duarte Pacheco Pereira «homeës muy honrrados e».
Aqueles «homens muy honrados» eram, quase todos, simples marinheiros, a um tempo modestos e valorosos: chamava-se-lhes assim por serem homens de coragem e persistência, argutos e sabedores, extraordinariamente aprumados e verdadeiramente peritos na sua arte.
Nisto consistia a sua nobreza – e assim se compreende que o João Afonso que capitaneava uma das caravelas fosse o humilde e afamado piloto João Afonso de Aveiro.
Há um facto sumamente importante que – a confirmar-se a identidade das pessoas – parece corroborá-lo.
Em 25 de Fevereiro de 1497, um João de Aveiro, querendo obter o mestrado de determinada caravela, apresentou-se nos casos do «almazem» da Guiné e aí requereu essa mercê, na presença dos célebres escudeiros e navegadores João de Lisboa e Bartolomeu Dias, cujos testemunhos, e especialmente o deste último, invocava para prova da sua competência. Este João de Aveiro era, segundo a douta opinião do Padre António Brásio, o celebrado navegador João Afonso de Aveiro (Cf. Litoral, ano V, n.º 253, de 29-VllI-1959).
Não causa a mínima estranheza que tivesse de oferecer a prova de que era «bom piloto e bom marinheiro», pois que tal seria formalidade /página 8/ necessária ao deferimento da pretensão.
O Bartolomeu Dias indicado como garante das aptidões de João de Aveiro foi, não qualquer outro dos que então usaram esse nome, mas um dos capitães da armada de Diogo de Azambuja – e exercia, ao tempo, o cargo de «recebedor do almazem da Guiné» (Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel, liv. 6, fol. 11, cit. pelo Prof. Doutor Damião Peres, lbidem, pág. 216). Muito logicamente se concluirá que podia certificar as altas qualidades de João de Aveiro pelo que dele conhecia da expedição à costa da Mina, em que ambos tomaram parte – e daí que o João Afonso referido pelo cronista seria o João Afonso de Aveiro (ou João de Aveiro) que mais tarde descobriu o reino e terras de Benim. Conclusão tanto mais aceitável quanto é certo que este não fez parte da frota de Bartolomeu Dias que dobrou o Cabo da Boa Esperança; os capitães das caravelas eram então, além daquele, João Infante e Diogo Dias ou Pero Dias; e os pilotos chamavam-se Pero de Alenquer e João de Santiago (Prof. Doutor Damião Peres, lbidem, págs. 213 e segs.).
Convém prevenir desde já que, ao contrário do que se afirma num trabalho recente (Dr. Francisco Ferreira Neves, Naturalidade e família de João Afonso de Aveiro, navegador e poeta do século XV, págs. 10 e 20), não se encontra de modo algum averiguada a época do falecimento de João Afonso de Aveiro – problema melindroso que, em lugar mais ajustado deste estudo, tentarei, na medida das minhas possibilidades, esclarecer.
Acontece, porém, que João de Barros acrescenta ao nome de João Afonso, que capitaneava um dos navios da armada de Diogo de Azambuja, esta indicação: «que depois mataram em Arguim». Ora tanto Rui de Pina como Garcia de Resende afirmam que João Afonso de Aveiro faleceu em Benim – e Elaine Sanceau, certamente porque os cronistas registaram que a terra era «de muito perygo, de doenças» ou «muyto doentia» afoita-se a precisar que ali «morreu de febres» (Elaine Sanceau, D. João lI, pág. 261).
João de Barros não o ignorava, pois repete que João Afonso de Aveiro faleceu na feitoria de Benim: «... e entre as pessoas de nome, que nella faleceram, foi o mesmo João Afonso d’Aveiro que a primeiro assentou» (João de Barros, lbidem; cf. Padre António Brásio, lbidem, vol. I, pág. 54).
Não pode, razoavelmente, confundir-se Arguim com Benim, aliás povoações bastante afastadas, nem uma morte violenta com uma morte natural – pelo que haveria de concluir-se que o João Afonso que tomou parte na armada de Diogo de Azambuja e mataram em Arguim era pessoa diversa do João Afonso de Aveiro que faleceu em Benim.
Atrevo-me, porém, a supor aqui uma das frequentes confusões de João de Barros.
O cronista indica como capitão de uma das caravelas um (João Afonso, que depois mataram em Arguim sendo capitam daquella fortaleza». Seria, portanto, posteriormente à expedição de Diogo de Azambuja que um João Afonso, capitão da fortaleza de Arguim, ali foi morto. Esta distância no tempo permite admitir um equívoco derivado da identidade dos nomes.
A hipótese ganha em consistência quando se considere que o João Afonso que capitaneava uma das caravelas era, necessariamente, um marinheiro, ao passo que o João Afonso capitão da fortaleza de Arguim seria, muito naturalmente, um chefe militar. Por via de regra, os navegadores iam a descobrir e os capitães militares a assegurar as descobertas, consolidando direitos de soberania e fixando bases de comércio (Cf. Luciano Cordeiro, lbidem, pág. 29).

Gil Eanes foi um navegador português, escudeiro do Infante D. Henrique, e cuja biografia permanece ainda pouco conhecida e muito discutida. Foi o primeiro a navegar para além do Cabo Bojador, em 1434, dissipando o terror supersticioso que este promontório inspirava e iniciando assim a época dos “grandes descobrimentos”.
O Infante D. Henrique conseguiu incentivar Gil Eanes a tentar a proeza da passagem.
Ao dobrar o cabo, reforçou o papel de Portugal como nação marítima.
De acordo com Gomes Eanes de Zurara, o Infante o armou cavaleiro e arranjou-lhe um rico casamento.
Sabe-se que em 1446 partiu para a exploração da costa da actual Mauritânia e combate aos Muçulmanos que tentavam impedir os progressos da navegação portuguesa através da pirataria, de onde trouxeram o maior número de escravos de sempre.
Regressou a meio da viagem devido ao mau tempo, não havendo mais dados biográficos concretos a partir dessa data, embora alguns historiadores afirmem que continuou a sua vida em Lagos.
Este navegador permitiu um grande avanço na época dos descobrimentos.
Entre 1424 e 1433, D Henrique enviou 15 expedições com a pesada missão de sobrepujar o cabo maldito.
O Cabo Bojador era conhecido como cabo do medo.
A 5 quilómetros da costa do cabo, em alto mar a profundidade é de apenas 2 metros, provavelmente devido ao assoreamento provocado por milhares de anos de tempestades de areia sopradas pelo deserto do Saara.
Ondas altíssimas e recifes de arestas pontiagudas fervilham àquela região tornando a navegação muito arriscada.
Em Maio de 1434, Gil Eanes aparelhou uma barca de 30 toneladas, com um só mastro, e uma única vela redonda e também movida a remos e parcialmente coberta.
Com ela ao chegar nas proximidades do cabo do medo, decidiu manobrar para Oeste afastando-se da costa africana.
Após um dia inteiro de navegação longe da costa, deparou com uma baía plácida de ventos amenos, e então dobrou para Sudeste e logo percebeu que havia deixado o Cabo Bojador para trás.

Nuno Tristão foi um navegador português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da actual Guiné-Bissau, iniciando entre os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar a costa ocidental da África a Sul do Cabo Branco.
Integrando um mouro que actuava como intérprete, a expedição liderada por Nuno Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do Noroeste africano, avançando até ao Golfo de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra, que, em contraste com as regiões desérticas a Norte, existiam muitas palmeiras e outras árvores e os campos pareciam férteis.
Em 1446 Nuno Tristão desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se prolongaria por quase 500 anos.
Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de 320 km a Sul do Cabo Verde.

Chegada à China Jorge Álvares
Foi um explorador português, o primeiro europeu a aportar directamente à China e a visitar o território que actualmente é Hong Kong em 1513.
Foi um dos portugueses que, de Malaca, se dirigiram à China, sendo o primeiro a chegar ao Sul da China, em 1513.
A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de Macau.
Possuía um Junco com o qual se dedicava ao comércio entre Malaca e Cantão, juntamente com Fernão Pires de Andrade e Rafael Perestrello, pioneiros desse comércio, considerado ilegal pelos Chineses.
Participou numa guerra contra o sultão de Bintão, capitaneando uma galé na Armada Portuguesa.
Com a abordagem de Tamang (Cantão), apesar da oposição do "Itau" (mandarim local), conseguiu estabelecer-se numa praia na ilha de Sanchoão, onde ergueu uma cabana que servia de refúgio aos comerciantes clandestinos e onde, para se achar como em terra portuguesa, fizera assentar um padrão.
Passou assim a ser considerado como feitor português de Tamang, continuando, no seu Junco, a navegar pelas Molucas.
Nestas águas veio a ser atacado pelos indígenas de Ternate, vindo a ser gravemente ferido. Veio a falecer na sua cabana, pedindo que fosse enterrado junto ao padrão que fizera erigir.

Macau
Macau é desde 20 de Dezembro de 1999 uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Antes desta data, foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada o primeiro entreposto, bem como a última colónia europeia na China. Esta administração teve começo em meados do século XVI.
Nesta altura os portugueses trouxeram prosperidade a este pequeno pedaço de terra, tornando-a numa grande cidade e importante intermediário no comércio entre a China, a Europa e o Japão, fazendo com que  atingisse o seu auge nos finais do século XVI e nos inícios do século XVII.
Só em 1887 é que a China reconheceu oficialmente a soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau, através do "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português".
Em 1967, como consequência do Motim levantado pelos residentes chineses pró-comunistas de Macau no dia 3 de Dezembro de 1966, Portugal renunciou a sua ocupação perpétua sobre Macau.
Em 1987, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países concordaram que Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de Dezembro de 1999.
Actualmente, Macau está a experimentar um grande e acelerado crescimento económico, baseado no acentuado desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, as duas actividades económicas vitais desta região administrativa especial chinesa.
É constituída pela Península de Macau e por duas ilhas (Taipa e Coloane, entretanto com a ligação feita por terra seca por meio de um aterro, o istmo de Cotai), numa superfície total de 28,6 km². Macau situa-se na costa meridional da República Popular da China, a Oeste da foz do Rio das Pérolas e a 60 km de Hong Kong, que se encontra aproximadamente a Este de Macau. Faz fronteira a Norte e a Oeste com a Zona Económica Especial de Zhuhai, logo é adjacente à província de Guangdong.
Macau efectua muitos aterros para reclamar/obter mais espaços de construção à foz do Rio das Pérolas.
Tem cerca de 538 mil habitantes, sendo a esmagadora maioria de etnia chinesa.
Após o estabelecimento da RAEM, Macau actua sob os princípios do Governo Popular Central Chinês da RPC de “um país, dois sistemas”, de “Administração de Macau pela Gente de Macau” e de “Alto Grau de Autonomia”, gozando por isso de um estatuto especial, semelhante ao de Hong-Kong, e possuindo consequentemente um elevado grau de autonomia, limitando-se apenas no que se refere às suas relações exteriores e à defesa.
 Foi também garantido pela RPC a preservação do seu sistema económico-financeiro e das suas especificidades durante pelo menos 50 anos, isto é, pelo menos até 2049.
Os portugueses estabeleceram-se ilegal e provisoriamente em Macau entre 1553 e 1554, sob o pretexto de secar a sua carga.
Em 1557, as autoridades chinesas deram finalmente autorização para os portugueses se estabelecerem permanentemente em Macau, concedendo-lhes um considerável grau de autonomia.
Em troca, os portugueses foram obrigados a pagar aluguer anual (cerca de 500 taéis de prata) e certos impostos a estas autoridades, que defendiam que Macau continuava a ser parte integrante do Império Chinês.
As autoridades chinesas, desde sempre portadoras de algum medo e desprezo pelos estrangeiros, passaram a supervisionar atentamente os portugueses de Macau e a exercer, até meados do século XIX, uma grande influência na administração deste estabelecimento comercial.
Desde então, Macau desenvolveu-se como um entreposto e intermediário para o comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa, numa época em que as autoridades da China proibiram o comércio directo com o Japão por mais de cem anos.
Para além de ser um entreposto comercial, Macau desempenhou também um papel activo e fulcral na disseminação do Catolicismo, ao tornar-se num importante ponto de formação e de partida de missionários católicos para os diferentes países do Extremo Oriente, principalmente para a China.
Por este motivo, o Papa Gregório XIII criou, em 1576, a Diocese de Macau. Estes missionários desempenharam também um papel importante no intercâmbio cultural, científico e artístico entre a China e o Ocidente, e no desenvolvimento da cultura e da educação de Macau.
Em 1583, foi criada o Leal Senado, a sede e o símbolo do poder e do governo local, pelos moradores portugueses, mais precisamente pelos comerciantes, de Macau.
Este organismo político, considerado como a primeira câmara municipal de Macau, foi fundada com o objectivo de proteger o comércio controlado por Macau, de estabelecer ordem e segurança para esta cidade e de resolver os e problemas quotidianos.
Apesar de a partir de 1623 Macau passar a ter um Governador português, o Leal Senado, até à primeira metade do século XIX, continuou a manter uma grande autonomia e a exercer um papel fundamental na administração da cidade.
Devido à sua prosperidade, Macau foi várias vezes atacada pelos holandeses ao longo da primeira metade do século XVII.
O ataque mais importante teve início em 22 de Junho de 1622, quando cerca de 800 soldados holandeses desembarcaram, numa tentativa de conquistar a cidade.
Após dois dias de combate, em 24 de Junho, os invasores foram derrotados, sofrendo elevadas baixas (cerca de 350 mortes) e conseguindo abater apenas algumas dezenas de portugueses. Para Macau, desprevenida, esta vitória foi considerada um milagre.
Em 1638-1639, o comércio português com o Japão foi interrompido, devido às políticas de isolamento levados a cabo pelo então Xogum japonês, Tokugawa Iemitsu.
Este acontecimento afectou seriamente a economia de Macau, que rapidamente entrou em declínio.

Descoberta de Taiwan
O conhecimento da existência da ilha Formosa (actual Taiwan) pelos ocidentais ocorreu por volta de 1544 quando navegadores portugueses passaram ao largo da ilha e a registaram como ilha Formosa.
Apenas em 1582 aportaram e por acidente.
Um navio capitaneado por André Feio naufragou devido a um banco de areia na costa setentrional da ilha e permaneceu nesta durante cerca de 10 semanas.
Os efeitos da malária e os constantes ataques por parte dos aborígenes conduziram à fuga dos sobreviventes para Macau dentro de uma balsa.
Em 1600 foi estabelecido um entreposto comercial português que foi de pouca dura.
A ocupação espanhola de Portugal conduziu posteriormente ao abandono deste entreposto,  ficando os holandeses por intermédio da Companhia Holandesa das Índias Orientais a controlar o comércio para ocidente a partir da ilha Formosa (1624). 

João de Barros nasceu segundo uns historiadores em Viseu, outros inclinam-se para Braga ou para Vila Real, e ainda outros para a Ribeira de Alitém (Pombal) no ano de 1496, sendo um dos mais insignes escritores e historiadores portugueses da sua época. Oriundo de famílias nobres foi educado na corte de D. Manuel I no apogeu dos descobrimentos portugueses. Na sua juventude já demonstrava um carácter de índole literária, iniciando a escrita com um romance de cavalaria “A Crónica do Imperador Clarimundo, donde os Reis de Portugal descendem”, dedicando-o ao príncipe D. João, com pouco mais de vinte anos de idade.
No ano de 1521 quando D. João III subiu ao trono, este concedeu a João de Barros o cargo de capitão da fortaleza de São Jorge da Mina.
Em 1525 foi nomeado tesoureiro da Casa da Índia, missão que ocupou até ao ano de 1528.
A peste negra que atingira quase toda a Europa também se fez sentir em Portugal e no ano de 1530, João de Barros refugiou-se na sua Quinta de Alitém, onde concluiu o seu diálogo moral “Rhopicapneuma”, alegoria que recebeu os maiores elogios de Jusan Luis Vives, de origem catalã.
Após dois anos regressou a Lisboa no ano de 1532 onde D. João III o designou como feitor da Casa da Índia e da Mina, cargos que desempenhou com grande destaque e responsabilidade, numa Lisboa que era naquele tempo um empório a nível europeu, para todo o comércio originário do oriente.
Desempenhou uma administração exemplar ao contrário dos seus antecessores que acumularam enormes fortunas com os cargos então exercidos.
No ano de 1535 e após D. João III, ter procedido a reformas acentuadas na colónia do Brasil, com o fim de atrair colonos e evitar as tentativas da penetração francesa, dividiu a colónia em capitanias hereditárias, seguindo um sistema já aplicado nas ilhas atlânticas; agraciou João de Barros com a posse de duas capitanias em parceria com Aires da Cunha, o “Ceará” e o “Pará”; partiram no ano de 1539 com uma armada composta por dez embarcações e novecentos homens.
A expedição não foi feliz, devido aos erros cometidos pelos seus pilotos, indo aportar às Caraíbas espanholas, o que lhe provocou enormes prejuízos, levando em atenção o seu grande humanismo.
Pagou as dívidas aos familiares dos que haviam falecido na expedição.
Os anos em que permaneceu no Brasil, dedicou-os aos estudos durante as horas vagas; logo após a desastrosa expedição ao Brasil, publicou a “Gramática da Língua Portuguesa”, e uma “Cartilha para Aprender a Ler” com o fim de auxiliar o ensino da língua materna.
Após este trabalho, reassumiu um compromisso que lhe havia sido endereçado por D. Manuel I: a escrita de uma história que narrasse os feitos dos portugueses na Índia.
Mas a obra marcante de João de Barros, foi sem dúvida alguma as “Décadas da Ásia” (Ásia de João de Barros, dos feitos que os Portugueses fizeram na conquista e descobrimento dos mares e terras do Oriente).
O nome “Décadas” agrupa os acontecimentos por livro em períodos de dez anos.
A primeira década foi publicada em 1522, a segunda em 1553, a terceira em 1563 e a quarta, inacabada foi mais tarde completada por João Baptista Lavanha e publicada após a sua morte no ano de 1615 em Madrid.
A escrita de João de Barros é admirável de pureza, vigor e propriedade valendo-lhe o cognome de “Tito Lívio Português”.
O estilo de prosa fluente e rico pouco interesse despertou em vida, sendo somente conhecida uma tradução italiana em Veneza, em 1563.
D. João III, entusiasmado com a obra ora apresentada solicitou a João de Barros que redigisse uma crónica relativa a D. Manuel I, o que João de Barros declinou evocando os muitos afazeres na Casa da Índia, sendo este trabalho redigido por outro grande humanista português Damião de Góis.
No ano de 1568 sofreu um acidente vascular, sendo exonerado das suas funções recebendo um título de fidalguia e uma tença régia do rei D. Sebastião.
Veio a falecer na sua Quinta de Alitém, no ano de 1570, na maior das misérias, sendo tantas as dívidas que os filhos renunciaram ao seu testamento.
As ilhas Canárias são conhecidas desde a Antiguidade: existem relatos fidedignos e vestígios arqueológicos da presença cartaginesa na ilha. Foram descritas no período greco-romano a partir da obra de Juba II, rei da Numídia, que as mandou reconhecer e que, afirma-se, por nelas ter encontrado grande números de cães, deu-lhes o nome de "Canárias" ("ilhas dos cães"). São referidas por autores posteriores como "Ilhas Afortunadas". Depois de um período de isolamento, resultado da crise e queda do Império Romano do Ocidente, e das invasões dos povos bárbaros, as ilhas foram redescobertas e novamente visitadas com regularidade por embarcações europeias a partir de meados do século XIII. A sua redescoberta é reivindicada por Portugal em período anterior a Agosto de 1336. A sua posse, entretanto, foi atribuída ao reino de Castela pelo Papa Clemente VI, o que suscitou um protesto diplomático de D. Afonso IV de Portugal, por carta de 12 de Fevereiro de 1345: “Ao Santíssimo Padre e Senhor Clemente pela Divina Providência Sumo Pontífice da Sacrossanta e Universal Igreja, Afonso rei de Portugal e do Algarve, humilde e devoto filho Vosso, com a devida reverência e devotamento beijo os beatos pés. (…)Respondendo pois à dita carta o que nos ocorreu, diremos reverentemente, por sua ordem, que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas Ilhas [Afortunadas]. E nós, atendendo a que as referidas ilhas estavam mais perto de nós do que qualquer outro Príncipe e a que por nós Apontamentos: Escudo 26 podiam mais comodamente subjugar-se, dirigimos para ali os olhos do nosso entendimento, e desejando pôr em execução o nosso intento mandámos lá as nossas gentes e algumas naus para explorar a qualidade daquela terra. Abordando às ditas Ilhas se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com muito prazer aos nossos reinos. Porém, quando cuidávamos em mandar uma armada para conquistar as referidas Ilhas, com grande número de cavaleiros e peões, impediu o nosso propósito a guerra que se ateou primeiro entre nós e El-rei de Castela e depois entre nós e os reis Sarracenos. (…)” Nos séculos seguintes, com o consentimento papal e o apoio da Coroa castelhana, organizaram-se várias expedições comerciais em busca de escravos, peles e tinta. Em 1402 iniciou-se a conquista destas ilhas com a expedição a Lanzarote dos Normandos Jean de Bethencourt e Gadifer de la Salle, sob vassalagem dos reis de Castela e com o apoio da Santa Sé. Devido à localização geográfica, à falta de interesse comercial e à resistência dos Guanches ao invasor, a conquista só foi concluída em 1496 quando os últimos Guanches em Tenerife se renderam. A conquista das Canárias foi a antecedente da conquista do Novo Mundo, baseada na destruição quase completa da cultura indígena, rápida assimilação do cristianismo, miscigenação genética dos nativos e dos colonizadores. Uma vez concluída a conquista das ilhas, passa a depender do reino de Castela, impõe-se um novo modelo económico baseado na monocultura (primeiro a cana-de-açúcar e posteriormente o vinho, tendo grande importância o comércio com Inglaterra). É nesta época que se constituíram as primeiras instituições e órgãos de governo (Cabildos e Concelhos). As Canárias converteram-se em ponto de escala nas rotas comerciais com a América e África (o porto de Santa Cruz de La Palma chega a ser um dos pontos mais importantes do Império Espanhol), o que traz grande prosperidade a determinados sectores da sociedade, mas as crises da monocultura no século XVIII e a independência das colónias americanas no século XIX, provocaram graves recessões. No século XIX e na primeira metade do século XX, a razão das crises económicas é a Imigração cujo destino principal é o continente americano. No início do século XX é introduzido nas ilhas Canárias pelos ingleses uma nova monocultura: a banana. A rivalidade entre as elites das cidades de Santa Cruz e Las Palmas pela capital das ilhas levará que em 1927 se tome a decisão da divisão do arquipélago em províncias. Actualmente a capital esta dividida nas duas cidades. Navegação Astronómica Navegação astronómica é parte de um ramo das ciências astronómicas usada para fins de orientação e cuja missão é fazendo uso de tábuas Apontamentos: Escudo 27 logarítmicas, anular os movimentos de translação e rotação do planeta Terra a fim de congelar os aparentes, relativos ao Sol, à Lua e às estrelas durante os 365 dias do ano. O sistema oferece ao navegador para cada momento da observação a posição exacta das estrelas como se estivessem sempre fixas no céu. Esse conhecimento, feito com a comprovação da altura das estrelas em relação ao horizonte, permite ao navegador corrigir a sua posição estimada. No século XV os navegadores portugueses possuíam conhecimentos cosmográficos que permitiam a navegação através do cálculo da latitude e da longitude. Contudo, com as navegações de descoberta depararam-se com novas realidades que tiveram de estudar e às quais tiveram de se adaptar. Contam-se entre estas inovações a descoberta da galáxia de Magalhães e a publicação em 1496 do Almanach Perpetuum Celestium Motum, obra constante de tabelas de declinações do astrónomo real Abraão Zacuto, que se tornou essencial, a par da de Pedro Nunes (matemático ao serviço do rei D. Manuel I), para a navegação. Pedro Nunes desempenhou um papel fundamental, uma vez que concebeu instrumentos diversos através da aplicação da geometria e da matemática para a navegação através da medição da altura do Sol, como um que se parecia a um relógio de Sol e que foi utilizado por D. João de Castro, o "Instrumento das Sombras", o "Anel Náutico" e o "Nónio". 
As Canárias são um arquipélago situado a cerca de 100 km do litoral de Marrocos, na África. Compreende as ilhas de Tenerife, Grand Canária, La Palma, La Gomera, El Hierro, Lanzarote, Fuerteventura e pequenas ilhas desabitadas. Formam uma comunidade autónoma da Espanha. A capital é compartilhada entre as cidades de Santa Cruz de Tenerife e Las Palmas, na Grand Canária.
O ponto mais alto (de toda a Espanha) é o Pico de Teide, de origem vulcânica, com 3.718 m, em Tenerife.

As Canárias são conhecidas desde a antiguidade. Em 1402, foram ocupadas pelos espanhóis. Em 1479, as Canárias foram a referência da primeira divisão das terras do além-mar, entre Portugal e Espanha, pelo Tratado de Alcáçovas, revisto em 1494, em Tordesilhas.

Chegada a Tanegashima 

Tanegashima é uma ilha do Sul do Japão, situada no arquipélago Ōsumi, ao Sul de Kyushu. Faz parte da província de Kagoshima e é a segunda maior do arquipélago. A ilha de Tanegashima é uma longa e estreita faixa de terra cuidadosamente cultivada, medindo 57,5 quilómetros norte-sul, e 5-12 km de leste-oeste. Na ilha há uma cidade, Nishinoomote, e duas vilas, Nakatane e Minamitane, pertencentes ao distrito de Kumage. O novo aeroporto de Tanegashima serve a ilha, oferecendo voos diários para Kagoshima e Osaka. Esta ilha de Tanegashima é celebrada como o local do primeiro contacto conhecido entre Europeus e Japoneses, em 1543. Um entreposto comercial Ryukyuan fora aí estabelecido há várias décadas, e todo o tráfego de Ryukyus para Kagoshima em Kyushu, no sul do Japão, era obrigado a passar por esta estação. Foi assim que um navio Português, desviando-se da rota da China para Okinawa, aportou em Tanegashima, e não directamente no Japão. Introdução da Espingarda no Japão Até aos tempos modernos, as armas de fogo eram coloquialmente conhecidas no Japão como "Tanegashima", devido a terem sido introduzidas aí pelos primeiros portugueses desse navio. Nas suas memórias publicadas em 1614, o aventureiro e autor Fernão Mendes Pinto colocou-se nesse primeiro desembarque, embora esta afirmação tenha sido desacreditada e, contradizendo com as suas pretensões de estar simultaneamente em Mianmar no momento. No entanto, parece ter visitado Tanegashima pouco depois. Os europeus chegaram para comerciar, não só armas, mas também sabão, tabaco e outros produtos desconhecidos no Japão medieval, por produtos japoneses. Apontamentos: Escudo 56 Desde que em 1543 as armas de fogo foram introduzidas, os famosos artesãos metalúrgicos de Tanegashima expandiram suas técnicas originais para incluir a criação de armas de fogo de alta qualidade em grande escala. Tanegashima era e mantém-se conhecida pelo fabrico tradicional de ferramentas de ferro, especialmente facas e tesouras. Os artesãos em Tanegashima têm mantido vivas as técnicas tradicionais para produzir e afiar ferramentas. Tanegashima é também conhecida como o centro de produção de ferro desde cerca de 1185, quando o clã Taira vindo de Quioto foi aí exilado por Minamoto no Yoritomo, trazendo consigo artesãos e cozinheiros. O povo fala com um sotaque de Quioto, mesmo hoje. A técnica dos artesãos de Tanegashima é única no mundo, e produz instrumentos usado por muitos chefs em Kyoto e Kansai, e tesouras "Tane-Basami" tesoura, preferida por muitos para a arte do Bonsai. Arte Namban A arte Namban desenvolveu-se no Japão entre 1500-1600, durante o chamado Período de comércio Namban influenciado pelos primeiros contactos com europeus, iniciados com a chegada dos portugueses em 1543. A origem do nome "Namban" vem de "Naban-jin", ou "bárbaros do sul", termo com que os japoneses apelidaram os europeus. Reflecte os contactos comerciais com europeus, no que é um dos primeiros exemplos conhecidos de ocidentalização na Ásia. Uma das maiores colecções de arte Namban está preservada no Museu da Cidade de Kobe, no Japão. Também em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga, pode-se ver uma importante colecção de biombos Namban mostrando os portugueses a negociar no Japão. Enviados Daimius de Kiushu Em 1582 foi enviada uma embaixada constituída por quatro adolescentes cristãos japoneses que viajaram até à Europa no navio português que fazia anualmente esta carreira. Os seus nomes eram Mancio Ito (representante do daimiu de Bungo), Michael Chijiwa (representante do daimiu de Omura e Arima) e os seus acompanhantes Marin Hara e Julian Nakaura. A acompanhar a embaixada foi o seu professor português, o jesuíta português Frei Diogo Mesquita. Apontamentos: Escudo 57 A Viagem tinha como objectivos proporcionar um contacto dos Europeus com a cultura japonesa por intermédio destes jovens, chamando a atenção para a importância da missão no Japão e impressionar os adolescentes japoneses com a cultura europeia para estes ajudarem a europeizar o Japão. A viagem decorreu por várias etapas: Japão, Macau, Malaca, Índia, Moçambique. Terminou após dois anos e meio em Lisboa em 1534. Em Portugal foram apresentados a várias autoridades, entre as quais o Arcebispo de Lisboa e a Frei Luís de Granada. Tiveram ainda oportunidade de visitar os monumentos mais impressionantes da cidade entre os quais, o Mosteiro dos Jerónimos. Posteriormente seguiram para a Espanha onde foram recebidos pelo rei Filipe II (I de Portugal) em Madrid. Daí seguiram para Roma onde foram recebidos pelo Papa Gregório e permaneceram na cidade até à coroação do novo Papa (Sisto V). Regressaram posteriormente passando por Veneza, Mmilão, Saragoça, Madrid, Évora e Coimbra antes de embarcarem para o regresso em Lisboa de onde saíram em 8 de Abril de 1586. Chegaram a Nagasaki em 1590 (dezoito anos depois da sua partida). Nesta altura a governação no Japão tinha sido mudada e os cristãos expulsos.

Malaca
Malaca (em malaio, Melaka) é o terceiro menor estado da Malásia, após Perlis e Penang. Encontra-se na porção meridional da Península Malaia, à beira do estreito de Malaca. Limita com Negeri Sembilan ao norte e com Johor a leste. Sua capital é a cidade de Malaca. Embora Malaca já tenha sido um dos mais antigos sultanatos malaios, o estado actualmente não é governado por um sultão e sim por um governador. Em 2008 foi declarada Património Mundial pela UNESCO. Da presença portuguesa na cidade sobrevivem a Igreja de São Paulo e a Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca, conhecida como "A Famosa". Apontamentos: Escudo 79 Em Abril de 1511, Afonso de Albuquerque zarpou de Goa para Malaca com uma força de cerca de 1 200 homens em 17 ou 18 navios. Malaca tornou-se uma base estratégica para a expansão portuguesa nas Índias Orientais, subordinada ao Estado Português da Índia. Mahmud Xá, último sultão de Malaca, refugiou-se no interior, de onde empreendia ataques intermitentes por terra e mar. Para defender a cidade, os portugueses ergueram um forte. Em 1521 o Capitão Duarte Coelho Pereira construiu a igreja de Nossa Senhora do Monte. Em 1526, uma grande força de navios portugueses comandada por Pedro Mascarenhas foi enviada para destruir Bintan, onde estava Mahmud. O sultão fugiu com sua família para Sumatra, do outro lado do estreito, onde veio a falecer dois anos depois. Logo ficou claro que o controlo português de Malaca não significava o controlo do comércio asiático que por ali passava. Seu domínio sobre o local sofria com dificuldades administrativas e económicas. Em vez de concretizar sua ambição de controlar o comércio asiático, o que os portugueses haviam logrado fora desorganizar a rede mercantil da região. Desaparecera o porto centralizador do comércio e, com ele, o Estado que policiava o estreito de Malaca. O comércio espalhou-se por diversos portos. O missionário jesuíta Francisco Xavier passou vários meses em Malaca em 1545, 1546 e 1549. Em 1641, forças da Companhia Holandesa das Índias Orientais bateram os portugueses e capturaram Malaca com o apoio do sultão de Johore. Os holandeses governaram Malaca de 1641 a 1795, mas não se interessaram em desenvolvê-la como centro comercial, preferindo enfatizar o papel de Batávia (actual Jacarta). Malaca foi cedida aos britânicos pelo tratado Anglo-holandês de 1824, em troca de Bencoolen, em Sumatra. Entre 1826 e 1946, Malaca foi governada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e, em seguida, como uma colónia da Coroa. Integrava os chamados Straits Settlements, juntamente com Singapura e Penang. Com a dissolução desta colónia, Malaca e Penang tornaram-se parte da União Malaia (actual Malásia). Molucas As Ilhas Molucas (ou Malucas) são um arquipélago da Insulíndia que faz parte da Indonésia, localizado entre Celebes (Sulawesi) e a Nova Guiné. É limitado a sul pelo Mar de Arafura, a oeste pelos mares de Banda e das Molucas e a norte pelo Mar das Filipinas e a noroeste pelo Mar de Celebes. Nos séculos XVI e XVII, as ilhas correspondentes à actual província das Molucas do Norte eram chamadas "Ilhas das Especiarias". Àquela época, a região era a única fornecedora mundial de noz-moscada e Cravo-da-índia, especiarias extremamente valorizadas nos mercados europeus, vendidas Apontamentos: Escudo 80 por mercadores árabes à República de Veneza a preços exorbitantes, com os negociantes a nunca divulgarem a localização exacta da origem, pelo que nenhum europeu conseguia deduzir a sua origem. Em 1511-12, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar às Molucas, em procura das afamadas especiarias. Os Holandeses, os espanhóis e reinos locais, como Ternate e Tidore, disputaram o controlo do lucrativo comércio de especiarias. As árvores de noz-moscada e cravo-da-Índia foram posteriormente transplantadas para o mundo inteiro, o que reduziu a importância internacional da região. Em Novembro desse ano, ficando a saber a localização das "ilhas das especiarias", enviou uma expedição de três navios comandados pelo seu amigo de confiança António de Abreu para as encontrar. Pilotos malaios foram recrutados e obrigados, guiando-os via Java, as Pequenas Ilhas de Sunda e da ilha de Ambão até às Ilhas Banda, onde chegaram no início de 1512. Aí permaneceram, como primeiros europeus a chegar às ilhas, durante cerca de um mês, comprando e enchendo os seus navios com noz-moscada e cravinho. Abreu partiu então velejando por Ambão enquanto o seu vice-com andante Francisco Serrão se adiantou para as ilhas Molucas mas naufragou terminando em Ternate. Ocupados com hostilidades noutros pontos do arquipélago, como Ambão e Ternate, só regressariam em 1529. A princípio, estas várias ilhas eram habitadas por australasianos. Com a navegação e o comércio malaio na região, surgiu uma colonização malaia. No século X chegaram os mercadores árabes, que atravessavam o Oceano Índico em busca de especiarias. Com eles foi a religião islâmica, que acabou tornando-se a principal na região. Chamavam as ilhas do extremo oriente de Al Maluk. Pela extrema dificuldade em se atravessar metade da Terra, saindo de Mascate ou de Áden, os comerciantes que faziam tais viagens eram apelidados de "malucos", que acabou como sinónimo de "louco". Mais tarde, quando os Otomanos passaram a representar o Califado e as nações islâmicas, os mercadores árabes aumentaram muito seu mercado na região, a ponto dos otomanos estabelecerem guarnições nas ilhas (embora, nominalmente, nunca tenham pertencido de fato ao Império Otomano). Para os europeus que acabavam de se lançar ao mar, a produção de especiarias das distantes ilhas era uma mina de ouro. Os primeiros relatos europeus escritos sobre a região são da Suma Oriental, um livro escrito pelo boticário (farmacêutico) português Tomé Pires estabelecido em Malaca entre 1512-15 mas que visitou Banda várias vezes. Na primeira visita contactou os portugueses e principalmente os marinheiros malaios em Malaca, calculando então a população entre 2500- 3000. Reportou os bandaneses como parte de uma rede de comércio abrangendo toda a Apontamentos: Escudo 81 Indonésia e os únicos comerciantes de longo curso nativos das Molucas a transportar produtos para Malaca, embora alguns carregamentos de Banda também fossem feitos por mercadores javaneses. Além da noz-moscada e macis, Banda mantinha também um significativo entreposto de comércio. Entre os produtos que passavam por Banda estavam o cravinho de Ternate e Tidore, a norte, penas de aves do paraíso das ilhas Aru e da Nova Guiné, entre outros. Logo após a viagem de circum-navegação executada por Fernão de Magalhães, em 1519, comprovando a esfericidade da Terra, tornou-se necessário a revisão dos tratados de demarcação que dividiram as terras descobertas, no período das Grandes Navegações, entre Portugal e Espanha. Inicialmente, admitia-se como ponto de referência as ilhas de Cabo Verde, a noroeste do continente africano. Pela Bula Intercoetera, todas as terras a 100 léguas oeste dessas ilhas, seriam de controlo espanhol, enquanto o lado leste caberia a Portugal. Logo após, o acordo foi reformulado através do Tratado de Tordesilhas, que avançava a linha para 370 léguas oeste. Porém, com a circum-navegação, tornava-se necessário a demarcação do limite no outro extremo do globo. Esse limite foi imposto sobre as ilhas Molucas, usadas como referência. As terras que estivessem a Leste pertenceriam a Espanha; as que estivessem a Oeste, a Portugal, até ao mencionado no tratado. Porém, até ao início do século XVII, este tratado não obteve o mínimo efeito na região, uma vez que esta ficava muito distante de Lisboa e suas colónias, mas viável para os árabes e otomanos, que mantiveram o controlo económico, cultural e político sobre as ilhas até a consolidação da colonização holandesa em toda a Indonésia. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano em sua aliança com o Império Alemão tentou retomar as ilhas. Solor e Timor Solor é uma ilha vulcânica das Pequenas Ilhas de Sunda, na Indonésia. Dá nome a um arquipélago, situado a leste da ilha das Flores, constituído igualmente pelas ilhas de Adonara e Lomblen (ou Lembata). Com cerca de 40 km de comprimento por 6 km de largura, tem cinco vulcões. Forças portuguesas estabeleceram-se na ilha em 1520, erguendo uma fortificação na aldeia costeira de Lamakera, no extremo leste da ilha, para apoio à navegação entre as Molucas e Malaca. A fortificação foi abandonada em meados do século XVII. Timor é uma ilha da Insulíndia, politicamente repartida em duas metades: o Timor Oeste (ou Nusa Tenggara Timur), que constitui uma província da Indonésia, e Timor-Leste, outrora uma colónia portuguesa, mais tarde ocupada e anexada pela Indonésia em Novembro de 1975, e que se tornou independente em 2002. Em Timor-Leste a língua portuguesa é falada por cerca de 5% da população. A língua tétum predomina e é língua co-oficial, junto com o português. De acordo com fontes antropológicas, a ilha já se encontrava habitada por um pequeno grupo de caçadores e agricultores por Apontamentos: Escudo 82 volta de 12 000 a.C.. A abundância de madeira de sândalo, mel e cera de abelhas na ilha, atraiu a atenção de comerciantes da China esporadicamente a partir do século VII. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam tributo ao reino de Java. O nome Timor provém do nome dado pelos Malaios à Ilha onde está situado o país, Timur, que significa Leste. A formação do comércio local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo para a diversidade étnico-cultural. O primeiro documento europeu conhecido que fala da ilha é uma carta de Rui Brito Patalin a D. Manuel I, datada de 6 de Janeiro de 1514, na qual são referidos navios que tinham partido para Timor. Atraídos inicialmente pelos recursos naturais, os portugueses trouxeram consigo missionários e a religião católica. Com a chegada do primeiro governador, vindo de Portugal em 1702, deu-se início à organização colonial do território, criando-se o Timor Português. Lenda da Criação de Timor Em tempos idos, lá para terras de Macaçar, um desolado crocodilo saiu do seu coito, com a mira de se alimentar. Era Verão, pelo que os campos feneciam de aridez. Perto dum coilão, onde o crocodilo vivia alapardado, ficava uma pequena e humilde povoação. Para ali se dirigiu, indo colocar-se à sombra duma grande e velha árvore, à coca dum rafeiro vadio, dum porco, ou de qualquer cabrito descuidado. Mas, por mais que se tivesse aproximado daquela desolada povoação, nada conseguiu lograr. Regressou, pois, amargurado e faminto. O Sol, que a sombra da velha árvore encobria, mitigando-lhe o ardor, ia já alto. Quando, merencório, abandonou a frescura daquele sítio, era já meio-dia; fora, a terra escaldava; para chegar à foz da ribeira, ainda tinha muito que rastejar, e as margens eram só areia escaldante. Então, tentou mover-se apressadamente; mas, a meio caminho, não podia sofrer mais, porque a areia queimava como fogo. Arrastava-se penosamente, atormentado pela fome e por um calor infernal, sem que o refrigério duma nuvem passageira viesse reconfortá-lo. O infeliz crocodilo gemia e contorciase, sentindo que a morte se aproximava. A sua angústia era imensa! Um rapazito, que por acaso passava perto, a tomar o seu banho, ouviu aqueles gemidos lancinantes. Aproximou-se, solícito, para saber donde proviriam aqueles gritos. Ao ver o pobre animal prestes a morrer, disse para consigo: “Coitado deste netinho crocodilo, uns minutos mais e morrerias!”. Tentou levantá-lo e, vendo que não pesava muito, transportou-o para a água. O crocodilo, ao sentir-se de novo dentro de água, recobrou ânimo, exultando de satisfação, sem saber como agradecer ao seu salvador. Mas, passados os primeiros momentos, disse, movido de gratidão: “De hoje em diante seremos grandes amigos. Aí do crocodilo que ousar molestar-te!… Desejando passear pelas ribeiras ou pelos mares, basta que me chames e digas: amigo, lembra-te do bem que te fiz; e eu virei logo oferecer-te o meu dorso para viajares por onde te aprouver. Se for do teu agrado, partiremos agora mesmo.” E, confiante, lá andou o rapazito a vogar, às costas do crocodilo, sendo já tarde quando voltou a casa. Dali em diante, sempre que desejasse fazer-se ao mar, bastava-lhe Apontamentos: Escudo 83 chamar pelo amigo crocodilo, para que este aparecesse como por encanto. Foi assim durante muito tempo. Mas um dia o crocodilo deslizou com o amigo para o alto mar, e aí o seu instinto sentiu grande tentação. Teve ganas de tragar o seu amigo. Mas resistiu a tão feia tentação. Resolveu aconselhar-se francamente com os peixes do mar e, por fim, também com um cachalote: “A uma pessoa que nos valeu, devemos fazer bem ou mal?”. Todos responderam que devemos fazer bem. Mas esta resposta não lhe satisfez os instintos, e a saliva começava a crescer-lhe na boca, embora no fundo do seu íntimo ele se esforçasse por resistir. Consulta, então, todos os animais da terra, e todos respondem como os peixes. Finalmente deseja saber a opinião do macaco. Este, pulando dum lugar para outro e arregalando muito os olhos, indaga estupefacto: “Que dizes tu?”. E o crocodilo repete o que dissera já aos outros animais. Aqui o macaco pára, sentado num ramo, ao lado do crocodilo, e prega-lhe esta reprimenda mestra: “Tu não tens vergonha?! Tu, a quem, um dia, estando prestes a morrer, à torreira do sol, este jovem desconhecido ergueu e transportou para o mar; tu queres agora, em paga, devorá-lo?!” E, vituperando-o ainda mais por tão feio pensamento, aviltou-o quanto pôde e afastou-se para o cume da árvore. O crocodilo, confuso e transido de vergonha, não pensou mais em devorar o seu grande amigo. Mas, levando-o, um dia, em direcção ao oriente, e entrando no mar de Timor, disse-lhe reconhecido: “Meu bom amigo, o favor que me fizeste jamais o poderei pagar. Dentro em breve eu devo morrer; deves voltar para terra, tu, os teus filhos, todos os teus descendentes, e comer a minha carne em paga do bem que me fizeste.” Baseados nesta lenda, os velhos afirmam que a ilha de Timor, principiando em Lautém e acabando em Cupão, é esguia como o corpo dum crocodilo, e a parte central assemelha-se-lhe à barriga. Timor quer dizer Oriente; muitos timorenses chamam ao crocodilo antepassado ou avô. Se qualquer crocodilo devora alguém, é porque, dizem, este lhe fez ou disse algo de mal. Ou quando uma pessoa é apanhada por aquele, costuma gritar: Antepassado ou avô! Maldição! Maldição! Quando entram ou passam numa ribeira onde haja crocodilos, costumam atar uma fita verde de folha de palmeira na cabeça, numa perna e, algumas vezes, também na mão e chamam para junto de si o cão. Assim, o crocodilo sabe, e não os morde. Austrália e os Portugueses O primeiro contacto europeu com o continente do Sul terá sido efectuado por navegadores portugueses. A principal evidência para estas visitas não declaradas foi a descoberta de dois canhões portugueses afundados ao largo da baía de Broome na costa noroeste da Austrália. A tipologia dessas peças de artilharia indica serem de fabrico portuguesa, podendo ser datadas de entre os anos de 1475 e 1525. Tem sido também sugerido que duas expedições portuguesas realizadas nos mares da Indonésia no primeiro quartel do século XVI teriam atingido o território australiano: a expedição de Cristóvão de Mendonça a partir de Malaca para o sul em busca das "ilhas de ouro" (1522), mas sobretudo a de Gomes de Sequeira (1525) que supostamente teria atingido a Península de York. Para reforçar esta tese evoca-se o estabelecimento pelos portugueses em 1516 de um entreposto comercial em Timor, que fica a cerca de 500 quilómetros da Austrália. Segundo o historiador e filólogo Carl von Brandenstein, os portugueses teriam naufragado no noroeste da Austrália Ocidental, perto da ilha de Depuch, entre 1511 e 1520, tendo sido os primeiros europeus a tocar a Austrália, de onde não puderam sair. Estes portugueses acabariam por se integrar com a população local, deixando marcas culturais assimiladas pelos aborígenes. A fundamentação das suas teorias encontra-se na análise das línguas das etnias Ngarluma e Karriera (tribos da Austrália Ocidental), que apresentam particularidades que não se detectam Apontamentos: Escudo 84 nas outras línguas aborígenes, como o uso da voz passiva. von Brandenstein apresenta também uma lista de palavras destas línguas que alega terem uma origem portuguesa (exemplos: thartaruga de tartaruga, monta/manta de monte, thatta de tecto). Uma série de mapas conhecidos como Mapas de Dieppe, produzidos por uma escola de cartografia na cidade francesa de mesmo nome entre 1536 e 1566, e que revelam uma influência portuguesa, retratam uma terra chamada Jave La Grande que apresenta uma configuração de costa que lembra a costa ocidental australiana, em alguns casos representando formas vegetais e etnográficas. Alguns académicos rejeitam uma ligação dos mapas com representações da Austrália, argumentando que as formas vegetais e humanas são típicas das ilhas da Indonésia ou que seriam meras representações lendárias. Pode ainda ser salientado um mapa holandês do século XVII que representa uma barreira de coral com o nome de Abreolhos. Esta palavra é uma derivação da expressão de língua portuguesa “abre os olhos”, que era usada com frequência para assinalar zonas de perigo em cartas marítimas lusitanas (expressão ainda hoje utilizada popularmente para designar qualquer acidente doloroso, que serve para ensinar a ter cuidado). Para os partidários da tese da prioridade portuguesa, os navegadores lusitanos não reclamaram o continente para a coroa de Portugal e mantiveram a descoberta aparentemente em silêncio. Os motivos do secretismo desta eventual iniciativa estariam relacionados com o Tratado de Tordesilhas, que determinava que a zona da Austrália seria, quando descoberta, propriedade da coroa espanhola. Para adensar o mistério, os eventuais registos e notas de bordo destas expedições devem ter desaparecido na destruição do Terramoto de Lisboa de 1755. Com a morte do Cardeal-Rei D. Henrique em 1580, e com a formação da união pessoal entre as coroas portuguesa e espanhola, Portugal nunca mais retomou as iniciativas de exploração nesta parte do mundo. A falta de documentos escritos sobre estas expedições faz com que a presença portuguesa na costa australiana seja posta em causa por muitos historiadores.

Reino de Sião
 Reino do Sião ou Reino Ayutthaya foi um reino siamês fundado em 1351 que perdurou até à invasão birmanesa em 1767. Fundado pelo povo Tai, que expulso do sudoeste da China se instalou na região próxima e adoptou o budismo como religião. Ayutthaya estabeleceu relações amigáveis com negociantes estrangeiros, incluindo os chineses Han, vietnamitas Annam, indianos, japoneses e persas e, mais tarde com os portugueses, espanhóis, holandeses e franceses, permitindo-lhes construir povoações no exterior dos muros da cidade. No século XVI Ayutthaya era descrita por mercadores estrangeiros como uma das maiores e mais ricas cidades do Oriente. A corte do rei Narai (1656-1688) teve uma forte ligação com a corte do rei Luís XIV de França, cujos embaixadores a comparavam a Paris pela dimensão e opulência. Antes do domínio birmanês em 1767, os estados tributários do Reino do Sião incluíam os estados Shan do norte do actual Myanmar, Chiang Mai, Yunnan e Shan Sri na China), Lan Xang no Laos, o reino Champa, e algumas cidades-estado da península da Malásia. Em 1939 trocou de nome e passou a chamar-se Tailândia (ex-Sião). O estado siamês baseado na cidade de Ayutthaya no vale do rio Chaophraya cresceu a partir do reino inicial de Lavo, que viria a absorver, continuando a tendência de expansão para sul dos povos siameses (Tai). Em 1351 para fugir de uma epidemia, o rei Ramathibodi I mudou a corte para sul, na bacia do rio Chaophraya. Numa ilha do rio fundou uma nova capital, a cidade Ayutthaya, significando "cidade de reis". Em poucos decénios, o reino de Ayutthaya expandiu-se consideravelmente à custa do decadente império Khmer do Camboja e do reino de Sukhotai, que foram absorvidos. O império de Ayutthaya empregou novas técnicas de centralização do poder e herdou do Estado Khmer a visão do governante como um rei divinizado. O reino desenvolveu um extenso aparato burocrático, e a sociedade hierarquizou-se rigidamente. As guerras foram frequentes e o território dominado a partir de Ayutthaya alcançou limites próximos ao da actual Tailândia. No entanto, as fronteiras com os Estados vizinhos, devido às contínuas guerras e aos planos separatistas das províncias distantes, Apontamentos: Escudo 96 modificaram-se constantemente. Em 1569, os birmaneses transformaram Ayutthaya num Estado dependente. Quinze anos mais tarde, a independência do Sião foi restabelecida pelo príncipe Naresuan, considerado desde então um herói nacional na Tailândia. Em 1511 Ayutthaya recebeu uma missão diplomática portuguesa, enviada por Afonso de Albuquerque na sequência da conquista portuguesa de Malaca no início do ano, dado a influência que era então atribuída ao Reino do Sião sobre a península de Malaca. Duarte Fernandes foi o primeiro enviado à corte de Ramathibodi II, regressando com um enviado siamês e ofertas para o Rei de Portugal, seguindo-se-lhe António de Miranda de Azevedo, Duarte Coelho e Manuel Fragoso, que aí permaneceu dois anos preparando um documento sobre o reino do Sião, que enviou directamente para Portugal. Estes terão sido os primeiros europeus a visitar o reino. Cinco anos após os contactos iniciais, Ayutthaya e Portugal estabeleceram um tratado que garantia aos portugueses a permissão para comerciar no reino do Sião. As relações entre os dois reinos permaneceram informais até que em 1518 D. Manuel I enviou uma embaixada com ofertas e a proposta de formalização de um tratado de aliança comercial, política e militar, que incluía a possibilidade dos siameses comerciarem em Malaca. Os comerciantes e missionários portugueses não exerceram, no entanto, grande influência sobre o país, situado fora das principais rotas portuguesas do Índico. A maioria de portugueses na Tailândia eram aventureiros que serviram nos exércitos reais como mercenários e que foram responsáveis pela adopção de algumas técnicas militares ocidentais nas operações tailandesas. Mais tarde, em 1592, seria estabelecido um tratado semelhante dando aos holandeses uma posição privilegiada no comércio de arroz. Os estrangeiros eram cordialmente recebidos na corte de Narai (1657-1688), um governante com uma visão cosmopolita, embora reticente à influência externa. Foram estabelecidas importantes relações comerciais com os japoneses. No século XVII, comerciantes holandeses e britânicos começaram a fundar centros comerciais junto à capital e na península de Malaca. Mais tarde, chegaram os franceses, que se impuseram aos outros europeus e foram enviadas missões diplomáticas siamesas a Paris e a Haia. Ao manter todos estes laços a corte do Sião jogou habilmente com as rivalidades entre holandeses e ingleses e franceses, impedindo a influência excessiva de um único poder. Contudo em 1664 os holandeses forçaram um tratado garantindo direitos territoriais e acesso comercial livre. Exortado pelo ministro externo Constantine Phaulkon, um aventureiro grego, Narai volta-se para a França em busca de auxílio. Engenheiros franceses construíram fortificações e um novo palácio em Lopburi, além disso missionários franceses dedicaram-se à educação e medicina, trazendo para o reino a primeira impressora. O próprio Luís XVI entusiasmou-se com a possibilidade de Narai se poder converter ao cristianismo. A forte influência francesa despertou desconfianças e a chegada de uma expedição francesa composta de 600 homens armados, em 1687, despertou receios. No ano seguinte, um golpe dado por líderes Tais antiocidentais levou à expulsão de todos os franceses. Teve então início, Apontamentos: Escudo 97 uma etapa de relativo isolamento do Sião com relação ao Ocidente, uma política que durou 150 anos. Chegada à China Jorge Álvares foi um explorador português, o primeiro europeu a aportar directamente na China e a visitar o território que actualmente é Hong Kong em 1513. Foi um dos portugueses que, de Malaca, se dirigiram à China, sendo o primeiro a chegar ao Sul da China, em 1513. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de Macau. Possuía um Junco com o qual se dedicava ao comércio entre Malaca e Cantão, juntamente com Fernão Pires de Andrade e Rafael Perestrello, pioneiros desse comércio, considerado ilegal pelos Chineses. Participou numa guerra contra o sultão de Bintão, capitaneando uma galé na Armada Portuguesa. Com a abordagem de Tamang (Cantão), apesar da oposição do "Itau" (mandarim local), conseguiu estabelecer-se numa praia na ilha de Sanchoão, onde ergueu uma cabana que servia de refúgio aos comerciantes clandestinos e onde, para se achar como em terra portuguesa, fizera assentar um padrão. Passou assim a ser considerado como feitor português de Tamang, continuando, no seu Junco, a navegar pelas Molucas. Nestas águas veio a ser atacado pelos indígenas de Ternate, vindo a ser gravemente ferido. Veio a falecer na sua cabana, pedindo que fosse enterrado junto ao padrão que fizera erigir. Macau Macau é desde 20 de Dezembro de 1999 uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Antes desta data, foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada o primeiro entreposto, bem como a última colónia europeia na China. Esta administração teve começo em meados do século XVI. Nesta altura os portugueses trouxeram prosperidade a este pequeno pedaço de terra, tornando-a numa grande cidade e importante intermediário no comércio entre a China, a Europa e o Japão, fazendo com que ela atingisse o seu auge nos finais do século XVI e nos inícios do século XVII. Só em 1887 é que a China reconheceu oficialmente a soberania e a ocupação perpétua portuguesa sobre Macau, através do "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português". Em 1967, como consequência do Motim 1-2-3 levantado pelos residentes chineses pró-comunistas de Macau no dia 3 de Dezembro de 1966, Portugal renunciou a sua ocupação perpétua sobre Apontamentos: Escudo 98 Macau. Em 1987, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países concordaram que Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de Dezembro de 1999. Actualmente, Macau está a experimentar um grande e acelerado crescimento económico, baseado no acentuado desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, as duas actividades económicas vitais desta região administrativa especial chinesa. É constituída pela Península de Macau e por duas ilhas (Taipa e Coloane, entretanto com a ligação feita por terra seca por meio de um aterro, o istmo de Cotai), numa superfície total de 28,6 km². Macau situa-se na costa meridional da República Popular da China, a oeste da foz do Rio das Pérolas e a 60 km de Hong Kong, que se encontra aproximadamente a este de Macau. Faz fronteira a norte e a oeste com a Zona Económica Especial de Zhuhai, logo é adjacente à província de Guangdong. Macau efectua muitos aterros para reclamar/obter mais espaços de construção à foz do Rio das Pérolas. Tem cerca de 538 mil habitante s, sendo a esmagadora maioria de etnia chinesa. Após o estabelecimento da RAEM, Macau actua sob os princípios do Governo Popular Central Chinês da RPC de “um país, dois sistemas”, de “Administração de Macau pela Gente de Macau” e de “Alto Grau de Autonomia”, gozando por isso de um estatuto especial, semelhante ao de Hong-Kong, e possuindo consequentemente um elevado grau de autonomia, limitando-se apenas no que se refere às suas relações exteriores e à defesa. Foi também garantido pela RPC a preservação do seu sistema económico-financeiro e das suas especificidades durante pelo menos 50 anos, isto é, pelo menos até 2049. Os portugueses estabeleceram-se ilegal e provisoriamente em Macau entre 1553 e 1554, sob o pretexto de secar a sua carga. Em 1557, as autoridades chinesas deram finalmente autorização para os portugueses se estabelecerem permanentemente em Macau, concedendo-lhes um considerável grau de autonomia. Em troca, os portugueses foram obrigados a pagar aluguer anual (cerca de 500 taéis de prata) e certos impostos a estas autoridades, que defendiam que Macau continuava a ser parte integrante do Império Chinês. As autoridades chinesas, desde sempre portadoras de algum medo e desprezo pelos estrangeiros, passaram a supervisionar atentamente os portugueses de Macau e a exercer, até meados do século XIX, uma grande influência na administração deste estabelecimento comercial. Desde então, Macau desenvolveu-se como um entreposto e intermediário para o comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa, numa época em que as autoridades da China proibiram o comércio directo com o Japão por mais de cem anos. Para além de ser um entreposto comercial, Macau desempenhou também um papel activo e fulcral na disseminação do Catolicismo, ao tornar-se num importante ponto de formação e de partida de missionários católicos para os diferentes países do Extremo Oriente, principalmente para a China. Apontamentos: Escudo 99 Por este motivo, o Papa Gregório XIII criou, em 1576, a Diocese de Macau. Estes missionários desempenharam também um papel importante no intercâmbio cultural, científico e artístico entre a China e o Ocidente, e no desenvolvimento da cultura e da educação de Macau. Em 1583, foi criada o Leal Senado, a sede e o símbolo do poder e do governo local, pelos moradores portugueses, mais precisamente pelos comerciantes, de Macau. Este organismo político, considerado como a primeira câmara municipal de Macau, foi fundada com o objectivo de proteger o comércio controlado por Macau, de estabelecer ordem e segurança para esta cidade e de resolver os e problemas quotidianos. Apesar de a partir de 1623 Macau passar a ter um Governador português, o Leal Senado, até à primeira metade do século XIX, continuou a manter uma grande autonomia e a exercer um papel fundamental na administração da cidade. Devido à sua prosperidade, Macau foi várias vezes atacada pelos holandeses ao longo da primeira metade do século XVII. O ataque mais importante teve início em 22 de Junho de 1622, quando cerca de 800 soldados holandeses desembarcaram, numa tentativa de conquistar a cidade. Após dois dias de combate, em 24 de Junho, os invasores foram derrotados, sofrendo elevadas baixas (cerca de 350 mortes) e conseguindo abater apenas algumas dezenas de portugueses. Para Macau, desprevenida, esta vitória foi considerada um milagre. Em 1638-1639, o comércio português com o Japão foi interrompido, devido às políticas de isolamento levados a cabo pelo então Xogum japonês, Tokugawa Iemitsu. Este acontecimento afectou seriamente a economia de Macau, que rapidamente entrou em declínio. Descoberta de Taiwan O conhecimento da existência da ilha Formosa (actual Taiwan) pelos ocidentais ocorreu por volta de 1544 quando navegadores portugueses passaram ao largo da ilha e a registaram como ilha Formosa. Apenas em 1582 aportaram e por acidente. Um navio capitaneado por André Feio naufragou devido a um banco de areia na costa setentrional da ilha e permaneceu nesta durante cerca de 10 semanas. Os efeitos da malária e os constantes ataques por parte dos aborígenes conduziram à fuga dos sobreviventes para Macau dentro de uma balsa. Em 1600 foi estabelecido um entreposto comercial português que foi de pouca dura. A ocupação espanhola de Portugal conduziu posteriormente ao abandono deste entreposto, ficando os holandeses por intermédio da Apontamentos: Escudo 100 Companhia Holandesa das Índias Orientais a controlar o comércio para ocidente a partir da ilha Formosa (1624).

São Francisco de Xavier
São Francisco de Xavier, nascido Francisco de Jaso y Azpilicueta, (Xavier, 7 de Abril de 1506 – Sanchoão, 3 de Dezembro de 1552) foi um missionário cristão do padroado português e apóstolo navarro. Pioneiro e co-fundador da Companhia de Jesus, a Igreja Católica Romana considera que tenha convertido mais pessoas ao Cristianismo do que qualquer outro missionário desde São Paulo, merecendo o epíteto de "Apóstolo do Oriente". É o padroeiro dos missionários e também um dos padroeiros da Diocese de Macau. Nasceu no castelo da família em Xavier, no Reino de Navarra, a 7 de Abril de 1506, segundo o registo mantido pela sua família. Filho de famílias aristocráticas navarras era o filho mais novo de Juan de Jasso (conselheiro da corte do rei João III de Navarra) e de Maria de Azpilicueta y Xavier, única herdeira de duas famílias nobres de Navarra. Seguindo a tradição basca de atribuição do sobrenome, foi baptizado herdando o nome de sua mãe, de Xavier. O seu nome é correctamente escrito Francisco de Xavier e não Francisco Xavier, já que Xavier provém do nome da terra da qual a família é originária. O pai de Francisco morrera quando este tinha apenas nove anos e sua mãe, querendo que o filho estudasse, procurara enviá-lo para a universidade. No entanto, apesar das boas universidades castelhanas, como a de Salamanca e a de Alcalá, a mãe de Francisco não desejara naturalmente instruí-lo nas escolas do invasor, pelo que, aos catorze anos, o enviara para o Colégio de Santa Bárbara, em Paris, dirigido pelo português Diogo de Gouveia. No Colégio de Santa Bárbara, Francisco de Xavier foi preparado para prestar provas de admissão à universidade, completando estudos em filosofia, literatura e humanidades. É ainda aqui, que aprende a dominar as línguas francesa, italiana e alemã. É lá que vive todo o período Apontamentos: Escudo 123 que passa em Paris, primeiro como aluno e mais tarde como professor de filosofia do Colégio de Beauvais. Consta que terá feito grande sucesso entre os colegas por ser um rapaz muito inteligente, de espírito vivo e conversa fácil, bem constituído e bonito. É neste período que tem como colegas de quarto o francês Le Fèvre e o basco Inácio de Loyola, que dão ao seu grupo o nome de Societas Jesus, latim para Sociedade de Jesus, que mais tarde se viria a tornar a Companhia de Jesus. É no ano de 1534 que este grupo de devotos amigos, com mais quatro companheiros: Alfonso Salmeron, Diego Laynez, Nicolau Bobedilla e o português Simão Rodrigues, fundam a Companhia de Jesus, congregação religiosa destinada ao ensino, à conversão e à caridade. Fazem voto de pobreza e pedem ao Papa que os reconheça oficialmente. Enquanto anseia o reconhecimento do Papa, que só acontecerá em 1541, o grupo parte para Veneza com o objectivo de alcançar a Terra Santa. É aí, a 24 de Junho de 1537, que Francisco de Xavier é ordenado padre. Não chegando a pisar a Terra Santa em virtude da guerra entre venezianos e turcos, o grupo parte para Roma, onde Francisco serve por um breve período. Em Roma, Francisco de Xavier sente-se muito abalado pela conquista do Reino de Navarra pelo Reino de Castela. É nesse momento que D. João III, depois dos sucessivos apelos ao Papa Paulo III para que este lhe envie missionários para espalhar a fé cristã pelos territórios descobertos pelos portugueses, é aconselhado entusiasticamente pelo director do Colégio de Santa Bárbara, Diogo de Gouveia, a chamar para o Reino de Portugal os jovens cultos e inteligentes da Companhia de Jesus, que este lhe recomenda. D. João III pede assim ao embaixador de Portugal em Roma que sonde o grupo e é aí que Francisco de Xavier descobre um caminho para pôr em prática a sua vocação missionária. É escolhido por Inácio de Loyola e chega a Portugal em 1540. Francisco de Xavier parte de Lisboa para a Índia no ano seguinte, a 7 de Abril, acompanhado de outros dois jesuítas, Francisco de Mansila e Paulo Camarate. Partem a bordo da nau Santiago, onde viajava Martim Afonso de Sousa, que ia tomar posse do cargo de governador na Índia. Em Agosto ancoraram junto da ilha de Moçambique. Nessa altura do ano, os ventos adversos impediram a continuação regular da viagem, tendo a nau invernado ali durante seis meses. Francisco dedicou o seu tempo ao auxílio e tratamento dos doentes. Tendo-se feito de novo ao mar, a nau voltou a aportar em Melinde. Aí, Francisco de Xavier conseguiu de imediato converter alguns africanos, e desejou por força lá permanecer, ao que não foi autorizado por Martim Afonso de Sousa, por essa decisão ser contrária às instruções do Rei. A nau Santiago ancorou em Goa, a então capital do Estado Português da Índia, a 6 de Maio de 1542. Sabe-se, através das cartas a Inácio de Loyola, que as primeiras impressões de Francisco Xavier sobre Goa foram muito favoráveis, tendo ficado entusiasmado com a quantidade de indianos que falava português, com a quantidade de igrejas e de convertidos. No entanto, à medida que foi conhecendo melhor a cidade, apercebeu-se de que muitos dos convertidos praticavam ainda paralelamente cultos hindus e que muitos portugueses davam também mau exemplo, defendendo as virtudes cristãs mas não as praticando. Estrategicamente, decidiu assim dedicar-se numa primeira fase a reencaminhar os portugueses para a verdadeira fé, tendo só posteriormente iniciado o seu trabalho de conversão. Quando iniciou as conversões, dedicou-se primeiramente às crianças e só depois aos adultos. Todo o tempo que lhe sobrava Apontamentos: Escudo 124 era dedicado a visitar as prisões, a tratar dos doentes no Hospital Real e dos leprosos no Hospital de São Lázaro. É aí que começa a escrever um catecismo que veio a ser traduzido para várias línguas asiáticas. A 20 de Setembro de 1543, parte na sua primeira acção missionária para a costa a que os portugueses chamavam “Costa de Pescaria”, na costa este do Sul da Índia, a norte do Cabo Comorim, território dos Paravás. Nesta região, a prática da pesca era muito popular, prática essa que não era bem encarada pela religião hindu, que reprova a morte de animais. Os pescadores da região foram, portanto, muito receptivos à religião cristã, que não os criticava pela profissão que levavam, usava um peixe como um dos seus símbolos e cujos primeiros apóstolos eram pescadores de peixe tornados “pescadores de homens”. Ficou a viver numa gruta nas rochas junto ao mar em Manapad, catequizando as crianças Paravás intensivamente durante três meses em 1544. Concentrou-se então em converter o rei de Travancore ao Cristianismo, tendo visitando também o Ceilão. Insatisfeito com os resultados da sua actividade, partiu ainda mais para oriente em 1545, planeando uma viagem missionária a Macáçar, na ilha de Celebes. Em Outubro, aportou em Malaca. Tendo sido forçado a esperar três meses por um barco para Macáçar, desistiu desse objectivo e partiu de Malaca a 1 de Janeiro de 1546 para as ilhas de Amboino, onde permaneceu até meados de Junho. Visitou, depois, outras das ilhas Molucas, incluindo Ternate e Morotai. Pouco depois da Páscoa de 1546, regressou às ilhas de Amboino e, posteriormente, a Malaca. Nesse período, frustrado pelas elites de Goa, São Francisco escreve a D. João III de Portugal pedindo que fosse instalada em Goa uma Inquisição. Esta Inquisição, à qual o rei se mostrou resistente, como se mostrara à sua presença em Lisboa, viria a ser instalada oito anos após a morte de Francisco de Xavier. O trabalho de Francisco de Xavier inaugurou mudanças permanentes nas ilhas que configuram a Indonésia Oriental, tendo-se tornado conhecido como o “Apóstolo das Índias” quando, entre 1546-47, trabalhou nas ilhas Molucas, cavando os alicerces para uma missão permanente. Em Dezembro de 1547, em Malaca, Francisco de Xavier conhece o aventureiro e futuro escritor Fernão Mendes Pinto, que regressava do Japão e trazia consigo um nobre japonês de nome Angiró, natural de Kagoshima. Angiró ouvira falar de Francisco em 1545 e viajara de Kagoshima para Malaca com o propósito de o conhecer. Angiró tinha sido acusado de assassínio e fugira do Japão. Abriu o seu coração a Francisco, confessando-lhe a vida que levara até ali, mas também os costumes e cultura da sua amada terra natal. Angiró é baptizado por Francisco Xavier e adopta o nome português de Paulo de Santa Fé. Angiró era samurai e, como tal, tornar-se-ia um valiosíssimo mediador e tradutor para uma missão ao Japão que assim se tornava cada vez mais próxima da realidade. Regressado à Índia em Janeiro de 1548, passa os quinze meses seguintes com variadas viagens e tomando medidas administrativas na Índia. Devido ao que considerou um estilo de vida nãocristão por parte de muitos portugueses, que lhe impedia o trabalho missionário, viajou para o sudeste. Partiu de Goa a 15 de Abril de 1549, parou em Malaca e visitou Cantão, na China. Apontamentos: Escudo 125 Foi acompanhado por Angiró, pelo padre Cosme de Torres, pelo irmão João Fernandes e por outros dois homens japoneses que estudaram em Goa para servirem de intérpretes. Levou também consigo inúmeros presentes para o “rei do Japão”, já que tencionava apresentar-se perante ele como representante da cristandade. Alcançaram o Japão a 27 de Julho de 1549, mas só a 15 de Agosto é que foram autorizados a aportar em Kagoshima, o principal porto da província de Satsuma, na ilha de Kiushu. Foi recebido amigavelmente e ficou hospedado pela família de Angiró até Outubro de 1550. Entre Outubro e Dezembro desse ano, residiu em Yamaguchi. Pouco antes do Natal, partiu para Kyoto, mas não conseguiu autorização para visitar o imperador. Regressou a Yamaguchi em Março de 1551, onde o Daimio daquela província o autorizou a pregar. Contudo, faltando-lhe a fluência na língua japonesa, teve de se limitar a ler alto a tradução do catecismo feita com Angiró. Francisco teve um forte impacto no Japão, tendo sido o primeiro jesuíta a lá ir em missão. Levou com ele pinturas da Virgem Maria e da Virgem com Jesus. Estas pinturas ajudaram-no a explicar o Cristianismo aos japoneses, já que a barreira de comunicação era enorme, visto o japonês ser uma língua diferente de todas as que os missionários tinham até aí encontrado. Xavier foi bem acolhido pelos monges da escola de Shingon, por ter usado a palavra “Dainichi” para descrever o Deus Cristão. Depois de ter aprendido mais sobre as nuances da palavra, Francisco pasou a usar a palavra “Deusu”, da palavra latina e portuguesa “Deus”. Foi nesse momento que os monges se aperceberam que ele pregava uma religião rival. No entanto, Francisco sempre respeitou o povo que o acolheu, tendo aprendido japonês, deixado de comer carne e peixe, e cumprimentava os senhores com vénias profundas, tendo chegado em algumas circunstâncias a vestir-se com trajes japoneses, tudo para ser melhor aceite. Com a passagem do tempo, a missão de Francisco Xavier no Japão pôde ser considerada muito frutuosa, tendo conseguido estabelecer congregações em Hirado, Yamaguchi e Bungo. Xavier continuou a trabalhar durante mais de dois anos no Japão, tendo escrito um livro em japonês sobre a criação do mundo e a vida de Cristo, até a chegada dos jesuítas que o vieram suceder, cujo estabelecimento supervisionou. É aí que decide regressar à Índia. Nessa viagem, uma tempestade força-o a parar numa ilha perto de Cantão, na China, onde já estivera. Encontra assim, o rico mercador Diogo Pereira, um velho amigo de Cochim, que lhe mostra uma carta proveniente de portugueses mantidos prisioneiros em Cantão, pedindo um embaixador português que intercedesse a seu favor junto do Imperador. Mais tarde durante a viagem, pára de novo em Malaca a 27 de Dezembro de 1551 e segue em 17 de Abril com Diego Pereira a bordo da nau Santa Cruz, a caminho da China. Apresenta-se como representante da cristandade e Pereira como embaixador do Rei de Portugal. É pouco depois que se apercebe que se esquecera das suas certidões que o confirmavam como representante da Igreja Católica na Ásia. De novo em Malaca, é confrontado pelo Capitão Álvaro de Ataíde de Gama que tinha agora controlo total do porto e se recusa a reconhecê-lo como representante da Igreja Católica e que exige a Pereira que resigne ao seu título de embaixador. O Capitão nomeia então uma nova tripulação para a nau e ordena que os presentes para o Imperador sejam deixados em Malaca. Apontamentos: Escudo 126 De volta a Goa, Xavier não baixou os braços, ocupando-se em enviar para várias regiões da Índia os muitos grupos de novos jesuítas recém-chegados à Índia, com o objectivo de fundarem missões. Ocupou-se também com a direcção do Colégio de São Paulo em Goa, que formava catequistas e padres asiáticos, promovendo ainda a tradução de livros religiosos para as línguas locais. Apesar da intensa actividade, Francisco Xavier acalentava o sonho de ir missionar na China, onde era proibida a entrada de estrangeiros. Parte a 14 de Abril de 1552, convencido de que conseguiria infiltrar-se secretamente e cativar chineses para o cristianismo. Desembarcou na ilha de Sanchoão e, quando se encontrava em negociações com um mercador chinês que prometera levá-lo consigo, foi atacado por febres violentas. Morre a 3 de Dezembro de 1552, numa humilde esteira de vimes, abraçado ao crucifixo oferecido por Inácio. Foi primeiramente sepultado em Sanchoão, mas, em Fevereiro de 1553, os seus restos mortais, encontrados incorruptos, foram transportados da ilha e, temporariamente, sepultados na Igreja de São Paulo em Malaca. Depois de 15 de Abril de 1553, Diogo Pereira vem de Goa, remove o corpo de Xavier e leva-o para sua casa. É a 11 de Dezembro desse ano que o corpo de Xavier é levado para Goa. O seu corpo está hoje na Basílica do Bom Jesus de Goa, onde o seu corpo foi colocado numa caixa de vidro e prata, a 2 de Dezembro de 1637, e se tornou lugar de peregrinação. Um osso do corpo de Xavier foi levado para Macau, onde é mantido num relicário de prata. Esta relíquia destinava-se ao Japão, mas a perseguição religiosa na região levou a que fosse mantida nas ruínas da Igreja da Madre de Deus em Macau, hoje conhecida como Ruínas de São Paulo. Hoje em dia, é na Igreja de S. José, em Macau, que está depositada essa relíquia sagrada de Francisco Xavier. Foi beatificado pelo Papa Paulo V a 25 de Outubro de 1619 e canonizado pelo Papa Gregório XV, a 12 de Março de 1622, em simultâneo com Inácio de Loyola. É o santo patrono dos missionários. O seu dia festivo é 3 de Dezembro. Padre Luís Fróis Nasceu em Lisboa em 1532 no seio de uma família ligada à nobreza da corte do Rei D. João III, aos 16 anos, e depois de concluir os seus estudos na área de humanidades, efectua uma breve passagem na corte e em 1548 entra para a Companhia de Jesus. Após dois meses de noviciado, embarca em Lisboa a 17 de Março do mesmo ano, numa viagem para a Índia, sem nunca mais voltar ao seu país natal. Chega à cidade de Goa a 9 de Outrubro de 1548. Entre 1548 a 1561 inicia os seus estudos no Colégio de S. Paulo. Já nessa altura se distingue pela forma como descreve pormenorizadamente as actividades dos missionários em Goa e Malaca. Foi ordenado padre em 1561. É também em Goa que viria a ter diversos encontros com Francisco Xavier o último dos quais em 1554, que iram marcar profundamente toda a sua vida. Parte para Macau em 1562 e dali inicia a sua viagem para o Japão, como missionário da Companhia de Jesus em 1563. Chega ao Japão, fixando-se em Yokoseura, (localizada na actual Prefeitura de Nagasaki) no período de apogeu da missão jesuíta no Japão e um mês após o baptismo do primeiro dáimio japonês, (Bartolomeu) Omura Sumitada. Ali começa a escrever uma longa série de cartas, e variadíssimas relações e tratados, nos quais descreve em detalhe as actividades dos Apontamentos: Escudo 127 padres e da Missão. O valor histórico destas cartas é inestimável, são os documentos que se conhecem com mais detalhe sobre a vida quotidiana dos missionários no Japão. A análise de alguns desses textos permite reconstituir as principais atitudes que o jesuíta tomou face à cultura japonesa, clarificando, de passagem, aspectos do diálogo civilizacional que portugueses e asiáticos travaram na segunda metade de Quinhentos. Luís Fróis assistiu à destruição de Yokoseura, e refugiou-se mais tarde na ilha de Takushima, no pequeno arquipélago de Hirado, onde inicia os seus estudos de língua japonesa que lhe permitiram mais tarde estabelecer contactos importantes junto de personalidades influentes, nomeadamente em Kyoto, (á época a nova capital do Japão) a onde chega em 1565. Após a sua chegada a Kyoto conheceu o Xogun Ashikaga Yoshiteru, e privou mais tarde com Oda Nobunaga, (o Xogun que iniciou o processo de centralização e unificação do poder no Japão e pôs fim a um longo período de guerra civil) tendo em 1569, inclusivamente permanecido por um breve período de tempo na residência privada de Nobunaga em Gifu, enquanto escrevia os seus livros. Em 1577, passa pelo reino de Bungo, (actual prefeitura de Oita), durante esse período o dáimio local, Otomosorin, converteu-se e é baptizado com o nome, Francisco de Bungo. Mais tarde em 1581, Fróis foi novamente chamado a Nagasaki, como secretário do Vice-Provincial, o Padre Gaspar Coelho. Nessa altura e a pedido de Alexandre Valignano, iniciou a sua Historia de Japam, a qual é ainda hoje uma fonte importante para os estudiosos da história do Japão e da missão jesuíta entre 1549 a 1593. Luís Fróis acompanha o Padre Gaspar Coelho, como intérprete, na importante visita efectuada em 1586 ao novo líder do Japão, o Xogun Toyotomi Hideyoshi, que precede a emissão do decreto de expulsão de todos os missionários no Japão, editado no ano de 1587. Hideyoshi considerava a missão envagelizadora do missionários jesuítas um entrave à reunificação politica do País. Após a expulsão dos religiosos por parte das autoridades japonesas, Luís Froís continua a desenvolver o seu trabalho como missionário na clandestinidade e consagrou a maior parte do seu tempo à redacção do manuscrito da sua História do Japão Em 1592, e a pedido do Padre Alexandre Valignano, viaja como seu secretário para Macau, a onde termina o relato da organização da viagem de uma embaixada japonesa a Roma iniciada em 1582, composta por 4 jovens, que chegou a Lisboa em 1584. Nessa altura dá por concluída a sua História do Japão, episódio documentado numa carta enviada ao Padre Acquaviva. Mas o seu estilo de escrita não agrada a Valignano; o qual critica severamente muitos dos aspectos de uma obra que é considerada actualmente como referência indispensável a todos os estudiosos da História do Japão. Todo o trabalho que desenvolveu teve como base a sua experiência pessoal. É um testemunho directo e de certa forma autobiográfico desse momento histórico do Japão e da presença missionária da Companhia de Jesus. O seu estado de saúde fragiliza-se, Luís Fróis receia que o seu manuscrito se perca em Macau e para que a sua História do Japão fosse salva, decide fazer o sacrifício e volta doente e exausto no ano de 1595 a Nagasaki. Na última fase da sua vida deixa-nos os escritos, talvez da sua melhor obra, a onde mais uma vez demonstra o seu profundo conhecimento pela cultura japonesa, o relato da morte dos 26 mártires de Nagasaki de 15 de Março de 1597. O texto foi enviado passando pelas Filipinas, escapando assim á censura do padre Valignano; mas assim que este tomou conhecimento da acção, solicitou a Roma o arquivo do referido documento, Apontamentos: Escudo 128 que apenas foi publicado em 1935. Luis Froís acabou por morrer no Colégio de São Paulo em Nagasaki, em 8 de Julho de 1597. Beato José de Anchieta Beato José de Anchieta, natural de San Cristóbal de La Laguna (1534), falecido em Iriritiba em 1597. Foi um padre jesuíta espanhol, um dos fundadores da cidade de São Paulo e declarado beato pelo Papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil. Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem Maria. Descendia da nobre família basca Anchieta (Antxeta). Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo e Larena, natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Larena, era um judeu convertido do Reino de Castela. Anchieta viveu com a família até aos catorze anos de idade, quando se mudou para Coimbra, onde estudou Filosofia no Colégio das Artes, anexo à Universidade de Coimbra. A ascendência judaica foi determinante para que o enviassem para estudar em Portugal, uma vez que na Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1551 como irmão. Tendo o padre Manuel da Nóbrega, Provincial dos Jesuítas no Brasil, solicitado mais braços para a actividade de evangelização do Brasil (mesmo os fracos de engenho e os doentes do corpo), o Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indicou, entre outros, José de Anchieta. Anchieta, que padecia de "espinhela caída", chegou ao Brasil em 13 de Junho de 1553, com menos de 20 anos de idade, com outros padres como o basco João de Azpilcueta Navarro. Noviço veio na armada de Duarte Góis e só mais tarde conheceria Manuel da Nóbrega, de quem se tornaria particular amigo. Nóbrega deu-lhe a incumbência de continuar a construção do Colégio e foi a partir deste que Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendendo a língua tupi e compondo a primeira gramática desta que, na América Portuguesa, seria chamada de "língua geral". No seguimento da sua acção missionária, participou da fundação, no planalto de Piratininga, do Colégio de São Paulo, do qual foi regente, embrião da cidade de São Paulo, junto com outros padres da Companhia, em 25 de Janeiro de 1554. Esta povoação contava, no primeiro ano da sua existência com 130 pessoas, das quais 36 haviam recebido o baptismo. O religioso cuidava não apenas de educar e catequizar os indígenas, como também de defendê- los dos abusos dos colonizadores portugueses que queriam não raro escravizá-los e tomar-lhes as mulheres e filhos. Esteve em Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, na quaresma que antecedeu a sua ida à aldeia de Iperoig, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, em missão de preparo para o Armistício com os Tupinambás de Ubatuba (Armistício de Iperoig). Apontamentos: Escudo 129 Nesse período, intermediou as negociações entre os portugueses e os indígenas reunidos na Confederação dos Tamoios, oferecendo-se Anchieta como refém dos Tamoios em Iperoig, enquanto o padre Manuel da Nóbrega retornou a São Vicente juntamente com Cunhambebe (filho) para ultimar as negociações de paz e ntre os indígenas e os portugueses. Durante este tempo em que passou entre os gentios compôs o "Poema à Virgem". Segundo uma tradição, teria escrito nas areias da praia e memorizado o poema, e apenas mais tarde, em São Vicente, o teria trasladado para o papel. Ainda segundo a tradição, foi também durante o cativeiro que Anchieta teria em tese "levitado" entre os indígenas, os quais, imbuídos de grande pavor, pensavam tratar-se de um feiticeiro. Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara; foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos (1567). Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade. Dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro por três anos, de 1570 a 1573. Em 1569, fundou a povoação de Iritiba ou Reritiba, actual Anchieta, no Espírito Santo. Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória. Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em Junho de 1980 pelo Papa João Paulo II. Irmão Bento de Góis Bento de Góis (Vila Franca do Campo, 1562 — Suzhou, 1607) foi um religioso e explorador português. Foi o primeiro europeu a percorrer o caminho terrestre da Índia para a China, através da Ásia Central. A sua viagem, uma das maiores explorações da história da humanidade, demonstrou que o reino de Cataio e o da China eram afinal o mesmo, o que alterou significativamente a concepção do mundo à época, uma vez que as relações comerciais entre a Ásia e a Europa eram muito intensas durante esse período. Bento de Góis foi baptizado em Vila Franca do Campo a 9 de Agosto de 1562, com o nome de Luís Gonçalves. Tornou-se soldado por volta dos vinte anos de idade, tendo sido destacado, em 1583, para a Índia. De acordo com a lenda, nesse período levava uma vida boémia até que após ter tido uma visão, numa igreja da aldeia de Colachel (província de Travancor) decidiu ingressar na Companhia de Jesus, o que fez, em Fevereiro de 1584, no Colégio dos Jesuítas em Goa. Dois anos mais tarde, abandonou temporariamente o Colégio e viajou pela Pérsia, Arábia, Apontamentos: Escudo 130 Baluchistão, Sri Lanka, e muitos outros reinos da Ásia. Em 1588 regressou a Goa, ao Colégio dos Jesuítas, e mudou o seu nome para Bento de Goes. Em 1594 integrou a 3º expedição dos Jesuítas, guiada desta vez pelo padre Jerónimo Xavier (sobrinho-neto de São Francisco Xavier), à corte do Grão-Mogol Akbar, o Grande, em Lahore, passando a granjear deste uma marcada amizade. Tanto que induziu Akbar, o Grande, a estabelecer tréguas com os portugueses. Para tal, Akbar incumbiu Bento de organizar a faustosa embaixada (1600-01) aos portugueses de Goa. Em Setembro de 1602 Bento partiu de Goa com um grupo restrito, em busca do lendário GrãoCataio, reino onde se afirmava existirem comunidades cristãs nestorianas. A viagem era muito extensa (mais de 6 mil quilómetros) e de longa duração (mais de quatro anos), e onde grandes obstáculos se deparam ao longo do percurso, sobretudo em virtude dos muitos conflitos na região, da profusão de reinos e estados, e da existência de grandes montanhas e desertos. Para além disso, a maior parte do seu percurso foi realizado em territórios de domínio muçulmano que nutriam especial animosidade pelos cristãos. Em inícios de 1606 Bento de Góis chegou a Jiuquan, junto da Muralha da China, uma cidade próxima de Dunhuang na provincia de Gansu. Góis provou assim que o reino de Cataio e o reino da China eram afinal o mesmo, tal como a cidade de Khambalaik, de Marco Polo, era efectivamente a cidade de Pequim. Doente (possivelmente por ter sido atacado/assaltado e ferido) e com poucos meios de subsistência comunicou-o em carta ao padre Matteo Ricci, residente em Pequim, que lhe enviou o padre João Fernandes, um jesuíta de origem chinesa, para o conduzir até Pequim. Contudo, quando este alcançou Bento de Góis este já estava à beira da morte, o que ocorreu em 11 de Abril de 1607. Bento de Góis, que possuía um marcado conhecimento da cultura e costumes de múltiplos reinos da Ásia, e falava diversos idiomas como o Persa e o Turco, registou a sua viagem num diário. Contudo, pelo facto de no mesmo documento também registar as dívidas que terceiros lhe deviam o seu diário foi rasgado em inúmeros pedaços pouco antes da sua morte. O padre João Fernandes e o arménio Isaac, que acompanhou o missionário na longa viagem desde Goa, reuniram fragmentos do que sobrou desse diário e outros documentos, que entregaram posteriormente ao padre Matteo Ricci. Este padre, um grande erudito, através desses escassos documentos, do relato do arménio Isaac que o acompanhou sempre ao longo da Grande Odisseia, do que Goes contou ainda em vida ao padre João Fernandes, e de algumas cartas que Bento de Góis lhe tinha enviado anteriormente bem como aos Jesuítas em Goa; escreveu, entre 1608 e 1610, uma narrativa dessa viagem, que depois foi publicada. Esta relativa escassez de registos teve influência na projecção que a sua viagem assumiu doravante. Bento de Góis tornou-se o primeiro português a atravessar a Ásia Central, transpondo grandes cadeias montanhosas como os Pamires e o Karakoram, ou o grande deserto de Gobi, numa odisseia considerada por muitos historiadores não inferior à empreendida por Marco Polo séculos antes. Aliás, Bento de Góis foi a primeira pessoa após Marco Polo a empreender esta extensa viagem pela Ásia Central, o que realizou cerca de três séculos depois de Polo. E só cerca de dois séculos depois, e com mais e melhores meios de orientação e de sobrevivência, é que se conseguiu realizar uma viagem semelhante à de Bento de Góis. Em Portugal, Bento de Góis tem sido entre os exploradores portugueses da época dos Descobrimentos dos mais subvalorizados

Padre António Vieira António Vieira (Lisboa, 6 de Fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Nascido em lar humilde, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta. Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618. António Vieira chegou à Bahia com seis anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas em Salvador, onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em Maio de 1623. Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador. Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-54), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do facto de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da Região Nordeste do Brasil. Após a Restauração da Independência (1640), regressou a Lisboa (1641) iniciando uma carreira diplomática, pois integrava a missão que ia ao Reino prestar obediência ao novo monarca. Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e a confiança de D. João IV de Portugal, sendo por ele nomeado pregador régio. Ainda como diplomata, foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a devolução do Nordeste do Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto de obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos novos, entrou em conflito com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652-61, missionário no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios. Diz o Padre Serafim Leite em "Novas Cartas Jesuíticas", Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, pág. 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos Índios e crítica de costumes". "Manoel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!". 
Em 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís do Maranhão, parte para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Após ficar à deriva por terem os mastros do navio quebrados foram abordados por um navio corsário holandês que recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar-lhes roupas, calçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio. O grupo passou em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa. Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele permaneceu mais algum tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha, destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada anualmente a 7 de Outubro, com aquele templo repleto. Uma semana mais tarde, passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo de um navio inglês, a 24 de Outubro. Após atravessar nova tempestade, o religioso chegou finalmente ao destino, em Novembro de 1654. Voltou para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão. Com a morte de D. Afonso VI, Vieira não encontrou apoio. Abraçou a profecia sebastiana e por isso entrou de novo em conflito com a Inquisição que o acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e depois encarcerado em Coimbra, enquanto os jesuítas perdiam seus privilégios. Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a pena foi anulada. Com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal, recuperou o valimento. Seguiu para Roma, de 1669-75. Encontrou o Papa às portas da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira o governo-geral do Brasil, primeiro, e depois, a corte de D. João IV, iria convencer o Papa e garantir assim a anulação das suas penas e condenações. Mas Vieira conseguiria ainda mais. Entre 1675-81, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos relatórios sobre os múltiplos abusos de poder que o jesuíta deixou em Roma, nas mãos do Sumo Pontífice. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos, por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Oficio em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa malha que inquisidores derramavam sobre si. Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos. Decidiu voltar outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir seus escritos, visando à edição completa em 16 volumes dos seus Sermões, iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum. 
Possuía cerca de 500 Cartas que foram publicadas em 3 volumes. Suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição. Já velho e doente teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever de próprio punho. Em 10 de Junho começou a agonia. Morreu a 18 de Julho de 1697, com 89 anos.

Terra de Natal
 
Vasco da Gama foi o primeiro europeu a avistar a costa oriental de África no dia de Natal de 1497 e, por isso, esta região passou a ser conhecida pelos europeus por este nome. Nos princípios do século XIX, a região era habitada principalmente pelos Zulu e os britânicos adquiriram muito daquelas terras dos chefes Shaka e Dingane. Os agricultores africânderes chegaram à região em 1837 e, depois de várias batalhas com os Zulu, a mais notável sendo a de Blood River em 1838 em que derrotaram Dingane, fundaram ali uma “república”. Em 1843, a coroa britânica anexou o Natal à Colónia do Cabo, o que levou ao êxodo dos bôeres. Em 1856, o Natal tornou-se uma colónia separada e, em 1860 começou a plantação de cana-de-açúcar e foram contratados da Índia muitos trabalhadores para esta indústria. Estes permaneceram no Natal no fim dos seus contratos e, em 1900, eram mais numerosos que os brancos. Em 1893, a colónia passou a ter um governo autónomo e, em 1910, tornou-se uma das províncias fundadoras da União Sul-Africana. Quando o bantustão do KwaZulu, que significa "Terra dos Zulus", foi re-incorporado à província do Natal, com a nova constituição de 1993, a província passou a ter o nome de KwaZulu-Natal e é a única do país que inclui no seu nome o grupo étnico dominante. De facto, a maioria da população desta província é Zulu. Apontamentos: Escudo 147 Moçambique Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975. A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi descreveu uma importante actividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do actual Moçambique. No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos Bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV. A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial. Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975. Quando Vasco da Gama chegou pela primeira vez a Moçambique, em 1497, já existiam entrepostos comerciais árabes e uma grande parte da população tinha aderido ao Islão. Os mercadores portugueses, apoiados por exércitos privados, foram-se infiltrando no império dos Mwenemutapas, umas vezes firmando acordos, noutras forçando-os. Em 1530 foi fundada a povoação portuguesa de Sena, em 1537, de Tete, no rio Zambeze, e em 1544 de Quelimane, na costa do Oceano Índico, assenhorando-se da rota entre as minas e o oceano. Em 1607 obtiveram do rei a concessão de todas as minas de ouro do seu território. Em 1627, o Mwenemutapa Capranzina, hostil aos portugueses, foi deposto e substituído pelo seu tio Mavura; os portugueses baptizaram-no e este declarou-se vassalo de Portugal. Os Mwenemutapas reinaram até finais do século XVII, altura em que foram substituídos pela dinastia dos Changamiras, outro grupo Shona que dominava o reino Butua, contribuindo assim para a extensão territorial do império. As relações dos Changamiras com os portugueses tiveram altos e baixos mas, em 1693, houve um levantamento armado em que os soldados portugueses que Apontamentos: Escudo 148 residiam na capital foram escorraçados, várias igrejas destruídas e os portugueses impedidos, durante algum tempo, de ter acesso ao ouro e ao comércio com os reinos indígenas. Por essa altura, no entanto, os portugueses controlavam o vale do Zambeze e começaram a interessar-se mais pelo marfim, empreendimento que levavam a cabo por acordo com os estados Marave. O império dos Mwenemutapa, embora com menos poder económico, manteve-se até meados do século XIX, altura em que foi desmembrado pelos Estados Militares que se formaram como resistência dos prazeiros à administração portuguesa. Finalmente, a administração colonial portuguesa e britânica em África terminou com o poder político dos chefes então existentes. Chegada à Índia A expedição iniciou-se a 8 de Julho de 1497. A linha de navegação de Lisboa a Cabo da Boa Espernça foi a habitual e no Oceano Índico é descrita por Álvaro Velho: “rota costeira até Melinde e travessia directa deste porto até Calecute”. Durante esta expedição foram determinadas latitudes através da observação solar, como refere João de Barros. Relatam os Diários de Bordo das naus muitas experiências inéditas. Encontrou esta ansiosa tripulação rica fauna e flora. Fizeram contacto perto da baía de Santa Helena com tribos que comiam lobos-marinhos, baleias, carne de gazelas e raízes de ervas; andavam cobertos com peles e as suas armas eram simples lanças de madeira de zambujo e cornos de animais; viram tribos que tocavam flautas rústicas de forma coordenada, o que era surpreendente perante a visão dos negros pelos europeus. Ao mesmo tempo que o escorbuto se instalava na tripulação, cruzavam-se em Moçambique com palmeiras que davam cocos. Apesar das adversidades de uma viagem desta escala, a tripulação mantinha a curiosidade e o ânimo em conseguir a proeza e conviver com os povos. Para isso reuniam forças até para assaltar navios em busca de pilotos. Com os prisioneiros, podia o capitão-mor fazer trocas, ou colocá- los a trabalhar na faina; ao rei de Mombaça pediu pilotos cristãos que ele tinha detido e assim trocou prisioneiros. Seria com a ajuda destes pilotos que chegariam a Calecute, terra tão desejada, onde o fascínio se perdia agora pela moda, costumes e riqueza dos nativos. Sabe-se, por Damião de Góis, que durante a viagem foram colocados cinco padrões: São Rafael, no rio dos Bons Sinais; São Jorge, em Moçambique, Santo Espírito, em Melinde; Santa Maria, nos Ilhéus, e São Gabriel, em Calecute. Estes monumentos destinavam-se a afirmar a soberania portuguesa nos locais para que outros exploradores não tomassem as terras como por si descobertas. Apontamentos: Escudo 149 Em 20 de Maio de 1498, a frota alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, no actual estado indiano de Kerala, ficando estabelecida a rota no Oceano Índico e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia. As negociações com o governador local, Samutiri Manavikraman Rajá, Samorim de Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter condições comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de culturas e pelo baixo valor das suas ofertas (no ocidente era hábito os reis presentearem os enviados estrangeiros, no oriente esperavam ser impressionados com ricas ofertas). As mercadorias apresentadas pelos portugueses mostraram-se insuficientes para impressionar o samorim e os representantes do samorim escarneceram das suas ofertas, simultaneamente os mercadores árabes aí estabelecidos resistiam à possibilidade de concorrência indesejada. A perseverança de Vasco da Gama fez com que se iniciassem, mesmo assim, as negociações entre ele e o samorim, que se mostrou agradado com as cartas de D. Manuel I. Por fim, Vasco da Gama conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar, comprovatória do encontro que dizia: «Vasco da Gama, fidalgo da vossa casa, veio à minha terra, com o que eu folguei. Em minha terra, há muita canela, e muito cravo e gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que quero da tua é ouro e prata e coral e escarlata». Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias por baixo preço para poderem adquirir pequenas quantidades de especiarias e jóias para levar para o reino. Contudo a frota acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu chefe da Marinha Kunjali Marakkar insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco da Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens para iniciar uma feitoria.

D. Manuel I, O Venturoso D. Manuel I, 14.º rei de Portugal (Alcochete, 1469 — Lisboa, 1521), cognominado de “O Venturoso”, “O Bem-Aventurado” ou “O Afortunado” tanto pelos eventos felizes que o levaram ao trono, como pelos que ocorreram no seu reinado. D. Manuel I ascendeu inesperadamente ao trono em 1495, em circunstâncias excepcionais, sucedendo ao seu primo direito D. João II, de quem se tornara protegido. Prosseguiu as explorações portuguesas iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia, do Brasil e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Molucas. Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia. Em 1521 promulgou uma revisão da legislação conhecida como Ordenações Manuelinas, que divulgou com ajuda da recente imprensa. No seu reinado, apesar da sua resistência inicial, cumprindo as cláusulas do seu casamento com Maria de Aragão viria a autorizar a instalação da inquisição em Portugal. Com a prosperidade resultante do comércio, em particular o de especiarias, realizou numerosas obras cujo estilo arquitectónico ficou conhecido como manuelino. Durante seu reinado, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia (1498), Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil (1500), D. Francisco de Almeida tornou-se no primeiro vice-rei da Índia (1505) e o almirante D. Afonso de Albuquerque assegurou o controlo das rotas comerciais do Oceano Índico e Golfo Pérsico e conquistou para Portugal lugares importantes como Malaca, Goa e Ormuz. Também no seu reinado organizam-se viagens para ocidente, tendo-se chegado à Gronelândia e à Terra Nova. O seu reinado decorreu num “contexto expansionista, já preparado por seu antecessor e marcado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1498 e pelas consequências políticas e económicas que advieram deste facto”. A extensão de seu reinado “permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, autocrática, detentora de um programa político de potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática até ao seu mais ínfimo detalhe.” D. Manuel I optou por uma política de expansão indiana e pôs em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a realização da viagem de Vasco da Gama em 1497, contra, ao que parece, a oposição de parte do seu Conselho. Escolheu, ainda, a via da inversão pró- aristocrática, ou seja, de restauração de privilégios e direitos antes postos em causa e isto certamente por opção política de Estado. O rei edificou, igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o absolutismo régio e o governo iluminado, por contraponto, aliás, ao problemático e agitado centralismo do seu antecessor D. João II. Tudo isto contribuiu para a constituição do Império Português, fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa. D. Manuel I utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino, dos que são exemplo o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Atraiu cientistas para a corte de Apontamentos: Escudo 158 Lisboa e estabeleceram-se tratados comerciais e relações diplomáticas com a China e a Pérsia, além de que, em Marrocos, realizaram-se conquistas como Safim, Azamor e Agadir. A sua completa consagração europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por Tristão da Cunha, enviando ao Papa Leão X presentes magníficos como pedrarias, tecidos e jóias. Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um elefante, chamado Hanno, doravante mascote do papa, que executava várias habilidades. Mas uma das inúmeras novidades que encantaram os espíritos curiosos das cortes europeias da época terá sido sem dúvida o rinoceronte trazido das Índias, que assumiu, então, um papel preponderante na arte italiana. Na vida política interna, D. Manuel I seguiu as pisadas de D. João II e tornou-se quase num rei absoluto. As cortes foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos, e sempre no paço de Lisboa. D. Manuel I dedicou-se à reforma dos tribunais e do sistema tributário, adaptando-o ao progresso económico que Portugal então vivia. D. Manuel I era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colónias através dos missionários católicos. O seu reinado ficará também lembrado pela perseguição feita a judeus e muçulmanos em Portugal, particularmente nos anos de 1496-98. Esta política foi tomada por forma a agradar aos reis católicos, cumprindo uma das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragão. O Massacre de Lisboa de 1506 foi talvez uma das consequências da política de D. Manuel I. Seguiram-se as conversões forçadas dos judeus e, depois, confiou ao seu embaixador em Roma a missão secreta de pedir ao papa, em 1515, a permissão de estabelecer a Inquisição em Portugal. Na cultura, D. Manuel I procedeu à reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo. Na sua corte surge também Gil Vicente, o pai do teatro português, e Duarte Pacheco Pereira, o geógrafo, autor do Esmeraldo de Situ Orbis. Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a tentativa de reforma do reino, “através da criação de instrumentos unificadores de carácter estatal, como sejam a publicação dos Forais Novos, reformando os antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilação e revisão da legislação, consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a reorganização da Fazenda Pública e a estruturação administrativa daí decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno”. D. Manuel I morreu em 1521 e encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos. Joaquim Correia Escultor natural da Marinha Grande (1920). Com o curso complementar de escultura iniciado na ESBAP e terminado na ESBAL, onde foi discípulo de José Simões de Almeida (sobrinho). É sócio efectivo da Sociedade Nacional de Belas Artes, da Associação dos Arqueólogos Portugueses e da Sociedade de Geografia de Lisboa. Preside à comissão instaladora do Museu Nacional do Vidro. Comendador da Ordem Militar de Sant'iago de espada e "Des Arts et Lettres" de França. É autor de numerosas estátuas, baixos-relevos e medalhas que figuram em lugares públicos e privados em Portugal e no estrangeiro. Está representado nos Museus Nacionais de Arte Contemporânea de Lisboa, de Soares dos Reis no Porto, no centro de arte moderna da fundação Calouste Gulbenkian, e em várias colecções nacionais e estrangeiras

Adamastor

Adamastor é um mítico gigante baseado na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões n'Os Lusíadas. Representa as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade, ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os alegados domínios de Adamastor. É o nome atribuído a um dos gigantes, filhos de Terra, que se rebelaram contra Zeus. Fulminados por este, ficaram dispersos e reduzidos a promontórios, ilhas e fraguedos. O seu nome surge, certamente, pela primeira vez com Sidónio Apolinário. O gigante foi listado por Rabelais, em Gargantua e Pantagruel. Foi popularizado ao ser usado com verdadeira mestria pelo poeta português Luís de Camões, no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria. O Adamastor tem não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do Restelo. Também dá ênfase ao “mais que humano feito” referido na proposição. Realçando a coragem do Herói, individual ou colectivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios superiores do poder do Homem, porque renega a sua emoção seguindo a ordem de el-rei. Na continuação do episódio, o narrador mostra-nos como este gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece dessa doença benigna que é o amor. A sul do Cabo Bojador erguia-se um conjunto de lendas e superstições que a imaginação mitogénica criara a partir do mundo desconhecido. Os marinheiros quatrocentistas não podiam deixar de sentir o mistério que envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas representavam o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele. À custa de uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar esses mitos e chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido pela impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa Esperança, lhes abria as portas da Índia. Os mares desse cabo serviram muitas vezes de sepultura a naus e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões, como que comprovando as profecias do Adamastor.

As 7 tribos descendentes dos portugueses


Estão espalhados um pouco por todo o mundo e são a maior prova do legado dos Descobrimentos, quando os portugueses partiram para terras distantes em busca de glória e riqueza.
A grande maioria deles ainda fala crioulo de origem portuguesa e ainda mantém vivas algumas tradições dos seus antepassados. É comum, em muitos locais, ainda cantarem em português e a religião católica é outro factor que os une.
Existem muitas tribos e povos que descendem dos portugueses, desde a América até à Ásia. Alguns estão a desaparecer, outros ainda conseguem manter viva a chama dos seus ancestrais e o amor por Portugal. Descubra 7 tribos descendentes dos portugueses.

Lamno (Indonésia)


Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Indonésia, no início do século XVI e, apesar de terem-se estabelecido sobretudo na região oriental do país, alimentaram o sonho de controlar o comércio da pimenta desde a zona estratégica do Norte da Samatra até ao mercado chinês.

Os portugueses da província indonésia de Aceh, conhecidos localmente como “olhos azuis”, estão em risco de se extinguirem desde que o tsunami de 2004 reduziu a comunidade de centenas de pessoas a menos de uma dezena.

Antes do tsunami, a comunidade teria talvez cerca de 500 pessoas, enquanto que agora é difícil apontar um número, porque a região conta com descendentes de outros europeus e árabes.


Bayingyis (Birmânia)

A hegemonia portuguesa no Índico e no Pacífico durou perto de um século e seria profundamente abalada com a chegada dos holandeses àqueles mares.
Com a substituição da dominação portuguesa pela holandesa – permanecendo nas terras que as viram nascer; deportados para outras paragens; ou forçados à emigração – as cristandades mestiças euro-asiáticas do Oriente talharam a identidade colectiva de cada uma que perdurou até aos nossos dias e que assenta em dois pilares principais: a religião católica e a língua crioula.

Entre essas comunidades destaca-se a dos descendentes dos muitos soldados portugueses que na época de Seiscentos lutaram ao lado dos soberanos de Ava e do Pegu, reinos da antiga 
Birmânia, ou que faziam parte do pequeno exército de Filipe de Brito, ou do seu companheiro de armas Salvador Ribeiro de Sousa, senhores feudais em terras do Oriente, ambos empossados com o título de ‘rei do Pegu’, e que são hoje conhecidos em Myanma(actual Birmânia) como os ‘bayingyis’


Ziguinchor (Senegal)

Na região, descrita pelos cronistas coevos como o reino mais amigo dos portugueses ao longo da costa da Guiné.
da actual Ziguinchor remonta  uma feitoria fundada pelos portugueses em 1645, na margem sul do rio Casamansa. Segundo a tradição, o seu nome deriva da expressão em língua portuguesa “cheguei e choram”, uma vez que os nativos pensavam que os europeus os vinham escravizar.
Subordinada à capitania de Cacheu, o seu objectivo era o comércio com o reino de Casamansa, um fiel aliado.

Nos censos de 1963, dos 42.000 habitantes de Ziguinchor, 35.000, falavam o crioulo (83%), e 30.000 tenham o crioulo como língua materna (71,4%).
crioulo de Casamansa é uma língua crioula baseada no português que é considerado um dialecto do crioulo da Guiné-Bissau falado principalmente na região de Casamansa no Senegal e também na Gâmbia.

Kristang (Malásia)
Os portugueses chegaram há quinhentos anos a Malaca. A diáspora lusitana subsiste, com inusitado fulgor e entusiasmo, num pequeno bairro piscatório malaio, onde se luta pela manutenção da cultura portuguesa. Hoje e sempre.
Em Malaca (Melaka, i.e., “O Estado Histórico”), o terceiro mais pequeno Estado da Malásia, existe um povo conhecido por Kristang (“cristão”), que descende dos portugueses e que sobrevive desde o século XVI como uma pequena comunidade de cerca de 5000 pessoas.
A numerosa colónia luso-descendente não abdicou da identidade cultural. Meio milénio após a chegada lusa e 370 anos após a sua partida, todos continuam a afirmar-se, orgulhosamente, portugueses, sem nunca terem pisado solo nacional. A cultura popular portuguesa transmite-se de pais para filhos, por via oral.
Contam-se histórias, ensinam-se costumes e tradições, transmite-se «o portugis antigo», que falavam os primeiros colonos, corrompido por séculos de transmissão oral sem um único registo escrito ou resquício de ensino oficial.
Burghers (Sri Lanka)

Burgher é o nome pelo qual são conhecidos os descendentes de portugueses e holandeses no Sri Lanka. Os Burghers Portugueses são um grupo étnico do Sri Lanka descendentes de cingaleses e portugueses, católicos e falantes do indo-português do Ceilão, uma linguagem crioula de origem portuguesa.
Os Burghers portugueses são maioritariamente descendentes de mestiços de origem portuguesa e cingalesa, geralmente pai português e mãe cingalesa ou mãe descendente de portugueses com pai cingalês. A sua origem remonta à chegada dos portugueses, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, em 1505.

Quando os holandeses tomaram as costas do Sri Lanka em 1656, antigo Ceilão Português, os descendentes dos portugueses refugiaram-se nas montanhas centrais do reino Kandyan, sob domínio cingalês.
Com o tempo descendentes de portugueses e holandeses casaram entre si. Embora a língua portuguesa tivesse sido banida sob o domínio holandês, estava tão difundida como língua franca do Índico que até os holandeses a falavam. No Censo de 1981 os Burghers (holandeses e portugueses) contavam cerca de 40.000 (0,3% da população total do Sri lanka).

Numerosos apelidos de origem portuguesa permanecem até hoje, como Perera, Pereira, Abreu, Salgado, Fonseca, Fernando, Rodrigo e Silva que se tornaram parte da cultura do Sri Lanka.
Korlai (India)

Korlai é uma aldeia que fica perto das ruínas da antiga cidade fortaleza de Chaul construída pelos portugueses no séc. XVI, em 1534. Chaul foi uma das cidades mais importantes e estratégias do Império Português do Oriente, de tal forma que era uma cidade bem apetecida para os adversários dos portugueses.
Os portugueses começaram a frequentar aquelas águas a partir de 1501, com o apoio do potentado local que se fizera vassalo do rei de Portugal para se livrar da influência do Samorim de Calecut.

A povoação conta com cerca de 900 falantes, no entanto encontra-se ainda por estudar, pois ainda não há nenhum estudo sobre a língua ou sobre os costumes deste povo.
A descendência de Korlai resulta da presença de soldados Portugueses que se casaram com as nativas, bem como um pequeno grupo de mulheres de Goa que se casaram com portugueses. Os seus costumes e tradições indicam essa origem e incluem a religião cristã, a celebração de diversas festividades e até músicas populares.
Tugu (indonésia)

Não é fácil chegar a Tugu, a nordeste de Jacarta, capital da Indonésia. Mesmo ao fim-de-semana, o trânsito que liga à aldeia é caótico, devido à proximidade do porto de Tanjung Priok, o principal do país, com cerca de 430 hectares. Apesar dos inúmeros camiões que entopem a estrada principal, sente-se uma tranquilidade ao chegar a Tugu, um ex-líbris de Portugal. Junto ao cemitério e à igreja branca datada do século XVII, há um espaço aberto e arvoredo que lembra o centro de algumas aldeias portuguesas, até pelos idosos que por ali vão deixando cair o tempo.

Os ancestrais dos tugu estão ligados aos escravos dos portugueses na Índia que foram levados para a Batávia, antiga Jacarta, por holandeses.
Ainda no século XVII, após o fim do império colonial português no Sudeste Asiático, chegaram àquela zona comerciantes, artesãos e aventureiros oriundos de Malaca, Ceilão, Cochim e Calecute. O cruzamento entre os dois grupos fez nascer os chamados “Portugueses Negros”, que tinham em comum a língua portuguesa e a religião cristã.

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