por Pedro Laranjeira
PÁGINA DE IMPRENSA DE PEDRO LARANJEIRA
26 de Janeiro 2008
Cinco séculos depois das viagens épicas
começadas em 1492, estão descobertas evidências conclusivas sobre a
nacionalidade de Salvador Fernandes Zarco, português de Cuba, no Alentejo, mais
conhecido pelo seu pseudónimo de "Cristóvão Colombo".
A origem genovesa do navegador é, no entanto,
apenas um pormenor, uma das muitas mentiras construídas nesse período. Trata-se
de uma gigantesca trama histórica organizada com fins políticos bem definidos e
com pleno êxito, como a extensa literatura sobre os factos demonstra quanto à
redacção que a História acabou por ter.
O descobridor da América é considerado a
segunda pessoa mais conhecida do mundo e também a segunda sobre quem mais se
escreveu até hoje, logo a seguir a Cristo.
Envolto em mistérios, que incluíam a sua
própria identidade e origem, o navegador foi polémico em vida, bateu o pé a
monarcas e afrontou a própria Igreja, no debate do seu mais valioso tesouro: o
conhecimento.
Nunca foi considerado espanhol - aliás, os
textos espanhóis classificam-no sempre como "um estrangeiro em
Espanha" - mas tem-se tentado fazer crer que seria italiano, nascido em
Génova, teoria ora desacreditada, com base em factos históricos não muito
difíceis de acertar.
O COLOMBO ITALIANO
A confusão, baseada numa querela sobre
heranças que originou um testamento toscamente falsificado, assenta na
existência, essa provada, de um tecelão genovês de nome Cristophoro Columbo,
que imigrou para o nosso país em 1476.
É interessante cruzar esse facto com uma
carta enviada por Toscanelli ao navegador, para Portugal… em 1474. Também,
Bartolomé de la Casas conta que Cristóvão se queixou ao Rei Fernando de Aragão
que tinha passado 14 anos a tentar obter o apoio da coroa portuguesa para o seu
projecto - Colon abandonou Portugal em 1484, o que significa que em 1470 já cá
estava e só seis anos depois o tecelão genovês deixou o seu país, isso são os
próprios documentos notariais genoveses que o atestam.
Portanto, é simples perceber que o tecelão
genovês e o navegador são duas pessoas diferentes.
UM PLEBEU E UM NOBRE, UM IGNORANTE E UM SÁBIO
Seria impensável considerar que um plebeu
cardador de lãs de Génova pudesse ter a cultura fenomenal demonstrada por
Cristóvão, saber latim, grego, espanhol, português, hebraico, ser versado em
filosofia, cartografia, cosmografia e navegação… ou vir a casar com uma nobre,
como ele fez em 1479 ao desposar D. Filipa Moniz Perestrelo, filha de
Bartolomeu Perestrelo, capitão donatário de Porto Santo, descendente de Egas
Moniz e familiar de D. Nuno Álvares Pereira.
Isso era impossível no século XV.
Impossível.
Os primeiros dois casos registados de
casamentos entre classes aconteceram um século mais tarde, entre novos ricos e
damas nobres.
Não existiu um único no século XV.
Dois factos contribuíram para que a confusão
vingasse: razões de peso por parte do português para não tornar públicas as
suas origens e o próprio nome, e as conspirações políticas de 1484 que fizeram
a coroa não querer levantar ondas.
O NOME
Sabendo-se hoje que "Cristóvão
Colombo" foi um pseudónimo, a verdade é que "Colombo" nunca ele
se chamou, mas sim "Colon", como é referido em todos os documentos da
época.
Uma das teorias mais populares é que terá ido
para Castela como espião do Rei D. João II, mas então porque não se lhe conhece
um nome "de facto" desde que nasceu?
Outro mistério: porque não se interessou
Portugal pela proposta descobridora de Cristóvão, numa ocasião em que todas as
suas prioridades estavam voltadas para os Descobrimentos e acabou o navegador
por oferecer os seus serviços à coroa espanhola?
Outro ainda: porque se lhe sabem todos os
passos desde que chegou a Espanha com o plano da viagem e até que a concretizou
em 1492 - todos os documentos, todas as relações, até à sua morte em 20 de Maio
de 1506… mas nada anterior a isso? Sabe-se que esteve em Portugal, mas não há
registos... Porquê?
O MISTÉRIO
A resposta só pode ser uma, de extrema
simplicidade: porque se está à procura do nome errado! Em determinada altura da
sua vida, ele teve que mudar de nome e criar um pseudónimo - portanto,
quaisquer referências anteriores a isso seriam com outro nome.
Por outro lado, não menos importante: um
homem claramente de sangue nobre (ou não teria acesso aos mais altos círculos
da nobreza de dois países, como teve), não desaparece de repente sem o
conhecimento e cooperação de, pelo menos, dois tipos de pessoas: as que detêm o
poder e as de sua família.
Isso terá decerto ajudado a que, tanto umas
como outras, tenham contribuído para que quaisquer referências à identidade
desaparecida, quer documentais quer orais, fossem escondidas, destruídas ou
omitidas a partir daí.
Mas porquê toda esta trama? Decerto a nobreza
mais influente do mundo não ia envolver-se na fantasia de alguém que decide
mudar de nome… a menos que fosse parte interessada.
A explicação está na história dos
descobrimentos.
A ÍNDIA DESEJADA
Os interesses comerciais da Europa viravam-se
todos então para as riquezas da Índia - mas o Império Otomano tinha imposto um
bloqueio aos países cristãos e só Génova e Veneza podiam ir buscar as
especiarias e outros bens ao Oriente através dos territórios muçulmanos.
Essa a razão porque Portugal queria descobrir
o caminho marítimo para a Índia: para furar o bloqueio turco-egípcio.
No entanto, Cristóvão queria precisamente
chegar à Índia, mas viajando para Ocidente… porque não se interessou D. João II
por essa proposta?
Muito simples.
Porque já sabia que existiam terras a
ocidente e que estas não eram a Índia das riquezas mas apenas um belo
continente de povos seminus, muita vegetação e pouco ouro.
E como sabia?
Porque conhecia viagens anteriores às
Américas, feitas em segredo.
Vigorava então uma política de sigilo, para
não despertar as cobiças da concorrência espanhola. 68 anos antes da descoberta
de Colon, a Carta Náutica de 1424, de Zuanne Pizzigano, mostrava as
"Antilhas", com nomes portugueses: Antília, Satanazes, Soya e Ymana -
Manuel Luciano da Silva veio a descobrir em 1986 que estas "Antilhas"
são de facto a Nova Escócia, Terra Nova, Península de Avalon e Ilha Prince
Edward.
Para sul, acredita-se que a
"descoberta" do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500 tenha sido
apenas a "descoberta oficial" de uma terra já antes visitada em
segredo por portugueses.
Existem testemunhos da presença portuguesa na
América do Sul em 1493 (Estêvão Fróis em carta dirigida a D. Manuel) e mesmo
cerca de 1480 (testemunho de colonos pioneiros ao francês Jean de Léry).
A CONSPIRAÇÃO
Eram tempos conturbados, em 1483 houve uma
conspiração para matar o Rei, organizada pelas Casas de Bragança e Viseu com o
apoio dos reis católicos e fidalgos portugueses, entre os quais o próprio
Colon. D. João II resolveu a coisa, mandou executar os conspiradores, o Duque
de Bragança foi degolado em Évora e o rei apunhalou pessoalmente o irmão da
rainha.
Quem conseguiu, fugiu para Espanha, incluindo
o nosso Cristóvão, em 1484.
Mas D. João II teria, anda assim, um papel
para ele.
"VOLTA QUE ESTÁS PERDOADO..."
Desiludido com as recusas dos reis espanhóis
em aceitar o seu plano, o navegador escreveu ao monarca português a pedir
perdão e este aproveitou de imediato e respondeu-lhe para Sevilha,
perdoando-lhe, convidando-o a voltar e garantindo-lhe a segurança. Chamou-lhe
"xpovam collon, nosso espicial amigo en sevilla" e esclareceu:
"porque por ventura terees algum reçeo das nossas justiças por razam de
algumas cousas a que sejaaes obligado, nós por esta nossa carta vos seguramos
polla vinda, estada, e tornada, que não sejaaes preso, reteudo, acusado,
citado, nem demandado por nenhuma cousa ora que seja civil ou crime, de
qualquer qualidade".
Em 1488, Cristóvão vem a Lisboa e encontra-se
com o Rei, mas descobre, com surpresa, que ele não o apoiará numa expedição
para ocidente, embora não lhe explique porquê, mas… outra surpresa, promete-lhe
todo o apoio, em segredo, para convencer os reis católicos a contratá-lo...
UM PLANO BEM URDIDO
Portugal era então o centro cultural do
mundo. Esse homem extraordinário que foi o Infante D. Henrique, o verdadeiro
"pai" da globalização que hoje está tão na moda e que a iniciou,
tinha montado em Sagres a melhor academia que jamais existira, rodeando-se de
sábios de renome, incluindo muçulmanos e judeus, que contratava e a quem pagava
ordenados.
Os reis espanhóis eram consideravelmente
ignorantes, comparados com a cultura portuguesa. D. João II achou que eram
fáceis de enganar… e conseguiu-o, com Colon como peão.
Dizer que ele foi um espião ao serviço do rei
não explica bem as coisas, ele foi um agente, sim, um instrumento usado pela
coroa portuguesa, mas sem saber como nem porquê. Ele queria concretizar um
plano, e o rei proporcionou-lho, intervindo com a influência e ajuda
necessárias para que os espanhóis embarcassem na aventura. Portanto, agarrou a
oportunidade, sem nunca ter percebido as razões.
Foi nessa ocasião que Bartolomeu Dias
regressou a Lisboa com a notícia de ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, o que
confirmou o que o rei já sabia: que era por aí que chegaria à Índia. Mas
sucedeu uma coisa estranha: isto foi em 1488 e Portugal só enviou Vasco da Gama
dez anos depois... porquê?
A resposta explica porque D. João II
precisava de Colon.
TORDESILHAS
Uma vez conseguido o acesso às riquezas da
Índia, Castela iria querer uma fatia e tentaria obtê-la a todo o custo, nem que
fosse através da guerra.
O Tratado de Alcáçovas/Toledo definia a posse
dos territórios, dava as Canárias a Castela e a Portugal a Madeira, os Açores e
a costa africana "até aos índios", mas ficava-se por aí.
Era preciso que os espanhóis, que tinham
conspirado contra a coroa portuguesa, não quisessem também deitar a mão à Índia
- para isso era preciso que se convencessem que a tinham conquistado, mesmo que
fosse mentira - era aí que entrava Colon. Mas era preciso que não restassem
dúvidas legais quanto à posse das terras, portanto era preciso um novo Tratado.
Foi assim que nasceu o Tratado de
Tordesilhas.
Mas para lá chegar, foi necessário primeiro
que Castela fizesse a sua grande descoberta, que aconteceu em 1492, com a
chegada de Colon à terra que Castela julgava ser a Índia mas Portugal sabia que
não era.
ENGANÁMOS OS ESPANHÓIS
Foi fácil preparar o Tratado.
Foi uma enorme ingenuidade dos espanhóis não
perceber porque a coroa portuguesa lhes estava a dar "a Índia" com
tanta facilidade … como também não perceberam, quando os termos do tratado
propunham que eram propriedade de Castela as terras além de um meridiano cem
léguas a ocidente de Cabo Verde porque é que os portugueses mudaram essa
latitude para 370 léguas... com isso, ao aceitá-lo, perderam o direito ao
Brasil, que seria "descoberto" seis anos depois...
Não tinham maneira de saber… a ciência era
nossa e os segredos bem mantidos.
Portanto, para voltar à aventura das Índias.
Portugal esperou pacientemente que Colon chegasse à América em 1492 e o Tratado
fosse assinado em 1494, dividindo o mundo em duas partes, uma para Castela, com
o que eles pensavam ser a Índia e outra para Portugal, com a Índia verdadeira.
DONDE VEIO O DINHEIRO?...
Não foi fácil, no entanto, mas D. João II
empenhou-se em que Colon desse o rebuçado a Castela.
Para começar, Isabel a Católica não tinha
dinheiro que chegasse para a aventura, participou com um milhão de maravedis,
mas não era suficiente.
Cristóvão contribuiu com os 250.000 que
faltavam!
Bom, onde é que ele arranjou esse dinheiro?
Constou que banqueiros o financiaram, mas
então porque é que nunca nenhum apareceu depois a reclamar os lucros?
Por outras palavras, só pode ter sido o rei
português a fornecer os fundos em falta, para garantir o plano… mas não existem
provas disso, é claro.
Existem, sim, provas do grande empenhamento
do monarca na concretização da viagem, ao ponto de ter enviado a Cristóvão, no
dia 1 de Agosto, dois dias antes da partida da expedição, um precioso
instrumento científico de navegação em hebraico, o "Roteiro Calendário",
ou "Tábuas de Declinação do Sol".
Parece generosidade a mais... a menos que
houvesse um motivo forte...
Mas D. João II morreu em 1495 e já só foi D.
Manuel que enviou Vasco da Gama para Oriente, em 8 de Julho de 1497.
Finalmente, Portugal descobriu o caminho marítimo para a Índia, onde chegou a
17 de Abril de 1498.
Também, então o Brasil já podia ser
"descoberto", o que Pedro Álvares Cabral fez em 22 de Abril de 1500,
aproveitando a segunda viagem marítima para a Índia.
Mas então donde vem este misterioso
personagem, sem uma identidade clara e origens assumidas, que no entanto tem
acesso à corte, à nobreza e aos mais altos círculos da nação?...
CONFUSÃO DE IDENTIDADES
O "New York Times World Almanac and Book
of Facts 2008" diz na página 695 que Cristoforo Colombo nasceu em 1451
perto de Génova, Itália. Não contesto isso, mas contesto o que diz a seguir:
que fez quatro viagens à América… não consta que o tecelão genovês ignorante e
plebeu tenha integrado as tripulações de Cristóvão Colon... se me faço
entender.
No entanto, a primeira afirmação parece
verdade, com base numa acta notarial genovesa de 1470 que refere um
"Cristoforo Colombo, figlio di Domenico, maggiori di diciannove
anni"... portanto, o rapaz existiu e nasceu, de facto, em 1451.
Mas não falemos desse imigrante que decerto
terá tido acesso a qualquer tasca lisboeta (depois de 1476, que foi quando
chegou cá), embora nunca aos paços reais, como é óbvio, muito menos à cama
nobre onde fez um filho a D. Filipa Moniz Perestrelo.
DATA DE NASCIMENTO
Segundo o próprio Colon, ele terá nascido em
1447. No Diário de Bordo do Santa Maria escreveu: "yo he andado veinte y
três años en la mar, sin salir della tiempo que se haya de contar".
Este assento data de 21 de Dezembro de 1492,
durante a primeira viagem: 23 no mar mais 8 em Castela, mais 14 até à idade de
poder navegar, tinha 45, portanto nasceu em 1447.
Nove anos depois (teria portanto 54) numa
carta aos reis católicos escrita em 1501, comenta assim a sua condição de
navegador: "ya pasan de quarenta años que yo voy en este uso" - com
os 14 de infância, aí estão os 54, em 1501 - logo, nascido em 1447.
Duas referências pelo próprio.
Recuemos então meio século e olhemos para o
Alentejo.
Era nesse tempo Duque de Beja o Infante D.
Fernando, filho de D. Duarte, sobrinho do Infante D. Henrique, de quem foi
nomeado herdeiro e de quem recebeu o título de Duque de Viseu. Dos nove filhos
que sua prima Beatriz lhe deu, Leonor viria a ser Rainha, por casamento com D.
João II e Manuel viria a ser Rei, o tal que enviou Vasco da Gama para a Índia.
D. Fernando era, portanto, um nobre de cinco estrelas.
FEITO NO ALENTEJO
Como, porém, o Herman José ainda não tinha
nascido para lhe chamar "teenager inconsciente", o rapaz prendeu-se
de amores (ou de calores, não se sabe), para aí um ano antes da prima, com uma
rapariguinha de boas famílias, filha de João Gonçalves Zarco, cavaleiro do
reino e descobridor de Porto Santo e da Madeira… e zás, a moça engravida.
Chamava-se Isabel Gonçalves Zarco.
O Dr. Manuel Luciano da Silva diz na página
61 do seu livro que o produto dessa relação "foi baptizado" com o
nome de Salvador Fernandes Zarco - suponho que tenha simplesmente usado uma
conjugação do verbo "baptizar" com o significado de "dar um
nome", uma vez que nesses tempos era muito complicado fazer o
correspondente acto religioso a um filho ilegítimo, tanto mais que o avô era
sefardita, ou seja, tinha sangue judeu (sefardita significa judeu ibérico, derivado
da palavra hebraica para Península Ibérica: : sefarad).
RAZÕES PARA O SEGREDO
Portanto, aqui estão duas razões para ser
discreto em relação ao nome e às origens: era bastardo e judeu. Há quem pense
que "Cristóvão" foi uma maneira de disfarçar essa ligação à família
judaica, numa época em que a Inquisição ganhava força - acabou por chegar a
Espanha em 1478 e mais tarde a Portugal. Ambos os países expulsaram os judeus:
Portugal a 31 de Outubro de 1497, Espanha a 3 de Agosto de 1492.
Um parêntesis curioso: 3 de Agosto de 1492
foi o dia de partida de Colon para o Novo Mundo, do porto de Palos, no sul de
Espanha. Na véspera, o navegador mandou toda a sua tripulação estar a bordo até
às 23 horas, o que era inédito em termos de marinhagem. Dá para entender?...
Portanto, faz sentido que um sefardita tente
disfarçar-se de cristão: Cristóvao é aquele que carrega Cristo (segundo a
lenda, S. Cristóvão atravessou o rio com menino Jesus às costas).
CUBA DO ALENTEJO, PORTUGAL
Nestas circunstâncias, o Infante D. Fernando
fez o que os nobres faziam: despachou a moça para "longe" de Beja
para ter o rebento. Foi assim que ela foi parar 20 quilómetros mais a norte, a
uma terra chamada Cuba, onde o rapaz nasceu...
Quando, em 27 de Outubro de 1492, Colon
descobriu a ilha a que chamou Cuba, disse que era "o lugar mais bonito do
mundo" - será que foi só pela sua beleza ou cedeu à tradição portuguesa de
chamar ao sítio onde nascemos "o mais bonito do mundo"?...
Quanto à legitimidade de berço, muitos
bastardos chegaram a altas posições na monarquia portuguesa, uma vez que o seu
sangue nobre não podia ser ignorado e era comum "dar a facada no
matrimónio" - o preservativo, embora usado desde tempos imemoriais pelos
chineses, egípcios e gregos, era muito desconfortável e ninguém se dava ao
trabalho de usar tripas de animais ou bexigas de peixe a estragar a
escapadinha.
Nem mesmo se sabe se há verdade nas lendas do
Dr. Condom, no século XVII, para evitar que Carlos II de Inglaterra fizesse
tantos filhos ilegítimos e só a partir de 1939 a camisinha de Vénus passou a
ser uma realidade.
Também não havia televisão, nem telemóveis
para perguntar a toda a hora "estás a fazer o quê, aonde e com
quem?"… portanto, eram fabricados bastardos com regularidade e tinham que
ser assimilados, à altura da nobreza das suas origens.
IDENTIDADE DUPLA
Não se sabe bem quando Salvador Fernandes
Zarco passou a ser Cristóvão Colon, mas sabe-se que depois sempre assumiu ambos
os nomes - e portanto as origens, incluindo a judaica - quando começou a
assinar documentos e inventou, para isso, uma inteligente e bem elaborada
sigla, para além de outros indícios que chegaram até nós.
Um deles é o monograma que colocou à esquerda
da sigla em muitos documentos, como o da imagem ao lado.
Sílvia Jorge da Silva descobriu, em 1989, que
o monograma é feito a partir da junção das letras "S", "F"
e "Z", como em Salvador Fernandes Zarco, assim:
Esta foi uma descoberta de grande
importância, que lançou uma nova luz sobre a forma como Colon se identificava.
Quanto à sigla, ela é claramente cabalística
e implica o conhecimento de três línguas: latim, grego e hebraico.
É a famosa assinatura de Colon:
Como era usual em nominativos, este começa
por um louvor a Cristo, em latim: Santus. Sanctus, Altissimus, Sanctus - ainda
hoje a Igreja usa esta repetição de "Sanctus". Na segunda linha, o
"X" de cruzamento conduz às iniciais de "Maria" e
José": X M Y: Filho de Maria e José.
Esta é uma interpretação possível, mas José
Rodrigues dos Santos adianta outra, em "O Codex 632", que pode ser
uma leitura derivada de estudos da Cabala pelos Templários, em que as duas
linhas superiores representam a trindade, com o "Altissimus" a
indicar que a leitura ascende da matéria para o espírito, da terceira linha
para as superiores, correspondendo-se as letras.
Seria então Sanctus. Sanctus, Altissimus,
Sanctus. Xristus Messias Yesus.
Esta é a leitura que um templário cristão
faria.
Mas estamos perante o aparente disfarce de um
judeu sefardita… imaginemos então, em hebraico: "S" seria o shin de
Shaday, um nome de Deus, "A" o álefe de Adonai, outro nome de Deus,
portanto, Shaday. Shaday Adonai Shaday (Senhor, Senhor Deus Senhor).
A última linha, lida da direita para a
esquerda, como deve ser em hebraico, daria "YMX": "Y" de
Yehovah, "m" de maleh e "x" de xessed: Yeovah maleh xessed,
uma prece judaica: "Deus cheio de piedade".
Duas leituras sobrepostas.
Mas há mais.
Se lermos a terceira linha em hebraico mas da
esquerda para a direita, obtemos "xmi" ou "shmi", que quer
dizer "o meu nome" e se depois voltarmos à regra hebraica e lermos da
direita para a esquerda, como uma palavra, ficamos com "Ymx" ou
"Ymach" - finalmente, as duas leituras seguidas, da direita para a
esquerda e da esquerda para a direita: "ymach shmi".
Isto, em hebraico, significa "que o meu
nome seja apagado"!...
Mas vamos a ele, ao nome, ou melhor, os
nomes.
UMA LINHA, DOIS NOMES
Comecemos por Cristóvão Colon:
Os sinais gregos ":" e
"./" correspondem aos actuais "dois pontos" e
"virgula, ou ponto e vírgula" - são separadores e chamam-se, em grego
"Colon". O primeiro indica que a frase está contida entre "Colons",
portanto que haverá um segundo, a fechá-la. "Xpo" significa Cristo,
em grego. Ferens é uma forma do verbo latino "fero", que significa
"transportar através de um vão, como um rio", portanto Xpoferens ou
Cristovão, que em português quinhentista seria Cristoforo ou Cristofõm.
Portanto aqui está o "nome de guerra": Colon Cristofõm Colon.
"fõm" é um sufixo português que veio a derivar para o actual
"vão". Quanto à inclusão de "Cristo" no nome, coisa que
nenhum judeu toleraria, a menos que fosse para disfarçar a origem judaica, o
navegador tivera o cuidado, em hebraico, de introduzir a indicação de que
"o nome deveria ser apagado".
Agora, já que nesta sigla tudo se lê em
duplicado, onde está Salvador Fernandes Zarco? Vejamos:
Voltamos ao grego "Xpo" - Cristo é
sempre referido como o "Salvador", portanto, nada mais transparente.
A seguir vem "ferens" - é uma forma frequentíssima, muito usada na
idade média, de abreviar "Fernandes" ou "Fernandez".
Finalmente, repare-se no "S" final
- tem uma forma estranha, mas que deixa de o ser se a invertermos: ficaremos
perante a décima letra do alfabeto hebraico, "Lamed"... que significa
"Membro, Falo, Zarco"… "Colon", em grego, significa também
"Membro, Falo, Zarco"... e esta?
A propósito, como é sabido,
"Fernandes" significa "filho de Fernando" e nas situações
como a do filho de Fernando e Isabel, era usual o varão tomar o apelido da mãe.
Portanto, cá está o Salvador Fernandes Zarco.
Quanto a demonstrar a sua portugalidade,
parece suficiente, mas muito mais poderia ser acrescentado: por exemplo, o Papa
Alexandre VI, numa bula de 1493, toda em latim, escreve o nome dele em
português:
E como se vê não lhe chama Colombo, mas
Colon. Noutra bula, no ano seguinte, redige "Cristofõm".
Isto é português: "Cristo" sem
"h" e "fõm" com til - não havia, nem há, nenhuma língua no
mundo que acentue o "o" com um "til" - apenas o português.
Outros testemunhos:
Investigador espanhol Altolaguirre y Duval:
"o dialectismo colombino é seguramente português"; Historiador
Menéndez Pidal: "o seu vocalismo tende para o português";
Investigador judeu Simon Wiesenthal:
"testemunhas dizem que falava castelhano com sotaque português". No
"Pleyto de la Prioridad", duas testemunhas, Hernán Camacho e Alonso
Belas chamam ao Almirante "o infante de Portugal";
O espanhol Ricardo Beltrán y Rózpide,
presidente da Real Sociedad de Geografia, escreveu "el descobridor de
América no nació en Génova", acrescentando que tinha nascido algures entre
os cabos Ortegal (Galiza) e San Vicente (Algarve).
Do punho do próprio navegador, em carta a
Diogo Colon:
"Muy caro filo" - com
"f", como em português, não com "h", como seria em
espanhol. Todos os testemunhos dizem que falava espanhol com pronúncia
portuguesa e escrevia textos cheios de portuguesismos.
Um testamento feito em 1498 desapareceu, terá
sido destruído por falsários que, oitenta anos depois, num processo jurídico
para determinar os herdeiros, chegaram a tentar substituí-lo, através do
advogado Verástegui, por um documento "autenticado" em 22 de
Fevereiro de 1498 pelo Príncipe Juan, filho dos reis católicos… que tinha
morrido em 4 de Outubro do ano anterior - tão descuidada foi a falsificação. O
tribunal entregou a herança a D. Nuno de Portugal, neto do filho português de
Colon.
Para quem escondia as suas origens sem as
negar, ainda um outro monograma, que Colon colocou no início das últimas doze
cartas ao filho Diogo (na imagem, por cima de "muy caro filo") -
trata-se de um monograma judaico, formado pelas letras hei e beth. Lido da
direita para a esquerda, "beth hei" corresponde à saudação judaica
"Baruch haschem": "Louvado seja o Senhor" e pode também ser
lido como uma bênção "Deus te abençoe".
CIÊNCIA: O ADN
Provada que está a nacionalidade portuguesa
de Cristóvão Colon, o Dr. Manuel Luciano da Silva, médico de profissão, propôs
que se fizesse ainda uma espécie de "prova dos nove", de natureza
científica: um teste de ADN.
O processo científico é relativamente
simples.
A raça humana possui 46 cromossomas dispostos
em 23 pares, contidos em cada célula.
O mais pequeno desses pares, o 23, determina
o sexo da pessoa, na mulher é XX, no homem XY.
Os cromossomas são compostos por moléculas de
ácido desoxirribonucleico, ou ADN, que a ciência é capaz de analisar.
O curioso é que o cromossoma Y do par 23 não
se modifica JAMAIS, de geração em geração, ao longo de milhares de anos.
Portanto, através da análise do ADN de um
parente masculino de Cristóvão Colon, pode fazer-se uma comparação com análise
semelhante dos portugueses que se acredita serem seus familiares - se o
cromossoma Y for igual, bingo!
COLÓN NÃO ERA ITALIANO,NEM FRANCÊS NEM
ESPANHOL
Esse "Y" foi já extraído das
ossadas do filho Fernando e do irmão Bartolomeu do navegador, sepultados na
Catedral de Sevilha, pelo professor de medicina legal José Lorente, da
Universidade de Granada, que anunciou o facto no canal Discovery, em Maio de
2005, confirmando que os "Y" de ambos são, de facto, iguais.
Começaram então a aparecer pessoas que se
diziam descendestes de Colon, vindas da Catalunha, Valência, Baleares, sul de
França, Lombardia, Ligúria e Piemonte - um total de 477 pessoas.
O professor Lorent fez colheitas e análises
de TODOS os candidatos.
Conclusão: 477 resultados negativos. Nenhum
era parente do navegador.
Está cientificamente provado que Cristóvão
Colon não era italiano, nem francês, nem espanhol !
Será de perguntar... que seria então?
Mesmo para além de todas as provas
documentais que existem, a resposta salta aos olhos, não é verdade?
Formou-se uma equipa em Portugal, dirigida
pela professora Eugénia Guedes da Cunha, antropologista da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e pelo professor
Francisco Corte Real, do Instituto de Medicina Legal. Essa equipa integra
técnicos nacionais e antropologistas da Universidade de Granada, que pretendem
analisar restos mortais de nobres portugueses.
Com a aprovação do Arcebispo de Coimbra, a
Delegação do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) autorizou
o projecto, mas um grupo de cientistas que integrava o antropólogo forense
Miguel Botella, de Granada, foi impedida de o concretizar.
A Universidade de Coimbra apresentou ao
governo um novo pedido, mas foi bloqueado pela direcção nacional do IPPAR e
pela Ministra da Cultura, sem resultados até ao momento, segundo declarações do
Dr. Manuel Luciano da Silva, há poucos dias, por telefone, que desabafou:
"Nenhum governo pode bloquear o avanço da ciência e a pesquisa da
História!"
FÉRIAS EM PORTUGAL
Uma última curiosidade, já agora.
Aqui fica um relato interessantíssimo e muito
pouco conhecido.
Depois da tão almejada descoberta do Mundo
Novo, na viagem de regresso, seria natural supor que o almirante estivesse
ansioso por dar as boas novas aos reis espanhóis.
No entanto, ao invés de rumar directo a
Castela, apanha uma tempestade que o leva para os Açores.
Logo a seguir, nova tempestade e… quem diria,
vai parar a Lisboa!
Chega ao Restelo a 4 de Março de 1493 e pede
para falar com o Rei, que só o recebeu cinco dias depois, porque estava na
Azambuja, fugido da peste.
Passou três dias com D. João II.
Quando partiu, a 11 de Março, não regressou à
nau, foi até Vila Franca de Xira visitar a Rainha, com quem esteve até à noite.
Depois disso, foi dormir a Alhandra.
Voltou a embarcar no dia 13.
Nova etapa… desta vez até Faro, onde esteve
até à noite do dia 14, isto com uma tripulação espanhola ansiosa por regressar
a casa e desconfiada destas andanças, os reis católicos à espera de saber que o
Novo Mundo tinha sido descoberto e lhes pertencia… e ele a passear-se por
Portugal!
Estranho, não é verdade?...
CONCLUSÃO
E pronto!
Está contada a história - não a História, que
essa continua coxa.
Não foi fácil resumir em sete páginas o que
ocupou já milhões delas, das quais uns milhares serviram para enriquecer o meu
conhecimento e para me trazer a consciência de que estou a ser enganado pelos
doutos defensores de causas próprias que fazem sobre o passado as páginas com
que mentem ao futuro, mas também pelos preguiçosos que soçobram ao pânico do
trabalho que daria emendá-las.
Não será enredo de novela nem tem o sexo e a
violência que deliciam plateias, mas é a História que fica do que aconteceu até
sermos o que somos hoje e de como cá chegámos...
... mas continuo a pensar que a verdade é
sempre mais bonita que a mentira!
Portanto, acabo com as palavras com que
iniciei a abordagem a este assunto: MUTATIS MUTANDIS, que é uma expressão em
latim que significa "MUDE-SE O QUE TEM QUE SER MUDADO"!
Nota: Todos os factos mencionados neste
artigo (exceptuando a eventual participação de D. João II no financiamento da
viagem de 1492, que é a mera citação de uma conjectura) são baseados em sólida
evidência, suportada por documentos que existem.
Bibliografia, fontes e imagens:
"Cristóvão Colon era Português" de Manuel Luciano da Silva e Sílvia
Jorge da Silva,"O Mistério Colombo Revelado" de Manuel da Silva Rosa
e Eric J. Steele, "O Codex 632" de José Rodrigues dos Santos,Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
pt.wikipedia.org,http://www.dightonrock.com/,http://www.cm-cuba.pt/, p://www.amigosdacuba.no.sapo.pt/ e Biblioteca-Museu da Associação Dr. Manuel Luciano da Silva em Cavião, Vale de Cambra.
ARTIGOS RELACIONADOS
NOVO LIVRO SOBRE CRISTÓVÃO COLON
ASSOCIAÇÃO CRISTÓVÃO COLON
MANUEL LUCIANO DA SILVA, "Cristóvão Colombo era Português"
FRANCISCO ORELHA, Câmara Municipal de Cuba
CARLOS CALADO, Núcleo de Amigos da Cuba
MANOEL DE OLIVEIRA, o filme "Cristóvão Colombo, o Enigma"
ALENTEJO, O CENTRO DO MUNDO, por Manuel Luciano da Silva
A PERSPECTIVA E A DESCOBERTA DA AMÉRICA"
PEDRO LARANJEIRA, MUTATIS MUTANDIS
OBRAS PUBLICADAS S0BRE O TEMA
CONFERÊNCIA EM CUBA, Alentejo, a 24 de Maio de 2008
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL EM CUBA
OUTRA IMPRENSA
GLOBAL, 7 de Janeiro de 2008
RTP e RTPN, 6 de Janeiro de 2008
RTP 2 - Sociedade Civil, debate em 22 de Janeiro de 2008
OUTROS LINKS
Núcleo de Amigos da Cuba
Câmara Municipal de Cuba
Associação Dr. Manuel Luciano da Silva
Colombo revelado, Manuel da Silva Rosa
Notícia de televisão da RTP em 6.1.2008, no Youtube