quinta-feira, 26 de abril de 2012

"a construção naval e a vida a bordo" e a "Ribeira das Naus


 
O êxito dos Descobrimentos deve-se, em grande parte, a esta embarcação
– A Caravela -
As primeiras explorações africanas (até 1436) foram realizadas em pequenos navios denominados, barca ou barinel, de velas quadrangulares (pano redondo)
Porém, com o alargamento das viagens para o Sul do Bojador, as dificuldades de regresso contra os ventos alísios de NE, reconheceu-se a necessidade de adoptar um tipo de navio mais apropriado – a caravela, de dois ou três mastros, todos com velas triângulares (velame latino) o que facilitou a navegação com ventos desfavoráveis.
A navegação ao longo da costa ocidental africana para Sul do cabo Bojador, com baías, enseadas e rios a explorar, cabos a dobrar, rochas e baixios a evitar, exigiu outro tipo de navio – mais manobrável, com pouco calado e mais robusto,  armar remos e navegar com ventos fracos, que suportasse os ventos fortes do alto mar,  mais rápido a fugir dos perigos e  regressar a Portugal em pouco tempo
A caravela foi o tipo de navio  construído, o êxito dos Descobrimentos deveu-se, em grande parte, a esta embarcação.
Depois da viagem de Bartolomeu Dias, os longos percursos veêm mostrar que as caravelas não tinham suficiente robustez para vencer os mares procelosos, por isso, com a expedição de Vasco da Gama, começaram a construir-se “ navios mais fortes” com velame redondo, denominados naus.
À popa e à proa das naus, alteavam-se castelos, para abrigo da tripulação e das guarnições militares.
Foi em caravelas que a técnica de navegar no Atlântico começou a ser desenvolvida, lenta e empiricamente pelos marinheiros de Sagres, de Lagos e de Lisboa.
O aperfeiçoamento da navegação astronómica irá dar à Europa a hegemonia sobre o mundo durante vários séculos.
Foi em caravelas que os Portugueses estudaram o regime dos ventos e correntes do Atlântico, que veio permitir aos navios à vela escolherem as rotas apropriadas, que ainda hoje são seguidas.
Foi devido às caravelas que o ouro do Alto Senegal e do Níger, em vez de seguir em caravanas para Norte de África, passou a ser desviado para a costa, embarcado nos navios portugueses e transformado em moedas de ouro, na casa da Moeda de Lisboa.
Foi em caravelas que os Portugueses passaram do Atlântico ao Índico e procederam ao levantamento das costas, com que os cartógrafos traçaram as cartas e planisférios, que ainda hoje causam a admiração do mundo, pela exacta perfeição com que foram elaborados.
Foi com os diversos tipos de caravelas que os construtores navais portugueses conseguiram atingir um nível técnico, que as outras nações civilizadas invejavam.
A vida a bordo das caravelas dos descobrimentos era extremamente dura.
As tripulações, mal abrigadas do tempo, dormiam quase sempre no convés.
Só os principais dispõem de um pequeno cubículo no castelo da popa, dormia-se vestido e andava-se descalço.
A navegação em costas desconhecidas fez-se de dia e sempre com grandes cautelas. O batel foi usado com frequência para indicar o caminho e, por vezes, recorre-se aos remos da própria caravela.
As grandes velas latinas, em vergas que excediam o comprimento do navio, requeriam uma atenção constante, eram de difícil manobra com ventos fortes e, quando molhadas, eram muito pesadas.
Com intervalos de alguns meses, a caravela tinha de ser carenada numa praia. A madeira do forro do casco era limpa dos limos que reduziam a velocidade e era protegida contra o teredo, molusco que perfuravam as madeiras imersas, muito activo em águas quentes.
O calafeto também era reparado e beneficiavam-se o massame, as velas e a mastreação.
No convés, que por ser de madeira tinha de ser molhado diariamente para se manter estanque, além do batel, dos remos, vergas e sobressalentes e alguns abastecimentos, muitas vezes havia galinhas e outros animais vivos para consumo durante a viagem, tudo isto bem amarrado e em locais que não estorvavam a manobra.
Quando as caravelas eram utilizadas no comércio, a carga era arrumada no convés e no porão.
Por baixo do convés, além do lastro de pedras, guardavam-se os barris com água e vinho, os abastecimentos, velas, cabos e outros sobressalentes.
A água das infiltrações do forro e do convés acumulava-se no fundo e tinha de ser esgotada, apesar de ajudar a manter o calafeto. Os barris, mesmo os melhores construídos, com os balanços acabavam por derramar.
Os mantimentos embarcados em Portugal, à base de pão, biscoitos, carne salgada e peixe seco, azeite, mel e frutos secos, depressa se estragavam, no ambiente quente e húmido. E os roedores sempre presentes eram hóspedes indesejáveis a bordo dos navios de todos os tempos.
A água doce, em barris de madeira, era um bem precioso que se tinha de poupar e racionar. Após algumas semanas, sobretudo em climas quentes, inquina, constituindo com frequência o impedimento à continuação das viagens.
Quando o tempo permitia, cozinhava-se uma refeição quente no convés, num local abrigado do vento. O lume era de carvão ou lenha e ardia sobre terra ou areia.
A pesca, mesmo a navegar, era uma ocupação frequente e de raras distracções.
Logo que se chegava a terra procura-se água, alimentos frescos e lenha.
O frio, o calor e a humidade eram suportados sem equipamento nem vestuário mais convenientes.
As doenças causadas pela má alimentação e as doenças tropicais eram rudimentarmente tratadas.
A bordo não se podia adoecer. Os ferimentos com veneno eram lavados e untados com triaga, que era então uma espécie de panaceia para todas as feridas.
Sem comunicação com o exterior e sem apoios em terra, as tripulações estavam entregues a si próprias e à protecção divina, durante meses e até anos,  sempre na dependência do vento.
Foram muitos os que não regressavam, mas a maioria dos que voltavam, tornava novamente a partir. [António Cardoso]

O Mar na época dos Descobrimentos

As viagens marítimas eram de grande risco.
De facto, as estatísticas desta época eram terríveis para quem procurava a aventura saindo de Portugal.

Em média menos de metade regressavam. 
As causas da sua morte eram várias, desde os naufrágios por causas climatéricas e dificuldades marítimas, passando por causas bélicas. 
Não raras vezes os homens que saiam de Portugal em busca de ganhar a sua fortuna acabavam por participar em guerras como mercenários muito bem pagos perecendo não raras vezes nos campos de batalha. 
Será necessário não esquecer ainda o contacto com doenças tropicais para as quais os europeus e a sua medicina primitiva não estavam de todo preparados. 
Por fim, um pequeno número prosperava e muitas vezes não regressava ao país natal. 
A frequência dos naufrágios seriam com certeza traumatizantes, sendo que o maior poeta deste período chegou a sofrer um e descreveu no canto X do seu poema Os Lusíadas: 

Vêm do naufrágio triste e miserando, 
Dos procelosos baixos escapados, 
Das fomes, dos perigos grandes, quando 
Será o injusto mando executado” 

Fernão Mendes Pinto na sua narração descreve vários episódios de naufrágios dos quais conseguiu sobreviver miraculosamente, também é um bom exemplo deste constante perigo.

 A vida a bordo

O duro quotidiano a bordo dos navios dos Descobrimentos era afectado por um conjunto de factores, naturais e humanos, que o transformavam num raro exemplo das continuadas dificuldades e privações enfrentadas por aqueles que viam no mar, ou nas terras para além dele, a promessa de riquezas ou de uma vida melhor, embarcando muitas vezes sem consciência dos perigos e das provações que os aguardavam, “que o não pode contar senão quem o passa”.

Sucedendo às etapas de navegação relativamente curtas que uniam o continente às ilhas atlânticas ou que haviam proporcionado o reconhecimento sistemático da costa ocidental africana, a permanência no alto mar alargou-se definitivamente no tempo e no espaço com o estabelecimento, logo no início do século XVI, de uma ligação anual regular entre Lisboa e o Oriente – a Carreira da Índia. De facto, nenhum outro momento das navegações portuguesas determinou a existência de uma micro-sociedade embarcada, sujeita a severas regras de conduta, impostas por uma hierarquia estabelecida de molde a zelar por todas as componentes da vida no mar.

Desde logo, o conforto de tripulações e passageiros não constituía prioridade na concepção e construção dos navios, sendo que o aumento da respectiva tonelagem, ditado por crescentes desejos de lucro e necessidades de defesa, em pouco contribuiu para a melhoria das condições de vida a bordo, possibilitando, outrossim, a multiplicação do número de almas obrigadas a conviver durante um trajecto que, em circunstâncias favoráveis, demoraria entre seis e sete meses a percorrer, submetidas consecutivamente à meteorologia primaveril da partida, às tórridas temperaturas das calmarias equatoriais e ao rigor da invernia austral que anunciava a aproximação ao Cabo da Boa Esperança. Assim, na típica nau de três cobertas e de cerca de 500 tonéis de arqueação, viam-se usualmente confinadas mais de 500 pessoas, entre pessoal de navegação, equipagem de manobra e de manutenção, soldados, artilheiros e grande número de vulgares passageiros, compartilhando o exíguo espaço disponível com carga, materiais e equipamentos de reposição e até com animais vivos. Apesar de algum esforço colocado na organização do espaço, poucos eram os que não tinham que suportar um ambiente promíscuo, gerador de comportamentos agressivos e depressivos.
A alimentação e a água potável constituíam um problema recorrente. No que respeita aos mantimentos, enquanto os passageiros deviam garantir à partida a sua própria subsistência durante a viagem, o que raramente acontecia, tanto por ignorância como por insuficiência de recursos, cabia ao armador o abastecimento da despensa do navio, por forma a manter toda a tripulação. Mesmo em condições normais, os alimentos eram alvo de distribuição racionada, efectuada numa base diária ou mensal consoante o tipo de produto, verificando-se níveis de verdadeira penúria, impostos por circunstâncias desfavoráveis. Ainda que se recorresse pontualmente ao abate de animais e à pesca, a dieta a bordo centrava-se no consumo de biscoito - pão cozido pelo menos duas vezes, aumentando o seu período de conservação - enchidos e alimentos salgados, sobretudo carne de porco, mas também algum peixe, acompanhados pela ração diária de vinho. Devido à cupidez dos fornecedores oficiais, os géneros eram frequentemente de qualidade duvidosa, o que originava a sua rápida deterioração em contacto com o calor e a humidade tropicais.

Quanto à água, o racionamento aumentava em austeridade ao longo da viagem, ao mesmo tempo que a qualidade decrescia face à falta de higiene do vasilhame utilizado, o que era extensivo ao acondicionamento do vinho. Desta forma, a sede era uma constante a bordo, piorando a situação com a necessidade de consumo dos géneros conservados em sal, motivando a reutilização da água usada para os demolhar e cozer, sendo posteriormente ingerida em caso de necessidade. A escassez ou a total falta do precioso líquido afirmava-se como a causa mais forte para a realização das pouco frequentes escalas de reabastecimento, existindo exemplos de partidas de Lisboa que apenas fizeram aguada por alturas de Moçambique.

Encontrava-se, assim, montado o cenário de tantos relatos, onde abundam expressões como “água fedorenta que se bebia a pequenos tragos, apertando o nariz”, “biscoito magro e cheio de bichos” ou “ vinho que era vinagre muito sujo”.

As restrições quanto ao consumo de água implicavam a existência de condições sanitárias extraordinariamente precárias. Com a higiene pessoal reduzida à sua mínima expressão e a frequente impossibilidade de proceder ao despejo de dejectos, a atmosfera nas áreas pouco ventiladas situadas entre cobertas rapidamente se tornava nauseabunda, o que, associado às circunstâncias climatéricas e à deficiente nutrição, concorria para o aparecimento e fácil propagação de um rol alargado de enfermidades: febres tropicais, chagas várias, pleurisias associadas ao frio austral, toda a espécie de parasitas, tifo, sarampo, doenças venéreas e de pele relacionadas com a ausência de higiene e, a partir da segunda metade da viagem, o temível escorbuto, provocado por grave insuficiência vitamínica, cuja prevenção através da ingestão de fruta apenas tardiamente se tornou conhecida e praticada.

Acantonados na coberta intermédia, onde o ar era quase irrespirável, o crescente número de doentes chegava a provocar a redução significativa de braços disponíveis para a manobra e a afectar a prontidão bélica defensiva. Encontravam-se entregue às sangrias e a outros rudimentares cuidados de saúde aplicados pelo barbeiro de bordo, o qual substituía o cirurgião, cuja presença, ainda que regulamentar, se via frequentemente inviabilizada por razões de ordem financeira. Era comum a existência de uma botica, mas os remédios e mezinhas disponíveis revelavam-se naturalmente pouco eficazes. Ainda no que toca ao amparo dos enfermos, a presença de missionários a bordo detinha grande importância, já que os religiosos assumiam com enorme dedicação o papel de enfermeiros, contribuindo para amenizar um cenário geral de dependência e sofrimento.

Dada a multiplicidade de factores envolvidos, as viagens registavam níveis de mortalidade bastante variáveis, alternando-se perdas humanas reduzidas com ocorrências em que cerca de metade do número de embarcados encontrava no oceano a sua última morada.

As consequências de tão longa estadia no mar reflectiam-se igualmente no plano psicológico e emocional, ainda que de modo diferente sobre segmentos distintos da população embarcada: para além do comum receio em relação ao riscos representados por intempéries e ataques de corsários, à penosa ociosidade forçada dos passageiros contrapunha-se o esgotante labor da tripulação, contribuindo uma e outro para um ambiente de permanente tensão a bordo.

Tratava-se, pois, de encontrar formas de ocupar o espírito, com recurso tanto ao âmbito do profano como do religioso. Quanto à primeira vertente, qualquer acontecimento benéfico que quebrasse a rotina servia de pretexto para festejar. Do mesmo modo, os hábitos de terra viam-se transpostos e adaptados à vivência a bordo, destacando-se os jogos de azar, os quais, apesar de proibidos por degenerarem facilmente em altercações e violência, eram tolerados enquanto uma das raras diversões existentes, apesar da crítica dos religiosos embarcados, verdadeiros agentes da observação da moral e bons costumes. Simulavam-se touradas, utilizando canastros empurrados ou largando no convés os tubarões que se deixavam enlear nas redes de pesca, existindo ainda registos da representação de peças teatrais, sobretudo de teor sacro.

De facto, os aspectos religiosos eram “guardados a bordo dos navios como em terra”. Organizavam-se procissões que percorriam o navio, salientando-se aquela que marcava as festividades pascais, realizada pouco depois da saída do Tejo. Por seu turno, quer as missas de acção de graças realizadas após qualquer aflição, quer os ofícios regulares, detinham audiência alargada, assumindo-se, tal como em terra, como um importante momento de controlo social. Até ao século XVII, o ritual eucarístico revestiu-se de uma singular particularidade, só possível mediante autorização papal: por forma a evitar o risco de derramar o “sangue de Cristo” devido à acção da ondulação, o vinho encontrava-se ausente da celebração, dando origem às designadas “missas secas”.

Principal fonte de informação, são bem claros os relatos de viagens redigidos por padres, mormente jesuítas em trânsito de e para a Índia: para os passageiros que conseguiam suplantar os ataques de corsários, a fome e a sede, a sobrelotação e a promiscuidade, as moléstias do corpo e o desânimo do espírito, o clima e as tempestades, a chegada ao destino apenas poderia significar uma enorme sensação de alívio em relação a todas as enormes privações e riscos que a demorada permanência a bordo determinava.

Rui Roque

Bibliografia:
DOMINGUES, Francisco Contente; GUERREIRO, Inácio, A vida a bordo na carreira da Índia: século XVI, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1988, Separata da Revista da Universidade de Coimbra, vol. XXXIV.
IDEM, «A evolução da Carreira da Índia até aos inícios do século XVII»,Portugal no Mundo, vol. IV, Luís de Albuquerque (dir.), Lisboa, Alfa, 1989, pp. 105-130.

GUERREIRO, Inácio, «Particularidades da vida no mar», Revista Oceanos, nº. 38, Lisboa, 1999, pp. 149-157.
Fonte:
Pedro Cruz – blogMarinha de Guerra Portuguesa


Ribeira das Naus - XVI - XVIII

A Ribeira das Naus


Ribeira das Naus foi o nome dado a partir da construção do Paço da Ribeira às novas tercenas que o Rei Dom Manuel I mandou edificar a ocidente do Novo Palácio Real, construído sobre o local das tercenas medievais. O seu antigo local faz hoje parte das Instalações da Administração Central da Marinha.

A Ribeira das Naus, constituíram os maiores estaleiros do ‘Império Oceânico Português’, servindo de modelo aos restantes que se foram construindo além-mar, nomeadamente às Ribeiras de Goa e de Cochim.

Foi construído sob a supervisão do próprio Rei Dom Manuel I.

O conjunto de estabelecimentos, não eram exclusivamente navais, porque continha armazéns de armas para o exército. Este arsenal que eram as antigas Tercenas Navais que á alguns séculos se construíam as embarcações de guerra e comercial teve o nome de 'Ribeira das naus', que conservou até ao século XVIII, mais precisamente até ao terramoto de 1755.

A Ribeira das Naus foram construídas sobre o local das antigas ‘Tercenas navais’, a construção naval estava interligado com o novo Paço Real e os trabalhos de construção supervisionadas pelo Rei Don Manuel I, que deixava o antigo Paço Real no Castelo de São Jorge.

O novo complexo de edifícios estavam interligados no novo conceito manuelino, a expansão ultramarina. Dom Manuel I e a cidade de Lisboa viram-se para o rio onde chega as riquezas do Império.
Quando o palácio dos Corte-Reais foi para a coroa e foi residência dos príncipes herdeiros todo o complexo era constituído pelo palácio do príncipe herdeiro, depois a ribeira das naus com todos os seus edifícios, o paço real, o terreiro do paço e um conjunto de armazéns que acabavam na antiga muralha fernandina.
A Ribeira das Naus passou a ser designada 'Arsenal Real da Marinha' quando as suas instalações construídas no mesmo local, no âmbito da reconstrução da Baixa de Lisboa depois do terremoto. Esta denominação passou ao novo arsenal, por alvará de 16 de Novembro de 1755, e por muito tempo ainda o povo assim lhe chamava.

Um notável exemplo de longevidade de uma nau do primeiro quartel do Século XVI foi dado pelos nove anos de aventuras e trabalhos da célebre ‘Flor de La Mar’, afundada nas costas de Sumatra com os tesouros de Malaca trazidos por Afonso de Albuquerque.
Segundo o “Livro de Toda a Fazenda”, a contabilidade pública de então, em 1505, o Rei Dom Manuel I de Portugal, encarregou o provedor João Serrão de armar oito grandes Naus, seis Navetas e oito Caravelas, além de outros navios, para formarem a Armada do Vice-Rei Dom Francisco de Almeida. A ‘Flor de La Mar’, capitaneada pelo Alcaide menor de Lisboa Dom João da Nova, fazia parte com a ‘Bom Jesus’, a ‘São Gabriel’, a ‘São João’, a ‘Espírito Santo’, a ‘São Tiago’, a ‘Bota Fogo’ e a ‘Santa Catarina’ do lote de 8 naus de 400 toneladas, cuja principal missão era estabelecer o domínio naval português no Índico. Provavelmente tratava-se da segunda viagem à Índia da Nau ‘Flor de La Mar’ com João da nova como capitão. Efectivamente, este galego de nação e fidalgo de Portugal fora o Capitão-Mor da terceira Armada enviada por Dom Manuel I à Índia. Com três naus, uma delas talvez a ‘Flor de La Mar’, apesar da crónica de Goês não citá-la ainda de nome, e uma Caravela, ‘João da Nova’ partiu a 5 de Março de 1501 para chegar a Cananor em Agosto e receber um primeiro carregamento completado depois em Cochim, onde as Naus foram calafetadas, reparadas e breadas. Depois de umas escaramuças que levaram ao afundamento de três Paraus de uma grande frota enviada pelo Samorim, Dom João da Nova regressa a Lisboa, tendo entrado no Tejo a 11 de Setembro de 1502. Na segunda viagem do notável navegador que parece não ter o seu nome merecidamente glorificado numa rua de Lisboa, este recebeu ordens para cruzar entre o Cabo Camorim e as Ilhas Maldivas, levando também um alvará real de nomeação para Capitão-Mor da Armada da costa da Índia. A Armada de Dom Francisco de Almeida com a ‘Flor de La Mar’ largou pois a 5 de Março de 1505, dobrou o Cabo da Boa Esperança em fins de Junho sem grandes percalços. Nos primeiros dias de Agosto, as principais Naus da Armada com a Capitania lançaram ferros frente a Mombaça. O Vice-Rei mandou o intrépido João da Nova a terra para comunicar com os habitantes.“Estes receberam-no à pedrada” (escreveu Gaspar Pereira, escrivão da armada). João da Nova dispara dois berços de metal que levava no batel, “com que logo na praia pagou o jogo das pedras”“Olá dos navios! Ide dizer ao Vice-Rei que venha em terra, que em Mombaça não há-de achar as galinhas de Quiloa, mas vinte mil homens que lhe hão-de torcer o focinho (…) (diziam os naturais na praia da Ilha) continuou Gaspar Correia na sua crónica da viagem. Na manhã seguinte, 1.300 soldados da armada desembarcaram em Mombaça, distribuídos em duas colunas. Depois de uma peleja encarniçada, o Xeque de Mombaça pede a paz e a armada zarpou com os presentes do potentado, agradecido por lhe pouparem a vida e não terem destruído a cidade. A Cochim, a armada chega a 1 de Novembro, tomando de imediato conhecimento da existência de uma esquadra de 400 navios e 10 mil homens organizada pelo Samorim para enfrentar as forças do Vice-Rei. Muito chegado a terra, os navios do Samorim tiveram de se haver com as caravelas e galés de Portugal porque as naus não podiam chegar-se tanto. Numa naveta artilhada, João da Nova comete proezas sem par juntamente com os navios mais pequenos da armada. “Tudo era fogo, fumo e gritos” (escreve Gaspar Correia). As três bombardas e os seis falcões de cada uma das caravelas fizeram uma razia, opondo-se com a sua superioridade aos pelouros e flechas dos mouros.
Em Fevereiro de 1506, a ‘Flor de La Mar’ com o ‘São Gabriel’, capitaneada por Vasco Gomes de Abreu, recebe ordens para largar de Cochim rumo a Portugal. Além do valioso carregamento de especiarias levavam um pequeno elefante. Gaspar Correia cita a ‘Flor de La Mar’ ainda sob o comando de João da Nova nas duas armadas de Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque saídas de Lisboa para a Índia a 5 e 7 de Abril de 1506. Na verdade, deveria estar equivocado. A ‘Flor de La Mar’ não poderia chegar a Lisboa nessa data e outros arquivos históricos dizem-nos que nunca chegou a sulcar novamente as águas do Tejo, pois na viagem de regresso a Portugal arribou à Ilha de Moçambique com água aberta e grande dificuldade para consertar a avaria. Ficou no canal entre a Ilha e a Cabaceira, a zona de abastecimento das naus com água potável. Aí é que a armada de Tristão da Cunha encontrou João da Nova com a sua ‘Flor de La Mar’. Sendo amigo e compadre de João da Nova, Tristão da Cunha fez tudo para salvar a ‘Flor de La Mar’. Comprou uma Nau comercial de Lagos que vinha na sua Armada para transbordar toda a mercadoria que vinha na ‘Flor de La Mar’, a fim de a “pôr a monte” para os consertos necessários. Assim feito, João da Nova e a sua Nau foram mandados de novo para a Índia integrados na Armada de Afonso de Albuquerque, mas João da Nova foi desgostoso por o Vice-Rei não ter aceitado o seu alvará de Capitão-Mor e, agora, em vez do regresso à Pátria ia acompanhar Albuquerque em trabalhos e aventuras ainda inimagináveis. Tal como a sua Nau, também João da Nova nunca mais veria as águas do Tejo. Apesar de insatisfeito, o Alcaide menor de Lisboa mostrou-se tremendamente eficaz em todas as tarefas em que se meteu. Logo em Abril de 1507, João da Nova acompanha Afonso de Albuquerque com 300 homens no ataque à fortaleza de Socotorá, defendida por centena e meia de “fartaquins”, pondo-os todos em fuga. Reconstruiu-se a fortaleza; Portugal controlava agora a estratégica entrada para o Mar Vermelho. Em carta não datada, mas provavelmente de 1506, dirigida a Dom Francisco de Almeida, Dom Manuel I ordena o envio de navios a Malaca e nomeia João da Nova capitão-mor de uma Armada de uma Nau, um Navio e uma Caravela que ficará aí. Ao mesmo tempo, El-Rei ordenou que a ‘Flor de La Mar’ regresse a Portugal sob o comando de Dom Francisco de Távora, enquanto João da Nova deveria ser o capitão da nau ‘Rei Grande’, anteriormente de Dom Távora. Não foram cumpridas estas ordens de Dom Manuel I, era demasiado cedo para ir a Malaca sem ter previamente estabelecido o domínio do Índico.

A Barca

A Barca era um navio pequeno de madeira, com uma só coberta e um só mastro, que podia levar ou não cesto de gávea. A vela era quadrada e abria-se suspensa numa verga colocada sobre o mastro. Esta vela quadrada chama-se também vela redonda porque enfunava com o vento e ficava arredondada como um balão. A barca destinava-se a viagens pequenas. Foi numa barca que Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador em 1434.

O Caravelão
O caravelão não tinha mais de 40 ou 50 tonéis, segundo o Livro Náutico, onde aparece a menção de "Hum caravelão pª recados". Devia ser em tudo semelhante à caravela, arvorando dois mastros, geralmente, e neste caso particular, a fonte citada indica que iria artilhado com dois falcões e quatro berços (ambas peças de artilharia de pequeno calibre), com uma tripulação de 25 pessoas. Cumpria as tarefas auxiliares nas armadas de aguadas, abastecimentos, explorações e navio-correio. A necessidade de marcar terminologicamente uma embarcação com estas características indica que tal só teria acontecido uma vez vulgarizada a Caravela Redonda ou de armada (Séc. XVI) e daí que por este termo se tivesse passado a designar uma embarcação que poderia ser semelhante à caravela quatrocentista, embora de construção mais tosca e agora recuperada com outras funções, no quadro naval dos Séculos XVI e XVII.

A Carraca
Carraca (do árabe Harraqa) era o nome dado a um tipo de navio utilizado no transporte de mercadorias referenciado em documentos dos séculos XV e XVI, criado pelos Portugueses especificamente para as viagens oceânicas nas quais as embarcações até então usadas no Mediterrâneo se mostravam incapazes. As carracas eram navios de velas redondas e borda alta, e possuíam três mastros. Os primeiros exemplares tinham uma capacidade de 200 a 600 toneladas, mas na época em que os portugueses as utilizaram na carreira da Índia atingiu valores de 2.000 toneladas.

O Galeão
Um galeão é um navio que se distingue dos restantes navios do mesmo tipo pelo facto de possuir quatro mastros, de alto bordo, armado em guerra, frequentemente utilizado no transporte de cargas que possuíam alto valor na navegação oceânica entre os séculos XVI e XVIII. Alguns tinham 1.200 toneladas e 40 bocas-de-fogo. O número de velas era variável e tinham duas ou três cobertas. Uma das suas características é a existência do chamado ‘castelo’, à sua popa, apresentando até à proa uma pequena curva. Por volta do século XII, o galeão era uma pequena galé com uma só ordem de remos, e de formas finas. Mais tarde aplicou-se o termo a navios de alto bordo e de velas nas carreiras da América, da África e das Índias. Em 1770, durante a Guerra da Sucessão da Espanha, vários galeões carregados de ouro afundaram na baía de Vigo. O galeão além de servir às diversas Marinhas, também era usado por Piratas. Mas o normal era, ao ser construído pelos mesmos, adquirirem uma ‘Carta de Corso’, se transformarem em Corsários incorporando-se às Marinhas e lutando contra os Piratas, que eram muitos.

Santiago
Em abril de 1602, o Galeão português foi capturado por dois navios holandeses ao largo da ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul. Na altura da captura do Galeão este, viajava para Portugal, vindo da Índia, e, na escala em Santa Helena, então era já habitual na jornada Índia-Portugal, fora surpreendido pelos holandeses, que também voltavam da Ásia, mais precisamente do sultanato de Achém, em Samatra.

São Paulo

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