fonte: Manuel Pinheiro Chagas e José Maria de Sousa Monteiro
1418
Neste ano foi
mandado Bartolomeu Perestrelo, Cavaleiro da Casa do infante D. João, à empresa
de dobrar o Bojador; mas sendo assaltado de tempestade,. perdeu derrota
que levava, e foi arrojado a uma Ilha desconhecida, a que deu o nome de Porto
Santo, por ter achado nela abrigo, e descanso de sua trabalhosa navegação.
Damião de
Gois, e Soares da Silva põem este descobrimento no ano seguinte de 1419.
Alguns negam
que Perestrelo fosse o descobridor desta Ilha, e somente dizem que o infante
lhe dera a Capitania dela: mas a pratica geral daquele tempo nos parece
persuadir o contrário.
No ano
seguinte de 1419 voltou Perestrello com outros dois navegantes João
Gonçalves Zarco, e Tristão Vaz, Cavaleiros da casado infante D. Henrique, cada
um em seu navio a Ilha de Porto Santo, lavando Perestrello ordem, alguns
preparos para começar a sua cultura.
Dizem os
escritores antigos, que lançando na Ilha uma coelha , que no mar havia parido,
fora a criação destes animais em tanto aumento, que destruiu as searas, e por
algum tempo retardaram, ou embaraçaram o projecto da colonização da Ilha.
Perestrello
voltou a Portugal: mas João Gonçalves, e Tristão Vaz, tendo observado uma
espécie de nevoeiro, que constantemente se lhes oferecia no mar, sempre
no mesmo sitio e direcção, suspeitaram o que poderia ser, e dirigindo-se para
aquela parte, descobriram a Ilha da Madeira , que deram este nome pelo
alto e vasto arvoredo, de qual a acharam coberta.
Algumas
antigas memorias dizem que Francisco Alcoforado , Cavaleiro da Casa do infante
D. Henrique, fora neste descobrimento, e o descrevera em uma exacta Relação.
De João
Gonçalves Zarco se diz que foi o primeiro Português, que usou da pólvora , e
artilharia nos navios. Manuel Thomaz, na lnsulan. I. 1.° est. fallando
delledix.
« liem i verdade, qut cstt o Lusitano
Primeiro foi, no mar com nome eterno,
Que usou da dura fruta de Vulcano,
E o salitrado aljôfar do inferno;s
ASSO DC 113.s.
Por este ano
começou o Infante a mandar povoar as Ilhas da Madeira, e Porto
Santo, e também a Deserta, que sem duvida foi descoberta com as
primeiras.
Ele mesmo na
doação que fez do espiritual destas Ilhas â ordem de Cristo em 18 de Setembro
de 1460, quase dois meses antes do seu falecimento, diz « comecei de povoar a
minha Ilha da Madeira, haverá ora trinta e cinco anos, e isso mesmo a do Porto
Santo, e deshi, prosseguindo, a Deserta s por onde parece
fazer-se verosímil, ao menos em parte, o que uniformemente referem os nossos
escritores, que lançando-se fogo aos bosques da Ilha da Madeira, este se ateara
de tal modo, que por alguns anos não fora possível povoá-la Os anos devem neste
caso contar-se desde 1419, ano do descobrimento, até 1425. E dizemos, ao menos
em parte, porque algum tempo era preciso para te prepararem as famílias, e os
mais objectos necessários à povoação e cultura daquelas Ilhas.
O infante
dividiu a Ilha da Madeira entre os seus dois descobridores. Mandou vir da Ilha
de Candia a preciosa planta da malvasia, (jue tanto ali prosperou, e tão útil
tem sido ao comércio, e riqueza da Madeira. Mandou também vir da Sicília a cana
do açúcar, e mestres, que a ensinassem a plantar e cultivar, e a fabricar o
assucar. E foi esta cultura tão bem recebida do terreno, que em 1501 íe
participava a El-Rei D. Manuel haverem-se fabricado, nesse ano, na Ilha, 63:800
arrobas de assucar. Quando Barros escrevia as suas Decadas, diz elle, que uma
porção de terra de trez léguas dava ao quinto mais de 60:000 arrobas. E Bluteau,
nos princípios do século passado, escrevia que na Ilha houvera algum tempo ISO
engenhos do assucar os quais rendião 400:000 arrobas.
Da Ilha da Madeira saíram depois os mestres, qne íorfio introduzir o fabrico do assucar na Ilha de S. Tomé, e de ambas estas Ilhas se propagou mais depois no Brasil , por industria dos Portugueses, tanto a cultura da cana , como a factura do assucar.
O grande infante D. Henrique, posto que aplicado á povoação e cultura da Madeira, Porto Santo, e Dezeria, nem por isso se esquecia de continuar, e promover a sua primeira, e principal empresa, da qual porém sabemos, que por espaço de doze anos se não tirou fruto algum, não se conseguindo em todo este tempo dobrar o Cabo Bojador.Gil Eannes, natural de Lagos, dobrou enfim o formidável Bojador.
Dizem os antigos escritores portugueses, que está passagem do cabo fora então reputada como uma façanha igual a algum dos trabalhos d' Hercules: expressão, que hoje parece minimamente exagerada , mas que o não era tanto* naqueles tempos, vistas as dificuldades, os medos, e oá perigos, que ou se tinham experimentado, ou se imagina-» vão e sofHinhão na mesma passagem, e qué por tanto tem-* po a haviuo retardado.
Parece-nos não se ter ainda determinado com bastante precisão, e certeza, a época deste notável acontecimento.; Muitos dos nossos escriptores a referem ao anno de 1433: alguns ao de 1432: outros ao de 1434r eoutros finalmen-» te ao de 142S.
Se nesta materia pode haver lugar a conjecturas, nós temos por mui verosímil, que o passagem do Bojador se executou em 1429, ou quando mais tarde em 1430. As razões, em que nos fundamos, são as seguintes:
Primeira: que os nossos antigos uniformemente dizem, que o infante D. Henrique, por mais de doze annos T fizera tentativas para dobrar este cabo, mandando a cllc Frequentemente os. seus navios. E como estas tentativas começaram logo depois da expedição de Ceuia, istohe, em 1416, ou ao mais tardar em 1417, parece que a passagem do cabo ^eria em 1429 ou em 1430.
Segunda: que o
Papa Martinho V, permitiu por uma sua bulia, que se pudesse contratar e
comerciar com os infiéis. Esta permissão, cuja verdadeira data ignoramos, não
podia ser posterior a 20 de Fevereiro de 1431 , em que aquele santo Padre
faleceu. Tinha pois sido pedida, e pode ser que concedida pelo menos em 1430.
Por outra parte é de presumir, que o infante somente a pediria depois de se ter
vencido a grande dificuldade do Bojador; porque até então nem sabemos que os
nossos navegadores sahissem em terra a negociar, ou procurassem ter comunicação
e comercio com os habitantes; nem é verosímil que o intentassem a respeito dos
Mouros , com quem os Portugueses estavam em actual, e continua guerra. Donde
se corrige, que antes de 1430, ou quando muito nesse mesmo ano, já se tinha
vencido o Bojador.
Terceira: que
na bulia do Papa Nicolau V. (já citada) dos princípios de Janeiro do anno da
Encarnação de 1454, que é anno vulgar de 145S, se diz que o infante, havia
vinte e cinco anjos, (a viginti quinque annis cilra, isto é, ha vinle e cinco
annos a esta parte) não cessava de mandar navios ao descobrimento das terras, e
costas do Bojador para as partes do Sul. Logo o Bojador já tinha sido dobrado,
ejá se navegava além d'elle para o Sul vinte e cinco annos antes da data da
bulia, o que vem a dar em Janeiro de 1430, e mui provavelmente no anno
antecedente de 1429.
ADVERTÊNCIA.
Pareceu-nos
aqui lugar próprio para notar em geral, que algumas das diferenças que se
encontrão nos antigos escritores a respeito de datas, e que talvez parece que
embaraçam a cronologia dos descobrimentos, se devem atribuir, segundo o nosso
juízo, a que uns tomarão por época de tal, ou tal expedição e descobrimento o
ano em que os navegantes saem de Portugal': outros o ano em que chegavam á
costa de África , e efectivarnente loenvão o ponto descoberto, o que muitas
vezes snecedia no ano seguinte ao da sabida: e outros finalmente o ano em que
voltarão ao reino, e se divulgava a noticia. Por onde entendemos, que quando a
diferença das datas é pequena , e de anos imediatos, se não deve fazer conta
com ela para ali arguir alguma incerteza no acontecimento , ou alguma variação
essencial na sua época.
O Infante D.
Henrique mandou no ano de 1431, que .o Comendador de Almourol na O. de Chr. Fr.
Gonçalo Velho Cabral fosse correr os mares a Oeste, em demanda de novas terras.
O navegante encontrou os baixos das Formigas, situados entre as Ilhas de Santa
Maria e S. Miguel, mas não deu fé .de alguma d'ellas, e voltou a Portugal a
informar o Infante do que linha observado.
Foi outra vez
mandado no ano seguinte de 1432 a explorar os mares, em que existiam aqueles
baixos, e então com melhor fortuna descobriu a Ilha de Santa Maria, primeira
descoberta no arquipélago dos Açores a 15 de Agosto, e pela circunstância da
festividade do dia lhe deu aquele nome.
O infante fez
a Gonçalo Velho Capitão-donatário
da Ilha, e ele a começou logo a povoar, e cultivar com grande proveito e
interesse.
Annes, natural de Lagos, dobrou enfim o formidável
Bojador.
Dizem os antigos escritores portugueses, que está passagem do cabo fora então reputada como uma façanha igual a algum dos trabalhos d' Hercules: expressão, que hoje parece minimamente exagerada , mas que onâo era tanto* naqueles tempos, vistas as dificuldades, os medos, e oá perigos, que ou se tinham experimentado, ou se imagina» vão e sofHinhão na mesma passagem, e que por tanto tempo a havido retardado.
Parece-nos não se ter ainda determinado com bastante precisão, e certeza, a época deste notável acontecimento.; Muitos dos nossos escritores a referem ao anno de 1433: alguns ao de 1432: outros ao de 1434r e outros finalmente ao de 142S
.
Se nesta materia pode haver lugar a conjecturas, nós temos por mui verosimil, que o passagem do Bojador se executou em 1429, ou quando mais tarde em 1430. As razões, em que nos fundamos, são as seguintes:
Primeira: que os nossos antigos uniformemente dizem, que o infante D. Henrique, por mais de doze annos T fizera tentativas para dobrar este cabo, mandando a cllc Frequentemente os. seus navios. E como estas tentativas começaram logo depois da expedição de Ceuta, isto é, em 1416, ou ao mais tardar em 1417, parece que a passagem do cabo seria em 1429 ou em 1430.
Se nesta materia pode haver lugar a conjecturas, nós temos por mui verosimil, que o passagem do Bojador se executou em 1429, ou quando mais tarde em 1430. As razões, em que nos fundamos, são as seguintes:
Primeira: que os nossos antigos uniformemente dizem, que o infante D. Henrique, por mais de doze annos T fizera tentativas para dobrar este cabo, mandando a cllc Frequentemente os. seus navios. E como estas tentativas começaram logo depois da expedição de Ceuta, isto é, em 1416, ou ao mais tardar em 1417, parece que a passagem do cabo seria em 1429 ou em 1430.
Segunda:
que o Papa Martinho V, permitiu por uma sua bulia, que se pudesse contratar e
comerciar com os infiéis. Esta permissão, cuja verdadeira data ignoramos, não
podia ser posterior a 20 de Fevereiro de 1431 , em que aquele santo Padre
faleceu. Tinha pois sido pedida, e pode ser que concedida pelo menos em 1430.
Por outra parte é de presumir, que o infante somente a pediria depois de se ter
vencido a grande dificuldade do Bojador; porque até então nem sabemos que os
nossos navegadores saíssem em terra a negociar, ou procurassem ter comunicação
e comercio com os habitantes; nem é verosímil que o intentassem a respeito dos
Mouros , com quem os Portugueses estavam em actual, e continua guerra. Donde se
corrige, que antes de 1430, ou quando muito nesse mesmo ano, já se tinha
vencido o Bojador.
Terceira:
que na bulia do Papa Nicolau V. (já citada) dos princípios de Janeiro
do ano da Encarnação de 1454, que é ano vulgar de 1455, se diz que o infante,
havia vinte e cinco anos, (a viginti quinque annis cilra, isto é, ha vinle e
cinco annos a esta parte) não cessava de mandar navios ao descobrimento das
terras, e costas do Bojador para as partes do Sul. Logo o Bojador já tinha sido
dobrado, e já se navegava além dele para o Sul vinte e cinco anos antes da data
da bulia, o que vem a dar em Janeiro de 1430, e mui provavelmente no ano
antecedente de 1429.
ADVERTÊNCIA.
Pareceu-nos
aqui lugar próprio para notar em geral, que algumas das diferenças que se
encontrão nos antigos escritores a respeito de datas, e que talvez parece que
embaraçam a cronologia dos descobrimentos, se devem atribuir, segundo o nosso
juízo, a que uns tomarão por época de tal, ou tal expedição e
descobrimento o ano em que os navegantes sairão de Portugal': outros o ano em
que chegavam á costa de África , e efectivamente levarão o ponto descoberto, o
que muitas vezes sucedia no ano seguinte ao da sabida: e outros finalmente o
ano em que voltarão ao reino, e se divulgava a noticia. Por onde entendemos,
que quando a diferença das datas é pequena , e de anos imediatos, se não deve
fazer conta com ela para ali arguir alguma incerteza no acontecimento , ou
alguma variação essencial na sua época.
O
Infante D. Henrique mandou no ano de 1431, que .o Comendador de Almourol na O.
de Chr. Fr. Gonçalo Velho Cabral fosse correr os mares a Oeste, em demanda de
novas terras. O navegante encontrou os baixos das Formigas, situados entre as
Ilhas de Santa Maria e S. Miguel, mas não deu fé .de alguma d'ellas, e voltou a
Portugal a informar o Infante do que linha observado.
Foi
outra vez mandado no anno seguinte de 1432 a explorar os mares, em que existiam
aqueles baixos, e então com melhor fortuna descobriu a Ilha de Santa Maria,
primeira descoberta no arquipélago dos Açores a 15 de Agosto, e pela
circunstancia da festividade do dia lhe deu aquele nome.
O
infante fez a Gonçalo Velho Capitão-donatário da Ilha, e ele a
começou logo a povoar, e cultivar com grande proveito e interesse.
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